Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 116
Crescer das chamas


Notas iniciais do capítulo

Oláaaahhh!!! Tudo bão? Espero que sim! O capítulo continua de onde acabou, com nosso querido Gerard. Vamos saber mais sobre ele e a cicatriz, e também, a relação da Elesis e Depas cresce mais :3
Espero que ainda estejam acompanhando a fic, porque depois que a Elesis e o Lass ficaram juntos, todos sumiram e decidiram não falarem mais, como se esse fosse o final já. Ainda tem coisa pra acontecer, povinho >.
Boa Leitura!



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Pegou mais um biscoito para comer, a guloseima sendo irresistível. Lambe os dedos ao terminar, logo olha para Astaroth, que o encarava.

— O que está fazendo aqui de novo, Gerard? – Pergunta o professor.

Outra vez, tinha entrada em seu apartamento e se deparado com o ruivo lá. De todos os momentos para ele não vim, esse era o pior. Sua face demonstrava desinteresse, porém, por dentro, tremia em medo por sua presença.

Mantem a postura para que não houvesse qualquer desconfio.

— Ultimamente, tenho feito nada. – Confessa Gerard. – Estou aproveitando esse tempo para descansar. Tem algum problema se eu ficar aqui?

— Além da Elesis está por perto, nenhum. – Joga a mão de lado, fingindo a despreocupação. – Gerard, você não está sabendo tomar cuidado.

— É, tô sabendo. – Passa a mão nos cabelos. – Mas não se preocupe, nada de errado acontecerá.

Sempre tão cheio de confiança, que irritava Astaroth. Solta um suspiro longo e se junta a ele na mesa. Olha triste para os biscoitos que não restam mais.

— Não me leve a mal. – Fala Astaroth. – Mas você precisa ir embora.

Abaixa o rosto para desviar o olhar de Gerard. O ruivo tenta descobri o motivo, ficando sério com a atitude do rapaz.

— Por quê?

— Gerard, só vá. – Pede com calma.

— Não esconde, Astaroth. Está quieto demais, e não é por minha presença. – Debruça sobre a mesa. – O que te incomoda?

Fica em dúvida se é sincero ou não, poderia atingir o rapaz de alguma forma. Não sabia como ele reagiria, temia que fosse negativa. Porém a pressão que Gerard fazia, o obriga a contar.

Não o olha quando fala.

— Depas está aqui.

— O quê? – Olha confuso. – Está... Isso é sério?

Com pesar, ele assente. Gerard se apoia na cadeira, a boca aberta em surpresa. Astaroth observa sua reação surgir aos poucos, sendo ele o surpreso dessa vez.

Gerard abre um sorriso que se expande por seu rosto. Astaroth estica a mão na sua frente antes que ele levantasse.

— Não. – Pede sério. – Não ouse vê-lo.

— Faz anos que eu não o vejo. – Diz, sem tirar o sorriso do rosto. – Eu preciso falar com ele!

— Ele está com a Elesis, e tem milhares de pessoas no colégio que podem te reconhecer. – Começava a se irritar. – Não vá fazer uma burrice dessas.

— Você não entende. – Fala antes de se levantar.

Astaroth o acompanha, avançando contra o mesmo. Segura seu braço e torce para trás, empurrando contra a parede. Gerard não revida, mas usa força para tentar se soltar.

— Pense bem. – Fala Astaroth. – Acha mesmo que ele vai querer te ver?

— Eu sei. – Sua voz quase some. – Deixe-me ao menos vê-lo. Não irei fazer nada além disso.

— Não tem como você ir lá assim, com todos te vendo, inclusive Elesis. É loucura.

Gerard não discorda. Seu braço é solto quando não se debate mais, desencostando da parede.

— Eu tenho uma ideia. – Fala o ruivo. Astaroth olha irritado. – Creio que possa dar certo.

O sorriso espontâneo que Gerard abre não causa o mesmo efeito no professor.

***

Pela primeira vez, sentia-se tenso por estar sozinho, não tecnicamente. Tinha muitas pessoas à sua volta, alunos com seus uniformes bem arrumados. Com a ponta do dedo, ajeita os óculos que usava, as lentes sendo falsas. Por um momento, esquece o motivo de estar vestido daquele jeito, entrando em desespero. Ao lembrar, continua o caminho pelo o corredor.

Astaroth tinha ficado para trás, aquele sentimento de solidão o incomodando. Gerard passa a mãos nos cabelos escuros, pintados por poção, e confere se seu bigode falso está no lugar. Tudo estava certo, além do nervosismo em excessivo que sentia.

Toma um pouco de ar antes de parar na porta do salão, felizmente, aberta. Cuidadoso, Gerard se debruça ao lado da porta e observa o interior. O sorriso que surgi em sua face não é percebido por ele, sua atenção se foca completamente nele.

Depas. Ele estava mais velho, percebe o ruivo. Acaba sendo irônico, pois na época que treinava com ele, costumava chama-lo de velho, apesar de ser jovem. Logo sua atenção cai sobre Elesis, à sua frente em total concentração. O jeito e a seriedade da mesma eram tão familiar que faz o sorriso de Gerard sumir por um momento.

Será que Depas via Elesis como ele via agora? Era bem provável.

Sente a presença de alguém ao lado, notando somente agora. Olha atento, então não sabendo como reagir ao ver Lass o olhando, surpreso como ele fica.

— Gerard. – Fala o ninja.

Não pensa duas vezes antes de corre até o rapaz. Segura Lass pelo o rosto, tampando sua boca, e o arrasta para longe dali. Sente ele se debater, achando que aquilo era um ataque. Felizmente, é rápido em achar outro salão vazio e entrar, trancando a porta com grande alívio.

— Que droga é essa? – Grita Lass ao ser jogado. – O que faz aqui?! E que droga de bigode é esse?!

Não sai da frente da porta, esticando os braços para que o ninja se acalmasse. Lass continua indignado, porém, não o ataca.

— Eu posso explicar. – Diz Gerard. – Acalme-se.

— Me dê um motivo, então. – Fala, já se irritando. – Se eu quiser, acabo com você agora mesmo.

As chamas surgem no punho do ninja, Gerard tentando não parecer tenso com isso.

— Não estou aqui para prejudicar nenhum de vocês. – Fala o que Lass desconfiava. – Eu só recebi uma notícia e queria ter certeza disso.

