Lado A Lado - A História ao Contrário escrita por Filipa


Capítulo 33
"Intromissão"




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Desânimo, frustração e até uma certa raiva, pairam em torno de Laura e Edgar, tão intensos que parecem palpáveis. A impaciência da visita que teimava ser recebida só contribui para deixá-los mais revoltados mas não há nada a fazer. Visivelmente desorientado pela interrupção abrupta, Edgar absorve continuamente golfadas de ar enquanto agita de modo frenético a camisa desalinhada. Vendo a dificuldade do marido em acalmar-se, Laura espera sentada por mais alguns segundos sem deixar de desejar que as batidas na porta terminem. Tal não aconteceu e a determinada altura são já tão violentas que a jovem não se contém e dirige-se aborrecida para a porta. Abre-a de rompante decidida a despachar quem quer que seja mas depressa seu desejo se esvai ao ver Constância.

Laura: Mãe, claro, quem mais poderia ser em pleno Domingo e a uma hora dessas – desabafa sem espanto.

Constância: Isso é maneira de receber sua mãe? De tanto bater nessa porta quase provoco um ferimento em minha mão – diz chateada irrompendo pelo hall enquanto retira lentamente as elegantes luvas de pelica branca.

Laura: E como sempre nem espera ser convidada – murmura roçando os dedos no pescoço.

Constância: O que disse Laura? – questiona encarando a filha atrás de si. – Até parece que a minha visita não lhe agradou – afirma peremptória fitando Laura.

Laura: A senhora sabe que não gosto que venha sem avisar mas, tudo bem, já entrou mesmo. O Edgar e as crianças estão ali na sala – conforma-se indicando o caminho.

Constância: Você me ofende falando assim. Seu pai está fora da cidade, você sabe, achei que não se importaria que eu viesse ver o meu neto mas vejo que me enganei.

Laura ignora o tom ressentido da mãe e caminha em passos largos para a sala onde Edgar, já recomposto e de paletó vestido, as aguarda com as crianças. Ao verem a imponente senhora, Melissa e Francisco entreolham-se e recuam um pouco indo esconder-se por entre as pernas do pai. A presença da baronesa quase sempre os intimidava. Francisco fugia dos incessantes beijos e abraços da avó e Melissa recusava de bom grado os afagos forçados que a baronesa lhe fazia por imposição de Laura e Edgar. A diferença de tratamento que recebia por parte de Constância e Bonifácio não passava despercebida aos olhos da menina, apesar de sua tenra idade. Na sua inocência infantil, tal era justificado por Francisco ser menino. Para Constância, enquanto o recuo de Melissa lhe era indiferente, o de Francisco dilacerava-lhe a alma. Impávida, cumprimenta o genro e depressa se aninha ligeiramente estendendo os braços na direção de Francisco como prelúdio do abraço asfixiante que se seguiria.

Constância: Meu menino lindo – enaltece em meio de um largo sorriso – venha dar um abraço e um beijo na sua avó – insiste decidida.

Edgar e Laura esforçam-se por controlar a vontade de rir que os assola. O descaso do filho era como um castigo pela visita inoportuna de Constância. Com a voz um tanto embargada mas firme, Edgar muda de posição e incita as crianças a cumprimentarem a “avó”. Ciente do interesse da senhora no irmão, Melissa toma a iniciativa e aproxima-se de Constância dando-lhe um tímido beijo na face. Cumprida a obrigação, a menina lança-se sobre Laura que a leva ao colo sorrindo. Tentando esquivar-se, Francisco ainda olha para o pai mas não adianta.

Edgar: Vamos Francisco, dê um beijo na sua avó – ordena afável acabando com a esperança do filho.

Numa timidez que não lhe era característica, Francisco arrasta-se resignado ao encontro dos braços estendidos da avó e, de olhos cerrados, colhe os inúmeros beijos repenicados e o forte abraço que lhe dificulta a respiração.

Constância: Você está um rapazinho, cada dia mais forte e parecido com seu pai - atesta sentando-se no sofá e forçando-o a acomodar-se em seu colo.

Edgar: Somente por fora D. Constância. No génio ele puxou sua filha – acrescenta fitando maliciosamente Laura.

Constância: De fato, não posso negar que o jeito dele me lembra bastante a Laura quando tinha a mesma idade. Talvez seja essa junção de vocês dois que o tornam um menino tão encantador – concorda encostando a cabeça do neto contra o seu peito.

