Lado A Lado - A História ao Contrário escrita por Filipa


Capítulo 6
"Catarina"




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Catarina Ribeiro, cantora lírica, era aquele tipo de mulher presunçosa e prepotente cujos laivos de vulgaridade tentava esconder por entre o rosto de boa moça. Estrela nos salões monárquicos portugueses nos primeiros anos do novo século, se julgava digna de todas as vénias e bajulações. No entanto, tudo mudara com o nascimento de sua filha. De tanto gritar no parto, suas cordas vocais estremeceram e não mais afinou uma nota musical. Temendo a penúria e o esquecimento do seu público outrora fiel, Catarina vislumbrara uma luz ao fundo do túnel. Edgar, o rico e belo estudante de Direito com quem se envolvera num passado próximo. Nos tempos em que os amantes faziam fila na porta do seu camarim, Catarina ousou escolher o seu predileto. Nunca lhe concedeu exclusividade mas era o que mais a satisfazia. Por ser o mais rico e ingénuo, Edgar era agora alvo fácil da cobiça e sede de dinheiro da cantora e, tal qual como havia previsto, ele mordera a isca.

No hall de entrada do sumptuoso hotel Aviz, Catarina esperava ansiosa pelo reencontro. Incomodada com o choro persistente de Melissa, a cantora não cessava de se lamuriar pelo atraso de Edgar. De súbito, um funcionário do hotel a aborda e informa que o Dr. Vieira a aguarda numa sala privada ali ao lado.

Catarina entra na sala e logo avista aquele homem garboso com quem tantas vezes partilhou a cama. Os quase 15 meses passados desde que se viram pela última vez o mudaram. Não sabia o quê ao certo mas era fato que estava ainda mais bonito e sensual. Fingindo comoção Catarina se aproxima dele segurando Melissa nos braços.

Catarina: Edgar! Que bom te ver de novo. Olha, muito obrigada por ter vindo e me desculpe se lhe causei algum inconveniente.

Edgar não desvia o olhar de Melissa. Apesar de ter completado somente quatro meses, a pequena era cativante. Seu rostinho redondo fazia sobressair seus expressivos olhos castanhos. Edgar estava encantado. Sem dizer uma palavra e alheio ao discurso de Catarina, ele estende os braços e pega a menina no colo. Do outro lado da sala pouco iluminada pelas velas Laura observa toda a cena escondida atrás de uma porta. Tremendo, fecha os olhos tentando não pensar mas é inevitável. “Ele já ama essa menina. Mesmo que tudo isso não passe de uma mentira vil dessa vag… mulher… ele não vai mais se separar da criança”. De novo, como se tornara hábito desde que descobrira a carta, Laura não controla o choro involuntário. Exacerbadas pelas hormonas da gravidez as lágrimas inundam seu rosto.

Edgar: Como você é linda. Melissa… sabia que seu nome significa abelha? É e você é mesmo doce como o mel da abelha.

Catarina: Ela é mesmo encantadora. Pena ser tão doentinha tadinha. Por isso tive que te pedir auxílio Edgar. Com Melissa nesse estado eu não posso trabalhar, minhas economias estão escassas e os remédios são muito caros…

Edgar: Você devia ter-me avisado antes. Porquê esperou todo esse tempo para me contar que tenho uma filha?

Catarina: Ora Edgar! Quando você saiu daqui dizendo que iria voltar ao Brasil p´ra se casar eu achei que não te veria nunca mais e também só descobri que estava grávida depois de você partir. E já que mencionamos isso, como vai sua esposa? Está feliz no casamento?

O ar debochado de Catarina leva Laura ao extremo. Altiva abre a porta e entra na sala. Dirige-se para junto de Edgar que ainda segura Melissa e se apresenta.

Laura: Boa tarde! Perguntava por mim? Ah me desculpe, que indelicadeza a minha nem me apresentei. Laura Vieira, esposa do Edgar. E respondendo a sua pergunta, vou muito bem, obrigada.

O sangue de Catarina gela nas veias. A beleza e elegância de Laura lhe causam uma inveja desmesurada. Jamais pensara que a esposa de Edgar fosse tão diferente das mudas e obedientes mulheres da época. Faz um esforço para não perder a pose e estende a mão a Laura para cumprimentá-la. Laura a ignora.

Catarina: Nossa, que surpresa. Muito prazer, Catar…

Laura: Sei bem quem você é não precisa me lembrar seu nome. Vamos ao que interessa? Melissa sofre do quê exatamente?

Catarina: De asma. Caso grave. O médico diz que os ares de Lisboa não lhe fazem bem…

Edgar: Quero conhecer o médico que trata dela. Marque uma consulta com ele o mais rápido possível e mande nos avisar. Quero saber o que se pode fazer para melhorar a saúde da Melissa.

Catarina: Claro. Tratarei disso o quanto antes.

Laura: Edgar, está ficando tarde. A menina parece cansada, é melhor se despedir por hoje.

Edgar: Tem razão meu amor. Ela está quase dormindo em meus braços.

Edgar devolve a pequena a Catarina e se despede com visível dificuldade. De braço dado com Laura sai da sala deixando Catarina extasiada de ódio. “Mulherzinha petulante. Por essa eu não esperava, me apanharam desprevenida mas isso não fica assim. Vai dar mais trabalho do que julguei mas essa Laura não perde pela demora.” Já pensando no próximo passo Catarina empurra violentamente o carrinho de Melissa e deixa o hotel.


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