As chamas diminuem, mas não se apagam. O ninja fica mais calmo, a falta de arma em Gerard causa isso.

— Que notícia?

Usa a porta como apoio, sua expressão ficando séria. Lass já deveria saber sobre ele, então não havia razão para esconder.

— Depas.

— Ah, ele. – Lass revira os olhos. Estava cansado de ouvir as pessoas falando sobre ele. Olha Gerard, entendendo agora. – Veio ver seu mestre.

O ruivo fica em silêncio com essa afirmação, abaixando o olhar com uma certa tristeza. Lass não entende essa reação, achando que tinha dito algo de errado por isso.

— É, meu mestre. – Gerard repete, empurrando para longe sua tristeza. – Às vezes esqueço disso. Eu soube que ele estava aqui, então queria vê-lo, só para saber se ainda está vivo.

— Então é por isso que está vestido desse jeito? – Chega perto para olhar o visual do rapaz melhor. Segura o bigode de Gerard e puxa rapidamente. Ele grita em dor, colocando a mão no local. – Era de verdade?

— Não. – Pega o bigode de sua mão. Lacrimejava em dor. – Mas a cola era.

Afasta-se enquanto o rapaz arrumava seu visual novamente. Ele ainda precisaria sair do colégio sem ser percebido. Analisa o mesmo para descobrir algo a mais, mas a presença de Depas deveria ser o suficiente para trazer Gerard até ali.

— Como que ele é? – Pergunta, o rapaz tendo colocado o bigode no lugar. – Eu sei de onde você tirou esse truque, de roubar as magias. Quem é seu mestre?

Uma pergunta que o incomoda, nota Lass.

— Ele está treinando a Elesis agora, se liga mesmo para ela, diga algo. – Manda o ninja. Até mesmo Gerard era afetado por esse homem, o que frustrava Lass. – Que tipo de treino Depas pratica? Responda!

Gerard sai da porta, andando aleatoriamente para tirar as emoções negativas que se acumulavam em seu peito. Não achava que lembrar do velho causaria isso.

— Depas não irá machucar a Elesis. – Fala num tom claro. – Ele não faria isso com ela, em especial.

— É, tente me convencer de outra forma. – Gerard olha confuso. – Ele quebrou o braço da Elesis.

— Ah, isso é normal. – Continua antes que Lass avançasse. – Os treinos de Depas são assim, radicais. O braço quebrado de Elesis é só o começo.

— Você fala como se fosse normal. – Rugi.

— Bem, Depas já me empurrou de um penhasco. – Força uma risada ao se lembrar. Lass sente uma certa dor em seu rosto. – Eu tinha oito anos, e aquilo era só um dos treinos dele.

— E como pode ter tanta certeza da segurança de Elesis? Sabe dos treinos dele, mas acredita que é o certo. – Gerard era complicado demais para entender, considerava. – Por quê?

— Porque pra ele, eu sou apenas um... – Para de falar, seu olhar voltando a cair. – um discípulo. Mas a Elesis é mais que isso pra ele, é importante e fará de tudo para vê-la bem. Quando a treina, ele deixa isso de lado por um instante.

— É isso que você acha? – Nada disso o convence.

— Você verá, mas apenas se observar bem. – Sorri, irritando o mesmo. – Ele é bem rude, não gosta de demonstra muito seu carinho. Mas Elesis é capaz disso.

Elesis era capaz de muitas coisas, e Lass estava no meio. Antes de conhece-la, sua vida tinha apenas um propósito, mas com seu aparecimento, tudo mudou. Agora, estaria ao lado da ruiva não importa o que fosse.

— Já sabe o que ela pretende fazer quando terminar os treinos? – Pergunta Lass.

Gerard já tinha uma noção do que aconteceria, mas quando, era sua maior dúvida. Com um sorriso falso, ele afirma.

— Não quero matá-la, antes que me acuse de algo. – Diz Gerard, num tom baixo para que apenas Lass ouvisse. – Por isso, preciso que você descubra o significado disso. – Aponta para as costas do ninja.

Lass demora entender do que ele falava. Olha surpreso, dando passos sem consciência em direção ao rapaz.

— O que isso significa? – Pergunta enquanto apontava para as costas. – Até hoje, eu não entendo!

— Irá entender quando chegar o momento.

— Que momento? – Para na sua frente, desesperado por respostas. – Toda vez que eu tento entender o que está acontecendo, as coisas pioram.

— Porque sua mente limitada não consegue lidar com a realidade. – Dá de ombros. – O mesmo para a Elesis.

— Então conte-me o significado dessa cicatriz! – Gerard nega. Lass bufa e segura a ponta de seu bigode falso. O rapaz tira sua mão antes que puxasse novamente. – Eu arranco essa coisa da sua cara de novo.

— Você precisa encontrar sozinho essa explicação. – Fala com a voz abafada pela a mão sobre a boca, protegendo seu bigode de ser arrancado. – Só entenderá de outra forma. Vindo de mim, tudo soará estranho.

— Isso aqui... – Lass aponta para sua volta, incluindo o rapaz. – é estranho. Já parou para pensar no que Elesis pensaria se descobrisse que estou aqui com você, conversando?

Ela mataria os dois em fúria, no mínimo. Elesis não saberia lidar com isso, agiria em impulso.

— É por isso que você deve entregar as chamas para ela.

— Quê? – Olha indignado.

— Sei que pode soar como uma piada, mas as chamas irão contar a verdade para ela.

Lass pisca, acredita que aquilo é real e dá as costas. Joga as mãos para o alto enquanto pretendia ir embora. Gerard corre até impedi-lo de ir.

— Falo sério! – Com seu visual atual, Lass não conseguia ver dessa forma. – Elesis precisa das chamas.

— Você e o Depas não são tão diferentes. – Dizia sério. Segurava as chamas para não serem usadas. – Ficaram loucos?!

— Porque é a verdade! – Grita de volta. Abaixa o tom quando percebe que poderia chamar a atenção. – Quando você entender, perceberá o real motivo.

— Como eu não sei a verdade, as chamas continuam comigo. – É frio. – E nem ache que você colocará as mãos nas chamas. Te queimo antes de tentar.

