Lado A Lado - A História ao Contrário escrita por Filipa


Capítulo 17
"Francisco"




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Edgar: Gostei, acho que combina com ele. Mas já que você decidiu o nome dessa vez, o próximo escolho eu.

Laura: Próximo? O Francisco acabou de nascer e você já pensa em ter mais filhos? Vai com calma viu. Desse jeito a gente vai mesmo ter os cinco filhos que a minha mãe falou quando nos casamos – ri.

Edgar: Só cinco? Ah, eu achei que a gente teria uns dez, doze talvez… – brinca.

Laura: Vai sonhando Dr. Edgar Vieira.

Edgar: Não consigo tirar os olhos dele e de você. Estou me sentindo um rei aqui com vocês dois nos meus braços.

Laura: Hum… também estou adorando ficar assim com vocês mas eu acho que ele já mamou tudo. Ele largou meu peito e não está segurando mais.

Laura retira o peito da boca do filho e o coloca de pé encostando-o junto ao pescoço. Edgar cobre o ombro da esposa com uma fralda de pano enquanto ela dá leves pancadinhas nas costas do pequeno. Ele logo arrota e bolsa um pouco de leite.

Edgar: Que comilão esse menino. Mamou tanto e agora metade já jogou fora – ri.

Laura: Bobo! É normal. A minha mãe que me ensinou a fazer isso mas eu estava com medo de machucá-lo.

Edgar: D. Constância e seus conselhos. Ao menos nisso ela ajudou em vez de atrapalhar.

Laura: Sou obrigada a concordar. Foi das poucas coisas úteis que ela me ensinou nos fins de semana que passou aqui. Você não vai comer nada, meu amor?

Edgar: Não, estou sem fome. Vou tomar um banho apenas e volto p´ra gente dormir um pouco.

Laura: Eu também preciso de um banho. Você se importa se eu for primeiro? Além disso, não sei se vamos dormir… Esqueceu que ele vai querer mamar de novo não tarda?

Edgar: Claro que não meu amor, você precisa e merece esse banho mais do que eu. Vai lá e volta que a senhora vai dormir sim. Deixa que eu tomo conta dele.

Laura segura Francisco nos braços e se afasta um pouco para que Edgar possa sair da cama. Ele beija a testa dos dois e pega o menino. Laura se levanta e vai em direção ao quarto de banho retornando algum tempo depois. Edgar entra no banheiro e Laura acalenta o filho. Olhando o berço do lado da cama, pondera deitá-lo para que durma tranquilo mas não tem coragem.

Laura: Você acha que o seu pai vai se importar que você durma no nosso meio só hoje? Ah, eu acho que não… – diz carinhosa.

Edgar sai do banho já de pijama secando os cabelos com uma toalha mas logo para ao observar Laura e Francisco dormindo. Laura ocupa o lado direito da cama. Apoiada apenas num travesseiro, dorme profundamente envolvendo nos braços seu filho que também dormita sobre o peito da mãe. Uma lágrima percorre a face de Edgar. Como que querendo imortalizar aquela cena, ele se demora junto à porta do banheiro. Por fim, coloca a toalha numa cadeira e se aproxima da cama. Com cuidado, pega Francisco e o embala por alguns instantes deitando-o depois ao lado da mãe. Edgar se acomoda no lado esquerdo da cama e, apoiando a cabeça com o braço direito, segue observando os dois. O dia tinha sido longo para todos, demasiado longo. Estava exausto mas, ainda assim, a excitação percorria-lhe as veias e mantinha seu sangue quente. Naquela noite não cerrou os olhos. De duas em duas horas despertava Laura para amamentar mas ela logo voltava a cair no sono. Sem muito jeito mas com dedicação trocou fraldas e limpou o coto umbilical do recém-nascido. A primeira noite da vida de Francisco passou depressa.

