Lado A Lado - A História ao Contrário escrita por Filipa


Capítulo 30
"Frações do Tempo"




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O impacto fez com que Laura deixasse cair a caixa. Por entre os papéis e caixas vazias amontoados no chão, escorre um fio de sangue que tinge de vermelho o rosto fúnebre da boneca de porcelana que vinha dentro do pacote. Seu aspeto era deplorável. Os cabelos escuros completamente desgrenhados escureciam ainda mais as vestes negras mal tratadas que envergava. Não era preciso prestar muita atenção aos pormenores para distinguir a tentativa de assemelhar a boneca à fisionomia de Laura. Tendo ouvido o grito da patroa, Matilde abandona a cozinha e apressa-se para a sala. Ainda atordoado com o susto, Edgar esforça-se por se recompor e dá um passo em frente para reconfortar a esposa com um abraço. As cores voltavam lentamente ao rosto da jovem que mantinha as gélidas mãos cravadas na roupa que cobria o corpo do marido.

Edgar: Você ´tá bem? – pergunta mais calmo segurando o rosto da esposa com a mão direita.

Laura: Acho que sim – assente olhando novamente para a boneca por cima do ombro do marido. – Essa… boneca… sou eu Edgar – fala com a voz um pouco trémula.

Edgar: Deixa isso p´ra lá, não olhe mais meu amor. Eu vou descobrir quem fez isso – garante envolvendo-a outra vez nos braços.

Matilde que não disfarçara também o temor inicial, ganha coragem e aproxima-se do chão analisando o conteúdo da caixa. A empregada molha as pontas de dois dedos no sangue que ainda escorre nos papéis e observa com cuidado. Cheia de certeza, volta a erguer-se e interrompe o carinhoso abraço dos patrões.

Matilde: D. Laura, Dr. Edgar, esse sangue é de galinha. Por um momento eu achei que… – afirma encarando os dedos sujos.

Edgar: Nós também pensamos o mesmo. Matilde deite tudo isso fora, por favor. De preferência bem longe dessa casa – pede firme soltando a esposa que se lança sobre o sofá.

Laura: Foi ela Edgar. Foi aquela mulher… – diz convicta cobrindo o rosto com ambas as mãos.

Edgar: Laura não vamos tirar conclusões precipitadas. Vamos subir, a gente precisa descansar – fala ajoelhando-se ao lado dela e acariciando-lhe a perna. – Amanhã eu resolvo isso. Se foi mesmo a Catarina, ela vai confessar.

Laura: Catarina! – exclama erguendo os olhos carregados de raiva – Catarina! – repete mais alto levantando-se de supetão. – Catarina, Catarina, Catarina – grita violentamente como se bradar o nome da cantora lhe aliviasse o asco que sentia por ela.

Edgar fica nervoso com o descontrole de Laura e faz menção de agarrá-la mas a jovem se esquiva e segue bradando o nome de Catarina como se fosse um insulto. As crianças, até então alheias à quimera que se desenhava em sua presença, despertam e choram assustadas. Matilde, que cumprindo as ordens do patrão juntava o lixo dos presentes, ergue-se rapidamente e embala o carrinho de Francisco ao mesmo tempo que sorri para Melissa tentando acalmá-la. Dando-se conta do rio de lágrimas que escorria em fio pelas faces das crianças, Laura emudece e depressa alcança o carrinho do filho tomando-o nos braços. Edgar repete o gesto com Melissa e faz sinal a Matilde para que se retire. Poucos minutos depois, o silêncio volta a reinar. Laura e Edgar prendem o olhar um no outro e o advogado sorri percebendo que a esposa recuperara a tranquilidade.

Laura: Desculpa. Não queria assustar vocês mas eu precisava libertar a raiva que me consumia – explica-se.

Edgar: Eu entendo, só que não esperava e me desesperei vendo você desse jeito.

Laura: Você não vai procurá-la Edgar. É isso que ela espera mas dessa vez não vamos deixar nos levar pelas armações. O que aconteceu hoje foi premeditado para nos aterrorizar…, me aterrorizar. Melhor ignorar, um dia a hora dela chega – reflete decidida e esperançosa.