Não havia se esquecido das tentativas de Gerard para ter as chamas. Ultimamente, ele não tem demonstrado tanto interesse, algo parecia ser mais importante do que isso. Mas no fundo, Lass sentia que qualquer deslize, ele poderia pegar as chamas dele.

— Você tem coisas mais importantes do que se preocupar comigo. – Fala Gerard, honesto. – Como cuidar da Elesis.

Qual era a razão do sorriso que o rapaz abre? Lass acha que é algum truque, até perceber as intenções daquelas palavras. Mesmo querendo ele morto, Elesis já foi como uma família para o rapaz, o que valia o mesmo para ele. Existia uma certa preocupação no ruivo quando falava da espadachim.

Nervoso em como Gerard poderia reagir com aquilo, fala:

— Como descobriu?

— Eu soube, isso que importa. – Diz com um largo sorriso. – Sabia que isso aconteceria.

— Pare de falar assim. – Olha com nojo para a animação que Gerard expressava. – É estranho vindo de você. Aparentemente, você é um dos poucos que não se importa com isso. Por quê?

Isso não tira a agitação do rapaz. Afunda as mãos nos bolsos e parece pensar em algo, tão profundo que fica em silêncio por um tempo. Lass aguarda sua resposta.

— Vamos lá pra fora. – Pede Gerard, apontando para os próprios cabelos. – A tinta vai sumir se não pegar um pouco de luz.

— Contanto que ninguém te veja. – Solta um suspira em preocupação.

Não deixaria que isso acontecesse. Quando Lass se vira para a porta, Gerard nota algo de diferente. Sua mão automaticamente segura a camisa do ninja, o parando. É olhado com raiva, mas não percebe por estar com atenção no pescoço do rapaz.

— Por que tem uma mancha no seu pescoço? – Pergunta Gerard.

— Hã? – Lass não consegue olhar, mas entender ao ver a mesma expressão que Jin fez mais cedo. Solta-se de Gerard. – Ah, eu bati na pia.

— Sei. – Continua com seu olhar de desconfio. – Diga logo quem fez isso.

O ninja coça a nuca antes de responder. Do que importava tanto saber quem fez aquilo, para ele, era como um hematoma que deveria ser ignorado.

— Foi a Elesis.

— Ah.

Por um instante, Gerard olha para os lados com indignação, como uma criança emburrada. Lass olha sem entender a reação do mesmo.

— Algum problema?

— Nenhum! – Grita.

***

Estar do lado de fora era como um calmante para Gerard. Apoia a mão no rosto com os olhos fechados, a brisa contra sua face para tornar tudo tão quieto. Lass se mexe ao seu lado, chamando sua atenção. Não tinha esquecido do rapaz ali.

— Então, fale. – Pede o ninja.

Continua com sua atenção em alguns alunos treinando no campo à frente. Estavam sentados na arquibancada do local, isolados de qualquer olhar sobre eles.

— Ainda está incomodado com isso? – Pergunta Lass, com a mão sobre o pescoço.

Era algo mais profundo do que pensava. Toda vez que olhava, Gerard criava uma certa raiva pelo o ninja. Como ele tinha ganhado aquilo de Elesis? Era o que atiçava o mesmo. Pensar Elesis daquele jeito era impossível, para ele, ela era como sua irmãzinha.

— Então, - Fala Gerard, coçando a cabeça em nervosismo. – vocês já... ? Você sabe.

— Gerard, não vim para conversar disso. – É direto.

— Certo. – Suspira. Precisa se focar na conversa. – Aposto que Astaroth, Grandiel e Lothos sejam contra isso.

— É. Depas disse que há um motivo, mas não me contou. Que história é essa?

— Sempre será sobre as chamas, no final. Elas se alimentam de sentimentos, e nada maior que isso do que o amor. Mesmo dizendo que tem elas sob controle, não tem como garantir que se libertem. – Nega com a cabeça. – É inevitável.

— Então por que está do nosso lado, mesmo sabendo do perigo?

— Porque não é a Elesis quem corre perigo, - O olha. – é você, Lass. Não será a Elesis quem se queimará, e sim você.

— Como... – Não fazia sentido. – Como que as chamas poderiam me queimar?

Gerard volta a olha os alunos treinando. Não importa quanto tentasse, um dia, eles morreriam lutando e todos seus esforços, foram em vão. Era assim que via as chamas, não importava o quanto as mantinham quietas, um dia, elas se despertariam.

— Eu não posso contar. – Gerard fala com pesar. – Essa história, toda a verdade, eu simplesmente não posso.

— Por que não? Todos falam a mesma coisa! – Diz irritado. – É como se fossemos crianças.

— Não é isso. – O silêncio entre as palavras mostravam a incerteza de Gerard com elas. – Eu fiz uma promessa. Naquele dia, onde deixei apenas Elesis, eu prometi que toda verdade seria contada a ela, mas apenas por mim, ninguém mais.

— É por isso que evita de me contar a verdade. – Percebe Lass. – Mas é apenas uma promessa, deixa-a de lado! O que há de tão importante nisso?

— Não é a promessa em si, mas pra quem eu fiz. – Sua voz quase some no final. Fecha os olhos para continuar, alguns segundos sendo o suficiente para isso. – Não posso quebra-la.

Alguém muito importante. Lass não persisti, nota o significado da cicatriz em suas costas. Não fala, mas fica surpreso pela a forma que Gerard tentava manter a promessa sem tentar quebra-la. Ele não contaria, deixaria uma dica para que Lass fosse atrás da verdade.

Recosta-se no assento um pouco atordoado. Gerard, nem ninguém, ousaria dizer a verdade até lá. Dependia de Lass correr atrás disso, de descobrir sobre as chamas e mais. Era um pouco de pressão que sentia com isso, que logo aumentaria quando descobrisse.

Olha Gerard ao se lembrar de algo, que vem em sua mente como um tormento. As milhares de cicatrizes nas suas costas queimam com isso.

— Por que me deixou no circo? – Quase não consegue perguntar. – Você tinha me visto, mas me deixou lá.

— Eu sou uma pessoa cruel, Lass. – Gerard volta ao normal, seu tom sem a tremedeira de antes. – Tudo que eu fiz foi por propósitos egoístas, no fim, sempre voltados a mim. Eu matei pessoas por suas magias, sendo isso só o começo da minha lista.

