Fale O Que Quiser Mas Sou Uma Garota escrita por Risadinha


Capítulo 110
Persistência


Notas iniciais do capítulo

Oláááhahahh! Tudo bão? O capítulo de hoje apenas traz um terreno para a guerra do próximo capítulo. Ai, ai, como quero postar o próximo capítulo, mas não posso! Então, todas as tretas desse capítulo, serão multiplicadas no próximo.
Hummm, não querendo forçar ninguém, mas... alguém manda uma recomendação pra essa fic >.< Tá no 19 e quero muito que arredonde logo, isso me dá nos nervos hahah
Capa: Num sei. Mas acho bem parecida com a Elesis nessa fic.
Boa Leitura!



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Desde que tinha entrado no vagão que não havia se sentado. Usava a barra de apoio para se segurar, enquanto sua atenção só estava em um lugar. Alguns bancos à frente, a reconhecia pelos os cabelos ruivos.

— Devemos fazer alguma coisa? – Ouve Jin perguntar.

Olha para o rapaz sentado ao seu lado. Como Lass, ele também olhava para a mesma direção que ele. Pelo visto, não era o único preocupado com o estado de Elesis.

— Acho melhor deixa-la sozinha por enquanto. – Responde o ninja. – Elesis está muito abalada para conversar.

— É, mas eu sinto pena de vê-la assim. E também, ela está machucada, precisa de um tratamento. – Tinha visto a ferida na perna da espadachim, sabia que a mesma passava por uma forte dor.

— Ela vai ficar bem. Curei os machucados com um pouco das chamas, só para não piorarem ou infeccionarem. – Não gostava de usar as chamas nos outros sem a permissão, mas nesse caso, não tinha muita escolha. – Quando chegarmos, me certificarei de leva-la para alguém que a cure.

Jin assente. Já sentia a falta da ruiva por um tempo, pois a espadachim teria que tomar um tempo para se recuperar, e isso levaria um certo tempo até lá. Solta um suspiro pesado. Teria que inventar uma desculpa pela a demora da volta de Eléo. Ainda não sabia como Elesis continuava no colégio, desse jeito.

Embora estivessem conversando com o tom normal, sabiam que a ruiva não ouvia à conversa. Seu olhar estava reto, o que mostrava estar viva era sua respiração calma. Elesis estava com a mente em outro lugar, presa para não conseguir sair tão cedo daquilo Por alguns instantes, lembrou do aviso que Lass tinha dado há muito tempo atrás. Ele tinha dito que tirar a vida de alguém era ter que carregar os próprios tormentos, pois não seria uma coisa fácil para se fazer. Naquela época, tinha achado uma bobagem, que não importasse quem fosse, mataria sem dificuldades.

Estava arrependida. Não importava para o lado que olhasse, saberia que suas mãos ainda estavam sujas pelo o sangue dele. Fechou os olhos para se recompor, para que suas lágrimas não voltassem. Volta a abri-los quando percebe que não tinha como mais chorar, seus olhos vermelhos já não tinham mais condições para isso. Exausta de tudo que sentia, olhou para outras direções para se distrair.

Passa os dedos sobre o pano enrolado em sua perna ferida. Lass tinha feito aquilo para evitar um sangramento maior, mas nada além disso. O ninja tinha deixado claro que só usaria as chamas se tivesse a permissão. Elesis agradecia por isso, pois não gostaria que seus machucados sumissem assim, de repente. Iria senti-los como uma forma de punição. Apesar de, a dor sentida em seu peito era o bastante.

Tinha matado Arthur, seu amigo de infância. Não conseguia engolir esta informação, simplesmente estava presa em sua garganta. No entanto, voltava para a realidade quando lembrava da luta, percebendo só agora as reais intenções de Arthur. Em todo momento, o rapaz não queria matá-la, senão, teria feito isso na primeira oportunidade. Tudo que ele queria era convencer Elesis sobre Gerard, fazê-la mudar de ideia em relação à tudo. Infelizmente, a espadachim já tinha agido antes de perceber isso, e suas roupas e feridas eram as provas.

Fica encolhida em seus ombros, olhando para suas mãos manchadas com um vermelho seco. Mesmo que esfregasse, lavasse e tirasse as sujeiras, aquela cena continuaria na sua mente.

Suas mãos continuariam pesando.

***

Como sua expressão, tudo à sua volta estava em completa calma e silêncio. Bem distante, ouvia as vozes das garotas no pátio, mas nada além disso. O que mais precisava no momento era isso, descanso e completa calma.

Elesis não levantaria tão cedo da cama enquanto sentia seus machucados exclamarem em dor. Tinha chegado e foi recebida por poções para diminuir as dores, porém tinha recusado, não queria nenhuma poção tão cedo. Após isso, as enfermeiras tomaram conta de seus machucados e pediu para que ela repousasse. Era isso que fazia.

Encarava o teto para se distrair, para que o tempo não parecesse tão cruel enquanto passava lentamente. Gostaria de fechar os olhos e dormir, mas os pesadelos estariam a aguardando quando acontecesse. Portanto, a melhor opção era olhar fixamente para um local.

Com poucos minutos, já não conseguia mais se manter parada. Virou-se de lado, fechando o rosto pela a dor. Não durou muito tempo para esquecê-las e olhar para a própria mão. Fechada em um punho, ergueu um dedo, as chamas vermelhas se ascendendo no topo. O segundo dedo é erguido e as chamas douradas que aparecem; o terceiro é levantado com medo, mas deixando as chamas roxas surgirem sem que a machucassem.

O quarto dedo leva um certo tempo, como se pensasse se faria ou não. Logo, o branco das chamas aparece e, de primeira vista, são belas e deslumbrantes. Um flash de memórias passa por sua mente e a pureza das chamas se tornam sujas, feias. Sempre acreditou que elas eram as mais inofensivas, estando enganada quando percebe a verdadeira natureza delas.