Edgar: Se você prefere assim, tudo bem mas se mudar de ideias diga que amanhã mesmo eu resolvo isso.

Laura: Não precisa. Vamos dormir? Quero esquecer que esse dia terminou dessa forma. Ainda bem que a Melissa não entende e p´ra ela o dia foi bem animado.

Laura foi a primeira a alcançar os degraus da escada. Depois de deitarem as crianças, acomodaram-se também na cama. Recostada no peito do marido, Laura esforçou-se por mudar o rumo da conversa e dormiram antes de terminarem seus argumentos sobre as reportagens de João do Rio. No dia seguinte, Catarina esperou a visita do casal por horas e lamentou-se irritada quando os dias e as semanas se sucederam sem que ouvisse ou visse nenhum dos dois.

O ano de 1905 terminou mais pacato do que começara para ambos. Embevecidos com o desenvolvimento de Francisco, exultaram com o primeiro sorriso declarado do menino e temeram as quedas que os movimentos frenéticos poderiam causar. Aliado a tudo isso ainda viram Melissa tentar os primeiros passos e não estranharam quando a primeira palavra notória suou “papai”. Laura temia que a menina a chamasse de mãe e dividiu seus receios com o marido. Explicou-lhe devagar que, mesmo tendo aceite a menina, era-lhe estranho ouvir aquela palavra de Melissa antes de Francisco. A jovem não fazia distinção no tratamento das crianças e cuidava-as com o mesmo esmero, amor e dedicação mas custava-lhe saber que, provavelmente, não seria Francisco a chamá-la de “mamãe” pela primeira vez. Edgar acabou por compreender e nada exigiu da jovem. Contudo, não haveriam de passar muitos dias desde a conversa para a menina soltar a tal palavra. Laura estremeceu por alguns instantes mas logo se concentrou e ajudou a pequena a repetir o limitado discurso. “Um dia ela saberá a verdade sobre sua origem” – pensou para si.

Os primeiros meses do novo ano sucediam-se fugazmente. Em meados de Março tinha Francisco completado oito meses, Laura recebia Sandra em sua casa para mais uma das muitas tardes que vinham passando juntas. A filha do delegado andava triste e abalada após ter sido forçada a demitir-se do emprego como pesquisadora. O escritor para quem trabalhava assediou-a descaradamente durante o expediente e a jovem não viu outra solução a não ser a demissão. A tarde era de chuva. Sandra chegou à hora de sempre e Laura recebeu-a sorridente à porta.

Laura: Sandra, entra – convida alegre. – Está caindo um dilúvio lá fora.

Sandra: Olá Laura. Parei p´ra comprar o jornal de hoje e quase me atrasei mas valeu a pena – solta feliz entrando na sala com um jornal na mão.

Laura: Saiu alguma matéria interessante? Li o “Correio da República” esta manhã mas não me apercebi de nada além do habitual – diz seguindo a amiga.

Sandra: Isso é porque o que eu achei não vem no jornal do Guerra – conta misteriosa escondendo as folhas atrás das costas. – Olha isso aqui – indica estendendo o jornal à jovem que o recebe curiosa.

Laura: É um anúncio! – repara séria – Diz aqui que estão procurando duas professoras para o colégio de freiras – lê eufórica. - Sandra, você pensou o mesmo que eu? – questiona com o rosto iluminado pela ideia.

Sandra: Você não acha muita coincidência? Laura, talvez essa seja a oportunidade que precisávamos para ingressar de vez no magistério.

Laura: Claro, vamos lá agora mesmo ver essas vagas. Ai Sandra estou tão feliz com essa possibilidade. Já imaginou nós duas dando aulas no mesmo colégio?

Sandra: Não é a nossa escola como sonhamos mas p´ra começar é muito bom. Quem sabe com experiência um dia não realizamos o nosso sonho e abrimos uma?

Laura: Me espera aqui que eu vou pegar as minhas coisas e pedir p´ra Matilde ficar de olho nas crianças – pede já caminhando até às escadas.