Olha para as próprias mãos, cobertas por finas cicatrizes, e calos de tanto erguer a pesada espada. Dores que não eram mais sentidas com o tempo.

— Quando eu entrei no circo, era para te tirar de lá. – Continua. – Só que quando eu vi as chamas dominadas por você, eu não podia fazer aquilo. Eu precisei te deixar lá para que pudesse aprender a usa-las.

Gerard não se alterava em admitir isso, mas Lass sentia-se mal com isso. Tinha se esquecido que o rapaz se movia através do que fosse necessário para chegar ao objetivo, tendo ou não que sacrificar algo.

As chamas era um dos seus maiores interesses, e se fosse preciso machucar Lass para isso, ele faria. Por isso que o rapaz falava de seus pecados, para se lembrar que aquele não era o seu primeiro.

Já estava coberto pela a escuridão, não haveria luz que o tirasse dali.

— Desculpa. – Do mesmo jeito, pede Gerard. Era sua obrigação, ao menos.

— Tanto faz. – Não se importava mais, já tinha passado por tudo isso e superado. – Já faz tempo que isso aconteceu, não me importo mais.

A atenção de ambos cai sobre o campo à frente, quando os cabelos vermelhos de uma certa pessoa passavam por ali. Elesis vestia uma roupa confortável para correr pelo o campo, seus cabelos presos para não atrapalhar.

Lass se levanta no mesmo instante, seu olhar decepcionado com a persistência da ruiva.

— Ah, não. – Fala o ninja. – Isso não é bom para as pernas da Elesis.

Desceu alguns degraus, até Gerard o chamar.

— O que tem com as pernas dela? – Pergunta. Tinha notado os curativos nas ambas pernas da ruiva, a preocupação do rapaz o fazendo questionar mais.

Lass fecha os punhos. Gerard nota a raiva que ele sente ao se lembrar de algo.

— Seu amigo, Arthur, fez isso com ela. – Fala Lass, o suficiente para deixar o rapaz surpreso. – Sei que não foi você, mas ele veio até a gente com intenção de matar a Elesis. Ele não conseguiu, mas aquilo sim. – Aponta para as pernas da espadachim.

O peso que sente é parecido com o da chuva naquele dia. Aperta as próprias mãos, as mesmas que seguraram o corpo frio de Arthur.

— Eu sinto muito. – E sentia. Não consegue perceber a face que fazia. Devastação. – Eu tentei chegar a tempo, mas...

— Não foi o bastante. – Lass não se importa com sua culpa, é frio pela a raiva. – Elesis já estava com problemas nas pernas, mas seu amigo fez questão de piorar. Agora, ela tem um tempo limite, e não é muito.

Isso explicava toda a preocupação que o ninja tinha por ela treinando com Depas. Pioraria seu estado.

— Não sei por qual motivo, mas foi por causa dele que Elesis encontrou o Depas. – Isso chama sua atenção. Lass entende sua confusão. – Arthur, de alguma maneira, queria que Elesis o entendesse, que ficasse do seu lado. Mas como não conseguiu, mandou ela ir atrás daquele cara. Como você, Depas deve saber da verdade.

Gerard assente, sabendo disso. Não era preciso falar muito, seu olhar cabisbaixo já dizia muito.

— Então saiba que quando Elesis for atrás de você, não terá intenção de voltar. – Continua Lass. – Com o estado dela... Será muito difícil.

Não era isso que ele queria ouvir. Gerard segurava seus instintos para não sair dali, precisava ouvir aquilo, doloroso ou não. O que Elesis é agora, foi por sua causa, portanto, precisava ter coragem para assumir essa responsabilidade.

— Eu tô sabendo. – É tudo que diz, sem olha-lo.

Precisava falar mais, pois sabia que aquela seria a última vez que teria uma conversa calma com Gerard. Lass olha para Elesis correr no campo, a ruiva tendo diminuído os passos pelo cansaço.

— Qual era sua relação com a mãe da Elesis? – Pergunta o ninja.

A reação que esperava do rapaz não é uma surpresa. Gerard o olha, como se a pergunta fosse alguma piada para ele. Lass fica parado à espera da resposta, mesmo que fosse ignorado.

— Por que quer saber disso? – Ele abre um sorriso.

Uma tática para esconder sua dor. Lass notava esses pequenos disfarces nas pessoas, aprendeu antes de entrar no circo. Sempre observava como as pessoas fingiam e mentiam para ele, inventando desculpas ou dizendo que estavam ocupadas. Algumas tinham manias próprias, como Gerard, de sorrir quando esconde algo.

Elesis fazia o mesmo.

— A cicatriz nas minhas costas. – Lass responde. – Elesis disse que é a data de nascimento da mãe dela.

— Ah, ela disse. – Seu sorriso não desmancha.

— Está escondendo algo de nós? Não posso fazer muita coisa com apenas essas coisas nas minhas costas. – Aperta o punho com a máscara que o rapaz continuava a manter. – Seja sincero.

Espera aquela expressão falhar, por menor que fosse. Nada. Gerard permanece seu fingimento, dando de ombros, por fim.

— Adeus, Lass. – É isso sua resposta.

Não persistiu. Gerard continua no seu lugar quando o ninja desce a arquibancada para correr atrás de Elesis. Ele não se esforça muito para alcançar a ruiva e puxa-la pela a ponta do cabelo, a parando. Começam a discutir, como esperava.

Gerard quis sorrir, rir com a situação do casal. Mas não, sua face coberta pela amargura de suas memórias que retornavam lentamente, como uma faca que o apunhalava pelas costas, não permitem.

Olha para suas mãos, os dedos abertos, à espera de algo. Coloca sua outra mão sobre, fechando-a.

Eles param de discutir quando volta a olha-los. Por fim, consegue abrir um sorriso pela a afeição que um demonstrava ao outro. Lass a beija, atiçando os nervos de Gerard.

­— Ele tá fazendo isso de propósito! – Pensa irritado.

As mãos do ninja descem das costas da ruiva até sua cintura, então lentamente em diante. Gerard fica de pé, preparado para tomar uma atitude ao tirar seus óculos.

Como se tivesse ouvido seus pensamentos, vê Lothos avançar contra o casal. A loira é veloz, tanto que atingi o ninja antes que a notasse. Lass acerta o chão com o rosto marcado pela a bota da comandante, enquanto Elesis olha assustada para a mesma.

