Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 117
Dolorosas verdades


Notas iniciais do capítulo

Olááá´hhh! Tudo bão? Espero que sim! Então, o capítulo de hoje está beeemmm grande, espero que não fique chato, porque mostrará muitas coisas, principalmente no final..
Ham, sobre o fim da fic: Sò falta mais três arcos, incluindo o arco final, e então... Fim! Até lá, segurem bem esse forninho kkkkk
Capa: Suzume (Hirunaka no Ryuusei) (Feita humildemente pelo Paarthurnax :3)
Boa Leitura!



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O frescor que a água causa ao bater contra sua face é uma sensação maravilhosa. Sacudiu a cabeça para secar o rosto, parecendo mais com um cachorro. Bebeu mais um pouco e despejou o resto sobre si, os cabelos ruivos ficando molhados em determinadas partes.

Elesis sente algo se mover para perto dela, quando percebe, um braço passa por seu pescoço e a puxa para perto. A ruiva fica confusa, até perceber quem a segurava, tornando seu olhar furioso.

— Oi, cunhadinha. – Debocha Lupus. – Como vai?

— Me solte, Lupus. – Rosna Elesis. – E pare de falar isso, é irritante.

— Ah, mas agora que eu posso falar mesmo.

Felizmente, com a aproximação de Dio e Lass, sua raiva não aumenta. O asmodiano a cumprimenta, enquanto o ninja lançava um olhar sério para seu irmão.

— Solte, Lupus. – É Lass quem manda dessa vez.

— Por quê? Elesis não está incomodada. – Quando era para provocar o ninja, Lupus incorporava os modos de Sieghart. – Ela gosta do meu contato.

— Na verdade, não. – A ruiva é seca e direta.

O caçador ignora suas palavras e a abraça mais, Lass avançando sem mais paciência. Dio se intromete no meio, antes que a situação piorasse.

— Já chega, Lupus. – Fala o asmodiano. Puxa Elesis pelo o braço, soltando-a. Lass anda até seu lado, como uma proteção para seu irmão não se aproximar. – Estávamos vendo seu treino, Elesis. Interessante o que faz com as chamas.

— Ah, por isso que estão juntos. – Percebe. Nunca seria comum vê-los conversando. – Eu só queria ver como estavam o poder das minhas chamas. Pelo visto, melhorei bastante.

— Onde está o Depas? – Questiona Lass, olhando em volta.

— Ele deu uma pausa no treino. Depois ele volta.

— Então por que não comemos algo enquanto isso? – Sugere Dio. – Estávamos indo para o refeitório mesmo.

Elesis não discorda, principalmente por envolver comida no meio. Ela sai na frente com o asmodiano, em passos saltitantes. Lass os segue, o incomodo de ter Lupus ao lado presente.

***

Quando foi comer sua batata frita, Elesis a toma de sua mão. Lass a olha, nervoso pela a ruiva continuar a pegar comida de seu prato. Já era a terceira vez que ela repetia, sua fome, aparentemente, não tinha um fim.

— Sieg, para de pegar minha comida. – Diz Dio, irritado com o moreno ao seu lado.

— Achei que você já tivesse terminado. – Fala Sieghart, a boca cheia enquanto isso.

No caminho, encontraram-se com o resto do grupo. Não viam problema em comer com eles, o que Dio se arrepende em ter achado. A mesa em que sentavam estava cheia, barulhenta por todos. E no meio deles, Elesis a única garota, embora isso, encaixava-se bem com todos. Não tinha o problema de agir naturalmente com eles, já a conheciam.

— Elesis, todos nós temos nossas dúvidas. – Fala Sieghart, toda atenção sobre ele. A ruiva para de comer para olha-lo. – Como que você escondia essas coisas? – Aponta para o peito da mesma.

— Sério isso, Sieg? – Jin não fica surpreso com a pergunta, mas incomodado. Não foi preciso olhar para ver a raiva de Lass por isso. – Mude a pergunta.

— Na verdade, eu escondia com algumas faixas. – Responde Elesis. É uma surpresa pela a naturalidade que ela falava. – Apertava bem e colocava uma camisa por cima. Era isso que eu fazia.

— Poderia demonstrar como que você fazia agora? – Olha curioso.

Dio acerta um soco na cabeça do rapaz. Elesis não responde, mas ri com a situação.

— Mas falando sério. – Fala Ronan, no outro lado da mesa. – Por que Eléo? Algum propósito para ter escolhido esse nome?

— Sim, tem. – Diz Elesis um pouco surpresa. Abre um pequeno sorriso enquanto contava. – Meu pai disse que se eu tivesse um irmão mais velho, ele se chamaria Eléo, se fosse o mais novo, seria Elsword. Eu achei interessante o nome e usei. Falando agora, é meio estranho.

O sorriso da ruiva desmancha, mas não fica com um olhar triste, só estava pensativa sobre o que tinha dito. Ter um irmão seria divertido, pensava, nunca se sentiria sozinha. Mas tudo se tornar num pesadelo quando percebe que Gerard teria o matado também e a dor seria maior.

— Me pergunto como que você conseguiu sobreviver a isso. – Azin quebra o silêncio. – Aguentar os rapazes deve ter sido complicado.

— No começo foi, eu não sabia o que fazer, sozinha. Mas... – Olha de relance para Lass, sorrindo. – Quando eu percebi, não estava mais. Tinha companhia.

— É claro, minha presença causa isso. – Diz Sieghart convencido.

O rapaz recebe outro soco na cabeça, com mais força, dessa vez. Sempre seria Sieghart para quebrar os momentos tensos das conversas, o que era um alívio para Elesis. Quando olhava em volta, via todos reunidos, ficava sem jeito.

— Uma pergunta mais importante: Vocês já transaram? – Questiona Lupus para a dupla.

Olham surpresos para o caçador, outros curiosos para o casal. Elesis fica vermelha com a pergunta, sem ter o que dizer com os olhares. Como se esperava, Lass olha furioso, encostando em Jin ao seu lado.

Estica a mão para o ruivo e fala:

— Me dá minha katana. – Diz Lass.

— Eu já disse que não é uma boa ideia você com uma arma. – Responde Jin, segurando firme a arma longe do ninja. – Não vale a pena.

— Eu vou fazer valer.

— Lupus, isso não é pergunta que se faça. – Menciona Ronan.

— Mas eu estou curioso. Então, já ou não?

Aquela era uma pergunta que Elesis não esperava, e mesmo que sim, não saberia como responder. Cruza os braços, impedindo que o nervosismo não a dominasse. Ele fazia aquilo para irritar Lass, mas não permitiria isso.

— Eu não sou como as galinhas que você pega, Lupus. – Diz Elesis, seu semblante sério. – Não me confunda.

— Oh, 2 a 1, Elesis e Lupus. – Debocha Sieghart. – Não cansa de tomar na cara, Lupus?

— Como pode dizer isso sem nunca te visto. – Isso não cala o caçador. Inclina o corpo sobre a mesa com um largo sorriso. – Não gostaria de experimentar?

Lass é rápido em pegar a faca e debruçar sobre a mesa, fincando a ponta do talher contra a mão do caçador. Lupus já previa isso, afastando-se a tempo de não ser atingido. Deveria se manter calado com o ódio que Lass expressava, mas era aquilo que ele procurava. Provocação.

— Lass, acalme-se. – Pede Jin. – É só brincadeira.

— Ou não. Depende da Elesis. – Continua Lupus.

A espadachim segura o ninja, antes que ele tentasse avançar novamente. Lass volta a se sentar, porém, o olhar coberto por raiva para o caçador.

— Eu estou disponível, Lupus. – Comenta Sieghart.

A tensão some com as risadas. Elesis não consegue se segurar e entra na situação. Lupus não olha nervoso, entra na brincadeira, esquecendo Lass por alguns instantes.

Entre todos que voltavam a conversar, o ninja era o único quieto. Elesis nota isso, sabendo o motivo.

— Desculpa. – Murmura Lass para ela. – Não consegui me conter.

— Eu percebi. – Fala no mesmo tom. – Mas não precisa me defender ou se irritar. Deixa pra lá, ok?

— Vou tentar. – Suspira. Apesar de ser a ruiva a mais cabeça quente, Lass agia como ela. Precisava se controlar.

Elesis ri e se encosta nele, o ninja fazendo o mesmo. Olham-se com os rostos próximos, o barulho sumindo para ambos. Lass se inclina para perto, deixou que seus lábios se encontrassem.

A água despejada em ambos os separa. Olham confusos, até verem Lupus de pé, com o copo em mãos.

— Foi mal. – Diz o haro. – Escorregou.

— Ah, não! Já deu! – Grita Lass.

Jin não consegue evitar o ninja, a katana é pega de suas mãos. Lupus corre antes de Lass começar a correr atrás deles. Nenhum dos rapazes se levantam para separa-los, sabiam que tudo se resolveria sozinho.

— Achei que seria você quem correria atrás dele, Elesis. – Fala Ronan.

— No meu estado, acho muito difícil. – Diz deprimida. A raiva que sentia não podia ser exposta.

Pega alguns guardanapos e seca seu rosto, e o gesso. Zero, ao seu lado, ajuda nisso. O rapaz esteve em silêncio o tempo todo, mas Elesis sentia sua presença ali.

— Foi você quem escreveu isso? – Pergunta ele, apontando para o gesso.

Elesis não entende, mas vê algumas palavras escritas no local. É preciso virar seu braço para ler, já que estava de cabeça para baixo.

— Não consigo ler. O que está escrito, Zero?

— “Propriedade de Lass Isolet”.

— Quê?! – Vira o braço e se força a ler. Infelizmente, era o que escrito ali. – Lass! – Grita, furiosa.

Fica de pé, lembrando quem tinha sido o responsável por aquilo no seu gesso. Já acostumados, ninguém se assusta com sua ira, mas ficam tensos por poderem serem as próximas vítimas.

— O que você vai fazer, Elesis? – Questiona Jin, nervoso.

— Matar. – Seu tom muda completamente, como seu olhar.

E lá estava a Elesis que todos conheciam, e temiam. Antes de sair da mesa, pega sua cadeira e arrasta para onde ia. Todos acompanham a ruiva ir na direção de Lass, que ainda perseguia Lupus. De repente, ela começa a correr e erguer a cadeira.

— Idiota! – Ouvem a ruiva gritar.

Então ela arremessa contra Lass. A madeira se parte em pedaços, jogando o ninja contra o chão.

— Isso é um pouco nostálgico. – Comenta Jin.

***

Solta uma pesada respiração pela boca, a raiva ainda esquentando seu sangue. Ajeita a espada de madeira no punho e tenta se manter focada para o treino. Sente o olhar de questionamento de Depas sobre elas, o que piora tudo.

— Quando poderei tirar essa coisa? – Pergunta Elesis. Ergue o gesso para o rapaz.