Fecha os punhos ao ouvir um som repentino, com medo que alguém visse suas novas chamas. Foram apagadas antes mesmo de olhar para a direção do som. Solta um suspiro, vendo que era apenas seu celular tocando. Teve que fazer um grande esforço para ter que levantar, ao menos, ficar sentada. Pega o aparelho sobre a mesinha ao lado, olhando quem ligava.

— Oi. – Fala ao atender. Pensou em ignorar, mas sentia que não seria o certo.

Achei que nunca mais ouviria sua voz. — Menciona Ronan, do outro lado da linha. – Soube que esteve ocupada a semana toda, então não queria te incomodar.

Apenas por alguns segundos, Elesis abre um sorriso, por menor que fosse. Era bom se distrair, não ficar pensando no que aconteceu. E Ronan seria o melhor para isso.

— Desculpe, não queria te evitar, só um tempo para colocar as coisas em ordem. – Falava, não conseguindo animar seu tom de voz.

Entendo. — O rapaz para de falar. Parecia analisar a ruiva. – Sinto como se não estivesse bem. Aconteceu algo? Parece triste.

Ele tinha percebido, pensa. Gostaria de evitar ao máximo tudo isso, até mesmo as perguntas a feriam.

— Eu acordei quase agora, estou com um pouco de sono. Também, ontem tive um treino pesado, então não estou totalmente recuperada. – Inventa qualquer desculpa.

Pegando pesado com os treinos novamente? Você não aprende mesmo, Elesis.

Ela nunca aprenderia, era honesta consigo mesma. Toda vez que entrava em uma luta, era para se ferir gravemente.

— Eu tô bem, relaxa. – Pede, tentando parecer animada. Ela falha. – Machucados se curam.

Depende do machucado também. Toda vez que te vejo, sempre parece ferida de um jeito... eu não sei, só não quero te ver deprimida por algo.

Não tem muito efeito enquanto a ruiva estava naquele estado. Ela coloca a mão na boca, segurando seus soluços. O tormento tinha voltado, outra vez. Mas não faria como antes, onde tinha chorado na frente de Lass e Jin, agora seguraria as mágoas por um tempo, até que terminasse a conversa com Ronan. Não queria mostrar sua fraqueza para o rapaz.

Está tudo bem mesmo, Elesis? ­— Ronan pergunta.

Força uma risada, não saindo como queria.

— Estou bem! Por quê? Acha que eu sou fraca o suficiente para não aguentar alguns machucados? – Pergunta, convencida.

Sim, eu acho. E também acho que não está bem. — Diz sério.

A máscara de Elesis estava quase se partindo. Ela segurou e continuou a atuar:

— Não diga bobagens! Eu estou... – Soluça. Fecha o punho contra a testa, arrependida. Não estava conseguindo se segurar, iria desmoronar. – bem. Muito bem.

Você acha que eu não percebo quando você está mentindo? — Isso faz o sorriso forçado de Elesis desmanchar. – Você ri sem querer, começa a repetir que está bem e tenta escapa da pergunta. É assim que você mente, Elesis.

Obviamente, ela não percebia quando fazia isso, apenas Ronan. Odiava fazer isso, mas não tinha muitas escolhas, era o que pensava.

— Eu só... – Aperta o punho contra a testa com mais força. As dores estavam aumentando, sua cabeça começava a pesar com as memórias. Precisava encerrar com aquilo rápido. – Só tive um pesadelo quase agora e não queria te preocupar com isso. Desculpe.

Era verdade e mentira.

O silêncio que o rapaz faz a deixa tensa. Se não acreditasse agora, teria que inventar outra mentira, que seria percebida outra vez.

Poderia ter me contado. — Ronan fala. – Se isso te afeta, deveria ter me falado.

Sua mentira tinha funcionado, um alívio amenizando suas mágoas.

— Foi um pesadelo estranho, não quero falar dele.

Tudo bem. Mas não fique assim, foi só um pesadelo, ok?

Fecha os olhos quando dá uma leve assentida. Foi um pesadelo, sim, mas não um que poderia fugir na realidade. Suas dores eram todas reais, poderiam até sumir, menos algumas em especial.

— Eu sei. Olha, eu estou cansada e daqui a pouco vou precisar fazer algumas coisas, então poderíamos conversar uma outra hora? Agora, tudo que eu quero é descansar. – Pede, gentilmente.

É claro. Desculpe por te ocupar. Depois conversamos.

Concorda, voltando a sorrir.

— Até.

Até. Durma bem.

Quando a chamada é finalizada, seu sorriso volta a sumir. Joga seu celular sobre a mesinha em que estava antes, voltando a olhar para o nada. O silêncio tinha voltado e a incomodava.

Tinha se deitado e fechado os olhos, mas não pretendia dormir. Evitaria seus pesadelos ao máximo.

***

Se continuasse esforçando a si própria do jeito que estava, iria se cansar rapidamente. Elesis tinha noção do estado que estava, principalmente quando tinha levantado da cama e sentido as dores em todo seu corpo; especialmente, na perna. Mas ficar deitada não a ajudaria do jeito que queria, precisava ficar de pé e ir atrás de seu objetivo.

Só não achava que levaria tanto tempo para dar poucos passos pelo o corredor. Não conseguia evitar de mancar com sua perna gravemente ferida. As dores aumentavam com cada passo dado, o que era um sacrifício para a ruiva. Acharia que nunca conseguiria chegar onde queria.

Após persistir em continuar, para de frente à porta que procurava. Sentia que não era o certo a se fazer, mas sua saúde não melhoraria em um curto tempo, precisava estar forte o mais rápido possível; ou ao menos, parecer estar.

Bateu na porta enquanto usava a parede ao lado como apoio. Recuperava a respiração, após ter andando o que considerava muito. Quando a porta se abriu, forçou uma pose séria.

— Oh, Elesis. – Menciona Mari ao ter aberto a porta. Não esperava pela a espadachim parada na porta de seu quarto. – O que faz aqui?

