Lado A Lado - A História ao Contrário escrita por Filipa


Capítulo 26
"Rescaldo"




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As ruas parecem não ter fim. Uma após a outra, o coche de Laura e Edgar vai virando as esquinas mas ambos sentem como se andassem em círculos. Por fim, pouco tempo depois o cocheiro para em frente à residência dos Vieira. Absorto em seus pensamentos, Edgar continua imóvel como se a viagem não tivesse terminado. Colocando a mão no ombro do marido, Laura o chama de volta à realidade e entram em casa. Na sala, Matilde embala Francisco e diverte Melissa com uma boneca. Laura segue até junto da empregada e pega o filho nos braços sem se dar conta que Edgar paralisara pouco depois de passar pela porta.

Laura: Eles se comportaram Matilde? – pergunta sorrindo terna para o menino que a encara de olhos meio abertos.

Matilde: São uns anjinhos, os dois. Fiz tudo como a senhora mandou.

Laura: Ótimo. Isso quer dizer que só falta alimentar esse príncipe. Vamos lá no quarto p´ra você mamar com calma meu amorzinho? Edgar, você traz a Melissa? – fala virando-se para Edgar que não responde de imediato. – Edgar? – chama preocupada aproximando-se dele. – Edgar, você ´tá me ouvindo?

Edgar: Ahm? ´Tô, ´tô te ouvindo sim – fala confuso.

Laura: Não parece. Eu perguntei se você pode pegar a Melissa. Eu preciso amamentar o Francisco e a Matilde foi p´ra cozinha preparar o jantar.

Edgar: Melissa! – exclama sério fitando a menina que no sofá se aborrece com a boneca. – Vá na frente, eu já subo com ela.

Laura: ´Tá, eu vou mas não demora – concorda dando-lhe as costas e indo em direção à escada.

Vendo a esposa afastar-se e sem tirar os olhos de Melissa, Edgar caminha devagar para perto do sofá e, reticente, senta-se ao seu lado. Meiga, a menina o olha, abre um largo sorriso e leva as mãos uma contra a outra como que celebrando a presença do pai. Depois de alguns minutos em silêncio, o advogado pega a mão da pequena e, sincero diz-lhe:

Edgar: Hoje eu descobri a mais dolorosa das mentiras. Sua mãe mentiu p´ra mim e eu acreditei mas agora eu sei que você não é minha filha. Você não entende porque ainda é muito pequena mas eu preciso falar p´ra você. Melissa, nada vai mudar, eu vou ser sempre seu pai e você vai ser sempre minha filha. Esse amor de pai que eu já sinto por você não vai mudar só porque não temos o mesmo sangue. Se algum dia alguém disser o contrário, não acredite, – pede pegando a menina e sentando-a no colo – não acredite minha filha.

Abraçando-a, Edgar segura as lágrimas e se levanta. Esforçando-se por conter a emoção, o advogado cerra firmemente os olhos e sobe as escadas. Acomodada na cama, Laura amamenta Francisco enquanto entoa uma música de ninar. O pequeno mama sedento mas depressa se satisfaz e começa a ceder ao sono. Edgar entra no quarto a tempo de ver a esposa devolver o filho ao berço.

Laura: Você demorou – diz enquanto cobre o pequeno. – Hoje eu vou relevar você não ter me ajudado a cuidar dele mas, prepare-se senhor advogado, vou cobrar a recompensa – enfatiza virando-se para ele com um leve sorriso nos lábios tentando abrir o semblante do marido.

Edgar: Faço questão de ser cobrado, senhora Laura Vieira – responde ainda abatido mas retribuindo o gesto carinhoso. – Agora venha cá, preciso te falar uma coisa muito importante – diz tomando-lhe as mãos e puxando-a para junto de si. – Laura, eu preciso te pedir perdão meu amor.

Laura: Edgar, não precisa falar mais disso, vamos esquecer.

Edgar: Não, eu nunca vou esquecer o quanto eu te fiz sofrer por causa de uma mentira.

Laura: Meu amor, não…

Edgar: Shh, me deixa falar. Quando você me entregou a carta, eu devia ter te dado um voto de confiança em vez de ir logo acreditando nas palavras da Catarina, eu errei. Por culpa dessa minha ingenuidade, transformei a nossa vida num inferno e agi muito mal com você. Te forcei a aceitar tudo sem pensar no seu sofrimento, passei por cima do nosso casamento, eu… – para de súbito sem conseguir mais segurar as lágrimas – eu não respeitei você. Agora entendo quando você falou em divórcio. Eu te magoei demais, quase te perdi, quase perdemos nosso filho…

Com o rosto lavado em lágrimas, Laura se lança sobre ele e o interrompe com um beijo apaixonado. Apertados nos braços um do outro, deixam-se levar pela comoção.