— Seu braço não melhorou ainda. – Fala com um tom óbvio. – Precisa continuar com o gesso. Por acaso, não consegue usar o braço esquerdo?

— Não é isso. – Olha para aquelas palavras escrita no gesso. Após ter atacado a cadeira em Lass, o atacou com os próprios punhos. – Só queria tirar logo isso.

— Bem, acostume-se. Agora, posição e comece! – Ordena com rispidez.

Havia razão, não tinha motivo para ficar pensando nisso, justo durante o treino. Encarando Depas, ergue a ponta da espada e joga o braço engessado para trás, colocando-se numa posição de luta. Não se move, espera o rapaz dar o primeiro passo.

Depas avança e ela recua com um passo, a espada sendo levantada para se defender. Sente o choque das armas a cada batida, a velocidade rápida demais para que conseguisse acompanhar, porém, com todos esses dias em treino, conseguiu acompanhar.

Seus reflexos estavam maiores, conseguia ver a ponta da espada vim contra ela, logo defendendo. Não andou ou se moveu tanto enquanto isso, Depas tinha dito para que quando lutasse, não usasse tanto as pernas, e era isso que fazia. Deu um pulo para trás em vez de andar, tendo o espaço necessário.

Avança e consegue quebrar o ataque do rapaz. Jogou a espada para trás e investe com a ponta contra seu rosto. Ele seria atingido, poucos centímetros e seria o suficiente. Depas recua o rosto, a ruiva errando o golpe e se atrasando para voltar a posição. Nesse tempo, o rapaz a ataca, da mesma forma que ela tentou. A ponta da espada atinge seu nariz, seu corpo caindo para trás.

— Não ataque sem ter certeza antes! – Grita Depas. – Você ver uma brecha, você analisa e então, ataca. Não aprendeu nada, Elesis?

— Desculpa. – Diz, caída no chão. Coloca a mão no nariz para ter certeza que não sangrava, apenas estava vermelho. – Achei que tivesse chance.

— Achar não é certeza! Quando for atacar, tem que ser um golpe que prejudique seu adversário, e não que faça cócegas. No seu estado, precisa economizar as energias o máximo possível!

— Eu sei.

— Não, você não sabe! Vamos! Temos que voltar ao treino!

Elesis continuou no chão. Qualquer erro, menor que fosse, Depas transformava numa lição. O que a mais incomodava era tudo ser um simples treino, e não uma luta séria. Poderia não usar as chamas ou o berserk, porém, o mesmo valia para ele.

Tão inútil comparado ao mesmo.

Levantou e seu dia seguiu assim, ela no chão e tendo que ficar de pé toda as vezes que caía. Era difícil e cansativo, mas lembrava-se de Gerard e continuava o treino. Em alguns momentos, raros, acertava um ataque fraco em Depas, o que não era o suficiente quando ele revidava.

— Se quiser mesmo aguentar as chamas, precisa se manter forte na mente. – Falava o rapaz após o fim do treino. Elesis descansava sentada no chão. – Acha que consegue isso?

— Eu já tive elas na minha cabeça antes, acho que consigo. – Responde com uma certa incerteza. – Não terei todas as chamas, só uma parte.

— Não importa, você precisa estar preparada. – Dizia pensativo. – Preciso achar algum treino para você se preparar. O seu corpo irá aguentar, mas tenho que te dizer que sentirá dor para se acostumar.

Ela já previa isso. Foi doloroso ter as chamas roxas, não queria imaginar como seria as azuis. Passa a mão no braço, sentindo-se trêmula. Onde estava sua coragem? Tinha tomado esta decisão, era necessária para derrotar Gerard. O que tanto a impedia de ter certeza?

Elesis sabia. Pegar as chamas para si era quebrar a confiança de Lass. O ninja nunca daria as chamas para ela se pedisse, por isso que fazia escondido dele, até mesmo a conversa que teve as chamas era um segredo.

Até quando teria que agir assim?

— Quando as chamas tiverem comigo, não terei apenas uma pequena parte? Sabe, para ter todo o poder delas, seria preciso tê-las por completo.

— Não funciona assim. As douradas e as roxas entraram em seu corpo em pequena quantidade, mas por você ser compatível, elas se multiplicaram. O mesmo com as azuis, só que levará um tempo até ter toda potência.

— Quanto tempo, exatamente?

— Eu não sei. – Pela primeira vez, Depas demonstra dúvida. – Mas tenha certeza de quando precisará das chamas, porque terá que pegá-las bem antes.

Antes, como se fosse uma encomenda. Passa a mão nos cabelos, não gostando de como pensava. Estava se punindo antes mesmo de fazer, sentia-se culpada por algo que não tinha feito. Isso a deixava triste, incerteza de tomar ou não esta decisão.

— Eu não entendo uma coisa. – Fala num tom baixo. – Se tudo é sobre as chamas, por que elas não estão comigo desde o início? Como que elas foram parar no Lass? Tudo isso é tão... confuso.

Queria que alguém explicasse para ela, fosse sincero de coração. Olha para Depas e espera por uma resposta, que faça tudo fazer sentido para ela. Mas como todos, covardes, como ela considera, ele não fala. Há algo a mais em sua feição, diferente de quando Lothos esconde.

Há dor.

— Eu não conheci o antigo portador, mas sei que Regis sim. – Diz Depas, sem olha-la. – Foi assim que ele conseguiu as chamas e passou para o Lass. Se quiser saber mais, pergunte ao seu namorado.

A palavra ainda não era um costume para Elesis, criando várias reações nela. Vergonha, como agora, era uma delas.

— Vá descansar. – Anuncia Depas. Como de costume, pega o par de sabres da ruiva e coloca sobre o ombro. – Amanhã a gente continua.

— Sim, senhor! – Apoia a mão na testa, como uma boa soldada. Fazia isso para irrita-lo, mas virou uma mania.

— Está se alimentando direito?

— Ah, sim! Legumes e vegetais, como você disse. – Faz uma careta ao lembrar dos gostos de alguns.

— Muito bem, Gerard!

A confusão nos olhares de ambos se encontram. Elesis continua a sorrir, notando o arrependimento nas palavras dele. Estranhamente, não se sentiu incomodada em ser chamada por engano com o nome daquele homem, mas pela a feição que Depas faz.

— Até amanhã. – Ele fala. E se vai.

Por que por aqueles poucos segundos, Depas demonstrou uma reação daquelas? Era como se o grande guerreiro tivesse tirado sua armadura e mostrado sua verdadeira face.

Elesis quis poder ter dito algo, qualquer coisa, porém não conseguiu. A distância que ele colocava entre eles era para evitar isso, um laço maior do que “mestre e aprendiz”.

— Ei.

Seus pensamentos são interrompidos pela a raiva que sente. Respira fundo e fica de pé, saindo do salão sem olha-lo. Anda pelo o corredor com aquela presença a seguindo, querendo sua atenção.

Irritada, vira-se para encarar Lass.

— O que quer? – Pergunta com certa rispidez.

— Só queria saber se já tinha acabado o treino. – Diz Lass, encolhido pela a raiva da mesma.

Elesis estica os braços. O fato de ela ter saído do salão era por isso, estar livre. Um pouco óbvio, ela pensa.

— Ainda tá com raiva daquilo?

— Feliz que não é. – Aponta para o gesso, o que a irritava. – Você escreve isso como se eu fosse uma coisa.

— Foi só uma brincadeira.

— Há há, estou morrendo de ri. – Pelo o semblante sério, não estava.

O peso que cai sobre seu ombro a incomoda, diferente do ninja. Jin chega perto e apoia sua mão no dois, sorrindo sem ter notado a situação.

— O que vocês estão fazendo? – Pergunta o ruivo.

— Nada. – Fala Elesis.

Segura a mão de Jin e aperta, tirando de seu ombro. O lutador se ajoelha no chão pela a força que a mesma aplicava naquele aperto. Só pôde voltar a ficar de pé quando foi solto.

— Elesis, não use seu berserk em mim. – Disse enquanto passageava a mão.

— Eu não usei. – Estava proibida de usar qualquer magia, apenas os punhos.

Jin não acredita, a força que a ruiva usou não era natural. Ela o ignora e volta a encarar Lass. Quando pretende dizer algo, dá as costas e continua o caminho. Lass corre atrás e a para ao ficar à sua frente.

— Sério que vai ficar com raiva por causa disso? – Questiona o ninja. – É bobagem.

— Queria que fosse você no meu lugar. – Aponta para o gesso. Estava irritada por passar vergonha com aquilo escrito.

— Bem, você deixou uma marca em mim, e não vejo problema nisso. – Gesticula para seu pescoço. A mancha já não aparecia mais.

— Achei que tivesse batido na pia.

Lass não sabe o que responder. Deveria ter ficado calado, percebe.

— Mas eu bati! Só que as pessoas pensam que foi você quem fez isso.

— Por que pensariam isso? – Pelo visto, Elesis não entendia o significa de tudo aquilo.

Atrás da espadachim, Lass olha para Jin como um sinal de ajuda. O ruivo abre um sorriso sem jeito e joga os braços para o lado. Ele não queria se intrometer.

— Depois conversamos. – Diz Elesis. Continuou a andar. – Quero descansar agora.

Dessa vez, não corre atrás da ruiva. Coça a nuca enquanto a olha ir. Jin chega ao seu lado e dá uma leve batida em seu ombro.

— Ela deve tá nos dias. – Explica o lutador.

***

Observa o céu com um tom alaranjado e solta a fumaça de sua boca. Ela se junta às poucas nuvens que tem ali. Volta seu olhar para o jardim do colégio, com uma grande diversidade de flores. Ele gostava de olha-las, como se fossem as únicas criaturas desse mundo que nunca seriam capazes de machucar.

O cigarro volta aos seus lábios, esse pequeno tempo enquanto puxava a fumaça fazendo esquecê-lo dos problemas.

— Você tem o mesmo hábito do Astaroth. – Menciona Lass, parado ao seu lado.

Depas não fica surpreso com sua presença. Os passos silenciosos do ninja já se tornaram um costume.

— Ele ainda tá fumando? Achei que tivesse parado. – Diz enquanto solta a fumaça.

— Ele faz quando não há ninguém por perto. Alguma explicação para isso?

— Astaroth tem muitos problemas, e não gosta de demonstrar isso. Essa é a explicação.

— O mesmo de você, então. – Conclui. Ele não expressa, mas é verdade. – Esconde muitos segredos, hum.

Então olha para Lass. Não sabe o que aconteceu, mas o rapaz não estava com Elesis em seu tempo livre. Não pergunta o motivo, preferia ficar distante da relação de ambos.

— Você quer mesmo saber sobre a história, não é? – Sorri ao perguntar. – Foi mal, garoto. Não irei contar, não vale a pena.