— Vim pegar uma coisa emprestada. – É direta, não aguentando ficar muito tempo de pé. – Ainda tem aquelas meias?

— Sim, eu tenho ainda. Mas aquele era apenas um protótipo, acho que não vá querer.

— Eu não me importo. Apenas... – Para de falar quando a dor se torna aguda na região da coxa. Abaixou o rosto por um tempo, tomando forças para continuar. – Me entregue logo.

— Como eu tinha dito, aquilo era apenas um protótipo. – Nota a impaciência da garota. – Mas eu já terminei a versão definitiva.

Pouco importava se tinha uma versão melhorada, Elesis apenas queria as meias o mais rápido possível. Com isso, quase gritou com Mari quando a mesma entrou no quarto. Deu alguns passos para dentro do cômodo, ainda apoiada na parede.

— Como eu tinha feito só para você, não vejo problema com que fique. – Mencionava Mari. Pegou uma caixa larga da prateleira e entregou a Elesis. – Se tiver algum defeito, é só me procurar.

— Ah. – Olha para a caixa em mãos, pesando mais do que deveria. – Obrigada, Mari. Isso será de grande ajuda.

— Mas só para deixar claro uma coisa: Usar as meias não irão curar suas pernas. – Diz séria. – Só vai te dar mais força e agilidade, o que vai te prejudicar no processo de cura. Não recomendo usa-las enquanto estiver assim, Elesis.

Acenou, como se fosse mesmo fazer isso. A ruiva dá meia volta e sai do quarto, sem dizer mais nada. Estava ali justamente por isso, para usar as meias enquanto suas pernas não a permitiam dar um passo sem precisar de apoio.

Não poderia mais ficar parada toda vez que se machucava, teria que agir diferente se quisesse resultados diferentes. Não aguentava mais lamentar, chorar e ter pesadelos por tudo que passou, estava na hora de revidar tudo isso. Ficava irritada só em lembrar de quem foi a verdadeira culpa de ter corrompido Arthur.

Como havia dito, da próxima vez que o visse, Gerard seria um homem morto.

***

Passava a mão nos cabelos, uma forma de se distrair. Mesmo após dois dias do ocorrido, Lass continuava com a mesma cara de seriedade. Ainda não tinha admitido o que aquele garoto, Arthur, tinha feito com Elesis. Quando se despediu da ruiva ao deixa-la no colégio, sentiu uma ferida abrir em seu peito. Tinha visto sua expressão vazia por ter acabado de matar seu amigo de infância.

— Você não tá falando muito esses dias. – Fala Jin, sentado ao seu lado. – É por causa da Elesis?

— Pelo o que poderia mais ser? Me pergunto se ela já se recuperou do que aconteceu. – Suspira. – Sabe, emocionalmente. Ela precisa de bastante apoio nesse momento.

— Também acho, mas ela tá com as amigas delas. Está em boas mãos. – Deu de ombro.

Podia até ser, porém Lass sabia que a relação de Elesis com uma das amigas não estava muito boa. Ela deveria estar isolada, nesse instante.

Não conseguia parar de ficar preocupado.

— Não quero mais vê-la machucada. – Diz enquanto encolhia as pernas, abraçando-as. – Elesis passou por tanta coisa, quero que ela seja feliz. Não aguentando mais vê-la chorar ou ferida.

— Então por que não a faz feliz? – Solta uma risada sem jeito quando Lass o olha. Do que ele estava falando? – Não em um sentido romântico, mas como um amigo. Aposto que ela ficará feliz em te ver.

Não sabia se concordava. De vez em quando, Lass sentia Elesis querer se distanciar dele pelo o que tinha feito no dia do hospital. A ruiva parecia ter medo a todo momento em que ele falava, achando que seria uma declaração.

É preciso interromper a conversa quando ouve Astaroth entrar no salão. Esteve sentado no chão com Jin enquanto esperava o professor iniciar a aula. Os outros rapazes já estavam presentes, o único que faltava era, obviamente, Eléo.

— Vocês estão com uma cara horrível. – É o primeiro comentário do professor. Olham com raiva para ele. – Acho que estou pegando pesado demais com os treinos, não?

— Imagina. – Fala Lupus de braços cruzados, seu tom irônico bem visível. – Seus treinos são moleza.

— É bom ouvir isso. – Sorri em provocação.

Lass nem lembrava quanto tempo fazia que tinha essas provocações de Astaroth. Ele sempre agia aleatoriamente, nunca sabiam o que seria dito em seguida.

— Mas hoje não haverá treino, para suas felicidades. – Continua Astaroth. – Grandiel pediu para que eu começasse um treino diferente, além do físico. – Olha para a face de satisfação de todos, logo estranhando. – Onde está o Eléo?

Jin entra em nervosismo ao sentir o olhar do professor sobre ele. Não tinha pensando ainda em uma desculpa, esteve ocupado se preocupando com seu próprio estado após a missão. Às vezes, achava que tinha um corte em seu peito, mas era tudo da sua imaginação.

Olha para os lados enquanto tentava achar uma desculpa.

— Ele não tá bem, então não vai poder vim. – É a única coisa que pensa.

Com o olhar de decepção, Astaroth assente. Era de se esperar a frustação do professor em relação às faltas de Elesis.

Antes que pudesse começar a aula, a porta do salão é aberta. Achava que todos já estivessem presentes, por isso de seu olhar curioso. Astaroth abre um sorriso com isso, sem mais decepção.

— Desculpe o atraso. – Diz Elesis. Seus cabelos já cortados e pintados, o uniforme um pouco bagunçado. – Tive um problema para resolver.

— Não se preocupe, entre. – Pede Astaroth. – Já ia começar a aula.

Ainda com o olhar para baixo, a espadachim entra. Não tinha olhada para ninguém nos olhos, parecia evitar.

