Lado A Lado - A História ao Contrário escrita por Filipa


Capítulo 19
"Quotidiano"




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Edgar: Não repita isso nunca mais Laura. Você é minha mulher, a única que eu amei, que eu amo e que vou amar p´ra sempre. Eu nunca vou deixar você ficar longe de mim. Nós atravessamos um oceano juntos e vamos atravessar essa tempestade do mesmo jeito.

Laura: Será que vamos? Eu quero tanto acreditar nisso, em você, mas essas mentiras… omissões… Você acha que a gente pode construir uma vida em cima de tanta coisa errada? Eu não acho Edgar e, por mais que eu te ame, e eu amo demais, eu não vou viver assim.

Edgar: Eu vou consertar tudo meu amor. Acredite em mim Laura, pelo Francisco, por nós.

Laura: E as visitas, … os encontros com aquela mulher? Eu quero saber a verdade, eu tenho esse direito.

Edgar: Meu amor, você realmente pensou que eu seria capaz de… Nunca Laura, nunca! Eu jamais te trairia, muito menos com a Cat… aquela mulher.

Laura: Você já me traiu com ela uma vez, porquê agora seria diferente?

Edgar: Porque agora eu te amo, não tenho dúvidas. Porque você é a minha mulher, a mãe do meu filho e porque eu pretendo passar o resto da minha vida com você.

Laura: Até sermos bem velhinhos?

Edgar: Muito velhinhos, com nossos dez filhos do lado e uns trinta netos, no mínimo.

Um breve silêncio se instala no cómodo. Edgar leva a mão ao rosto de Laura e lentamente lhe seca os olhos humedecidos pelas lágrimas. Imóvel e segurando o filho já satisfeito nos braços, a jovem observa o marido tomar-lhe o menino. Edgar se levanta, coloca Francisco para arrotar, troca-lhe a fralda e deita-o no berço. Sem tirar os olhos da esposa, o advogado despe o paletó, a gravata e o colete e dá alguns passos em direção à cama. Depois de descalçar os sapatos e as meias, ajeita os travesseiros e faz Laura se acomodar neles. Relaxada, ela prende o olhar no marido que vem sentar-se ao seu lado e lhe acaricia os fios loiros. Edgar massaja-lhe meticulosamente os pés e, à medida que vai desapertando os botões da camisa, percorre o corpo de Laura. Arrepiada com o toque sensível do marido, a jovem leva as mãos ao peito dele e o acarinha. Edgar então se deita sobre ela e finalmente beija-lhe os lábios. Com os corpos colados, se entregam quase por completo enquanto matam a saudade da boca um do outro. Impedidos de prosseguir pelos poucos dias passados após o parto, os dois se abraçam sem desviar o olhar e deixam seus narizes se tocar num gesto terno e meigo.

Laura: Eu queria ficar aqui com você p´ra sempre. Assim… nos seus braços. Esquecer o mundo lá fora e todos os problemas.

Edgar: Seria perfeito… como você e o alecrim.

Os dias que se seguem passam em aparente tranquilidade. Assunção, Constância, Margarida e Bonifácio voltam para a capital e Isabel também deixa a fazenda alguns dias depois. Receando uma atitude drástica de Catarina, Edgar pedira a Guerra para ficar atento às movimentações da cantora e instruíra Matilde para não mais permitir a entrada dela em sua casa.

Na semana em que Francisco completa um mês de vida, Laura dá sinais de querer retornar a casa. O dia a dia plácido e bucólico do campo fizera-lhe bem mas a vontade de retomar as aulas na biblioteca e ouvir o burburinho próprio da cidade era notória. Estava tudo pronto para a partida. Ao meio da manhã de um dos primeiros dias de Agosto, Laura e Edgar partiram com Francisco e Melissa no automóvel alugado que, desde o nascimento do menino, não mais havia passado os altos portões da fazenda dos Assunção. A noite começava a cair quando finalmente chegaram ao destino. Matilde aguardava-os ansiosa por conhecer Francisco e rever a patroa. Ao ouvir o som do motor cansado, correu para a porta e, com as mãos juntas, observa a cena. Ao fundo da escada, Laura carrega nos braços o menino embrulhado numa manta azul clara, lado a lado com Edgar que carrega Melissa adormecida por entre a touca rosa.

Matilde: D. Laura, Dr. Edgar! Que bom que estão de volta. Eu posso ver o menino? – pergunta um pouco a medo descendo alguns degraus em direção a eles.

Laura: Claro Matilde – consente afastando um pouco a manta que cobre parcialmente o rosto do pequeno.