— Quem irá julgar isso sou eu.

— Quer que eu te derrube novamente? Então pare de questionar. – Diz com seriedade.

— Mas...

Sua garganta fecha e seu corpo estremece em fraqueza. Lass cai de joelhos. Olha irritado para Depas, quem causava aquela sensação nele. O rapaz termina seu cigarro e o arremessa com um peteleco.

Lass volta a respirar quando o peso some. Suas mãos continuam trêmulas, apoiadas contra seu peito, sentido os acelerados batimentos do coração.

— Não faça isso. – Pede Lass, sua voz quase sumindo com a falta de ar. – E você ainda não explicou por que tem a mesma magia de Cazeaje. Achei que fosse unicamente dela.

— Quem garante que esse poder é dela? – Olha para o rapaz ajoelhado ao seu lado. – Cazeaje é poderosa por ser inteligente, calculista. Mas para ela, isso não era o bastante. Queria que as pessoas ao seu redor ficassem pequenas, e esse poder é perfeito, não acha?

— Está dizendo que ela roubou?

Sua atenção volta ao jardim. Lembrar de Karina, como a chamava, era complicado. Desde o instante que a conheceu, sentiu as más intenções da mesma. Aquele sorriso coberto pela crueldade não escondia sua verdadeira natureza.

— Cazeaje é um ser que merece ser pisado. – Sorri com satisfação. – Então, por farvozinho, pise nela.

Considerava-se a pessoa com maior ódio de Cazeaje, porém ao lado de Depas, notando sua verdadeira intenção ali, via que não era verdade. Como Gerard, ele também a queria ver morta, e o fato de ambos terem a mesma magia, era apenas um dos motivos.

— Eu faço isso se der a palavra que cuidará da Elesis. – É rígido no pedido. – Sinto que ela significa alguma coisa para você.

— Você é observador demais, garoto. – Solta uma rápida risada. – E não se preocupe, não matarei sua ruiva.

— Não é disso que eu falo.

Olha para Lass, tentando entender a seriedade do mesmo. Com um rápido pensamento, nota o que quer dizer.

Assente.

— Isso não posso te garantir. – Suspira. – A verdade, muitas das vezes, são melhores contadas em forma de mentira.

— Como assim?

— Bem, as pessoas não são honestas consigo mesmas. Preferem dizer um “eu te odeio” cheio de paixão do que dizer um “eu te amo” simples e sem graça. Consegue entender? – Lass nega. – É, isso é bem complexo.

— Então está dizendo que irá...

— Contar a verdade para ela? Bem, eu não sei. Como eu disse, a reação dela só dependerá dela, não posso prever isso. Até lá, continuarei meu trabalho.

Treinar, treinar e treinar. Essas seriam as desculpas que ele inventaria até lá, e Elesis sabia disso. A ruiva aguardava, e Lass ficava preocupado com esta situação. Queria saber se Gerard tinha alguma noção do que iria acontecer ou fazia parte de seu plano.

Não importa o que ele fosse fazer, o ninja esperava pelo o próximo passo do ruivo.

***

Para a surpresa de Elesis, o aparecimento do gato de Lass a faz se acalmar. Ele se deita no seu colo e espera por carinho. A ruiva ri e passa a mão pela a pelagem branca do animal, o ronronar do mesmo acalmando suas emoções.

— Se todas as pessoas fossem como você, gatinho. – Murmura.

Olha para a porta quando Lass entra. Sua feição volta a se fechar, ignorando o rapaz. Ouve o suspirar do mesmo por sua atitude.

— Achei que já estivesse melhor. – Comenta o ninja.

— É, estou tentando. – Diz com desinteresse.

A cada dialogo, pior ficava a situação. Era como sair da teia de uma aranha, enrolava-se a cada movimento, por menor que fosse.

— O que tanto te incomoda nisso? – Volta a perguntar. – Já me desculpei.

— Não é exatamente sobre isso. Eu gosto de estar com você, mas não quero que as pessoas saibam. – Olha para o mesmo. – Não que eu tenha vergonha de você ou algo do tipo, é que...

Abaixa o rosto. O olhar que o gato dava para ela era o mesmo de Lass. Confuso pelo o que dizia.

— Eu só não quero que as pessoas fiquem sabendo, não agora. Você viu como o Lupus agiu, é isso que eu quero evitar.

Lass se aproxima, sentando à sua frente. O gato pula sobre o colo do rapaz, que não nota.

— Quer que eu fale com ele? Ele é um idiota, posso dar um jeito nisso. – Diz sério.

— Não, eu não quero. – Sabia o tipo de conversa que Lass iria ter. – Mas não é esse o problema. Antes que as pessoas soubessem, queria ter certeza da minha resposta.

— Não se importe com isso, ignore o que pensam da gente.

Elesis força um sorriso com o olhar caído. Lass percebe que aquele não era o único problema, algo que ela tentava esconder era maior.

— O que te incomoda? – Questiona. Tenta olha-la nos olhos, porém ela desvia. – Não é isso que te atormente, não é?

Esteve assim desde o treino de manhã. Tudo estava ligado ao relacionamento entre eles, porém algo que somente Elesis, e Depas soubesse.

As chamas. Lembra que um dos motivos para estar com Lass era para conquistar as chamas quando chegasse a hora, sem que o rapaz soubesse, ao menos. Usava o ninja de uma forma que nunca achou que faria. Quando pensava nisso, tinha raiva de si, porém, descontava em Lass quando chegava perto.

Não queria isso. Uma parte, gostava dele, muito, mas a outra, inconscientemente, fazia isso.

— Seja sincero. – Pede Elesis. Segura as próprias mãos e o olha. – Se eu estivesse com você apenas pelas as chamas, você continuaria a me amar?

Lass fica surpreso com a pergunta repentina. Não sabe o que dizer, a expressão e o tom de Elesis era tão machucado que dava pena. Analisa a pergunta e sente um receio em perguntar.

— Isso é verdade?

— Apenas responda, Lass.

— Elesis.

— Responda!

Ela não queria uma resposta, temia por uma. Olha firme para o rapaz e implora para que não entendesse errado.

— Eu não sei. – Fala Lass. Balança a cabeça, perdido. – Por que pergunta isso?

— Por favor, escute. – Sente o rapaz ficar mais tenso. Precisa ser dito, para que essa dor sumisse de vez do seu peito. – No dia que você saiu do circo, eu conversei com as chamas.

— Você fez o quê? – Pergunta indignado.

— Apenas isso, eu só conversei. Eu queria saber se eu poderia aguenta-las, para ter certeza que eu poderia usar mais tarde.

— E... ? – Pelo o tom, Lass já não gostava do rumo da conversa. – O que elas disseram?

— Eu posso, mas precisaria me preparar para isso. – A cada palavra, mais difícil era para olhar o ninja. – Por isso do treino do Depas.

Agora fazia sentido o porquê do rapaz ter dito para ele sobre o treino de Elesis, por ele já saber as intenções da mesma. Algo de pesado cresce no peito de Lass quando pensa nisso.

— Então está comigo pelas chamas?

— Não! – Diz rapidamente. – Quando eu aceitei ficar com você, foi porque eu gostava de você, só que eu não sabia como. Eu quero descobrir, Lass.

O olhar do rapaz não mostra ter acreditado. Elesis se aproxima, segura seus ombros para que não desviasse a atenção dela.

— Apenas diga sobre as chamas. – Pede Lass. – É verdade?

A ruiva segura seus ombros com força. Ela tenta segurar mas solta lentamente, abaixando seu rosto. Não foi preciso palavras para responder, já estava dito.

Aquela sensação voltava para atormenta-la, porém, bem maior. Era para se sentir mais leve com a confissão, mas o efeito era ao contrário. Por que a verdade doía tanto?

— Desculpa. – Pede Elesis. – Desculpa, Lass.

— Sabe a minha decisão para isso, não é? Eu nunca te daria as chamas, Elesis.

— E o que você queria que eu fizesse?! – Berra, jogando os braços para o lado. Olha para o rapaz com sua face tristonha. – Olhe para mim! Eu não consigo andar sem me cansar, eu sou inútil!

— E você acha que ter as chamas resolveria tudo?!

— Sim, eu acho! E eu não me importo com as consequências, eu... – Soluça. Segura para que as lágrimas não caiam. – Não tenho outra opção.

Nada curaria suas pernas, tudo que restava para ela eram as chamas. Odiava admitir isso, mas dependia delas quando chegasse o momento.

— Eu não vou te dar as chamas. – Diz Lass. – Não importa o motivo, você não merece isso.

— Lass, por favor. Entenda...

— Você ainda quer que eu entenda? Elesis, sério. – O gato sai de seu colo, assustado. Olha para ambos, tentando entender. – Você que não entende o que é ter as chamas, acha que é apenas usa-las e pronto. É mais que isso, e você sabe.

— É por isso que eu não pretendia te contar. – Fala baixo. – Você nunca entenderia.

Elesis estava cega pela vingança, tanto que não enxergava o próprio perigo que passava. O ninja não sabia mais o que dizer, algo maior o incomodava e vinha das palavras da ruiva. Balançou a cabeça, cansado, e ficou de pé. Elesis tenta o segurar, mas ele esquiva o braço.

— Boa noite, Elesis.

— Lass. – Percebe o que fala, arrependida.

O quarto fica mais gelado sem a presença do ninja. Tinha agido como uma idiota, ele tinha o direito de ter agido daquele jeito. Com o leve miado, olha para o gato que parecia preocupado com o que aconteceu.

— Não foi nada. – Diz ela. – Não se preocupe.

Seu braço ferido começa a coçar, sua atenção caindo sobre o gesso. Seus lábios tremem.

Aquelas palavras escritas ali nunca foram tão boas quanto agora.

***

O teto era uma boa maneira de passar o tempo enquanto tentava se distrair. Seus cabelos ruivos estavam espalhados pelo o chão como um leque vermelho. Ainda se questionava se valeria ficar de pé para continuar seu treino.

— Algum problema, Elesis? – Depas pergunta. – Está quieta demais hoje.

Era doloroso lembrar de que dormiu no quarto sozinha, apenas com a companhia do gato. Lass não tinha voltado, nem aparecido de manhã para falar com ela. Ele estava zangado e com razão.

— Eu contei para o Lass sobre meu treino e que eu queria as chamas. – Explicava, sem muito ânimo. – Obviamente, ele ficou irritado e não falou comigo desde então.

— Problema em conseguir a chama, então.

— As chamas não são o problema. – Diz séria. – Eu fui sincera e é isso que eu ganho. Achei que o Lass pudesse entender.

— Na verdade, ele entendeu, mas não do jeito que você queria. Como o atual portador das chamas, ele sabe mais que qualquer um como é ter uma mente o perturbando a todo momento. Lass se preocupa com você.

