Lado A Lado - A História ao Contrário escrita por Filipa


Capítulo 22
"Viagem ao Passado"




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Edgar: Hum sei. Tudo bem, você está certa, a gente precisa conversar. É que eu pensei que podíamos deixar p´ra depois mas se você prefere assim, que seja. Acho que até já sei o tema dessa conversa – diz afastando-se um pouco e torcendo o nariz.

Laura: Aquela mulher… Edgar, eu fiquei muito feliz com o que você fez hoje mas, as coisas que ela me disse, eu não consigo esquecer… Ela disse que você queria se casar com ela, isso é verdade? – questiona inquieta.

Edgar: Claro que não meu amor. Tudo mentira dela p´ra te atingir. Eu te disse, a Catarina foi um caso sem importância, eu pensei que eu era apaixonado por ela mas, depois que a gente se casou, eu descobri que eu estava enganado. Eu nunca fui apaixonado por nenhuma outra mulher além de você Laura. Eu te amo tanto, nunca duvide disso – afirma acariciando-lhe o rosto e puxando-a para sentá-la em suas pernas.

Laura: Eu não duvido mais. Também te amo tanto. Fiquei desesperada quando entrei na sala e a vi carregando o Francisco. Minha vontade era pular no pescoço dela e apertar… mas eu só pensava no nosso filho… tive tanto medo que ela…

Edgar: Hei, não pensa mais nisso, já passou. Ela não vai mais interferir na nossa vida nem chegar perto de vocês dois.

Laura: Esse é o problema Edgar, ela não vai desistir. Você não estava aqui ainda quando ela me disse o que realmente veio fazer no Rio de Janeiro.

Edgar: Como assim? Do que você está falando? – pergunta admirado.

Laura: Ela quer você. O dinheiro foi só um bónus, o que ela quer na verdade é ter você. Ela me disse isso olhando nos meus olhos e eu pude ver a inveja, o desejo dela – conta com raiva.

Edgar: Que bobagem Laura. Você acreditou nisso meu amor? A Catarina nunca gostou de ninguém além dela mesma. Mais uma ideia estapafúrdia que ela lançou p´ra te afectar.

Laura: Não Edgar, você está sendo ingénuo outra vez com os assuntos que dizem respeito a essa mulher. Eu vi os olhos dela, eu vi que ela estava falando sério, aliás, muito sério – continua levantando-se de supetão.

Edgar: Ainda que seja verdade, isso não tem o menor cabimento. Você é minha esposa, a mulher que eu amo, nunca que eu… – ri sem considerar os receios de Laura.

Laura: Você ´tá rindo? Não tem graça Edgar, é sério – fala firme e chateada.

Edgar: Meu amor, que insegurança boba é essa? Vem cá, eu já não te provei que te amo? Eu falei isso p´ra ela, você ouviu. Não tem outra mulher, só você… – diz levantando-se do sofá e indo beijá-la suavemente.

Laura: Eu acredito em você, eu confio mas tenho medo do que ela pode fazer p´ra tentar nos separar.

Edgar: Deixa ela fazer o que quiser. Nunca vai conseguir me afastar de você. Nosso amor é como o tempo, eterno e indestrutível.

Com a mão na cintura da esposa, Edgar a puxa mais para si e a envolve num beijo mais intenso. Laura deixa-se ir e aperta o corpo do marido contra o seu enquanto afaga seus cabelos. De repente, Laura se solta dos braços do marido e prossegue questionando-o.

Laura: E a Melissa? Você vai fazer mesmo aquilo?

Edgar: Dizer p´ra ela que a mãe morreu? Eu estava nervoso, falei de cabeça quente… por mais defeitos que tenha, ela é a mãe, não posso fazer uma crueldade dessas com a minha filha. Eu ainda vou conversar melhor com a Catarina, vou tentar convencê-la a ir embora, estabelecer um acordo que ela cumpra. Quando a Melissa for maior, se ela quiser, poderá visitar a mãe.

Laura: Esses dias eu estive pensando e, pelas minhas contas, o aniversário da Melissa deve estar próximo. Você nunca me disse em que dia ela nasceu.