Os ombros de Gerard abaixam em alívio. Ao menos, não haveria necessidade de seu intrometimento.

***

Balançava os pés dentro da água, as pequenas ondas se formando aos poucos. Não sabia o que faria no salão de piscina, onde estava sentado agora, mas algo de bom não era. Depas, num canto, esperava de braços cruzados, enquanto Lothos, no outro, fazia o mesmo. Ainda tentava entender de onde a comandante tinha vindo, mas tudo foi explicado com a chegada de Grandiel no local. Ele tinha pedido para que a loira fizesse uma visita a Elesis.

Agora que pensava nela, Lass fica mais impaciente com a chegada da ruiva. Estava ali por ela, porque gostaria de ver seu outro treino com Depas. Não sabia o que era, mas tinha noção que havia água envolvida.

— Onde está o Astaroth? – Sem saber muito o porquê, pergunta Lass a Grandiel.

— Está ocupado, e logo terá que dar aula aos rapazes. Hoje, você ficará comigo, Lass. – Responde o loiro.

— Terei que treinar?

— Não tanto quanto antes, mas sim.

Diferente de Astaroth, Grandiel era atencioso com Lass. Ele agia com preocupação, e não com violência, como fazia o professor.

— É, e mantenha ele longe da Elesis enquanto isso. – Diz Lothos, sua voz arrastada pela irritação. – Não sei quem deu a ideia de deixa-los dormirem no mesmo quarto.

O rosto do rapaz ainda doía pela a bota de Lothos. Grandiel e Astaroth não atacavam mais Lass quando via ele com Elesis, o que eram raros momentos, mas diferente deles, Lothos continua a não aceitar o relacionamento entre eles.

— Não se incomode com isso, Lothos. – Fala Depas do outro lado do salão. Pelo visto, ele tinha a ouvido. – Fica com a cara fechada fará ter rugas no futuro. Uma moça tão linda não pode ficar tão velha assim.

A comandante assente com um certo sem jeito. Ela não sabia lidar com elogios, muito menos quando eram carregados por sermões.

A atenção de todos se direciona para Elesis quando entra. Tinha saído para trocar de roupa, colocando algo mais leve por pedido de Depas.

— O que farei agora? – Pergunta Elesis após ver todos. Gira os braços. – Um aquecimento na água?

— É, quase isso. – Responde Depas. – Espero que não tenha problema em ter uma plateia.

— Não, fico feliz com eles aqui. – Mesmo tendo o olhar de preocupação de Lothos sobre ela, e seu gesso, não se importava tanto. Mostraria para ela que não havia motivo para isso. – Então, o que eu faço?

— Entre na água, primeiro.

Lass não deveria estar ali, não conseguiria ver Elesis no treino deste homem, o qual considerava um grande mistério. O que poderia acontecer na água? Não sabia, era difícil descobrir o que Depas estava preparando para ela.

Respingos de água caem sobre ele quando Elesis se joga na piscina, como uma criança. Ela emerge com seus cabelos totalmente baixos, como uma grossa linha vermelha sobre suas costas. As roupas que usava se tornaram quase transparentes sobre sua roupa de baixo.

— Beba isso. – Fala Depas na beirada da piscina, esticando um pequeno frasco com um líquido preto por dentro.

Elesis estica o braço até alcançar o vidro. Com o mesmo olhar de Lass, fica incerteza de tomar aquilo.

— O que é? – Pergunta.

— Uma poção para você ter fôlego sob a água. – Explica ele.

Elesis olha para o líquido e não sente tanta certeza nisso. Poderia existir algo a mais do que aquela simples explicação.

— Pode tomar, Elesis. Eu mesmo que fiz. – Fala Grandiel.

Olha para ele com mais segurança. Grandiel não daria outra poção para ela, o diretor não era esse tipo de pessoa. Quando volta a atenção para o vidro, tinha o aberto e tomou de uma vez. Fez uma careta com o gosto amargo e jogou o vidro da poção para fora da piscina.

— Agora, afunde e escute atentamente o que direi, Elesis. – Diz Depas.

Confirma com a mão antes de respirar fundo para mergulhar. Nadou até uma determinada parte, conseguindo enxergar a todos do lado de fora, a imagem distorcida pela a água. O silêncio que havia ali era estranho para ela, como se estivesse completamente sozinha. Abraçou o próprio corpo à espera de informações do treino.

— As chamas vermelhas é composto por mana, mas de uma certa forma, elas esquentam como se fosse fogo. – Explicava Depas, sua voz bem baixa de onde estava. – Então, embaixo d’água, você usara toda potência das chamas.

Elesis balança a cabeça em afirmação. Olha para as próprias mãos, lembrando que usar as chamas sob a água era mais complicado, como se houvesse um peso a reprimindo. Concentrou e deixou a mana contorna seu corpo. Quando move seus braços para o lado, seu gesso torna tudo aquilo estranho e limitado.

Na beirada da piscina, Lass consegue ver as chamas vermelhas queimando sob a água, fazendo bolhas estourarem na superfície. Elesis estava concentrada em tentar aumentar a potência, mas a água não permitindo isso.

— Ela vai se cansar se continuar assim. – Diz Grandiel. – A mana irá acabar mais rápido.

— Eu sei. – Depas não parece tão preocupado.

— Elesis vai desmaiar se a mana acabar. – Fala Lothos preocupada. – Mande-a parar, Depas.

É ignorada. O rapaz se aproxima da beirada e ergue a mão aberta.

— Elesis, me acerte aqui com as chamas! – Manda Depas.

A ruiva se vira para ele e fecha seu punho esquerdo, o único disponível para isso. Carregou uma grande parte das chamas e arremessou. Fica surpresa quando seu poder nem sai da água, some antes mesmo disso.

— Ela não vai conseguir. – Menciona Lass. – As chamas vermelhas são fracas para serem usadas assim.

— Ela vai conseguir. – Abaixa a mão erguida. – Aumente a potência, Elesis!

As bolhas aumentam, porém, as chamas continuam no mesmo tamanho, embora o esforço da ruiva tivesse aumentado. Lass se sente incomodado em ver aquilo, queria interferir, mas se obrigava a ficar no lugar observando.