— Todos se preocupam comigo! – Grita, irritada. – É sempre isso! “Só quero seu bem”, “não quero vê-la ferida”. Ah, eu sei cuidar de mim mesma! – Bate com o gesso no chão, uma dor a atingindo por isso.

Depas aparece na sua visão, parado ao seu lado. A ruiva bufa, esperando um sermão vindo dele.

— Preferiria ao contrário? – Ele pergunta. – Que todos te ignorassem, mesmo quando pedisse por ajuda?

— Falando assim, é meio cruel.

— Então pare de reclamar. Eles se preocupam porque gostam de você, então fique agradecida por isso, não demonstre o oposto. – Fala com seriedade.

Eles se preocupam e a ruiva fazia o que não deveria, odiar. Lass seria o primeiro a mostrar que se importa com ela, como na noite anterior. Sentia-se culpada quando pensava no que tinha feito, que somente agora fazia sentido para ela.

— Se desculpe com ele. – Diz Depas. – Você terá bastante tempo para conseguir as chamas, mas não para consertar seu relacionamento. Existem coisas que são mais importantes.

Elesis se senta, surpresa. A gentileza que o rapaz usava era um choque para ela, mas não foi isso que chamou sua atenção.

— E se o Lass nunca me entregar as chamas? O que devo fazer?

— Você achará um jeito, garanto. – Balança a mão. – Levante, vamos continuar nosso treino. Não gosto de te ver triste.

— Certo.

— Coloque um sorriso nesse rosto, ao menos.

Elesis solta uma risada sem jeito, sorrindo para Depas. Ele faz o mesmo, porém, sendo verdadeiro dessa vez.

Aos poucos, algo de bom se abria no peito do rapaz.

***

— Hum, Elesis, por que estamos aqui? – Pergunta Jin.

Tinha se encontrado com a espadachim alguns minutos atrás, séria enquanto andava pelo o corredor. A primeira coisa que ela fez ao se aproximar foi perguntar onde Lass estava. Jin não tinha o visto o dia todo, agora, com o anoitecer, a ruiva e ele estavam sentados no chão de frente a biblioteca.

Eram como cachorros esperando seu dono.

— Provavelmente, o Lass acabou o treino e foi para a biblioteca. – Explica Elesis. – Ele faz isso quando está irritado ou quer ficar sozinho.

— Como que vocês conseguem brigar em tão pouco tempo? – Questiona o lutador. – É surpreendente.

— Eu não faço isso porque quero. – Abraço suas pernas encolhidas. – Se bem que, dessa vez, eu estou bem errada.

— O que você fez?

— É bem pessoal, Jin. – Não tinha a coragem necessária para contar ao ruivo. – Desculpa.

— Se fosse o Lass, eu saberia o motivo. – Depois do roxo em seu pescoço, qualquer coisa era possível. – Espero que não seja muito sério.

Elesis também esperava. Quando falava das chamas, Lass se transformava em outra pessoa, mais crítica e cuidadosa. Não quis ofender o rapaz com o que disse, foi tola em achar que ficaria bem se falasse daquela forma com ele.

Lass tinha sentimentos, precisava se lembrar; e a maioria, fortes por ela.

Seu coração acelera quando a porta da biblioteca abre. Era o ninja, como previa. Ficou de pé no mesmo instante, a atenção caindo sobre ela.

— Lass. – Elesis chama.

Diferente das outras vezes que ele sorria com sua presença, dessa vez, sua expressão permanece neutra. Gostaria de sair dali, porém, ficou e olhou Elesis.

— Desculpa pelo o que eu disse. – Diz a ruiva. – Não queria te ofender.

— Sei que não, mas... – Toma cuidado com as palavras, principalmente com Jin ali. – Não é isso que me incomoda.

As chamas, novamente.

— Sobre isso...

Sabendo que persistiria, Lass se vai. Elesis o chamaria, mas sabe que estava fazendo o errado, novamente. Queria desistir desta ideia, porém, não conseguia, havia uma necessidade que não se apagava dentro dela.

Um peso cai sobre suas costas e a empurra. Deu passos atrapalhados, olhando para trás em confusão.

— Vai atrás dele. – Manda Jin. – Lass correu a vida toda atrás de você, faça o mesmo por ele agora.

— Mas e se eu não conseguir?

— Pare de ser negativa. – Aponta. – Apenas faça, independente do resultado.

Se fosse para brigar pelas chamas, era melhor desistir, mas se fosse por Lass, teria que tentar. Não fazia aquilo por elas, a dor que sentia era por outro motivo. O problema era a incerteza de Elesis, que ainda não descobria o porquê daquilo.

Mas como Jin tinha falado: Não importava o resultado, precisava fazer. Foi o que ela fez, correu com suas pernas enfaixadas na direção de Lass.

***

Usou seus joelhos como apoio para recuperar seu fôlego. Correu por um longo tempo pelo o colégio, a procura de Lass. Quando foi atrás do mesmo, não conseguiu o encontrar mais, de tão rápido que eram seus passos. Suas pernas doíam, porém não notava, estava preocupada demais em acha-lo.

— Eu posso falar com ele depois. – Pensa. – Preciso descansar, minhas pernas...

Com um pouco de energia restando, voltou para o quarto. Não podia se esforçar demais, pioraria seu estado e não era isso que procurava. Chegou no cômodo quase desabando, mas ficou de pé ao ver Lass deitado na cama, fazendo carinho no gato.

Ele percebe seu estado.

— Eu te procurei por todos os cantos e você estava aqui! – Diz indignada, e ofegante.

— Eu voltei para o quarto, esperava que eu fizesse o quê?

Desde o início, Lass não a evitava, era só impressão dela. A ruiva entra, mas continua de pé, mesmo com as pernas doloridas e trêmulas.

— Tem o direito de ficar irritado, eu sei, mas quero que... – Pretendia falar, porém quando o rapaz ergue a mão, para.

— Não precisa falar, eu sei. – Dizia num tom calmo, sem a raiva de antes. – Entendo o porquê de querer as chamas, mas nunca seria o suficiente para eu dá-las a você, Elesis.

— Não tenho mais nada a perder, então não me importo. – Dá de ombros. – Se eu quero fazer uma coisa certa, deixe-me ao menos fazer isso.

— Então eu seria um erro para você?

— Não, nunca. – Fala imediatamente. – São outros tipos de decisões. Quero terminar com Gerard, e esse é o único jeito que vejo para isso.

— Não, você não precisaria.

— Como pode ter certeza disso?

— Porque você é forte sem precisar delas, Elesis. – É sincero. – Quando chegar a hora, você verá. O poder das chamas é apenas uma ilusão, você precisa ter muito controle sobre elas, o que exige longas práticas. Não ache que terá elas e pronto, porque não é assim que funciona.

O pouco que teve das chamas já foi o suficiente para mexer com seu psicológico, para manipula-la do jeito que quisesse. Depas mesmo tinha avisado, que ela ficaria fraca até que seu corpo completamente se acostumasse.

Seria doloroso, de uma forma que as chamas roxas tivessem feito cócegas.

— Mas e se eu aguentasse?

— Você não tem certeza disso. – Ninguém tinha, era o que queria dizer, inclusive Depas. – Até lá, desista disso, Elesis. Você encontrará outra forma de derrotar Gerard.

Gostaria de evitar essa luta, principalmente por entender o ruivo. A cicatriz nas suas costas era a prova disso, da possível inocência dele, que apenas dependia do ninja. O pior era não poder contar a Elesis sobre isso.

Vendo o olhar deprimido da ruiva, fica de pé, aproximando-se cuidadosamente. O gato pula da cama e o segue, vendo que não tinha sua atenção, anda pelo o quarto atrás de um canto confortável.

— Me importo com você o bastante para saber que isso não é uma boa ideia. – Fala Lass com carinho, não querendo machuca-la. – Agora mesmo, as chamas estão gargalhando e é quase impossível manter a atenção na conversa com elas assim.

— Elas falam com você? Achei que existisse um bloqueio entre vocês. – Fala surpresa.

— Isso antes do circo. Depois que comecei a usar as chamas, elas não param de falar na minha cabeça. – Suspira. – Algumas vezes, elas dormem.

O ninja fecha o rosto, assentindo sozinho.

— Elas não dormem, tinha esquecido. – Volta a falar. – Elas se ofendem com isso.

Elesis ri, para sua surpresa. O clima de antes tinha diminuído.

Segura o rosto da ruiva, encostando sua testa com a dela. Abre um sorriso com o contato, que tinha sentido falta na noite anterior.

— Não quero brigar com você, principalmente pelas chamas. – Sussurra Lass. – Por favor, desista disso, pelo menos neste instante.

— Eu só tenho medo de quando chegar a hora, não conseguir sem as chamas. – Diz Elesis com o olhar baixo. – Só quero ter uma certeza absoluta.

— Então quando chegar, estarei do seu lado para te erguer. Não tem com o que se preocupar.

— Mesmo prometendo, não seria certeza. – Temia pelo o que Gerard poderia fazer com o ninja novamente. – Não quero envolve-lo nisso.

— Não importa, estarei lá do mesmo jeito. – Diz em teimosia.

Elesis segura sua camisa com força, as pernas não aguentando mais seu peso. Lass a abraça antes que caísse, vendo mais de perto a expressão de dor da mesma. Era disso que ela falava, de quando chegasse o momento, suas pernas não funcionarem como deveriam.

Ela estava com medo. Não queria mais a ver assim, levando-a até a cama para sentar. Um alívio percorre pelo corpo da ruiva quando isso acontece.

Elesis apoia sua cabeça contra o ombro do ninja, esperando que aquela dor passasse. Suas mãos tremiam com a fraqueza, logo seu corpo por completo.

— Faz parar. – Pede num murmuro. – Por favor.

— Quer que eu use as chamas?

Ela assente. Era irônico como a espadachim evitava de se curar com as chamas, mas enquanto as queria de toda forma.

Lass apoia a mão sobre ambas as pernas, deixando o pouco das chamas desliza sobre a pele de Elesis. O corpo da ruiva lentamente para de estremecer, a dor diminuindo com um grande alívio para ela. Ele tinha causado aquilo, ter a feito correr todo colégio por sua causa, mesmo que não fosse proposital.

A sensação que as chamas causam em seu corpo é indescritível. Olha para Lass e sorri em agradecimento. O rapaz se aproxima quando segura seu rosto, sem mais o uso das chamas. Permiti o beijo, com uma certa delicadeza para não a atingir os ferimentos. Porém, é Elesis quem o puxa quando sente falta da sensação que as chamas causavam. O ninja obedece, deitando-se sobre seu corpo.

Como da outra vez, o calor volta a tomar conta de seu corpo. Não poderia deixar sua consciência apagar, precisava controlar as chamas. No entanto, a mão de Elesis passa por baixo de sua camisa, sentindo o calor que sua pele emanava. Não é ele, mas sim ela que puxa sua camisa para ser retirada. Lass permiti, logo voltando a beija-la.