Edgar: Engraçado, como é que eu fui me esquecer de algo tão importante?! – repara deixando transparecer alguma confusão.

Laura: Esqueceu o quê?

Edgar: O aniversário da Melissa. Eu acho que a Catarina nunca me disse em que dia ela nasceu exatamente e com tanta coisa acontecendo eu também nunca perguntei. Ela já deve ter completado o primeiro ano de vida e eu nem me dei conta.

Laura: Impossível! A Melissa devia ter uns três ou quatro meses quando a gente chegou em Portugal, estamos em Agosto Edgar. Ela deve estar com uns dez ou onze meses agora.

Edgar: Não meu amor, ela tinha que ter mais alguns meses. Como ela é mais pequenininha a gente nem repara! Porque se ela tivesse essa idade, não tinha como ela ser… Não… não pode ser.

O semblante do advogado se agudiza numa dúvida que o acomete de súbito. Levando a mão direita ao rosto, Edgar fica mudo e pensativo por alguns instantes preocupando Laura.

Laura: O que foi? Você se lembrou de alguma coisa? – pergunta nervosa.

Edgar: Se isso for verdade… então… Laura…

Laura: Que foi meu amor? Fala direito, não estou entendendo.

Edgar: A Melissa. Se ela realmente tem essa idade, então ela não pode ser minha filha – completa apavorado.

Laura: Calma Edgar. Senta aqui, se acalma e me conta isso direito – diz levando o marido pela mão de volta ao sofá.

Edgar: Laura, se quando a gente foi p´ra Portugal a Melissa tinha três ou quatro meses, isso significa que ela nasceu entre Setembro e Outubro de 1904. A última vez que eu estive com a Catarina foi… praticamente um ano antes da Melissa nascer.

Laura: Edgar! Você tem certeza?

Edgar: Não, não pode ser, a gente está confundindo tudo. É, é isso, estamos confusos. O dia foi longo, não estamos pensando com clareza… não é possível, não pode… – prossegue tentando articular os pensamentos.

Laura: Meu amor calma. Não fique assim. Eu posso ter-me enganado afinal ela é mesmo mais pequena do que o normal. Vem, vamos subir. Você está muito nervoso, melhor descansar. Amanhã resolvemos isso.

Edgar: Mas Laura… e se ela não for…

Laura: Shh. Não pensa mais nisso. Só tem um jeito da gente saber mas vamos deixar p´ra amanhã. Agora vem, vamos subir.

Com algum esforço, Laura consegue conduzir Edgar até ao quarto no piso superior. Nessa noite, ela cuidou das crianças. Abalado com a possibilidade de Melissa não ser sua filha, Edgar sente-se ludibriado e simultaneamente culpado por nunca ter ponderado essa hipótese. Deitado na cama enquanto espera Laura terminar de amamentar Francisco, o advogado se recorda do dia em que a esposa lhe entregou a carta de Catarina. Seu desejo de ser pai era tão grande que se deixou levar pela felicidade que sentira. Nunca pensou que poderia ser mentira. Ao lembrar-se do sofrimento que tudo aquilo causara a Laura e às feridas que abrira em seu casamento, Edgar sente novamente o peso da culpa. As lembranças que o invadem atormentam-no ao ponto de se revirar na cama esforçando-se por aplacá-las. Laura entra no cómodo e se assusta com o estado do marido. Em silêncio, ela se aproxima da cama e se deita ao seu lado abraçando-o por trás. Os papéis se invertiam. Agora era ele quem precisava ser confortado e até protegido do peso da realidade. Laura permaneceu calada e viu Edgar ceder ao cansaço. Tentou fazer o mesmo mas não conseguia parar de pensar. Se realmente estivesse certa e Melissa não fosse filha de Edgar, então todo o sofrimento que haviam passado tinha sido em vão. Se ao menos pudessem ter a certeza! Mas para isso, teriam que confrontar novamente Catarina. “Quem sabe amanhã. Será que ele terá coragem… de perguntar?” E com essa pendência adormeceu.


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