Quando tinha ouvido o barulho da porta abrir, Jin foi o primeiro a reagir em negatividade. Segurou um grito de surpresa, cutucando a Lass que não parecia dar tanta atenção. O ninja olha emburrado para o ruivo, logo para a direção que ele apontava. Como ele, ficou surpreso pela a presença de Elesis no local.

A face da espadachim mostrava tranquilidade, mas sabiam que por dentro estava totalmente oposto. As feridas em seu rosto continuavam visíveis, um pouco roxo sob um dos olhos. Mas a maior preocupação era seu jeito de andar, tão normal que nem parecia haver um grande machucado no lugar.

— Enfim, Grandiel havia pedido para entregar a vocês isso aqui. – Dizia Astaroth. As pastas em sua mão chamavam a atenção de todos. – São uma lista de exercícios que cada um deverá fazer, além da alimentação que deverão ter a partir de agora.

— Faremos uma dieta? – Julga Dio.

— Não é bem isso. Cada um de vocês possuem um corpo que funciona de seu jeito. Como você, Dio, que é um asmodiano, as comidas humanas não fazem tão bem para você assim.

— São poucas que eu possa comer.

— Exato. – Aponta para o asmodiano. – É por isso que precisarão seguir isso aqui, fará bem a vocês. Grandiel estudou sobre vocês, então ele sabe o melhor para cada um.

Durante a explicação de Astaroth, Lass ignorava totalmente ao ficar encarando Elesis de longe. Ela agia naturalmente, nada parecia ter acontecido pela a calma que a garota levava. O ninja não parava de se perguntar sobre o que passava na sua cabeça para fazer isso. O estado de saúde de Elesis não tinha melhorado, sentia isso, mas por seu jeito persistente, ela estava ali.

Sua cabeça cai para o lado ao ser acertado com a pasta por Astaroth. Passa a mão no local atingido, olhando nervoso para o professor.

— Ouviu o que eu disse? – Pergunta o professor.

Massageando a parte dolorida, olha de relance para todos. Astaroth já tinha entregado as pastas para eles, até mesmo Elesis tinha uma em mãos.

— Para ser sincero, não.

— Ouça quando eu falar. – Aperta a bochecha do rapaz. Lass recuar, agora com a mão no rosto. – Já não basta ter ido para uma missão sem me avisar, agora está me ignorando.

— Fala logo o que quer.

Uma coisa que não queria era ficar sozinho com o professor. Astaroth dispensa a todos, deixando apenas Lass para conversar. Ao ficarem a sós, o clima pesa com a seriedade.

— Grandiel disse que você participará também disso. – Estica uma pasta. É pega pelo o ninja, que não teve curiosidade para abri-la. – Principalmente agora com as chamas, você deve se manter o mais forte possível. Irei dobrar o horário dos treinos.

— E quando eu poderei respirar? Não vou ter tempo nem para...

— Ver a Elesis? – O interrompe. Lass olha sério, bufando em resposta. – Essa é uma das intenções para o treino. Agora, se perder o controle, você morre, Lass. Não terá mais tempo para se divertir.

— Não sou uma máquina de combate para me tratar assim. Preciso de descanso também.

— Você terá. Descanso. – Deixa bem claro a palavra. – Não lazer.

Astaroth queria de todo jeito impedir que ele se aproximasse de Elesis. Embora ela estivesse como Eléo, estando presente na maior parte do dia no colégio, Lass não conseguiria vê-la; incluindo a Jin. Os únicos momentos que poderia a ver, era de noite, quando fosse dormir, o que prejudicaria sua saúde.

Não podia discutir. Se fizesse, estaria dizendo o que Astaroth queria, estaria se mostrando fraco. Encara o professor com raiva e assente.

— Tudo bem. – Murmura.

— Que bom que entendeu. Quando sair daqui, vá ver o Grandiel e se explicar sobre a missão para ele. – Lança o aviso antes de sair do salão.

A porta se fecha e Lass continua no seu lugar. Quando tinha aceitado o desafio de Cazeaje, sabia que sua vida mudaria por isso, mas parecia perceber isso só agora. Seus treinos aumentariam para poder controlar as chamas, ou, para não perder o controle de seu poder.

Sacrificaria a seus próprios desejos para se torna forte.

***

— Estou bem. – Volta a repetir.

Jin tinha a parado no corredor, o ruivo com seu jeito preocupado. Antes que conseguisse falar, ele começou a fazer milhares de perguntas sobre seu estado. É claro, mentiu para ele.

— Não está. Volte para seu quarto. – Não o quarto do Eléo, mas da Elesis no colégio dela. – Você ainda precisa se recuperar.

— Por que não acredita em mim? Estou andando normalmente, isso já é o bastante. – Pede com a voz cansada. Demoraria para convencê-lo.

— Não é. Poxa, sei que fez algo para parecer bem, mas no fundo, não está. – Conhecia bem sua amiga. – Por favor, volte.

Já estava ali, sua decisão tinha sido tomada, Elesis não iria embora após tudo isso. Seu olhar frio serve como uma resposta para o ruivo, uma negação bem grande. Acerta de leva com a pasta no peito do lutador, continuando seu caminho.

— Te vejo depois, Jin. – Diz em despedida.

Sua mão se ergue para segura-la, para impedir que algo de pior acontecesse com ela. Fechou seu punho com o olhar triste, vendo a espadachim se afastar. Não aguentava mais vê-la se ferir assim.

Olha para Lass quando chega ao seu lado. Notando seu questionamento, responde:

— Ela não quer voltar.

Em poucas palavras, Lass entende o sofrimento que o ruivo mostrava. Joga sua pasta contra Jin e sai correndo até Elesis. Se alguém precisava para-la, esse alguém era o ninja e seu jeito bruto de ser.

Elesis pretendia ir para sua próxima aula, independente se fosse cansativa ou não. E se alguém fosse tentar para-la, simplesmente ignoraria e continuaria andando. No entanto, achava que apenas palavras seriam usadas para isso, e não um ataque surpresa, como Lass fazia.