Não demora muito para Elesis sentir o corpo do ninja esquentar, aquecendo mais a cada segundo. Queria alerta-lo, mas as palavras não saíam de sua boca. Os beijos caem para seu pescoço, a mão de Lass sobre sua cintura e subindo. Sente-se desconfortável quando passa por baixo de sua camisa, sentindo sua pele.

— Lass. – Chama.

Ele não ouve, os beijos continuam a descer. O calor vindo de Lass não é um incomodo, mas um aviso. O desconforto aumenta com uma onda de vergonha quando a mão do rapaz explora seu corpo.

— Lass!

As chamas roxas acendem como uma pequena explosão. Lass se afasta com as manchas que queimam sua pele, como o de Elesis, que também se atinge. Por um instante, tinha perdido o controle e agido desesperadamente.

— Desculpa. – Pede ao ver as manchas queimarem o ninja. – É que...

Esconde seu rosto com as mãos, sua face vermelha pela vergonha. O que a matava era o nervosismo que sentia no momento.

— Tudo bem. – Fala Lass. – As manchas não me afetam.

Ela abaixa as mãos, olhando para o mesmo. Senta-se com uma certa culpa, não querendo ter feito aquilo.

— Achei que estivéssemos apressados demais. – Explica ela. – Talvez você esteja pronto, mas... eu...hã... não.

Não foi preciso mais que isso para Lass entender. É a vez dele de se sentir culpado pelo o que fez.

— Desculpa. – Diz Lass. – Achei que... sabe.

Ela nega com a cabeça.

— Deve ser chato para você, mas eu só não quero fazer algo precipitado. – Fala Elesis, encolhida nos próprios ombros.

— Não se preocupe com isso, você está certa. Se não quiser, não tem problema. – Sorri para acalma-la, o que funciona por um pouco. – Não quero colocar pressão também.

Não falam mais, o silêncio cora ambos em completa vergonha. Lass se deita com o rosto enfiado no travesseiro, talvez querendo esconder o que sentia. Elesis se sente mal por um instante, não pelas as manchas das chamas, que somem após um tempo.

Com as costas expostas, sua atenção cai sobre as milhares de cicatrizes de Lass. Sempre a intrigava a quantidade de marcas que o rapaz tinha. Sua mão se move sobre a pele do mesmo, sentindo cada uma das cicatrizes. Lass vira o rosto ao sentir o toque.

— Sabe, isso não ajuda muito. – Menciona ele. A delicadeza nos dedos da ruiva o atiçava novamente.

— Por que elas não saram? As chamas deveriam ser capazes de fazer isso.

— Eu não sei. São antigas, não vale a pena gastar energia para tira-las.

— Nem mesmo essa? – Passa os dedos sobre a cicatriz feita por Gerard.

Sua língua coça para contar o real motivo de deixa-la ali. Mas não fala, lembra que Elesis não entenderia.

— Não me preocupo com isso. – Responde. – Nem mesmo vejo.

— Se acha isso...

Ela olha triste. Lass entendia o motivo para isso, mas não havia muito para se fazer. Em alguns momentos, confiava em Elesis, outros, em Gerard. Estava partido ao meio por esses dois.

— Mas eu não me importo. – Diz Elesis, deitando sobre suas costas. Ela volta a sentir suas cicatrizes. – É bem legal, mostra pelo o que você passou para ter chegado aqui.

Gostaria de poder dizer o mesmo, até se lembrar da cicatriz que a ruiva tinha nas costas, causada por ele. Diferente dela, ele não tinha orgulho em vê-la com aquela marca.

***

— Toma! – Fala Depas, arremessando os sabres da ruiva.

Elesis pega com desjeito, o gesso atrapalhando um pouco. Olha para suas queridas espadas, então para o rapaz. Não entendia o que ele fazia.

— Por que está me devolvendo? – Questiona.

— Começará a usa-los. – Explica. – Creio que já tenha aprendido a usar o outro braço.

— Ah, sim! Estou bem melhor. – Diz sorridente. Coloca o sabre em cada mão, a com o gesso sendo um incomodo, mas conseguindo segurar. – Meu braço ainda não está curado, então não conseguirei o usar os sabres por completo.

— Tente, ao menos. – Pede com uma espada em mãos. Ergue a lâmina.

Quando Depas se move, Elesis já estava preparada. Como um costume, rebate com a mão direita, porém, não tendo tanta intensidade por não conseguir segurar a espada com firmeza. O sabre voa de sua mão, sendo obrigada a recuar rapidamente em pulos. Não podia usar muito as pernas, tinha que economizar as forças.

Depas continua a avançar, apenas sua mão esquerda disponível para se defender. Surpresa, consegue acompanhar os ataques do mesmo, como uma dança; uma valsa, que sempre teve vontade de aprender.

­— Uma brecha! Qualquer uma! – Pensava séria. – Se não há uma, eu mesma faço.

Esquiva para o lado num pulo. Depas passa direto, aproveitando isso e avançando contra o rapaz. Como esperava, ele se recupera e ataca. A lâmina se aproximava para atingi-la, seguindo em diante.

Ergue seu gesso como um escudo, a espada ficando presa ao atingir. Rapidamente, com o outro braço, ataca com a ponta da lâmina. Sem chance de revidar, Depas joga a cabeça de lado para se esquivar. Seu corpo paralisa ao sentir o frio da lâmina entrar por seus lábios, ficando contra sua bochecha, quase a cortando.

O gosto de sangue invade sua boca.

Com um sorriso no rosto, Elesis retira a espada com olhar de vitória. Depas puxa a lâmina, retirando do gesso da ruiva. Passa a língua no fino corte dentro de sua boca, não conseguindo segurar o sorriso.

— Você melhorou. – Comenta. – Parabéns.

— Isso quer dizer que... ? – Olha empolgada.

— Não está preparada, mas está quase lá. – É o bastante para a animação da ruiva. – Aprendeu ter outra visão de uma luta, que é o mais importante.

Não eram elogios, mas Elesis se sentia especial ouvindo isso de Depas, que a julgou durante todo o treino.

— Vamos voltar ao treino, é o melhor que fazemos. – Diz o rapaz, já se afastando.

— Ei! Eu mereço um toca aqui. – Ergue a mão, ansiosa. – Vai, não seja um velho chato e bate aqui!

Ele olha sem muito ânimo, soltando um suspiro ao se aproximar. Não era acostumado a agir como um jovem, porém não deixaria a espadachim sozinha. Até porque, não conseguia.

Bate na mão de Elesis. Ela elogia, como se fosse algo especial.

— Preciso avisar. – Anuncia Depas quando voltava para seu canto. – Como está seguindo um bom ritmo, não há mais necessidade de eu ficar. Nessa semana, eu parto.

Toda a animação que Elesis tinha se esvazia com a notícia. Por que ficou tão chocada com isso? Desde o início, já sabia que seria assim, mas agora, parece ter esquecido completamente. Essas semanas, que pareceram horas, criou um laço entre ela e Depas, um que seria difícil de superar.

Sem o mesmo sorriso de antes, ergue seus sabres e se prepara para o combate.

***

Sentia seu corpo acorrentado, imóvel para se debater. Não conseguia juntar o ar necessário para respirar, estava sendo sufocada. Queria acordar daquele pesadelo que tanto esmagava sua mente.

— Elesis!

Seus pulsos são segurados com força. Abre os olhos e tudo que ver, é o azul dos de Lass. Ele a segurava com sua expressão tomada pela preocupação. Aos poucos, percebe o que acontecia.

— Você estava gritando e se debatendo. – Explica Lass. – Tudo bem?

Seus pulsos são soltos. Com as mãos trêmulas, cobre seu rosto para ter certeza que estava acordada. Não queria se lembrar do pesadelo, muito menos com ele.

Era o mesmo sonho que teve da outra vez. Uma moça sendo queimada pelas as chamas azuis, agoniada de uma maneira estranha. Ela chorava, mas não em dor, e sim por outra coisa. Durante o sonho, Elesis sentiu cada dor que ela sentia, cada emoção que a afogava, que era o motivo por seus olhos derramarem lágrimas.

Porém, o pior não era sentir. Gerard estava lá, mais jovem e com um olhar de... preocupação. Ele olhava para a moça, sentindo a mesma agonia que ela.

Lass encosta em seu ombro, chamando sua atenção. Elesis segura a mão do rapaz, colocando contra sua face. Era real, estava acordada.

— Estou com medo. – Murmura.

Algo de errado acontecia, percebe Lass. A ruiva nunca admitiria estar com medo, no mínimo, fingiria por causa do orgulho. Com a outra mão, puxa a espadachim contra seu peito, abraçando assim. Ela afunda o rosto, querendo esconder o nervosismo.

— O que houve? – Pergunta Lass.

— As chamas... Gerard... – Diz com a voz engasgada. – Eu não sei.

— Só foi um sonho. – Passa a mão por seus cabelos.

Era o que ela queria acreditar, mas pelo o que sentiu, tudo era tão real para ser simplesmente um sonho. As chamas queimando se transformou num medo por ela, querendo ficar bem longe por um bom tempo.

***

Era estranho, a semana tinha passado com um piscar de olhos. Agora, olhando para suas mãos cobertas por feridas de tanto erguer os sabres, Elesis via como o tempo tinha passado. O dia tinha chegado, o que a magoava toda vez que se lembrava.

— Que bom que já está aqui. – Diz Depas ao entrar no salão da piscina.

— Achei que hoje não houvesse treino. – Comenta Elesis, desanimada. – Você vai embora daqui a pouca, deveria estar descansando.

— Eu não poderia ir embora antes disso. Esse será o seu último treino comigo.

— Certo.

Ficou de pé para ouvir as instruções. Antes, Depas estica um pequeno frasco com poção. Já sabia o que seria, pegando sem protesto.

— Não use as chamas nem nada do tipo. – Ele explica. – Apenas entre na água e espere, certo?

— Tá bom.

Tomou a poção, com um gosto mais azedo que antes. Devolve o frasco e corre em direção à piscina. Entra na água, nadando até o meio e esperando.

— Pode entrar. – Fala Depas.

Elesis afunda. Para numa determina parte, apenas o escuro da piscina a rodeando. Olha para o alto e consegue ver Depas pela imagem distorcida. Espera que ele dissesse algo, mas nada sai de sua boca. Apenas a observa, como se algo fosse acontecer.

Força a visão quando a escuridão da piscina aumenta à sua volta. Não entende, sente seu corpo ficar dormente, afundar sem que pudesse subir. Logo, sente a pressão da água aumentar contra ela, esmagando seu corpo. Vozes são ouvidas, barulhos e sons desconhecidos.