Tinha chegado ao seu limite, Elesis não aguentaria passar daquilo. As bolhas saem de sua boca quando aberta, desesperada em sentir um pouco de ar. Olha para o alto, sua visão começando a escurecer. As chamas param de contorna seu corpo, apagando-se sozinhas.

— Depas. – Chama Grandiel.

Lass se prepara para pular na água. Não ficaria parado vendo a ruiva desmaiar, pouco se importava se fazia parte do treino ou não. Quando inclina seu corpo, um volto amarelo passa por ele.

Lothos tinha pulado. Como Grandiel, ele também fica surpreso. A comandante mergulha na piscina, indo diretamente a Elesis. Não tão fundo, alcançou a espadachim e a puxou o mais rápido para fora d’água.

Estende o corpo de Elesis para fora, Lass a tirando de suas mãos. É difícil para emergir, a parte de sua vestimenta é composta por armadura, que pesa mais na água. Porém, consegue alcançar a beirada e usa-la como apoio.

— Lothos, o que deu em você? – Pergunta Grandiel ao vê-la sair da água. – Poderia ter se afogado com a armadura.

Quando viu a espadachim apagar, suas chamas sumirem, entrou em desespero. Temia que algo de pior acontecesse com ela, ou talvez fosse por Depas. Era um treino simples, mas por ser ele no comando, ficou com medo.

— Ela está bem? – Pergunta a comandante.

Nos braços de Lass, Elesis não se movia. O levantar vagaroso do peito da ruiva mostrava que estava respirando. Lothos solta um suspiro calmo.

— Ela só desmaiou. – Diz Lass. Com a ponta do dedo, tira a franja da ruiva sobre os olhos.

A comandante abre um rápido sorriso com essa notícia. Lass nunca achou ver tanta preocupação da loira em relação a Elesis. Pensava que era algum tipo de obrigação que ela sentia, mas agora que a via aliviada, nota que existi algo além disso.

— Quando ela acordar, fale que o treino continua amanhã. – Menciona Depas antes de sair do salão.

A frieza que o rapaz expressa é um incomodo para Lass, diferente de Grandiel e Lothos, que já estavam acostumados. Gerard fala que ele deveria confiar em Depas, mas não tinha tanta certeza toda vez que o via agir assim. Elesis sobreviveria mesmo após todo este treino?

— É melhor deixa-la descansar. – Menciona Grandiel enquanto tirava o próprio casaco. Coloca sobre os ombros de Lothos. – Lothos, não esquente com isso.

— Estou tentando. – Murmura ao ficar de pé.

***

— Olha, achei uma caneta que pega. – Diz Elesis animada.

Lass assentiu sem a mesma reação. Tentou não se importar com a bagunça que a ruiva tinha feito em seu quarto para achar aquela caneta, esteve quieto esse tempo todo por estar pensando, não seria agora que se perderia dele.

— O que você vai fazer? – Não consegue se manter focado, senta na cama e olha Elesis passar a caneta no gesso.

— Fazer alguns desenhos. – Responde a espadachim. – Vai ficar mais legal assim.

Usando a mão esquerda era um pouco complicado, percebe quando tenta desenhar. Se errasse, seu erro não sairia com água. Fica emburrada enquanto encarava o gesso como uma folha em branco.

— Quer que eu faça para você? – Pergunta Lass.

— É, pode ser. – Não estava muito feliz, mas não negaria sua ajuda.

Senta ao lado do ninja e entrega a caneta. Seu gesso é segurado por ele, olhando para o espaço que tinha para desenhar.

— Algo em especial?

— Eu gosto de espadas. – Responde com um sorriso de criança.

Lass olha por um instante, sem ter tanta surpreso quanto Elesis esperava ver. Deu de ombros e começou a fazer os desenhos no gesso da mesma.

— Estava olhando seu armário... – Menciona Elesis, olhando atentamente para os desenhos sendo feitos. – e vi que ainda guarda aquela katana quebrada. Tem algum motivo para isso?

— Onde está minha privacidade?

— Digo o mesmo. – Olha emburrada. – Quando acordei depois do treino, estava com roupa trocada. Quem foi que trocou?

— A Lothos, eu já disse. – Já estava exausto de tentar explicar isso.

Não tinha se convencido disso, continuou com o olhar de desconfio para o rapaz.

— Então, por que guarda aquela katana?

— É uma história bem antiga. – Diz Lass. – Aquela foi minha primeira katana, Grandiel tinha me dado. Tanto que ela é bem simples.

Elesis sabia disso. Quando usou no circo, sentia a leveza e a fragilidade da lâmina, que logo tinha entrado contra sua pele. Fechou os olhos por alguns segundos, recompondo-se. Era difícil lembrar desse acontecimento, das chamas.

— E por que está quebrada? – Pergunta.

— Quando eu ganhei essa katana, comecei a fazer algumas missões. Em uma delas, eu matei uma garotinha. – Sente o olhar de Elesis sobre ele, procurando algum remorso. Não havia mais. – De alguma forma, o poder das chamas me afetaram e eu fiquei sem controle. Não sei o que aconteceu, quando recuperei a consciência, aquela garotinha estava lá, com o pedaço quebrado da lâmina em seu peito.

Nunca soube o nome daquela garota, nem teve coragem de pesquisar. Durante essa época, os pesadelos começarem a surgir, com pessoas que havia matado neles. Ultimamente, com Elesis ao lado, não tem sonhado nada, os pesadelos do circo desapareceram, mas sabia que a qualquer instante, qualquer deslize, voltariam à tona.

— Quando eu voltei, Grandiel disse para eu jogar fora a katana, já que não prestava mais. – Continua Lass. – Só que eu preferi ficar com ela, para toda vez que eu olhasse, lembrasse dos erros que posso cometer por meus deslizes. As chamas são o principal motivo para isso.

— Por isso que ficou tão afetado quando eu te mostrei? Porque lembrou dessa garotinha?

— Sim e não. – Suspira. – Quando eu vi essa katana, eu percebi que poderia cometer outro deslize, porém pior. – Olha para Elesis. – Porque seria você a próxima vítima.

Mesmo Lass tendo pego a katana e a “matado”, as palavras ainda pesam para ele. O medo de perde-la é maior que tudo, e nunca estaria preparado para isso. Elesis entende isso quando o olha, como se ela sentisse o mesmo.