Laura: Mãe não o aperte dessa forma. A senhora sabe que ele não gosta de se sentir preso, vai deixá-lo indisposto – recomenda ao notar o semblante descontente de Francisco.

Constância: Agora me lembrei que você também detestava quando eu te punha no colo e te abraçava assim. Bastava eu me distrair um instante e você logo corria – recorda saudosa.

Francisco: Vovó posso ir brincar? – interroga em tom de suplica esboçando um sorriso manhoso que sempre comovia a baronesa.

Constância: Claro meu anjinho – consente derretida.

Edgar: Lamento muito dececioná-lo mas o senhor vai é tomar um banho junto com a sua irmã antes que ambos adormeçam de cansaço – discorda aproveitando o momento para se esquivar da companhia da sogra.

Laura: Você dá conta dos dois sozinho? – pergunta preocupada prevendo a confusão que as crianças provocavam durante o banho.

Edgar: Prometo que não afogo nenhum dos dois – brinca levando os filhos pela mão até à escada.

Constância: Porque não chamam a Matilde para ajudar? – questiona olhando em volta à procura da empregada.

Laura: Demos-lhe o resto do dia. Vou preparar um chá p´ra senhora.

Constância: Não precisa filha, prefiro conversar um pouco se não se importa – diz indicando com a mão esquerda o lugar vazio no sofá ao seu lado.

Laura: E sobre o quê a senhora quer conversar? – interroga desconfiada do tom sereno da mãe.

Constância: Sobre você, o seu casamento…

Laura: Lá vem a senhora de novo querendo se meter na minha vida – reclama.

Constância: Laura eu só quero te ajudar…

Laura: E quem disse que eu preciso da sua ajuda? Aliás, sempre que a senhora tenta ajudar em alguma coisa acaba atrapalhando mais. Além disso, está tudo bem comigo e com o meu casamento como pode ver então, não vejo o que possa lhe causar preocupação – acrescenta esforçando-se por não ser demasiado rude.

Constância: Filha, há uma coisa que vem me afligindo de uns tempos p´ra cá e que eu preciso esclarecer. Você pode confiar em mim, o que for dito aqui ficará entre nós – fala misteriosa confundindo a jovem.

Laura: Realmente eu não estou entendendo. Do quê a senhora está falando mãe? Não há problema algum comigo.

Constância: Há sim. Me diga Laura, você e o Edgar tem uma vida conjugal normal?

Laura: Mãe! – exclama levantando-se. – Isso não lhe diz respeito – diz indignada.

Constância: Está enganada. O futuro da nossa família depende do seu casamento Laura. Vocês estão casados há quatro anos e até agora você apenas engravidou uma única vez. Isso não é normal filha… dispara sem pudores perante o olhar irritado de Laura.

Laura: Eu não acredito que a senhora veio até aqui p´ra me dizer uma coisa dessas – constata incrédula. – Como eu disse mãe, a minha vida com o Edgar não lhe diz respeito mas, se a tranquiliza, não há nada de errado connosco.

Constância: Como não Laura? Uma mulher na sua idade com um marido como o Edgar devia ter pelo menos mais um filho. Se você me diz que não há nada de errado com o casamento, então só pode ser um problema de saúde – dispara.

Laura: Pare, por favor. O que pretende com essa conversa mãe? Está tentando me atormentar insinuando que não sou mais capaz de gerar um filho?

Constância: Longe de mim filha. Eu quero o melhor p´ra você e só por isso me preocupo. Não fique assim, talvez eu esteja exagerando mas não será melhor você se consultar com um médico? Não precisa ser o seu pai – teima.

Laura não quer acreditar no que ouve. Ainda que incomodada com o interrogatório indiscreto de Constância, as palavras da mãe não deixam de lhe provocar alguma dúvida e incerteza. Aquele era um assunto que vinha ponderando há algum tempo mas ao qual nunca dera demasiada importância por se achar muito nova. Nervosa, a jovem levanta-se bruscamente e enfrenta a mãe.

Laura: Mãe, eu agradeço a sua preocupação mas não há nada errado comigo. Além disso, tanto eu como o Edgar somos jovens, temos muito tempo para aumentar a nossa família. Eu tenho o meu trabalho na escola, tenho projetos e o Francisco e a Melissa já dão trabalho por quatro – conclui mais tranquila.