O ninja chega por trás e segura seu corpo, jogando contra o chão. Elesis cai, tendo que rolar para evitar um impacto maior. Da mesma forma, suas pernas são atingidas e exclamam em dor. Range seus dentes, segurando um grito em reação.

— Não importa o motivo que vá dar, você vai voltar agora! – Grita Lass. Em passos longos, ia até a espadachim.

— Ficou louco, Lass? – Pergunta confusa. Não achava que o rapaz seria capaz disso, de machuca-la. Até mesmo os alunos pararam para observar a confusão.

— Volta agora, Eléo. Não vou repetir novamente.

Elesis fica de pé para encara-lo, não acreditando na atitude do rapaz. Fica de cara com ele, séria. Não iria demonstrar fraqueza em um momento daqueles.

— Fala como se mandasse em mim. – Diz Elesis. – O que deu em você?

— Eu que te pergunto. Sabe de seu estado, mas persisti. Não vou deixar você continuar aqui.

— Estou bem! Não preciso de sua ajuda, posso cuidar de mim mesma.

Apenas com o olhar de reprovação, Elesis entendeu que Lass não tinha acredito na sua mentira. Revira os olhos com a persistência do rapaz.

— Você está agindo como eles. – Diz a espadachim. – Acha que não posso aguentar meus próprios problemas.

— É, eu acho isso também. Já se olhou no espelho hoje?

Outra revirada de olhos, mas dando as costas dessa vez. Não ouviria mais uma vez, não queria ver as pessoas falando que ela não estava bem. Quem eram essas pessoas para falar se ela está bem ou não? Só ela poderia dizer isso, com mentira ou não.

— Estou bem. – Fala ríspida, sem mais paciência.

Passando por perto, Sieghart para ao ver o clima entre Lass e Elesis. Chega perto de Jin, vendo o ruivo com sua expressão de preocupação. Ficou em silêncio, tentando entender a situação.

Lass assemelhava fazer o mesmo, ter aceitado a mentira orgulhosa de Elesis. Poderia ter andado em direção oposta, mas fez ao contrário. Avança contra Elesis, sua perna traçando uma linha contra ela. Com um chute na perna, derruba a espadachim.

— Se está bem, poderá aguentar muito bem esse ataque. – Comenta Lass.

Mostra sua fúria para o rapaz. Tinha sido acertada perto da ferida na perna, justamente para ser derrubada facilmente. Seu machucado doía, nem mesmo as meias que usava sob a calça a ajudaria nisso.

Apesar de achar que a espadachim não levantaria por causa da dor, enganou-se. Fica de pé em um pulo, contra ele. Lass é rápido em revidar, acertando um soco na costela e outro na face, afastando-a assim.

— Lass, para! – Pede Jin. Só ele sabia do estado de Elesis, e que pioraria com os ataques do ninja. – Não faz isso!

Era o único jeito de convencer Elesis, com os punhos. Não seria na conversa que a tiraria dali, seria do jeito dela.

A espadachim fica parada após ser acertada. Levanta o rosto e funga o sangue que escorria de seu nariz. Outra dor para lidar.

— Não seja intrometido. – Diz Elesis. – Odeio quando fazem isso, e você sabe disso.

Sim, Lass sabia e continuaria a persistir.

— Só quero que fique bem. – Fala o ninja.

— Eu estou bem! – Grita.

O berro da espadachim congela a todos no lugar. Sentem uma aura estranha despertar nela, assustadora e forte. Lass olha amedrontado, sentindo aquela sensação parecida com as das chamas azuis, intensa. Questionava-se como ela podia ter uma aura assim, mesmo que tivesse só a essência das chamas dentro de si.

— Agora me deixe em paz. – Rosna a espadachim antes de ir embora.

Dessa vez, Lass não a segue ou a impede, ficou parado com seu olhar de conformação. Não adiantaria ajudar Elesis se ela não quisesse, seria em vão. Tudo que podia fazer é deixa-la esvaziar a mente, resolver seu próprio problema. Só esperava que ela não se matasse até lá.

— Não adianta, Lass. – Diz Sieghart ao se aproximar. – Deixe-o sozinho, logo ele vai estar de volta. Eléo é como uma garota, vive nervoso por coisas bobas.

Eléo era uma garota, quis falar. Ficou calado e saiu em direção oposta, pegando sua pasta com Jin antes. Faria exatamente isso, daria um tempo para a espadachim, depois conversaria com ela.

Se tivesse tempo, pensa triste. Com seus treinos, talvez nem houvesse tempo para si.

***

A montanha que subia parecia não ter um fim, era como uma escada para o céu. Mas não desistiria, continuaria a seguir seu caminho, mesmo não sabendo qual era ele. Seus pés descalços já estavam completamente sujos, como suas mãos que eram usadas como apoio para subir.

O vento passou pela a pequena, bagunçando seus cabelos ruivos. Pôs as mãos na frente do rosto, com medo de voar pelo o vento.

— Elesis! – Ouve a chamar.

Vira-se, vendo Arthur subindo atrás. O garoto tinha suas dificuldades, atrapalhado quando sentia medo da altura. Esticou sua pequena mão para a ruiva.

— Me ajuda a subir. – Pede ele.

A garota sorri e se agacha, indo ajuda-lo. Ao esticar sua mão, o clima muda. O vento se torna mais frio, as nuvens acinzentadas. Em um piscar, Arthur estava coberto por sangue, sua mão ainda esticada por ajuda.

— Me ajude, Elesis. – Sua voz sai em lamentação. – Por favor.

A ruiva olha horrorizada, congelada ao ver aquilo. Na mão do garoto, um pedaço de papel dobrado com algumas manchas de sangue. Ele esticava para ela.

— Elesis. – Volta a chama-la, como um pedido de desespero.

Nega a cabeça, o mundo se tornando cruel com aquela imagem. Fecha os olhos e grita.

***

Seus olhos são abertos bruscamente. Primeiramente, enxerga o teto, após alguns segundos, seus sentidos voltam. Ouve sua respiração ofegante, o corpo trêmulo em medo. As dores voltam, como de costume.