Lass se aproxima dela, tendo esquecido completamente dos desenhos. O rosto da ruiva esquenta, como se não estivesse acostumada a isso. Era estranho, alguns momentos eram assim, outros, comuns para ela. Agora, que parecia ter um clima diferente, agia com vergonha.

— Eu te amo. – Fala Lass com o rosto próximo.

Seu rosto para de esquentar ao ouvir as palavras. É por isso que estava nervosa, por haver algo a mais naquela situação. O ninja dizia aquelas palavras para lembra-la o motivo de temer sua perda. Mas não era esse o problema que Elesis encontra em suas palavras. Ele queria ouvir uma resposta.

Ela não tinha uma.

Lass se afasta quando nota o desconforto em Elesis.

— Desculpa. – Pede a espadachim. – Eu...

Não sabe como completar. Existia desculpa para isso?

— Ainda tem espaço para fazer desenho. – Aponta Elesis, fugindo do assunto.

Lass não se incomoda em continuar a desenhar, como ela pede. Sabe que a ruiva não tem uma resposta definida ainda, não gostaria de força-la. Daria o tempo necessário para ela decidir.

— Não tem problema, Elesis. – Menciona Lass. – Estando ao meu lado, já é o bastante. Só não quero vê-la ferida ou sofrendo.

Consegue tirar um sorriso da ruiva, mesmo que fosse sem graça.

— Pronto, acho que está completo. – Solta o gesso da ruiva.

Elesis olha impressionada para os desenhos. Eram simples, mas bons para enfeitarem seu gesso. Lass levanta da cama e a devolve a caneta.

— É melhor você voltar a dormir. – Diz o rapaz. – Amanhã tem treino, não é?

— Bem cedo. – Fala animada.

— Até quando isso vai durar?

— Eu não sei exatamente, mas Depas disse que não vai demorar muito. Ele não quer prejudicar minhas pernas, foi o que falou.

— O que você acha dele? – Toma cuidado para não falar demais. – Como pessoa.

— Depas é legal, apesar de ser bem sério. – Ainda se acostumava com esse jeito do rapaz. – Eu gosto dele.

— Já parou para pensar que ele possa saber de algo que você não?

— Hã? – Olha confusa.

— Nada! – Sacode as mãos, para que ela esqueça. Não valeria a pena falar disso. Aproxima de Elesis, sentada na cama. – Que tal falarmos de outra coisa? Como o meu prêmio por ter te vencido.

O rapaz fica à sua frente com um olhar de malícia. Elesis não expressa nada além de seriedade. O que ele estivesse tentando, não funcionaria com ela.

— Ainda tá nessa? – Pergunta a ruiva.

— Só quero o que mereço.

Quando Lass aproxima seu rosto, Elesis afasta, notando melhor aquela mancha em seu pescoço.

— O que foi isso? – Pelo o que percebia, ela não se lembrava da noite anterior.

— Eu bati na pia. – Persisti com a mentira.

Nem mesmo a ruiva se convence. Lass dá de ombros e volta a se aproximar, deitando sobre a mesma. Seus lábios se encontram antes que Elesis pudesse argumentar outra vez, queria aproveitar o momento em que ela estava consciente. Sua mão passa por seu corpo, sem o medo de houver Lothos para acertar seu rosto outra vez.

Para em sua cintura, tomando a péssima decisão de descer até as pernas nuas de Elesis. Esquece dos ferimentos da mesma e aperta sua coxa. A dor atinge a ruiva em instante, sua perna se movendo sem que notasse. O corpo de Lass se estremece com o chute desferido em sua virilha. Não demora até o rapaz desliza para o chão, ficando sentado com seu rosto fechado.

— Foi mal, minha perna não está muito boa hoje. – Diz Elesis. Quando olha para o estado do rapaz, segura-se para não rir. – Sério, desculpa.

Qualquer vontade de querer ter sua recompensa por ter ganhado a ruiva, esvaziou-se naquele instante.

***

Já fazia três dias que estava persistindo naquele treino, que parecia ter um pequeno processo. Sentado na beirada da piscina, observava Elesis pelos cabelos ruivos sob a água. Gostaria de mandar a espadachim dar uma pausa, estava se esforçando demais, mas as palavras não saíam de sua boca. Toda vez que a olhava com uma certa preocupação, sentia-se mal.

— Não me mande o que fazer, coroa! Não preciso da sua ajuda! – A voz dela volta para atormenta-lo.

De diversas maneiras, Elesis agia exatamente como sua mãe. Ambas eram teimosas e agiam independentemente, o orgulho sendo sua maior marca. Não importava quantos machucados tivessem, estariam fingindo estar bem; mas nunca estavam.

As bolhas na superfície da piscina voltam a aumentar. Segundos após, a água sobe numa grande rajada, as chamas vermelhas no meio disso. Elesis tinha conseguido aumentar a potência de seu poder e ultrapassado seu limite anterior. Logo, uma fina chuva cai com a água que subiu.

— Mais um! – Dispara Elesis ao emergir, os braços erguidos em alegria. – É a quinta vez! Estou bem melhor agora.

Depas sorri por ela, a ruiva sentindo-se especial com isso.

— Está indo muito bem, Elesis. – Fala ele. – Consegue usar as chamas com mais intensidade agora.

— Sim, nem preciso fazer muito esforço. Eu poderia fazer esse mesmo treino com as outras chamas.

— Não! – Diz com autoridade. – Os treinos são para você lutar com o básico. Pare de depender das outras chamas, use o que você tem!

Em nenhum momento, Depas pediu para ver as outras chamas, nem teve a curiosidade demonstrada. Todo treino envolvia exercício físico, como esgrima com sua mão esquerda, ou o uso de somente as chamas vermelhas, para as tornar melhores. Elesis sentia apenas essa diferença, enquanto não sabia como segurar uma espada com sua outra mão.

— Agora saia da piscina e troque de roupa. – Fala o rapaz, levantando. – Vamos treinar sua esgrima.

— Não vejo muito sentido em aprender isso... – Murmura, parando ao ver o olhar de autoridade do mesmo. – Sim, senhor!

Nadou até a beirada e segurou as bordas, embora com o gesso se tornasse uma tarefa complicada. Seu corpo subiu para sair, e voltou com a fraqueza em seus braços. A água bate contra seu rosto exausto, a visão se tornando turva quando olha para seu próprio reflexo. Sua cabeça girava, a tontura a atingindo com força.