No alto da escada porém, Edgar detém-se entristecido ao ouvir as palavras da esposa. Tendo terminado o banho das crianças e aproveitando terem adormecido, o advogado achou por bem descer mas logo se conteve ao escutar as últimas palavras de Laura. Ao apanhar a conversa pela metade, Edgar entendeu que a jovem comentava com a mãe o desejo de não ter mais filhos. Aquele mal entendido angustiou-o de tal forma que desistiu de se juntar a elas e voltou para o quarto.

Na sala e alheia à presença do marido, Laura despede-se de sua mãe. Decidida a encontrar-se com Edgar no piso superior, a jovem espalha a inquietação que a possibilidade de ser infértil lhe causou e sobe as escadas. Contudo, antes de entrar no quarto onde adivinhava a figura do marido, Laura verificou a desarrumação no quarto de banho e espreitou o sono calmo das crianças. Do outro lado do corredor, a porta do cómodo estava fechada. Colocando um delicioso sorriso nos lábios, Laura abre a porta e entra animada no cómodo mas o olhar desiludido de Edgar rapidamente lhe chama a atenção.

Laura: Que cara é essa meu amor? – interroga sentando-se ao lado dele na beira da cama e acariciando-lhe o rosto. – Minha mãe finalmente se foi, podemos continuar de onde paramos – fala dengosa insinuando-se.

Edgar: Tem certeza que é isso que você quer, … continuar? – pergunta chateado pondo-se de pé.

Laura: Como assim? Porquê está agindo desse modo comigo?

Edgar: Eu ouvi sem querer o que você disse à sua mãe sobre não querer ter mais filhos. Porque nunca me disse nada Laura? – questiona indignado.

Laura: Eu não disse isso. Você entendeu tudo errado e já começa me julgando. É claro que eu quero ter mais filhos com você. Edgar eu te amo, tudo o que mais quero é ser feliz do seu lado mas se não aconteceu que culpa eu tenho disso? Alguma vez eu te rejeitei ou me neguei a você p´ra te dar motivos p´ra desconfiar de mim?

Edgar: Não - constata meio envergonhado. – Mas você disse à sua mãe que quer trabalhar, como se outra criança fosse atrapalhar seus planos.

Laura: Não é nada disso Edgar. Realmente eu acho que nós somos jovens, não precisamos ter pressa p´ra ter mais filhos e eu estou trabalhando bastante mas isso não significa que eu desisti de querer ser mãe novamente.

Edgar: Mas então se a gente não evita porque você não voltou a engravidar? Será que tem algo errado connosco?

Laura: Não sei. A minha mãe insistiu para que eu me consulte com um médico mas… eu tenho medo da resposta – confessa entristecendo.

Edgar: Laura, eu te amo de qualquer jeito – afirma erguendo-lhe o rosto com uma das mãos.

Laura: Mesmo se eu não puder te dar mais filhos?

Edgar: Você não ouviu o que eu disse? De qualquer jeito meu amor… repete beijando-a suavemente. – Desculpa se eu fui impulsivo – diz sincero olhando-a embevecido.

Laura: Só tem uma forma de eu te perdoar – diz dando a entender que o vai beijar.

Edgar: Qual? – pergunta entusiasmado.

Laura: Assim… – prossegue empurrando-o para cima da cama.

Em pé de frente para Edgar que a devora com os olhos, Laura começa a despir-se vagarosamente despertando o crescente desejo do marido. Nua a jovem retira o gancho que lhe prende parcialmente alguns fios de cabelo e solta-os sobre os ombros. Sob o olhar atento de Edgar, Laura aproxima-se do leito e senta-se sobre o corpo do marido. Apressado ele tenta tocá-la mas é impedido pelas mãos de Laura que entre longos beijos vai despindo as peças de roupa que ainda o cobrem. Liberto do colete e da camisa, Edgar acaricia o pescoço e os ombros da esposa afastando cuidadosamente os longos cabelos até destapar-lhe o busto por completo. Fascinado, admira-a durante breves instantes e, uma vez rendido, segura-lhe a cintura até senti-la perfeitamente acomodada sobre si. Aos poucos foram-se soltando das restantes peças que ainda prendiam os movimentos de Edgar e amaram-se sem pressas pela tarde fora.


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