— Tudo bem?

Olha para Sieghart. O rapaz estava sentado em sua cama, a mão apoiada no seu ombro. Ele olhava preocupado, como Jin, deitado em sua cama.

— Eu... – Começa a falar. Percebe o que acontecia. – Tive um pesadelo. Sinto muito por acorda-los.

— Você estava gritando. – Comenta o moreno. – Tá tudo bem mesmo?

— Sim, estou. – Assente. Sentia o olhar de Jin sobre ela, não gostando da mentira.

Sieghart sorri para acalma-la, o que funciona. Elesis retribui, mais à vontade. O rapaz acerta um leve tapinha em seu ombro antes de voltar para sua cama.

— Foi só um pesadelo, relaxa. – Diz ele. – Tente voltar a dormir.

Concorda, o olhar baixo. Ronan tinha dito a mesma coisa. Queria poder acreditar nisso, mas simplesmente não conseguia. Não era apenas um pesadelo, pois se fosse, não seria atormentada quando acordada.

***

Para algumas pessoas, o sentimento de cumprir todos os deveres do dia era um dos melhores. Menos para Zero. Para ele, muitas coisas não fazem sentido e não têm reação nele, era apenas um dever cumprido. Tinha terminado as aulas cedo, podendo fazer o que quisesse o resto do dia. Pensava no que poderia fazer enquanto ia no banheiro. Estranhamente, esse era um lugar onde tinha total paz e conforto.

Porém, ao abrir a porta, se depara com mais uma pessoa por lá. Eléo estava sentado no chão, encostado na parede. Ele estava com a atenção em seu celular, ignorando qualquer coisa que acontecesse à sua volta, inclusive o estado do piso em que descansava.

— É meio estranho ficar no banheiro para mexer nessa coisa. – Diz Zero, apontando para o aparelho na mão da espadachim. Ele não tinha um, por isso de tanta estranheza.

Elesis ergue o olhar para ele. Fica surpresa, mas não demonstra. Fazia bastante tempo desde que conversou com Zero pela a última vez, como ruiva ou não.

— Aqui é um lugar quieto. – Fala, dando de ombros. – Não tem ninguém para perturbar.

— Perturbar? Soube que ontem você teve uma briga com o Lass. – Percebe a raiva de Elesis ao tocar no assunto. – É por isso que não quer ser perturbado?

Volta a atenção para seu celular. Não era obrigada a responder, por isso o ignorou. Zero nota isso e se aproxima, sentando-se ao seu lado. Sua raiva cresce.

— Às vezes você me lembra alguém. – Menciona Zero. – Seu jeito nervoso é bem parecido com o dela.

— De quem você está falando? – Pergunta, já sabendo da resposta.

— Da Elesis. Acho que você já viu ela aqui, no colégio. Uma ruiva que vive perto do Lass e do Jin.

Era uma definição estranha, pensa ela.

— É, eu conheço. E não acho que ela viva perto do Lass e Jin. São amigos dela, é normal ficarem juntos.

Zero não demonstra ser contra. Assente, continuando.

— Eu conheci Elesis há muito tempo, na guilda que ela participava. Fiquei um tempo por lá, mas foi o suficiente para conhece-la. – Zero é uma pessoa que vive em seu mundo, mas ao mesmo tempo, está observando as pessoas à sua volta. Conhecia cada um por suas atitudes. – Ela sempre foi impulsiva quando ficava brava.

— Com certeza. – Fingi concordar, escondendo a raiva que sentia.

— Mas ao mesmo tempo, isso era bom. O fato de ela agir pelo o sentimento, mostrava que ela se importava com as pessoas. – A espadachim olha atentamente. – Foi o que aconteceu com o Lass ontem. Não o conheço muito, mas sei que ele não é de ficar zangado por qualquer coisa, só se for importante para ele.

Embora parecessem o oposto de cada um, Elesis e Lass agiam igualmente. Eram movidos por sentimentos, se vissem algo que os incomodassem, agiriam no mesmo instante. O ninja nunca foi de agir assim, aprendeu com a espadachim, felizmente. A verdade, era que ele temia fazer algo parecido, que fosse repreendido por isso. Agora que já vivia as consequências, nada o impediria.

— Lass se importa com você, Eléo. Ele pode ter batido em você, mas não foi para doer, e sim, para que as dores maiores fossem evitadas. – Olha para ela. – O mesmo faz a Elesis. Ela batia em todos nós porque não consegue se expressar em palavras.

Verdade, verdade, verdade. Elesis sabia disso e não admitia, era muito orgulhosa para isso. Moveu a cabeça para frente, não querendo olhar Zero nos olhos.

— Só estou dizendo isso para que você não fique chateado com todo mundo. – Continua o rapaz. – Não consigo entender as pessoas, principalmente a vocês, só que... – Fica pensativo. – Não gosto de vê-los separados, querendo ou não, somos uma equipe.

— Eu sei. – Murmura, abraçando as próprias pernas. – Não se preocupe tanto com isso, Zero. Logo, tudo voltará ao normal. – Era o que esperava.

— Entendo. - Diz com seu típico tom de desânimo.

Era difícil convencer o rapaz que tudo ficaria bem, principalmente para si mesma. Tinha certeza que sua relação com Lass voltaria ao normal quando seus machucados curassem, mas até lá, estaria o evitando. Sua preocupação por ela era um incomodo, não tinha como negar.

No entanto, Lass não era o único que agia assim. Via Jin a olhar assim de manhã, querendo que ela desistisse de vez; o que não aconteceu. Não importa quem fosse, continuaria no colégio para assistir as aulas, mesmo que isso causasse tanta dor para a mesma.

***

Durante a noite, o colégio ficava em completo silêncio, dando-se para ouvir cada passo dado, por mais cuidadoso que fosse. Elesis até se importaria com isso, porém nem percebeu enquanto lia sua pasta de comidas. A mordida que dava na maçã era escutada por todo corredor, até mesmo ao dobrar os papeis, o som ecoava.