Sandra: Laura espera! – chama acalmando o tom de voz. – Você não está esquecendo de nada? – pergunta franzindo ligeiramente o sobrolho.

Laura: O Edgar! – exclama a meio da escada – Vamos fazer o seguinte. A gente vai no colégio agora, vemos as vagas e depois eu conto p´ra ele. Mesmo que ainda não tenham sido preenchidas e aceitem nos receber, não vão decidir hoje se nos contratam – conclui decidida.

Sandra: ´Tá vai lá que eu te espero – assente.

Estavam ambas tão desejosas por chegar ao colégio religioso que o cocheiro precisou conter a pressa das jovens para não sobrecarregar em demasia os cavalos. O mosteiro que albergava a instituição estava repleto de meninas de várias idades e outras tantas irmãs que se ocupavam das muitas tarefas do dia a dia. Devidos às condições climatéricas, o pátio ajardinado onde se erguia um poderoso chafariz barroco estava deserto. Ainda extasiadas, Laura e Sandra apressaram-se nos corredores e esforçaram-se por conter a ansiedade diante da espera para que a madre superiora as recebesse. A pesada porta do gabinete abriu-se emitindo um sonoro ruído deixando escapar pelas frestas um forte cheiro a cera queimada. A austera senhora que se apresentava agora perante elas aparentava cerca de 60 anos mas a placidez da vida que levava certamente esconderia mais alguns.

Madre Superiora: Boa tarde senhoritas – cumprimenta com um ar grave mas atencioso.

Ambas devolveram a saudação em simultâneo e entraram no frio gabinete cujas paredes em pedra eram decoradas por livros e algumas imagens de santos. Ao fundo, despida de ornamentos, pendia numa prateleira uma imagem de Santa Teresinha das Rosas. Laura admirou a beleza da santa e seguiu Sandra até à secretária da madre. Sentaram-se nas duas cadeiras de madeira de pinho torneadas e a senhora começou por perguntar-lhes os nomes. Apresentaram-se rapidamente e foram respondendo a todas as questões relacionadas com a formação e experiência que possuíam.

Madre Superiora: Muito me agrada que ambas tenham a mesma formação. Quanto à experiência realmente é uma falha portanto, vou precisar de uma carta de recomendação das instituições onde leccionaram, mesmo que voluntariamente, e outra do colégio onde concluíram o curso normal. Podem entregar pessoalmente ou por carta até ao final desta semana – adverte.

Laura: Assim que tivermos todos os documentos mandamos entregar aqui Madre.

Madre Superiora: Se estão verdadeiramente interessadas em assumir o magistério no nosso colégio, aguardarei com prazer.

Sandra: Muito obrigada Madre por ter-nos recebido sem agendarmos nossa visita – agradece gentilmente.

Madre Superiora: De fato, não cultivo o hábito de receber ninguém sem marcação mas dada a chuva que nos aprisiona entre estas paredes, não vi problema algum em abrir uma exceção.

As três trocam um civilizado sorriso e Laura repara no olhar inquisidor da Madre preso em sua mão esquerda. Antecipando-se à religiosa, a jovem recolhe a mão e assume:

Laura: Espero que o fato de eu ser casada não interfira no assunto que me trouxe à sua instituição Madre – afirma benevolente.

Madre Superiora: De todo. Apenas me pergunto se o seu marido está de acordo com a sua vontade.

Laura: Meu marido sabe do meu desejo de fazer carreira no magistério. Se à senhora não lhe causa estranheza, a ele também não causará – finaliza.

Madre Superiora: Fico mais tranquila. Agora, se me dão licença, tenho outros assuntos para resolver – fala levantando-se em jeito de despedida.

Laura: Nos perdoe se lhe causamos algum incómodo – acrescenta. – Foi um prazer conhecê-la.

Madre Superiora: O prazer foi todo meu. Até mais ver – despede-se.

A pedido da madre, uma das irmãs acompanhou-as até à saída e viu-as partir animadas. Pelo caminho trocaram as impressões da visita e fizeram votos de conseguirem as vagas. Sandra via o entusiasmo da amiga com alguma reticência já que Edgar ainda não sabia de nada mas achou por bem não preocupá-la. O cocheiro deixou a jovem em casa e seguiu viagem até à residência dos Vieira.

