Lado A Lado - A História ao Contrário escrita por Filipa


Capítulo 21
"Capitão Romance"




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O escritório da residência dos Vieira está irreconhecível. As vestes de Laura e Edgar decoram os quatro cantos da divisão, misturadas entre os papéis arrancados à força da secretária. Nela, os dois continuam se amando com voracidade. Edgar pega a esposa e a leva até ao sofá de couro castanho sentando-se com ela ainda abraçada em seu corpo. Perderam a noção do tempo. Sem dar trégua, amam-se repetidamente e acabam confortados no tapete. Deitada sobre Edgar, Laura acaricia o corpo do marido. Com o olhar preso um no outro, estão mudos. Apenas dois largos sorrisos desenhados em seus lábios cortam a austera desarrumação do local.

Laura: Fazia tanto tempo que não ficávamos assim – diz dengosa acentuando os meses que passaram sem poderem se amar.

Edgar: Tinha esquecido? – questiona empolgado.

Laura: Óbvio que não, nunca esqueci. Me lembrava todas as vezes que olhava p´ra você… me dava uma vontade…

Edgar: De quê?

Laura: Ah, você sabe!

Edgar: Não sei não, fala p´ra mim…

Laura: Falar eu não sei mas posso te mostrar, se você quiser.

Maliciosa, Laura beija o marido com vontade e ele a vira cobrindo-a com o seu corpo. De tão entusiasmados que estão, não ouvem as batidas que se sentem na porta da rua. No piso superior, Matilde observa cuidadosamente as crianças e estranha a demora dos patrões. Dando-se conta da presença de alguém à porta da casa, a empregada aproveita o sono dos pequenos e desce as escadas. O burburinho vindo do escritório não passa despercebido. Enrubescida com a situação inesperada, Matilde não sabe o que fazer. Se abrir a porta sem incomodar os patrões, quem quer que seja que esteja de visita irá notar o porquê da ausência deles. Por outro lado, não se sente capaz de os interromper. Contudo, o dilema da empregada depressa se desfaz com a entrada repentina de Bonifácio e Margarida. Farto de esperar que alguém abrisse, Bonifácio rodou o punho e se fez convidado seguido pela esposa que o recrimina. Nervosa, Matilde tenta disfarçar o momento inoportuno e a demora em atender as visitas.

Matilde: Sr. Bonifácio, D. Margarida, boa tarde. Me perdoem a demora, eu estava com as crianças mas já ia abrir a porta aos senhores.

Margarida: Boa tarde Matilde. Então você estava com os meus netos? E Laura e Edgar, onde estão? – fala sorridente sem se dar conta do rosto envergonhado da empregada.

Bonifácio: E precisa perguntar Margarida? Pois não se ouve bem que o seu filho e sua nora estão ocupados? – diz rindo irónico e debochado ao dar-se conta dos risos em desordem vindos do escritório.

Margarida: Bonifácio! Mas que modos são esses? – repreende embaraçada ao notar os sons que cortam o silêncio.

Bonifácio: Por acaso eu disse alguma mentira? Melhor voltarmos outra hora, não é de boa educação interromper tão importantes assuntos.

Margarida: Eu falei p´ra você que era melhor avisarmos que viríamos mas você achou que não havia necessidade.

Margarida segue advertindo a atitude de Bonifácio sob o olhar incrédulo de Matilde. No chão do escritório, vencidos pelo cansaço, Laura e Edgar estão deitados lado a lado respirando fundo enquanto tentam controlar os batimentos acelerados. Com o sossego, finalmente se apercebem que tem alguém na sala e se entreolham. Num misto de susto e diversão, caem na gargalhada.

Edgar: Acho que temos visitas.

Laura: Me parece a voz da sua mãe.

Edgar: E a do meu pai.

Laura: Que vergonha Edgar. Você acha que eles ouviram a gente? – pergunta levando as mãos ao rosto.

Edgar: Vai ver eles só chegaram agora.

Laura: Eu não tenho coragem de encará-los. Como fazemos p´ra sair daqui?

Edgar: Ah vai sim. A gente se veste rápido, eles nem vão dar por nada. Vem, a Matilde faz sala p´ra eles enquanto nos recompomos.