— É sua culpa. – Ouve seu pai falar.

Olha assustada para os lados. Não havia nada. Sua cabeça dói, uma dor que não consegue suportar.

— Você ter as chamas? Que piada. – Diz Lass.

— Você nunca me aguentaria! – Debocha as chamas.

— Sim, nos preocupamos com você, Elesis, porque você é fraca. Mais fraca ainda com essas pernas. – Comenta Lothos.

— Faça um favor e morra. – Fala Jin.

Diversas vozes falam à sua volta, milhares que era como um quadro sendo arranhado. Coloca as mãos nos ouvidos, mas de nada adianta. A pressão na água aumenta com os insultos.

Seu rosto é segurado. Ao abrir os olhos, enxerga Lass. Fica feliz com sua presença, porém, a pressão aumenta e o rapaz abre um sorriso em deboche.

— Você é apenas uma garota, Elesis. Estou à procura de uma mulher de verdade. – Ele fala.

Ela nega com a cabeça, horrorizada.

— Então prove.

Lass a puxa, começa a agarra-la. Elesis se debate, desesperada por aqueles toques em seu corpo. Não queria, gostaria de gritar, mas sua garganta estava fechada. Abre a boca para gritar e tudo que sai é bolhas de oxigênio.

Encolhe seu corpo e com um ato sem pensar, expande as chamas vermelhas. Volta a olhar em volta. Lass não estava mais lá.

— Sua fraca! – Seu pai volta a falar. – Uma desonra para a família.

Seu coração parecia que iria explodir. O que estava acontecendo? Quando percebe, lágrimas escorriam de seu rosto e boiavam para a superfície, como se a água não se misturasse com as lágrimas. Era algum tipo de alucinação? Ela não sabia.

— Nós morremos por sua causa! – Ouve Arthur gritar.

Seu pé é segurado e puxado. Olha desesperada para o fundo, sem saber o que fazer quando ver o loiro a segurando. Seu peito derramava sangue, que se misturava à água e virava um tipo de fumaça vermelha.

Logo, outras vítimas começam a surgir do fundo, indo em direção a Elesis. Os membros da guilda, Leslie, a irmã gêmea da ilha e muitas outras pessoas morreram por onde passou. Inclusive, seu pai aparece, tornando tudo pior.

Arthur a puxaria até eles, precisava se soltar. Enche a mão com as chamas e arremessa contra ele. Mais sangue sai quando o atingi. Olha agoniada, não conseguindo ataca-lo novamente. Mas se não fizesse, seria morta por todos. Sem escolha, continua os ataques contra o loiro, até que ele pareceu inconsciente e a soltou.

Nadou para cima, queria sair daquele pesadelo. Chega na superfície e puxa toda ar que pode, nadando desesperada para a beirada da piscina. Tenta sair, voltando para a água diversas vezes.

— Me tira daqui! – Gritava repetidas vezes.

Depas se aproxima e pegas suas mãos. Puxa a ruiva para fora da piscina. Elesis cai no chão, encolhida com o corpo totalmente trêmulo. Junta coragem e olha sobre o ombro, vendo nada dentro da piscina. Foi tudo coisa da sua mente.

— Já acabou. Fique calma. – Ouve Depas falar. Ele se aproxima e coloca uma toalha em volta de seus ombros.

— O-O que foi... isso?! – Grita, sem saber como reagir. Se estava chorando, não percebia.

— Um teste.

 - Teste? De quê?!

— Para saber se você aguentaria as chamas. – Explica calmamente. – Um teste mental. Pelo visto, você não suportou.

Não diz nada. Tudo era ingerido com muita dificuldade. Foi tudo uma alucinação, nada daquilo era real. Abraça o próprio corpo, quase desabando pelo o que passou.

— Nunca mais faça isso! – Berra, furiosa. Abaixa o rosto, as lágrimas se juntando ao seu rosto molhado. – Nunca, nunca, nunca...

— Desculpe, foi necessário. – Lamentava.

Fica de pé num pulo, encarando Depas de perto.

— Eu vi meu pai morto! Todos membros da guilda estavam mortos! E tudo era minha culpa. – Gritava, desabando em lágrimas. Tinha sido atingida numa ferida profunda. – Arthur estava lá! Eu não queria... mas eu o ataquei novamente. E-E também... – Não conseguia falar por causa dos soluços.

Depas quis se aproximar, abraça-la para diminuir sua dor. Mas não fez, mantinha sua expressão séria, que logo se quebrava.

— Elesis...

— Cala a boca! – Volta a grita, o único jeito de se comunicar. – Antes, avise que fará algo assim! Não ache que só porque Gerard aguentou, que eu aguentaria!

Ele fecha o punho. Outra vez, falando daquele homem.

— O quê?! Não gosta de quando eu falo do Gerard? – Percebe Elesis. – Não me importo, porque a mesma coisa aconteceu comigo! – Joga os braços de lado.

— Pare agora. – Ordena.

— Deve ser por isso que Gerard não te matou, porque ele tinha medo de você! – Continua. Agia assim pela a raiva, e o medo. – Um monstro criando outro!

— Pare! – Berra.

— Você é um mestre de bosta! – As chamas vermelhas a contornam, avançando contra o rapaz.

As chamas se apagam repentinamente, Elesis recuando um passo ao senti-las sumirem. Assustada, vê Depas avançar. O barulho em seguida faz eco na sala.

A bochecha da ruiva arde com o tapa. Alguns fios estão grudados em seu rosto, preso pela surpresa. Lentamente, olha para Depas, que mantinha uma expressão fechada. A dor em sua face é estranha, algo mais... profundo.

— Volte para seu quarto. – Diz Depas num tom baixo. – Agora.

Sem dizer uma única palavra, Elesis vai. Ela bate a porta com força na saída.

Fica sozinho, no silêncio e com aquela dor novamente. Olha para sua palma vermelha pelo o tapa, fechando com força. Não queria ter feito aquilo, não com ela.

Era isso que queria evitar. A dor de machucar alguém por se importar demais com ela.

***

— Lothos não se despedirá? – Questiona Depas ao pegar sua mala.

— Não, ela está ocupada demais com o colégio. – Explica Grandiel.

Mesmo que estivesse livre, ela não viria para se despedir, percebe. Olha para Astaroth, encostada na parede do corredor com os braços cruzados. Ele queria parecer distante, mas estava ouvindo a conversa toda.

— Tome conte dos seus garotos, Grandiel. – Pede Depas. – Possui uma grande responsabilidade em torna-los guerreiros.

— Farei isso.

De uma leve batida em seu ombro. Aproxima de Astaroth, esperando pelo o olhar do professor para ele.

— Tem chance de ir embora sem falar comigo, o que é recomendado. – Diz Astaroth, sem seu tom brincalhão.

— Mas não farei isso. – Sorri em provocação. – Agora pare de agir como uma criança, Bardinar.

Suspira e o olha. Deveria nem estar ali, pensava.

— Não seja rigoroso com aquele garoto, ele merece mais que isso. – Falava de Lass. – Ele é o portador das chamas, o fato de não ter se queimado ainda é um bom sinal. Então pare de agir como se ele fosse uma criança.

— Diz isso porque não se importa com ele.

— É, eu não me importo. Mas com as chamas sim. – Deu de ombros. – Portanto, cuide dele.

Acerta um leve tapa no rosto de Astaroth. Ele estranha, aquele contato suave contra sua pele. De algum jeito, Depas tentava demonstrar afeto, algo que nunca gostou de fazer.

A gola de sua camisa é segurada e puxada. Recebe um soco no estômago, inclinando o corpo sobre o ombro de Depas.

— E cuide daquele idiota direito. – Sussurra em seu ouvido. – Sabe muito bem de quem falo, certo? Espero que sim, Bardinar.

Solta Astaroth e se vai sem falar mais uma palavra.

Não sentiria falta daqueles dois, inclusive Lothos, nunca teve um laço muito forte com eles. Quando os conheceu, eram apenas a comandante e Grandiel, logo Astaroth surgiu com seus maus modos de um bandido. Foi trabalhoso consertar ele, fazer que o trio trabalhasse juntos. O que eram hoje foi por causa dele, principalmente por serem os três salvadores de Ernas.

Quando estava prestes a passar pelo o portão do colégio, para e se vira. Revira os olhos ao ver Lass. Não aguentava mais a presença do rapaz.

— O que foi?

— Converse com a Elesis. – Pede. – Vai deixa-la assim?

— Bem, ela não me quer ver, então não posso fazer muita coisa. – Joga os braços de lado.

— Antes de ir, ao menos conte para ela sobre você. – Estava óbvio demais desde o início, como Elesis não tinha notado antes? – Ela precisa conhecer o avô.

Depas olha surpreso. Lass tinha o atingido como queria. Porém, o rapaz começa a gargalhar para o alto, quebrando a tensão do clima.

— E quem disse que eu sou pai de Elscud? – Pergunta com um sorriso de deboche.

Suas próximas palavras são o que deixam o ninja surpreso.

***

Sentada no chão, olha para as próprias mãos. Queria ter certeza que não estava tendo outra alucinação, ou pesadelo. Fechar os olhos se tornam uma tarefa difícil.

— Ainda está aqui, Elesis? – Pergunta Lass ao entrar no quarto e ver a ruiva sentada ao lado da cama.

— Não tem para onde ir, então vou ficar aqui. – Diz com neutralidade.

— Não quero dizer isso. – Senta ao lado da espadachim. – Não vai se despedir do Depas?

Com a feição de nojo, faz uma careta. Ainda não tinha perdoado o tapa recebido, que tanto a magoava. Por que a dor ainda persistia? Sentia sua bochecha arder desde então.

— Deixe ir, não quero saber mesmo. – Dizia sem pensar. Odiava o que falava, como agia. – Assim é melhor.

Ela mentia, mas não forçava um sorriso como de costume, por não conseguir no momento. Lass suspira e tenta achar alguma forma de convencê-la. Quando tenta dizer algo, sua cabeça dói. Apoia a mão na testa, tentando entender o que acontecia consigo.

Elesis abraça as próprias pernas, encolhida nos próprios sentimentos que a matavam. Achava que era seu orgulho quem a impedia de levantar e ir atrás de Depas, mas no fundo, era algo maior. Se o encarasse, o que diria? Como reagiria? Ela não sabia.

As mãos de Lass passam por seus ombros, a puxando para perto. Ele queria a conforta-la, porém, sentia algo de diferente nele. Seu rosto é segurado, os lábios do rapaz pressionando contra sua bochecha.

— Ficará tudo bem. – Diz Lass, seu tom meio rouco.

Ele beija seu pescoço, então morde. Elesis joga os braços de lado e consegue se soltar, jogando-se de lado. Antes que ficasse de pé, suas pernas são seguradas e puxadas. Ela cai, Lass segurando seus pulsos antes de se moverem. O rapaz fica sobre ela, abrindo aquele largo sorriso que a mesma reconhece ao olha-lo.