— Depas. – Chama.

— O que foi? – Ouve a voz do rapaz distante, porém, sendo apenas impressão sua.

— Eu não consigo sair.

Depas aparece em seu campo de visão. Ele fica parado na beirada, aquele olhar sem demonstra remorso pelo o que via.

Não via, mas sabia que seu nariz sangrava.

— Levante e saia sozinha. – Ele ordena. – Acha que seu inimigo irá te ajudar quando isso acontecer?

Era uma comparação fria, mas não discordou. Volta a apoiar ambas as mãos na borda e usa sua pouca força para se levantar, o que não faz tanto efeito. Volta para a água, mais cansada. O sangue escorre até pingar pela a ponta de seu nariz, caindo na água. Tinha usado tanto seu corpo que estava no limite.

— Vamos, Elesis. – Fala Depas. – Saia.

— Estou tentando! – Grita. Sua fraqueza a tornava irritada.

Não conseguiria sair dali, mas ignora sua própria consciência dizendo isso e volta a tentar. Seus braços começam a doer quando força mais. Logo desistiria, porém, quando consegue apoiar seu joelho na beirada, usa mais força.

Leva alguns minutos para a ruiva sair da piscina. Ela rola pelo o chão em exaustão, sem vontade de se levantar para fazer mais um treino.

— Ótimo! Agora, troque de roupa e me encontre no salão. – É tudo que Depas fala antes de deixa-la ali.

Tudo que fazia, não importa a quantidade de esforço, nunca era o bastante para satisfazer Depas. Para ele, a ruiva não fazia nada além do que Gerard fez anos atrás, e atualmente, brinca com isso. Não gostava de se comparar com ele, mas era necessário para ter um motivo para continuar aquilo.

— Sim, senhor! – Gritou Elesis, mesmo quando estava sozinha.

***

— Parece bem pensativo.

Lass demora a notar Dio ao seu lado, de frente a janela. Como ele, o asmodiano olhava para o lado de fora, adivinhando o que tanto prendia sua atenção.

— Só estou vendo se ela está bem. – Volta a olhar Elesis.

Andava pelo o corredor até reconhecer a ruiva no lado de fora, com Depas ao seu lado. Pelo o que viu, eles tinham optado em treinar ao ar livre, onde tinha mais espaço. Elesis usava uma espada de madeira enquanto seguia os passos de Depas, cuidadosa para não esforçar as pernas demais.

— Estou curioso. – Admiti Dio. – Por que Elesis continua no colégio, mesmo após tudo aquilo?

— Está vendo aquele velho? – Aponta. O asmodiano assente. – Ele está treinando a Elesis, e prefere usar o colégio para isso. Por isso que ela está aqui.

— Ah, entendi. – Cruza os braços. Embora parecesse uma pessoa complicada, Dio era compreensivo. Sempre era bom conversar com ele. – E você está preocupado por quê?

Lass não sabe como dizer, olha sem jeito para o asmodiano e desvia a atenção. Dio não sabia sobre o relacionamento dos dois, por isso de sua curiosidade.

— Não precisa dizer. – Dio fala, sorrindo. – Acho que já entendi.

— Só não espalha, ok? Principalmente para certas pessoas. – Diz tenso.

O frio que encosta em sua nuca o estremece. Lass coloca a mão sobre e olha para trás, irritado. Tinha motivo para se incomodar com a presença de Lupus, que ria de sua expressão.

— Tipo eu. – Completa o haro, apontando para si. Lass o fita e Lupus toma seu refrigerante, balançando as sobrancelhas em provocação. – Já tô sabendo, irmãozinho.

— Que maravilha. – Fala sarcástico. – Nem quero saber como.

— Ah, eu vi vocês ontem, antes da diretora da Elesis aparecer. – Abre um largo sorriso malicioso. – Aposto que ficam mais à vontade quando não estão em público.

O que deixa Lass sem jeito é o olhar de Dio sobre ele, querendo entender as provocações de seu irmão. Logo ele entenderia, não precisava de explicações.

— O que quer, Lupus? – Suspira Lass. Era preciso controlar sua raiva.

— Só estava de passagem e vi sua ruiva treinando. – Aponta com a lata para o lado de fora. – Ela não parece muito bem para estar treinando.

— As pernas dela parecem bem machucadas. – Nota Dio. – Por que ela insisti, sabendo que não deveria?

— É uma boa pergunta. – Fala Lass, voltando a olha-la. – É algo pessoa. E também, tem o orgulho da Elesis.

— Ah, sim. – Concorda o asmodiano. – Não tem medo que ela te supere, Lass? Apesar do seu estado, Elesis é bem determinada.

— Não. Elesis não irá conseguir prosseguir no estado que está. – Era honesto com isso. – Acho bem difícil.

O trio olha ao mesmo tempo quando vêm algo brilhar no lado de fora. Elesis tinha sumido dentre o círculo de chamas que é formado à sua volta. Com apenas uma espada em mão, ela manuseia seu poder com facilidade, que crescer absurdamente. Quando percebem, um tornado vermelho surgi e permanece por longos segundos.

Com um rápido corte no ar, as chamas desaparecem aos poucos, contornando o chão onde estava. Aquilo foi apenas um teste para as chamas, nada além disso. O que o trio tinha visto, não parecia ser algo inofensivo.

— Então, ainda acha que ela não possa te superar? – Dio pergunta.

— Que fogo. – Diz Lupus, surpreso.

Lass acerta uma cotovelada no irmão, entendendo o duplo sentido de suas palavras. Continua a olhar sem reação para a ruiva. Antes, Elesis não era capaz de fazer tudo isso, agora, ela havia criado uma resistência tão grande que pode criar mana quase por infinita.

As chamas ainda contornavam a espadachim quando aplaudia para si, feliz pelo o que fez. Vendo daquele ângulo, os cabelos ruivos se misturando com as chamas vermelhas, Lass sentia-se ameaçado. Seria ele com as chamas azuis, e ela com suas simples chamas rubras.

Elesis era como uma rainha de fogo, ameaçando pisar Lass, o rei de gelo.


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Notas finais do capítulo

Review?
* Sem muito o que falar, o próximo capítulo fechará este arco!!! Estejam preparados, meus caros muahahah Haja coração. Tanto que será um cap grande :3



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