O final da tarde estava próximo quando Laura entrou em casa com um encantador sorriso espelhado nos lábios. Não resistiu a partilhar a novidade com as crianças e, para apaziguar a inquietação, contou-lhes algumas histórias. Terminava de contar “Branca de Neve e os Sete Anões” mas viu-se obrigada a parar com a entrada ruidosa de Edgar. O advogado parecia uma criança de tão feliz que estava. Correu para a jovem e encheu-a de beijos que ela retribuiu de bom grado.

Laura: Posso saber o motivo p´ra toda essa alegria? – questiona intrigada por entre golfadas de ar a fim de recuperar o fôlego.

Edgar: Pode mas antes me dê outro beijo que eu quase morri de saudades de você – pede envolvendo com uma mão o pescoço e a outra a cintura da esposa.

Laura: Conte logo que eu também tenho uma coisa muito importante p´ra te dizer – fala feliz dando um jeito na gravata que entortara.

Edgar: Uma coisa muito importante? Não me diga que você está grávida outra vez! – diz fazendo uma expressão divertida de surpresa.

Laura: Não seu bobo – nega tapando-lhe a boca com os dedos de uma das mãos. – É outra coisa mas te conto depois. Primeiro quero saber de você – afirma retirando rapidamente a mão que Edgar se preparava para morder sutilmente.

Edgar: ´Tá eu conto mas vai ser do meu jeito. Vem cá – fala virando Laura de costas para si e vendando-lhe os olhos com as mãos. – É uma novidade que está lá fora mas você só vai ver quando eu disser.

Laura: Hum, p´ra você estar tão empolgado é porque a novidade é boa – diz deixando-se conduzir pelo marido até à porta da rua.

Edgar: Eu acho que você vai gostar – declara ao parar no pátio da frente da residência. – Pode abrir os olhos – fala retirando as mãos do rosto de Laura.

A chuva ao final da tarde caía amiúde molhando a capota do automóvel preto estacionado ao fundo das escadas. Laura observou atentamente o novo pertence do marido e olhou-o de soslaio disfarçando o riso.

Laura: Você alugou? – questiona inclinando o rosto.

Edgar: Não – nega entusiasmado. – Comprei! Senhora Vieira, apresento-lhe o nosso novo meio de locomoção, o automóvel – confirma colocando a voz e apontando para o veículo.

Laura: Ah, isso quer dizer que não vai ter mais cavalos, nem cocheiro, nem solavancos pelas ruas? – pergunta aparentando certa decepção.

Edgar: Pensando bem, não vou dispensar o cocheiro porque você pode precisar sair e assim evita de alugar um coche mas nos outros dias a família Vieira passear-se-á de automóvel pelas ruas da capital – decide olhando-a de frente pronto para beijá-la novamente.

O vento virou a direção do aguaceiro que começava a humedecer o pátio onde se encontravam forçando-os a recolherem-se para o interior da residência. Edgar puxa Laura pela mão e empurra-a contra a parede atrás da porta beijando-a incessantemente enquanto vagueia as mãos pelo corpo da jovem.

Laura: Meu amor – diz ansiosa. – Me deixa respirar um pouco – pede ofegante. – É a minha vez de contar a novidade – afirma escorregando pela parede até se esgueirar por entre os braços do marido.

Edgar cede e segue a jovem que pegava o jornal pousado em cima da mesinha de centro. Laura vira as páginas à procura do anúncio enquanto o advogado afaga Francisco e Melissa entretanto adormecidos.

Edgar: Hum, essa novidade tem alguma coisa a ver com o jornal? – questiona espreitando as folhas do semanário.

Laura: Tem. Veja esse anúncio – diz estendendo a página.

Edgar percorre vagarosamente as letras impressas no papel e não tarda a entender a ansiedade de Laura.

Laura: E então o que achou? – pergunta agitada balançando ligeiramente o corpo.

Edgar: Suponho que você se tenha interessado pela vaga – responde secamente sem tirar os olhos do jornal.