— Olá, Elesis. – Diz as chamas com seus olhos vermelhos.

— O que querem? – Tenta se soltar, parando ao perceber que gastava energias.

— Faz tempo que conversamos. – Falava com seu tom brincalhão, jogando o olhar para o lado a cada palavra. – Achei necessário aparecer para ter um rápido papo com você. Não seja rude e me cumprimente.

— Eu não te chamei, então não há motivo para você estar aqui. – Diz nervosa, irritada com toda pressão que sentia naquela situação. – Adeus, chamas!

— Calma, calma! – Sua mão se move rapidamente para defender a joelhada da ruiva e voltar a segura-la, agora prendendo suas pernas. – O que direi, será bem interessante. Não vai dizer que está curiosa sobre o Depas?

Sua expressão se ameniza. O que as chamas tinham dito?

— Conhece Depas?

— Mais tempo do que você pode contar. Sempre estive observando ele, e as indiretas dele eram sempre para mim. – Ri. – Aquele velhote!

— Observando. – Aos poucos, Elesis junta as peças disponíveis. Não se precipita, mas toma cuidado com as palavras. – Depas já foi o seu dono antes?

Para seu alívio, ou não, elas negam. Isso a intriga mais. Se sempre o observou, de que perspectiva?

— Depas conhece seu antigo dono, não é? – Era isso o motivo da conversa. – Sempre o viu, porque o seu dono sempre esteve ao lado dele.

As chamas sorriem com a sagacidade da ruiva. Ela entendia rápido a situação.

— Quem é? Me conte! – Volta a ficar agitada, seus olhos famintos pela curiosidade. – Isso pode ser útil!

— Acalme-se! – Bate os punhos da ruiva no chão. Não a machuca, mas a cala. – Não vim para responder suas perguntas, até porque, não te pertenço... ainda.

— Então, por que veio?

— Para mostrar o meu lado nessa sua guerrinha boba. – Pela a confusão em sua face, continua. – Gerard ou Cazeaje, qual merece morrer primeiro. Sabe, pode parecer óbvio para você, mas acho que deveria pensar antes primeiro.

— Pensar em quê? Se eu pudesse, matava os dois ao mesmo tempo. – Diz com seriedade. – Ponto final de conversa.

Persistente, o que irritava as chamas. Aperta os pulsos da ruiva, deixando mais perto seu rosto sério.

— Quer saber quem foi meu dono? – Diz as chamas. – Talvez isto te responda.

Antes que questionasse, é solta. Em seguida, enxerga o punho de Lass voar contra sua face, a dor não sendo sentida.

Apaga antes disso.

***

Com todo cuidado que tinha, impedia de tremer a mão e derramar a água sobre sua palma. Na ponta do pé, ergue o mais alto que pode, assim os pássaros sobre o galho da árvore podendo beber. Ela abre um sorriso bobo, como sempre fazia quando um animal se aproximava dela.

— Penélope!

Quase cai para o lado em susto. A moça recua a mão, derramando a água para longe dela. Vira-se com as mãos para trás, sorrindo quando ver o ruivo se aproximar.

— Não saia de perto. – Pede Gerard. – O grupo tem que ficar junto.

— Desculpa, senti algo para essa direção. – Inventa uma desculpa, com sua risada forçada. Passa a mãos nos cabelos da cor de um caju, castanhos e com tons avermelhados. – Não vai acontecer novamente.

O ruivo coça a cabeça e solta um suspiro em aceitação. Faz um rápido aceno com a mão e sai na frente. Penélope o segue, antes, olhando para os pássaros que possuíam um belo canto.

— Quantas vezes terei que repetir para ficarem juntos? – Ouvem Depas reclamar com sua chegada. Mesmo naquela idade, alguns fios brancos começavam a surgir em seu cabelo ruivo. – Pelas Deusas, não saiam de perto. Principalmente você, Penélope!

Ela assente, sem tirar o sorriso do rosto. Depas assustava a todos, como Gerard agora que abaixava a cabeça, mas não a ela, que parecia calma com tudo aquilo. Olha em volta e ver Grandiel e Lothos na frente, enquanto Astaroth era o mais afastado do grupo, com sua carranca. Tentava falar com ele, por ser o novo integrante da equipe, mas sempre era ignorada.

— Ele tem razão, Penp. – A mão encosta delicadamente em suas costas, Elscud aparecendo ao seu lado. Fica feliz por seu aparecimento, achava que não viria com eles nessa missão. – Fique perto de mim.

— Vai começar com aquilo de novo? Estou bem! Posso lutar.

— Mas não daqui a alguns meses. – Diz com todo aquele tom protetor.

Gerard observa a conversa em silêncio, até chegar às últimas palavras. A atenção do casal se vira para eles ao sentirem a curiosidade. Felizmente, não é ele quem pergunta, por simplesmente não conseguir.

— Me expliquem isso. – Pede Depas, autoritário.

— Bem, a família crescerá daqui a nove meses! – Anuncia Penélope, os braços para o alto em animação.

Era aquilo que previa. Depas demora a entender completamente, como esperavam. Por fim, ele abre um sorriso e se aproxima do casal. Abraça a jovem, depois bate no ombro de Elscud.

Gerard não reage da mesma forma. Talvez continuasse em choque pela surpresa, ou não queria reagir como queria na frente deles. Seu sorriso só se abre com o olhar de Penélope sobre ele, à espera de uma resposta.

— Eu já esperava! – Comenta alto. Continua o caminho, seguindo a dupla de loiros à frente. – Oh, que surpresa! Estão ouvindo, né, gente?!

Penélope ri com o anuncio do ruivo para os outros. Sem conversarem muito, seguem em frente para não atrasarem a missão. Deixam Depas ir na frente com os demais, enquanto ficava atrás com Elscud. Segurava o braço do mesmo, junto o bastante para não se separarem novamente.

— Tem certeza que é por aqui, Depas? – Pergunta Lothos ao parar. Olha em volta, a floresta parecendo densa demais para acharem uma rota direta. – Não será nada bom nos perdemos. Se queremos fazer um ataque surpreso, precisamos saber por onde vamos.

— A trilha que estamos pegando é um atalho, Lothos. – Explica o rapaz. – Porém, corremos perigo pegando ela. Por isso pedi para que vocês viessem.

— Espero ganhar uma boa grana por isso. – Cospe Astaroth, de braços cruzados.

— Você ganhará o que merece, Bardinar. – Retruca Depas. – Pare de choramingar.

Ele estala a língua e anda na frente. Grandiel e Lothos o seguem, logo o resto do grupo. Embora fosse o único a enfrentar Astaroth de frente, Depas ainda tinha seus problemas para lidar com o rapaz.

Estranhamente, Gerard não tinha aberto a boca para defender Astaroth, o que já se consideravam amigos. Sua mente ocupada não permitiu, estava preso sobre a notícia de Penélope. Fecha o punho, indignado consigo. Era para ter superado isso há anos, mas aquela versão mais jovem dele voltava para lembra-lo dos sentimentos bobos que tinha pela moça. Sempre a observando, como agora, à espera de uma troca de olhares.

Elscud o cutuca no ombro. O ruivo estremece pelo susto, achando que seus pensamentos eram altos demais para ele ouvir. Felizmente, era impressão sua.

— Está calado demais hoje. – Fala Elscud. Tinha deixado Penélope com Depas, que parecia intrigado com a notícia de um novo membro da família. – Aquela garota de ontem o rejeitou?

— A Siri? Não, ficamos juntos pela noite, só que eu não sou homem de uma mulher só, sabe? – Fala com convencimento. Apesar de soar uma mentira vindo dele, era verdade. – Ela queria algo sério, mas eu preferi ser honesto.

— Quebrou os sentimentos dela, prevejo. – Já olha sabendo a resposta.

— Eu tentei ser gentil, só que ela não gostou muito. – Coça a bochecha, sem jeito.

— Você é honesto demais, Gerard. – Ri enquanto fala. – Tente mentir um pouco, ok?

— É... – Solta uma risada, que some rapidamente. Olha para baixo, perdido, então para Penélope. A palavra “honestidade” era bem complexa para ele, de certo modo.

O grupo para ao mesmo tempo. Olham atentos à sua volta, as mãos nas armas. Sem perceber, Elscud se junta a Penélope, parado na frente da mesma como uma proteção.

Gerard é o primeiro a se mover quando ver o adversário avançar. A montante desliza das suas costas e voa diretamente contra o homem, o arremessando facilmente. Então, todos agem quando aparecem o resto dos inimigos.

Lothos some, apenas o fio do brilho de seu florete sendo visto. Grandiel ergue as mãos e a magia ataca por ele. Depas é ágil om apenas uma espada em mãos, atingindo dois adversários com um só ataque. Elscud fica ao lado de Penélope, defendendo a mesma.

— Bardinar! – Grita Depas, irritado com o jeito de luta do mesmo.

Astaroth possuía uma espada mais larga que o comum, que atingia os inimigos com maior facilidade. Com a mão livre, usava sua magia que queimava qualquer um à frente. Porém, em vez de render todos, ele matava com brutalidade, decepando seus membros enquanto manchava-se com seus sangues.

— Não preciso de proteção, Els. – Demanda Penélope, indignada em ser protegida daquela forma. Tira os sabres do cinto e avança sem mais palavras.

— Penélope! – Chama Gerard, parando sua luta por segundos para olha-la. – Volte a formação.

Conhecida por sua teimosia, ela deu a língua e avançou contra os inimigos. Seu estilo de luta era gracioso demais para haver sangue no meio. Ela girava, pulava e dava cambalhotas com suavidade, enquanto os homens caíam à sua volta. Não tinha a velocidade de Lothos, a magia de Grandiel ou a brutalidade de Astaroth, mas algo a mais. Especial que a tornava única.

Sua coragem.

De repente, ela para de lutar. Seus sabres se abaixam como seu olhar. Sentia-se tonta, fraca para continuar de pé.

— Magos se aproximando! – Anuncia Grandiel de sua posição.

Magias eram complicadas de serem rebatidas. Ficam firmes nos seus lugares, olhares sérios para todos os lugares; menos Gerard. Ele percebe a fraqueza de Penélope, já se aproximando dela.

— Penp. – Chama Elscud, correndo para vê-la.

— Els. – Chama, virando-se para olha-lo.

Somente para ela, sua visão parece ficar lenta, conseguindo ver aquela flecha de energia atravessar o peito do ruivo, o sangue jorrar, em seguida, ele cair em tempo real. Quando vai reagir, seu corpo é segurado e jogado para o chão, desviando de outra flecha que a atingiria, se não fosse por Gerard que tinha a desviado.