Matilde: Meus Deus, D. Laura, como ele é lindo.

Edgar: Óbvio que ele é lindo Matilde… é meu filho! – brinca.

Laura: Que convencido que você está! Melhor entrarmos, está arrefecendo e estamos todos exaustos da viagem.

Matilde pega algumas malas mais leves e ajuda-os a entrar em casa. Como era habitual, tudo estava perfeitamente limpo e arrumado. Ao final da sala, a mesa elegantemente decorada com uma toalha bordada em tons de branco e dois castiçais de velas vermelhas, está posta para o jantar. Sentindo o cheiro agradável que vinha da cozinha, Laura esboça um sorriso.

Laura: Matilde, esse cheiro é o que eu estou pensando?

Matilde: É sim D. Laura. Fiz o assado que a senhora tanto gosta.

Laura: Hum… de repente me deu uma fome…

Edgar: Então vamos deitar as crianças e descemos p´ra jantar. Confesso que esse aroma maravilhoso me aguçou o apetite.

A casa outrora grande parecia agora mais pequena. No quarto do casal o espaço fora reorganizado para receber o berço de Francisco. As necessidades alimentares do pequeno obrigavam a uma certa proximidade pelo que, o berço fora colocado estrategicamente entre o armário e a cama. Não era o mesmo da fazenda. Por questões logísticas, Edgar pedira à mãe para comprar um novo e ela cumprira. Era um pouco maior e estava pronto para receber o mais novo membro da família Assunção Vieira. Enquanto Laura deitava o pequeno, Edgar acomodava Melissa no quarto em frente. Sozinha no cómodo, Laura senta-se numa das poltronas e admira o filho que dorme tranquilo até que repara na sua mesinha de cabeceira. Um pequeno vaso de alecrim a fitava. Levantando-se devagar, encaminha-se para junto da cama e pega o vaso levando-o ao rosto de modo a sentir o aroma fresco. As memórias flúem e Laura derrama uma lágrima. Aquele pequeno gesto de Edgar trazia-lhe as lembranças dos dias felizes que viveram até à descoberta da carta de Catarina. Em tão poucos meses tudo mudara drasticamente. Perdida em pensamentos, a jovem não dá pela presença do marido. Vê-la ali, tão calma, serena e mais bela do que nunca, também o catapultara para o passado. Pé ante pé, Edgar se aproxima dela e a aperta contra si envolvendo-a num abraço. Instantes depois, descem para jantar e deliciam-se com o manjar preparado por Matilde. Nessa noite, dormiram cedo, enroscados um no outro tentando apaziguar o medo da realidade que teriam que enfrentar agora que estavam de volta ao Rio de Janeiro.

A rotina noturna permanecia a mesma da fazenda. Entre amamentação e trocas de fraldas, Laura e Edgar revezavam-se. Aos onze meses, Melissa já dormia mais algumas horas sem precisar se alimentar o que facilitava a tarefa dos dois. Nessa manhã, Laura deixara-se dormir um pouco mais. Edgar já havia saído para ver alguns clientes quando Matilde entra no quarto da patroa com Melissa.

Matilde: Bom dia D. Laura.

Laura: Bom dia Matilde. E essa princesa, já acordou?

Matilde: Já sim e hoje está bem desperta. Dei a mamadeira e troquei a fralda dela como o Dr. Edgar pediu antes de sair. A senhora quer que eu a leve comigo p´ra cozinha?

Laura: Não Matilde. Leve-a p´ra sala que eu só vou terminar de me arrumar e desço com o Francisco. Acho que sou capaz de tomar conta dos dois enquanto preparo algumas aulas. Não vejo a hora de retomá-las.

Matilde sai levando Melissa e Laura se demora alguns minutos no quarto. Já pronta, desce com Francisco e o deita no carrinho. A empregada coloca Melissa nos braços da patroa e volta para a cozinha. Na sala, Laura senta Melissa no sofá e brinca um pouco com a menina. Embora fosse mais pequena do que o normal para a idade, Melissa era bastante risonha e adorava bonecas. Vendo que a pequena estava entretida, Laura coloca algumas almofadas do sofá para ampará-la e vai até ao escritório buscar os livros e a pasta das aulas que dava na biblioteca. Não teriam passado dez minutos desde que se ausentara quando ouve Francisco choramingar. Preocupada, sai apressada com uma pequena pilha de livros nas mãos. Tendo dado alguns passos para fora do escritório, o estrondo dos livros caindo no chão chama a atenção de Matilde que corre para a sala. Assombrada, Laura sente um ódio e um temor profundo ao ver Catarina segurando Francisco no colo.


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