— Grandiel sabe mesmo o que devemos comer. – Pensava Elesis. – Apenas com o olhar, ele descobriu que eu precisava de mais açúcar no sangue.

Por isso de suas tonturas repentinas. Além disso, sentia-se anêmica após tudo que aconteceu. Perdeu muito sangue e usou em excesso o berserk, o que piorou seu estado. Graças a Grandiel, voltava a se alimentar devidamente, embora fizesse isso de madrugada.

Chegou na biblioteca, a maçã em sua mão ainda pela a metade. Estava ali por um livro sobre as chamas brancas. Por ser arriscado demais procurar por um de manhã, com todos vendo, preferiu fazer nesse horário, onde ninguém a veria. Isso incluía a Jin e Lass.

Guardou a pasta sob seu braço, olhando pelo o livro entre as enormes estantes. Passava-se e não encontrava, sua paciência diminuindo ao mesmo tempo.

— Tinha certeza que havia um por aqui. – Pensa irritada.

Com o olhar na prateleira mais alta, anda para o lado. Por estar distraída, não ver algo parado em seu caminho, assim batendo contra ele. Solta um pequeno grito ao saltar para trás, as mãos erguidas enquanto a maçã era segurada entre os dentes.

O gato branco ergue suas mãos enluvadas em inocência. Pelo visto, não era sua intenção ter a assustado. Elesis o reconhece e solta um suspiro longo, suas mãos contra o peito em alívio.

— Não faça mais isso. – Diz ao tirar a maçã da boca. – Dê um sinal antes.

Ele junta as mãos. Desculpa.

— O que faz aqui? Nessa hora, por sinal.

Com seu completo silêncio, o gato se aproxima. Elesis não fica surpresa quando o bolso de seu pijama é invadido.

— Você tem voz, use-a. – Pede.

O gato pega seu celular, digitando, como de costume. Toda vez que via ele fazer isso, Elesis criava mais curiosidade para descobrir quem era por baixo daquela roupa fofinha. Não conseguia distinguir pela a altura ou pelo o jeito de andar, era tudo tão... neutro. Era irritante esse mistério, pensa.

Faz tempo desde que nós conversamos. Pela sua cara, você passou por muitas coisas. Desculpe por não ter aparecido antes.

— Não se desculpe, está tudo bem. – Esfrega o próprio braço, sem jeito. – Passei por muitas coisas, mas já superei.

Tem certeza? Parece bem triste.

— Isso é apenas cansaço. – Aponta para os olhos cobertos de olheiras. – Se eu estivesse triste, nem levantaria da cama.

Sabe que mente muito bem, não é?

Elesis força uma risada, tentando escapar da pergunta. Não importa quem fosse, essa pessoa conseguia perceber os sentimentos dela.

— Olha...

O que são essas coisas? — Aponta para as pernas da espadachim, cobertas pelas as meias de Mari. Usava o novo modelo, que vinha até o calcanhar, deixando seus pés livres.

Elesis tenta esconder, não havendo mais diferença. Tinha sido descuidada em deixar à mostra as meias, para qualquer um ver e julgar. Achava que não encontraria ninguém naquela hora da noite, o que foi seu erro.

— São para aquece. – Fala com um olhar de óbvio.

O gato coloca a cabeça de lado. Sem uma expressão, era difícil saber o que pensava. Elesis temia o mistério que aquela pessoa era, não sabia como lidar com ela.

Apesar da roupa pesada que usava, o gato se move com total leveza ao atacar. Sua perna é erguida contra a espadachim, chutando com total força. Os livros das prateleiras caem quando um vento passa por eles, causado pelo o ataque.

Volta à posição normal, olhando para o alto. Lá estava Elesis, agachada sobre a estante com o olhar surpreso. Conseguiu ver a mesma saltar antes do ataque, alto suficiente para chegar até ali, o que não seria possível com um simples esforço.

Apenas para aquecer, hum?

Elesis estreita seu olhar. Era mais que óbvio que ela não tinha gostado de ser pega de surpresa assim. Continuou agachada, não conseguindo ficar de pé quando as dores em suas pernas voltam. Tinha usado força desnecessária, o que levava isso como consequência. Sua expressão não demonstra isso, continua séria, com medo de abrir alguma brecha para o gato branco.

— São meias para me manterem de pé. São especiais. – Não via problema em contar aquilo, tinha uma certa confiança naquela pessoa. Embora ela tenha a atacado, foi apenas um teste. – Satisfeito?

Isso não te faz mal?

— Não tenho muita escolha. – Respira fundo antes de ficar de pé. Suas pernas tremem em dor, mas graças às meias, consegue se manter de pé. – É isso ou ficar deitada numa cama por semanas. Não quero ficar parada enquanto Gerard se torna mais forte.

Esse era seu gatilho: Gerard. Estava sendo teimosa, indo contra tudo por causa dele. Quando descobriu que ele estava doente, não conseguiu acreditar; até agora, era difícil aceitar. Gerard, mesmo morrendo, era mais forte que ela, o que acabava com a sanidade da espadachim. Não aceitava isso, iria ficar forte, independente das consequências.

As dores a atingem com força. Seu corpo desaba em fraqueza, não conseguindo evitar a queda. Como esperava, é pega pelo o conforto das mãos fofas do gato. Abre os olhos e se depara contra seu peito peludo. Abre um sorriso fraco em agradecimento.

Elesis é colocada no chão com cuidado, a pessoa sabendo que eram as pernas a fonte do problema. Pega a maçã caída da jovem e limpa em seu roupão, a devolvendo.

— Valeu. – Não era preciso, já tinha perdido a fome mesmo.

Sabe que suas pernas podem piorar, não é? Se continuar assim, não conseguirá derrotar ninguém sem pernas.

Elesis ri, escondendo o nervosismo que começa a sentir.