O dia amanheceu chuvoso. O ar fresco da serra fazia-se sentir quando o pequeno despertou novamente choramingando de fome. Sendo prematuro, Francisco não teria três quilos de peso e mediria aproximadamente quarenta e sete centímetros. Nascera praticamente sem cabelo, pele branquinha e um rosto redondo que lhe dava um ar angelical. Tudo fazia crer que, quando maior, se pareceria fisicamente com o pai e herdaria da mãe o espírito livre, justo e forte.

O choro cada vez mais insistente do menino acaba despertando Laura que se vira na cama assustada. De pé à sua frente, Edgar sorri enquanto embala o filho.

Edgar: Bom dia mamãe.

Laura: Bom dia papai... Você ´tá um caco Edgar – constata rindo feliz.

Edgar: Digamos que eu tive uma noite animada… e tudo graças a esse pedacinho de gente que só faz comer.

Laura: Ah, não fala assim. Até que ele é bem calminho.

Edgar: Concordo.

Edgar se senta na cama ao lado da esposa e a beija ternamente. Laura estende os braços e envolve o menino. Edgar observa tudo novamente. Parecia não se cansar de ver aquela imagem tão perfeita de Laura amamentando o pequeno.

Laura: O que foi?

Edgar: Estou olhando vocês. Essa cena… como eu sonhei com esse momento meu amor. Você alimentando o nosso filho… é maravilhoso…

Laura: Uma sensação indescritível… tão imensa, tão profunda… nunca pensei que fosse me sentir assim… tão plena de felicidade.

Edgar: Nem eu. É tudo tão forte, tão novo…

Laura: Eh, já ia me esquecendo. Ontem a Isabel mandou um bilhete p´ro meu pai. Não tarda D. Constância e Dr. Assunção irrompem por essa porta se matando p´ra ver o neto.

Edgar: Verdade e é melhor avisar os meus pais também. Só de pensar nesses quatro aqui babando o Francisco… já sinto pena do nosso filho.

Os dois riem com vontade e trocam alguns carinhos dividindo a atenção com o menino. O som de passos no corredor aproximando-se da porta do quarto os interrompe. Isabel chega com Melissa no colo e, atrás dela, D. Maria entra com uma bandeja carregada de leite, pão, sucos naturais e algumas frutas.

Isabel: Bom dia família. Perdoem a intromissão mas tem mais alguém que precisa da atenção de vocês – diz apontando para Melissa que logo estende os braços ao ver o pai.

Edgar: Ah, mas que cabeça a minha. Isabel me perdoe, por ter esquecido a Melissa. Oh minha filha, desculpa o papai. Vem cá, vem – fala pegando a menina no colo.

Isabel: Não se preocupe Edgar, está tudo bem. Levei-a para dormir no meu quarto e já troquei a fralda dela e dei a mamadeira. Vocês precisavam ficar sozinhos. Mas agora, será que eu posso pegar o meu afilhado no colo? – pede enquanto se aproxima da cama.

Laura: Não só pode como deve. Isabel, … eu nem sei como te agradecer minha amiga. Você trouxe o nosso filho ao mundo, ficou do meu lado todo esse tempo… eu nunca vou poder pagar tudo isso que você fez por mim.

Isabel: Eu fiz porque eu te adoro Laura. Você é a minha melhor amiga e eu sei que você faria o mesmo por mim. Além disso, vocês já me deram o melhor dos presentes me convidando p´ra ser a madrinha do…

Laura: Francisco. O nome dele é Francisco.

Ambas estão visivelmente emocionadas. Laura transfere o menino para os braços de Isabel que se derrete. D. Maria sai deixando a bandeja e com instruções para enviar um bilhete para a residência dos Vieira e outro para o Correio da República. Laura e Edgar tomam o café da manhã animadamente enquanto prosseguem a conversa com Isabel e mimam as crianças.