Laura: Sim e não só me interessei como fui hoje mesmo até lá com a Sandra formalizar a nossa candidatura – conta num tom mais grave travando o corpo.

Edgar: Você fez isso sem me consultar? – questiona atirando as folhas em cima da mesinha.

Laura: Que tom é esse Edgar? – interroga desiludida com a reação do marido – Fiz e voltaria a fazer porque você é meu marido não meu dono – afirma enfática.

Edgar: Por acaso sequer pensou em mim e nas crianças antes de se precipitar? Laura você tem noção do que isso implica? Nós temos duas crianças p´ra cuidar, você já dá aulas na biblioteca. P´ra quê isso agora? – indaga furioso sem demonstrar qualquer compreensão.

Laura: Você falou muito bem “temos”, são tanto minhas quanto suas portanto, as crianças são responsabilidade de nós dois. Desde que fiquei grávida a minha vida se resume a ficar em casa cuidando deles. A gente já falou sobre isso Edgar, eu vou tornar-me professora numa escola, vou ganhar o meu próprio dinheiro, vou fazer algo que me faz feliz – responde exasperada.

Edgar: O Francisco é um bebê, você ainda amamenta. Ninguém vai te contratar sabendo disso – dispara. – A menos que você tenha mentido na entrevista.

Laura: Meu leite está secando e ele já ingere alguns alimentos. Se a sua preocupação é com a alimentação do Francisco, fique tranquilo, eu sei cuidar do meu filho e jamais faria algo que o prejudicasse. Por isso não falei sobre ele à Madre, não há necessidade.

Edgar: Claro que não há necessidade. Aposto que até deixou que ela pensasse que você é uma mulher solteira.

Laura: Eu não acredito que você está me dizendo isso. Que espécie de mulher pensa que eu sou? Eu disse a verdade, disse que sou casada. Só me enganei quando também lhe garanti que o meu marido não iria se opor à minha vontade. Está claro que ele não passa de mais um dos muitos maridos machistas que sobram em pleno século XX – grita arregalando os olhos que queimam de raiva.

Edgar: Agora o problema sou eu, eu que sou machista e nada compreensivo. Laura, eu sou o advogado melhor remunerado da capital, a gente tem uma vida desafogada, você tem suas aulas na biblioteca. Pare e pense um pouco. Essa sua cisma não vai nos levar a lugar nenhum – fala tentando serenar a voz justificando-se.

Laura: P´ra você é muito fácil. Sai todos os dias p´ra trabalhar fora de casa naquilo que sempre desejou fazer. E eu? Porquê eu não posso realizar os meus sonhos? Porque você quer eu devo continuar dando aulas como voluntária, vivendo do seu dinheiro e exclusivamente em função dessa casa? Não – grita novamente. – Nunca! Se Deus quiser a Madre há de me contratar e quer você queira quer não eu vou ocupar essa vaga – conclui firme em sua decisão.

Edgar: Você não imagina como suas palavras me ferem. Nao dá p´ra conversar com você alterada desse jeito. Vou sair – diz ressentido encaminhando-se para a saída.

Laura: Isso vá. Vire as costas ao problema que ele vai resolver-se sozinho. É o que você sempre faz – berra com a voz cheia de mágoa.

Profundamente dececionada com a reação intempestiva e intolerante de Edgar, Laura prostra-se sobre o cadeirão azul e chora compulsivamente ouvindo ao longe o barulho do motor do automóvel afastando-se da casa. Há algum tempo que não discutiam de forma tão violenta. As palavras que disseram um ao outro dilaceraram a ambos mas Laura decidiu deixar o orgulho de lado e enxugou o rosto com os dedos. Chamou Matilde para ajudá-la a deitar as crianças nos respetivos quartos e recolheu-se em seguida recusando o jantar que a empregada preparara. Deambulou pensativa pelo cómodo durante algumas horas até que o cansaço e a impaciência se apoderaram de si. Edgar não aparecia fazendo com que o ânimo da jovem oscilasse entre a preocupação e a tristeza. Já tarde acabou por adormecer atravessada na cama por cima da roupa com os cabelos colados no corpo pelas lágrimas.


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