— Els! – Grita Penélope, desesperada. Solta-se de Gerard e rasteja até o corpo caído de seu amado. Ele encarava o céu, com grande dificuldade para respirar. – Elscud! Tudo bem, não se preocupe. – Ela põe as mãos sobre a ferida, querendo parar o sangramento. Não adiantava.

— Em posição, Penélope! – Berra Depas, avançando contra os magos.

Gerard levanta e fica na sua frente, defendendo-a dos ataques. Com um olhar coberto por raiva, ataca a todos que ver pela frente.

A jovem dos cabelos enferrujados não se move, sua respiração ofegante e mãos trêmulas sobre o corpo de seu amado dificultam. Sente sua mente se fecha em ignorância, raiva e medo. Não podia deixar se levar, precisa se manter forte.

Mas como podia sem Elscud para ajudá-la?

Todos olham para ela ao ouvirem o grito, logo, aquele brilho azul que tanto temiam. As chamas com o tom azulado a contornavam, caindo sobre o corpo de Elscud e fechando sua ferida.

— Penélope! – Gerard grita, preocupado. – Não se deixe levar, você precisa...

É calado pelas lágrimas que derramavam pelo rosto da jovem. Ela fica de pé e anda, parando para respirar fundo.

— Morram! – Berra com toda fúria.

Os corpos dos magos pegam fogo sem ao menos encostarem, caindo no chão um a um. O grupo fica espantado por tanto poder, mas amedrontados quando as chamas começam a sair do corpo de Penélope, espalhando-se pela grama.

— Pare, Penélope! – Ordena Depas. – Irá ferir seus amigos!

Ela não ouve, as chamas aumentam. Correm para se protegerem, escapando dos pequenos pontos das chamas, que poderiam queima-los por completo se tocassem.

— Saiam daqui! – Continua a gritar.

Com um simples mover de mão, uma parte da floresta é incendiada até virarem cinzas. Todos percebem o que acontecia.

Ela estava sem o controle, as emoções falavam mais alto.

Leva suas mãos trêmulas até seu rosto, querendo segurar as lágrimas. Sua pele começa a esquentar, chegando numa temperatura que ela própria se queimava. Abraça o próprio corpo, pela dor.

— Penélope!

Olha para Gerard e sua mão esticada. Ele tinha soltado a montante, estava sem armas.

— Você irá se ferir se chegar perto, Gerard! Fique longe mim. – Pede. Não queria machucar seu amigo.

— Está tudo bem. – Ele sorri. Começa a dá passos cuidados até ela, as chamas não o queimando. – Lembra? Apenas acalme-se.

— Mas Els...

— Ele está bem. Só foi um machucado. – A dor atinge suas pernas, queimando sua pele. Ele continua. – Agora, venha comigo.

Para alguns metros, sua mão esticada para ela. Com o olhar choroso, ela engole seco e estica a sua. As chamas saem de sua palma enquanto chegava perto do ruivo. Seus dedos se entrelaçando, suas mãos unidas para serem seguradas com firmeza.

Lentamente, as chamas diminuem. Penélope desaba contra seu corpo, segurando sua camiseta parar impedir que as lágrimas caíssem. Ela não consegue, parece uma criança.

— Já passou. – Fala Gerard ao abraça-la. – Fique calma.

— Eu... sou um monstro! – Ela grita, todos vendo seu sofrimento. O ruivo olha com preocupação, querendo fazer algo a mais. – Eu queimei ele!

— Não, Elscud está bem. – Aponta para o ruivo caído, respirando tranquilamente.

— Não Els! – Olha confuso. A mão de Penélope o solta, indo lentamente para a barriga. Ela aponta para si. – Eu matei ele. Eu o queimei.

Aos poucos, Gerard entende o que ela quis dizer. Sente lamentação, as mágoas que a ferem, mas não demonstra isso. Abraça com mais força quando ela volta a desabar.

— Vai ficar tudo bem. – Diz o ruivo, deixando as lágrimas caírem em seguida.

***

Elesis acorda com os olhos molhados, escorrendo por suas bochechas. O teto do quarto é a primeira coisa que percebe, depois, o sonho que teve. A moça queimando de seus pesadelos... não, sua mãe. Todo esse tempo, sempre tinha sido ela.

Senta-se rapidamente, olhando para as chamas, que ainda continuavam no corpo de Lass.

— Minha mãe era a dona das chamas! – Diz surpresa. – Por isso que eu também sou!

— Que bom que entendeu. – Fala as chamas, em tédio.

— E Gerard...! – Cala-se. Não demora até entender os sentimentos do rapaz por sua mãe. A preocupação, os olhares... tudo. Fecha os punhos, não querendo admitir. – E Depas sabia o tempo todo.

Elesis fica de pé, secando as lágrimas. Sem dizer nada, o que não era necessário, sai do quarto. As chamas sorriem, não em maldade, apenas por estarem satisfeita pelo que fizeram. Conseguiram convencer aquela teimosa.

***

Como se restasse um pouco de energia das chamas dentro do seu corpo, usou para continuar a correr. Não sentia suas pernas, nem queria, apenas seguia o caminho com toda velocidade. Usou o berserk para ajudar, a força fluindo por seus músculos, porém, o cansaço em seus pulmões.

Para ao chegar na estação de trem, próxima a ele. Depas se vira para olha-la, sem surpresa em vê-la ali. Elesis recupera o fôlego e ergue seu rosto fechado pela indignação, raiva e saudade.

— Por que não me contou?! – Grita. – Eu precisava saber!

— Contar sobre o quê?

— Sobre minha mãe! Sobre elas ser a antiga portadora das chamas! – Respira fundo para continuar. – Eu merecia saber!

— Como que descobriu isso? – Estava surpreso.

— Não importa. Todo tempo, teve medo de se aproximar de mim por causa dela. Via Penélope como uma filha, era preciosa demais para você. – Ela sabia porque sentiu isso no sonho. Sentiu todas as emoções. – Amava ela, mas nunca admitiu.

A seriedade se parte em sua expressão. Depas tenta olhar para o lado, mas não enxerga uma saída. Encara Elesis, não precisando dizer que ela estava certa.

— Primeiro filho dela... – A ruiva soluça. – Não era eu, era?

Depas se mantem firme para que a queda de Elesis não aconteça.

— Não. Você foi a segunda filha. – Admiti.

Ela assente, segurando as mágoas. Seu corpo doía.

— Após isso, sua mãe ficou doente e quando a teve, não resistiu. – Completa Depas. É mais doloroso do que pensava. – Por isso de tanto tentarem a deixarem longe de Lass, porque eles temem que isso possa acontecer com ele, ou você. Qualquer deslize...

Não completa, a ruiva já sabia. Tudo fazia sentido a ela, a preocupação e o medo deles. Tinham razão de ficarem assim, mas enganados em acharem que Lass agiria assim. Sua mãe, pelo o que pôde ver, era delicada e sem treino, totalmente diferente do ninja.

Por isso de Depas a treinar tanto para as chamas, porque ele acha que o mesmo irá acontecer com ela. Em seus olhos, via o sofrimento de perder algo querido novamente.

— Não irá acontecer o mesmo! – Fala alto. – Eu e o Lass somos fortes! Então, não se preocupe, tudo ficará bem. – Ela sorri.

Depas demora para retribuir o sorriso. A confiança e a determinação que Elesis tinha era maior que sua mãe, era mais sólida e resistente. Penélope pode ter sido seu erro, mas a espadachim não seria, faria dela a melhor de todas.

— Um dia nos vemos por aí, Depas. – Diz Elesis quando o trem passa por ela, seus cabelos voando pelo o vento. – Espero poder não o decepcionar.

Ele junta as mãos em pressa, seu sorriso logo atrás.

— Por favor. – Ele pede.

***

Quando volta para o colégio, já mancando, nota tudo que acontece. Abraça seu corpo, que começava a vacilar. Como se ouvisse seu pedido, Lass a esperava na entrada. Ele sabia que ela tinha ido atrás de Depas, por isso de ter aguardado tanto quanto um gato.

— O que houve? – Pergunta o ninja ao ver as lágrimas começarem a escorrer.

Ela o olha firmemente. Fecha o punho e o soca no peito com força. Lass cambaleia para trás em dor, confuso pelo o que acaba de acontecer. Elesis avança, agora dando leves socos contra o ninja enquanto desabava contra ele.

— Por quê? – Perguntava ela, não para o ninja, mas para o que havia dentro dele. Seus socos param, segurando rapaz para não cair. Sua visão fica embaçada quando as lágrimas aumentam. – Por que matou o meu irmão?! Queimasse a mim, não a ele!

— Elesis. – Lass não entende o sofrimento repentino da ruiva.

Abraça a espadachim para que ela não caísse. O que ela tinha conversado com Depas, tinha a atingindo com força.

Verdade, era disso do que se tratava. Lembra que o rapaz tinha dito que contaria, mas sobre o que era, não a perguntaria agora. Tudo que fez foi a pegar no colo e tirá-la do frio do lado de fora.

***

Após a ida de Elesis, Depas entrou no trem com um peso a menos. Ficava contente, e triste, tudo numa mistura complicada de emoções. Sentou no seu lugar e olhou o pôr do solo pela janela, o céu alaranjado com poucas nuvens.

Sentiria falta de Elesis e do seu jeito orgulhoso; exatamente como Penélope foi. Ri sozinho pela comparação. A pessoa que senta à sua frente o faz esconder o sorriso, para que não parecesse um louco.

No entanto, quando o trem dá partida, percebe quem está à sua frente. O olha, notando seus traços de cansaço em sua face, mas de felicidade ao mesmo tempo. Ele não tinha mudado desde a última vez que o viu, simplesmente porque escondia as cicatrizes e machucados que o diferenciariam.

Não fala nada. Sem cumprimento ou surpresas. Como sempre foi com ele.

— Se você não é o pai do Elscud... – Lembra da conversa que teve com Lass, da confusão do mesmo. – Então de quem?

— Olá, pai. – Fala Gerard com aquele sorriso de lado.


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Notas finais do capítulo

Review?
* Todos devem ter pensado que Depas era o avô de Elesis, mas no final, ele é pai do Gerard. Então, eu peguei essa informação da wiki do GC. Gerard tem mesmo um pai chamado Depas, para quem não sabe.
* Segredos sendo revelados... mas ainda há informações importantes para o desfecho da história, e só será contada quando Lass descobrir para que serve a cicatriz nas costas.
* Espero que algumas pessoas não estejam odiando as cenas entre a Elesis e o Lass, aquele ecchi bem leve. até o final da fic, eles não agirão tanto assim, será algo mais fofo.
* Como muitas pessoas previam, a mãe da Elesis é a dona das chamas. E Gerard gostava dela. E sim, Elesis teria um irmão chamado Eléo, para quem não percebeu.
* Próximo capítulo, a volta de uma antiga personagem kekekek



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