— Eu já perdi muitas coisas, nada mais me resta. – Seu sorriso some. Elesis volta a esfrega o braço, abaixando o rosto. O pesadelo estava voltando. – Como Gerard me disse uma vez, se eu quiser vencer, preciso sacrificar coisas importantes. Bem, estou seguindo o caminho certo.

O gato nega. Elesis ver e volta a rir. Ergue o rosto, jogando seus braços de lado.

— Se eu precisar sacrificar minha vida para isso, tudo bem, eu faço. – Continua a falar, mesmo com as lágrimas escorrendo por suas bochechas. – Gerard estando morto, não terei mais nada para fazer depois.

Para de dizer isso! Está se ouvindo, por acaso? Está perdendo sua sanidade com isso.

— Eu estou bem. – Fala convencida.

NÃO ESTÁ! Seus machucados são tão graves que nem consegue andar. Suas dores são sentidas em dobro pelas pessoas à sua volta. — Digitava com raiva.

— Por que continuam a dizer isso? – Pergunta de punhos fechados. Estava perdendo a paciência. – Digo que estou bem, mas ninguém acredita.

Porque é mentira! Você não está bem, Elesis.

É, já tinha dado. Como fez com todas pessoas que disseram a mesma coisa para ela, olha ofendida, furiosa. Não queria saber das opiniões das pessoas sobre seu estado, isso incluía ao gato.

Arranca o celular das mãos felpudas do gato. Não o olhou quando disse:

— Vá embora. – Foi difícil dizer essas palavras com tanta frieza. – E se for para falar a mesma coisa, não volte.

Aperta o aparelho quando ver que o gato continuava ali. Solta um estalo com a língua e aponta para a saída.

— Agora. – Rosna.

O sentimento de arrependimento arde em seu peito quando o gato dá as costas e se afasta. Não o olha ir embora, ignora como se nada tivesse acontecido. Seus passos são silenciosos, assim não sabendo quando tivesse já ido.

Quando tudo se torna silencioso novamente, olha para trás. Esperava ver o gato parado, insistindo em conversar, mas não.

Elesis estava sozinha.

***

Desde sua chegada no colégio, todas as garotas a temiam. Algumas vezes, era por seu temperamento, outras, por sua força. Mesmo após anos, continuavam com o mesmo olhar para ela, embora distante.

Elesis se movia em rápidos movimentos, saltitando para se esquivar dos inimigos imaginários. Sentia os olhares das garotas sobre ela, perguntando-se o que ela fazia no pátio atacando o vento. Ignorava à todas, não queria papo com ninguém, de qualquer forma.

Distante, não muito surpreso, olhava Astaroth de uma das janelas do corredor. Tinha chegado a pouco tempo no colégio das garotas, e parado para ver aquela cena. Elesis nunca o entediava.

— O que aconteceu com a perna da Elesis? – Pergunta Astaroth quando sente Lothos se aproximar.

Sem nem um cumprimento, a loira olha emburrada para a pergunta direta. Vê através da janela para onde o professor olhava, entendendo seu questionamento.

— Não fico 24 horas do dia ao lado da Elesis. – Responde. – Ela deve ter caído.

— Uma queda bem feia, não acha? – A olha, sério. – Para estar mancando daquela forma.

Cruza os braços, encarando o mesmo.

— Astaroth, veio aqui para falar sobre a perna da Elesis ou sobre o teste do Lass? – Diz, já impaciente.

Com um simples sorriso, sua face séria é quebrada. Ele joga os braços de lado.

— Estou apenas curioso. Me importo com a ruivinha.

— Vou fingir que sim. – Vira-se, seguindo em frente. – Vamos, não tenho o dia todo.

Astaroth soltou uma risada em provocação, sendo sucedida como queria. Antes de segui-la, olha para Elesis no pátio, ainda treinando com uma determinação que o surpreendia. O que tanto prendia sua atenção não eram seus machucados, treino ou a excalibur que tinha a dado.

Era seu jeito de mancar, tão parecido que lembrava alguém.

***

Lire solta um suspiro ao ver a persistência de Elesis pela a janela. Era final de semana, por isso da ruiva estar ali para treinar. Sentia sua amiga obcecada por isso, quase como uma doença. Toda vez que a olhava, tinha pena por seus machucados e jeito de andar. Não queria vê-la assim, mas sabia que se tentasse a impedir, valeria de nada.

— Vou pegar alguns livros na biblioteca. – Arme fala.

Olha para a maga se levantar da cama e sair do quarto. Desde o dia em que ela e Elesis pararam de falar, que a jovem tem agido assim: Depressiva. Sua animação de antes tinha sumido, seus olhos não tinham mais vida.

Lire não sabia mais o que fazer em relação a elas. Passou a mão em seus cabelos e olhou em direção à porta. Alguém batia. Deveria ser Arme, tendo esquecido algo.

Já pretendia falar com a maga ao abrir a porta, porém, sua voz não saiu. Não sabia como reagir.

— Posso conversar com você? – Pergunta Lass.

Olhou para trás e garantiu que a pergunta era direcionada a ela. É, não havia ninguém além dela mesma. Volta o olhar para Lass e, pela primeira vez, não fica séria por sua presença. Via que o rapaz não estava ali por briga, apesar do olhar frio, que sempre teve.

— Então, - Volta a fazer a pergunta. Um pouco impaciente, cruza os braços. – posso?


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Notas finais do capítulo

Review?
* "Alguém bate na Elesis que ela tá merecendo!" Concordo! Hahaha, relaxem, nossa ruiva não vai fica nessa por muito tempo.
* Próximo capítulo será ÓÓ! Quero ver bastante gente no próximo para mostrarem suas reações. Muahahah
* O gato branco vai ir embora? Ele voltará... um dia.
* O que tem de tão importante nesse papel que o Arthur entregou para a Elesis? Olha, vamos fazer uma aposta! Quem descobrir, mando por MP o final dessa fic. É uma promessa :3