Edgar: Eu te amo tanto Laura, tanto. Mas se você não conseguir me perdoar, eu entendo – fala consternado.

Laura: Você me magoou muito sim Edgar, não vou negar. Eu sofri demais com tudo isso mas eu já perdoei. Não sei quando nem como, só sei que em algum momento eu te perdoei. E quer saber a verdade, estou aliviada que a verdade foi descoberta, que a máscara daquela mulher caiu e lavei a minha alma na cara dela. Hoje libertei toda a raiva que tinha acumulado desde que a tia Celinha me deu a carta – conclui respirando fundo.

Edgar: Eu perdi o chão mas me lembro bem da surra que você deu nela – ri subtilmente. – Devo dizer que nunca pensei que a minha doce esposa fosse capaz de tal ato.

Laura: Não? Melhor assim… posso sempre surpreender o meu marido. Veja lá o que vai aprontar senhor advogado. Olha que eu caio em cima de você como um andaime – brinca beijando-o novamente.

Edgar: Sabe que eu gostei dessa ideia – diz envolvendo-a pela cintura e puxando-a um pouco mais para si. – O que você acha da gente ir tomar um banho? Prometo que depois deixo você cair em cima de mim feito um andaime.

Laura: Acho uma ótima ideia!

Perdidos num beijo intenso e demorado, vão dando alguns passos para fora do cómodo até chegarem ao quarto de banho. Sem tirar os olhos do marido, Laura abre a torneira e deixa a banheira encher. Impaciente, Edgar a toma de volta em seus braços e, por entre beijos e abraços, vai despindo as roupas da esposa. Momentos depois, estão ambos nus se amando completamente emersos na água da banheira. A hora do jantar se aproximava. Matilde já tinha a mesa posta e aguardava os patrões quando os vê descendo a escada lentamente. A cada degrau que desciam, Edgar fazia questão de parar para beijar a jovem que, entregue, não apresentava resistência. Entre risos e muitos beijos, chegaram por fim ao patamar inferior sob o olhar envergonhado da empregada.

Matilde: D. Laura posso servir o jantar?

Laura e Edgar: Por favor Matilde – concordam em uníssono gargalhando e indo sentar-se à mesa.

Edgar não desprega os olhos de Laura e quase a devora. Como que enfeitiçado, ignora por completo os alimentos que lhe decoram o prato e segue observando a esposa.

Laura: Você não vai comer? – questiona tentando disfarçar o sorriso feliz.

Edgar: Já ´tô comendo… meu prato preferido ´tá bem aqui na minha frente – fala com claro desejo.

Laura: Ah, então é melhor eu me apressar e terminar logo a minha refeição. Não quero que o meu marido passe necessidade – brinca acariciando maliciosamente a mão de Edgar.

Edgar: Mas que esposa mais dedicada eu tenho! Não tenha pressa, eu me contento com a sobremesa – diz indicando o andar de cima.

Laura: Então enquanto espera, que tal ir pensando na data do batizado do Francisco? Acho melhor decidirmos isso logo antes que a minha mãe apareça aqui com data, hora, festa e lista de convidados.

Edgar: Amanhã chamamos o Guerra e a Isabel e vemos com eles esse detalhe.

De súbito, o advogado sai da mesa e abre as portas do armário ao lado. Laura o questiona intrigada e depressa repara na garrafa de vinho do Porto que o marido tira da prateleira.

Laura: Hum, vamos brindar?

Edgar: Aham – assente com um gesto. – Hoje merecemos um brinde.

Laura: E eu posso saber ao que vamos brindar? – pergunta levantando-se e pegando o copo meio cheio que o marido lhe estende.

Edgar: A nós, ao nosso amor, ao nosso futuro. A partir de hoje, começamos uma vida nova, livre de ressentimentos e culpas e com a certeza de que nada nem ninguém vai-nos separar.

Laura: Livre daquela mulher, eu espero.

O brinde foi curto. Dado o primeiro trago, seus lábios voltaram a tocar-se e não mais se afastaram. O corredor que leva até ao quarto demorou a ser percorrido. Ainda travaram ao lembrarem-se que Francisco dormia no berço mas a vontade de se entregarem nos braços um do outro foi maior do que qualquer medo ou pudor perante o pequeno. Amaram-se em todos os intervalos que fizeram para cuidar do bebê e pela manhã dormiam exaustos abraçados como se fossem um só.


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