O dia prossegue normalmente. A chuva não convida a passeios e todos optam por fazer companhia a Laura e Edgar que tentam se habituar à nova rotina. No final da tarde, a chegada dos avós suspende a calmaria. Constância e Bonifácio quase se atropelam subindo as escadas de tão curiosos que estão para conhecer o desejado neto. Margarida e Assunção os seguem num passo firme e vão rindo da situação.

Constância: Ora Sr. Bonifácio, onde estão os seus modos e cavalheirismo? Não lhe ensinaram que as damas são as primeiras a entrar em qualquer lugar? – reclama altiva depois do senador a ultrapassar no corredor.

Bonifácio: Me perdoe D. Constância mas a curiosidade me tolheu as boas maneiras. Além do mais estamos em família.

Margarida: Esses dois… coitadinho desse menino.

Assunção: Deixe-os D. Margarida, deixe-os. Eu bem disse que essa criança seria mais cobiçada do que os lugares do Senado.

Margarida: Tem toda a razão Dr. Assunção. Mimos não lhe faltarão e confesso que também não vejo a hora de pegar meu neto nos braços.

Assunção: Então eu que julguei que o veria nascer…

Os quatro chegam finalmente à entrada do quarto. Na cama, Laura acalenta Francisco com Edgar do lado. A porta aberta emoldura o momento. Os avós se emocionam e vão entrando devagar para não despertar o pequeno. Constância é a primeira. Visivelmente comovida, a baronesa não esconde as lágrimas e vai sentar-se ao lado da filha. Segurando a pequena mão do menino, Constância lhe beija docemente a testa. Prendendo o olhar em Laura, enxuga as lágrimas e leva ambas as mãos ao rosto da filha.

Constância: Laura, filha! A minha menina é agora uma mulher completa. Você é mãe, Laura, mãe. E esse é o papel mais maravilhoso e importante que uma mulher pode ter na vida. Você me enche de orgulho e de felicidade. Que menino lindo. Que neto lindo você me deu. Estou tão feliz por você, estou tão feliz que eu vivi p´ra ver essa cena.

Todos se emocionam com as palavras da baronesa. Laura aperta a mão da mãe como que agradecendo e olha para Edgar. D. Margarida, Bonifácio e Assunção também se aproximam para conhecer o menino e felicitam os filhos.

Assunção: Eu fiquei tão preocupado quando recebi o bilhete esta manhã. Logo vi que você já teria dado à luz. Estou tão aliviado que correu tudo bem, filha.

D. Margarida: E você ajudou no parto Edgar… estou surpresa. Você sempre foi tão sensível e, por norma, os homens não aguentam a pressão de um parto.

Bonifácio: Ora Margarida, não tome a parte pelo todo. Nosso filho puxou o pai, é corajoso. E esse menino lindo com certeza também herdou o sangue forte dos Vieira.

Edgar: Não precisam discutir por causa disso. Eu fiz o que devia ser feito e estou muito feliz que consegui participar de tudo. Foi muito importante p´ra mim ver o meu filho nascer – conclui olhando para Laura e esboçando um sorriso.

Constância: Agora só falta escolher o nome e os padrinhos e podemos começar os preparativos para o batizado.

Laura: A gente já escolheu o nome mãe, e os padrinhos também.

Edgar: O nome dele é Francisco e terá como padrinhos Isabel Nascimento e Carlos Guerra.

Bonifácio e Constância ficam indignados com a escolha dos padrinhos. Argumentam que não tem cabimento uma filha de ex-escravos e um dono de jornal apadrinharem uma criança de tão nobre descendência, fazem comentários pejorativos, questionam a sanidade mental de Laura e Edgar mas ambos estão irredutíveis. Assunção e Margarida apaziguam os ânimos e as horas vão passando.

Na manhã do dia seguinte, D. Maria entra no quarto e entrega a Laura um bilhete enviado com urgência por Matilde. Inocentemente sem demoras, a jovem desdobra o papel e logo empalidece ao ler as palavras nele escritas.


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