Edgar se levanta primeiro e ajuda Laura. De pé, observam a confusão que fizeram e não controlam o riso.

Edgar: Parece que passou um furacão por aqui.

Laura: Vai dar trabalho p´ra arrumar a secretária de novo… olha só aquelas pastas ali… os papéis que estavam arquivados estão todos misturados.

Edgar: Culpa sua. Fiquei com dó da Matilde agora.

Laura: Ah mas nem pense que vamos pedir p´ra ela arrumar. Nós dois podemos fazer isso muito bem.

Edgar: Eu acho que a gente é melhor desarrumando mas se você prefere...

Laura: É Dr. Vieira, e a gente ainda precisa conversar direito mas agora me ajude a vestir. Não encontro a minha blusa – conclui enquanto remexe as roupas espalhadas.

Entre uma peça e outra, alguns beijos e bastantes risos, terminam de se vestir e, esforçando-se por controlar a imensa felicidade do momento, abrem a porta que dá acesso à sala de jantar. Bonifácio e Margarida ainda discutiam sobre a necessidade de marcarem as visitas quando vêem o filho e a nora se aproximar.

Edgar: Pai, mãe, que surpresa boa.

Bonifácio: Não precisa exagerar Edgar. Sabemos bem que viemos na hora errada – fala sarcástico batendo de leve no ombro do filho.

Margarida: Bonifácio! Filho, Laura, nos desculpem. Deveríamos ter avisado que vínhamos mas foi decisão de última hora. Viemos ver como vocês estão e as crianças…

Laura: Não precisa se desculpar D. Margarida. Os senhores são sempre muito bem vindos.

Edgar: Laura está certa. Sentem-se – convida indicando o sofá. – Matilde, traga um chá e um café, por favor.

Matilde: Com certeza Dr. Edgar. O senhor e a D. Laura não vão tomar nada?

Edgar e Laura: Água Matilde, por favor! – respondem em uníssono.

Bonifácio: Que bonitinho, até no pedido estão entrosados… Fazem bem, um pouco de água sempre acalma o calor que faz lá fora, não é mesmo?

Margarida: Mas você está impossível hoje Bonifácio. Laura querida, conte-me como está o meu neto?

Laura: Bem, muito bem. Cresceu bastante desde que deixaram a fazenda, acho que a senhora vai notar.

Margarida: Folgo em saber disso mas… sua blusa querida, agora reparo, … me parece que está do avesso – nota intrigada olhando a nora.

Laura mal disfarça o constrangimento e não sabe o que dizer. Edgar a olha com um sorriso comprometido mas quando se preparam para dar uma desculpa são salvos pelo choro faminto de Francisco.

Laura: É o Francisco! Deve estar na hora de amamentar. Eu vou subir, já volto – diz levantando-se de súbito aproveitando a oportunidade.

Margarida: Você se incomoda que eu vá com você Laura?

Laura: Claro que não D. Margarida.

As duas sobem as escadas enquanto Matilde volta à sala com a bandeja carregada de louça. A sós com o filho, Bonifácio não perde a oportunidade de falar dos negócios da fábrica e da falta que Edgar lhe faz. Algum tempo depois, Laura e Margarida voltam à sala acompanhadas de Francisco e Melissa. A conversa flúi entre brincadeiras com as crianças. A atitude de Bonifácio para com Melissa chateia Edgar que repreende o pai por ignorar a menina e bajular em demasia Francisco. Com o cair da tarde, Matilde começa a acender as velas e todos se dão conta das horas passadas. Edgar acompanha os pais até à porta e, ao fechá-la, respira aliviado. Laura o aguarda no sofá.

Edgar: Enfim se foram. Eu adoro os meus pais mas hoje eu detestei essa visita – diz preparando-se para agarrar a esposa.

Laura: É, hoje o dia foi cheio de visitas indesejadas – comenta entristecendo ao recordar-se de Catarina.

Edgar: Hei, não fica assim meu amor, já passou. O que você acha se a gente subir lá no nosso quarto? – sugere beijando-lhe o pescoço.

Laura: Eu quero muito subir com você mas, antes, a gente precisa ter uma conversa muito importante.


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