Diamond Heart escrita por Victor Torres, Leticia Monn


Capítulo 1
Matsui




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Eu a movimentava tão suavemente... Ela parecia nem ter peso, uma espada de duas mãos de tonalidade cinza clara, tamanha era a sutileza dos movimentos que a arma parecia ser uma extensão do meu braço.

– Vou resgatá-la, custe o que custar!

Meus inimigos pareciam se multiplicar. Apareciam do chão, do céu, do nada,... Onde eu estava? Essa pergunta durou pouco em minha cabeça, já que não tinha muito tempo. Salvá-la era minha prioridade... Já podia avistar meu alvo, no topo da colina em que eu estava lutando, quando a vi, senti como se minhas energias tivessem sido restauradas, eu agora sabia que estava mais ágil, o sangue escuro dos inimigos agora estava banhando a lâmina. Ao me aproximar mais de onde ela estava, pode ver que estava acorrentada... Lágrimas caiam de seus olhos, seu rosto estava surrado, e sua expressão de sofrimento só fez aumentar minha fúria.

Agora podia eu ver mais de cem corpos humanóides, não eram humanos, tinha certeza disso. Simplesmente virei para o lado contrário e ataquei com toda força!

–Atenuidade de Matéria!

O golpe percorreu a lâmina da espada e saiu voando em forma de uma onda de choque, de inimigo em inimigo, um a um caiam no chão, e consequentemente sumiam.

Logo depois, já não havia mais inimigos ali, agora estava tudo calmo, podia me concentrar em soltá-la das correntes. Lágrimas caiam do meu rosto, não queria mostrar fraqueza... As enxuguei e virei para ela...

–Eu vim te buscar, vamos voltar para casa...

Então do seu corpo uma luz começou a brilhar, cada vez mais forte...

–Acorda! Moleque! Vai querer se atrasar no primeiro dia de aula de novo?

Era minha mãe, me acordando, se é que podia eu chamar aquela pessoa assim... Lembrei que era meu primeiro dia no segundo ano do colegial, mais dois anos e arrumaria um emprego e sairia de casa o mais rápido possível, para uma república, apartamento, casa, dane-se onde, só não queria mais estar naquele lugar...

–Bom dia, pra você também...

–O que disse?!

–Eu?

–..., levanta logo, não vou mais aturar suas faltas na escola moleque, coma algo e saia!

Levantei ainda um pouco tonto do sonho, não era comum eu ter esse tipo de sonho, na verdade, não era muito comum eu sonhar... Quem era a garota do sonho? Porque eu queria salvá-la? Por que não consegui?

–Matsui! Matsui! Ei! Acorda o professor acabou de chegar!

Não tinha percebido o tempo passar, eu já estava na escola, sentado em minha banca de costume, quinta banca do canto esquerdo da sala, bem próximo à janela.

–Ei! Matsui! Cara, tá me ouvindo?!

O rosto era familiar, com expressões bem vividas. Era o meu amigo de infância Simon, o rosto do moleque ruivo já não era o mesmo, já começara a ter pelos no rosto... Eu e Simon já tínhamos até sido inimigos há muito tempo atrás, hoje, Simon é o único da sala que podia chamar de amigo, mesmo que não andemos muito juntos.

–To sim... Fala Simon...

–Cara! Você soube que vai ter uma nova aluna na nossa turma esse ano?

–Nova... aluna?

–Sim! Os supervisores do terceiro ano disseram que ela é muito gostosa, cara!

–Do quê adianta? Se ela for bonita como você diz, provavelmente vai se juntar com Anabel e suas pupilas... E também vai passar a fingir que eu não existo...

Ao longe, pude ouvir a voz da pessoa a qual o Simon havia falado, ela já estava sendo apresentada para a turma.

–Me chamo Safira...

O nome ecoou em minha cabeça, Safira? Podia haver outra pessoa com esse nome? Não é um nome comum... Estava com medo de olhar para frente. Eu literalmente congelei.

Safira... Safira... O nome ainda ecoava em minha cabeça, minha melhor amiga de infância, meu primeiro amor, a pessoa que se encaixava perfeitamente bem em mim... Ela não tinha se mudado para a capital? O que ela veio fazer no interior? Criei coragem, respirei fundo, e olhei para frente...

–Nã... Não... Pode... Ser... Safira?

Simon hesitou:

–Cara, você a conhece?!

Meu coração disparou ao ver o amor que ainda fazia meu corpo todo formigar. Fazia quanto tempo que eu a tinha visto? Uns cinco ou seis anos? No mínimo! Agora ela já era uma mulher, e que mulher! Seu cabelo de castanho que contra a luz lembrava um dourado, seus olhos ainda naquele tom azul vivo, sua boca tão... Perfeita! Ela parecia ter sido esculpida, seu corpo, suas delicadas curvas... Seus seios...

–Ei Matsui! Cê tá babando mano! Você disse que a conhecia, é verdade cara?!

–Ah, velho, há muito tempo, quando nós éramos crianças... Nós éramos... bem unidos...

–Então quer dizer que você já foi capaz de fazer amigos, sozinho? Por essa eu não esperava, hein?!

Simon começou a rir.

–Para velho, ela não deve nem se lembrar de mim mais...

–Acha que tenho chance com ela? Muito linda sua amiguinha! Da essa força pro amigo ai... Mat...

Pode-se ouvir a voz do professor, dessa vez em um tom mais alto.

–Tem algo para falar pra Srta. Safira, Sr. Simon?

O tom vermelho dos cabelos de Simon parecia fraco, comparado ao tom vermelho que sua pele estava ganhando, me olhou para pedir ajuda, eu fiz o que melhor sabia fazer, fingi que estava dormindo.

–A... Ape... Apenas, queria desejar as boas vindas em nome de... Toda a turma! Seja bem-vinda Safira!

Aparentemente o professor aceitou a desculpa dada e mandou Safira escolher uma banca para se sentar. Eu agora tinha levantado à cabeça, ignorei os xingamentos de Simon e olhei aonde Safira ia se sentar, como esperado sentou-se perto da Anabel. – agora ela me esquece de vez - Aparentemente Anabel e Safira já tinham tido contato antes do inicio da aula.

Me concentrar na aula? Não era possível, o cabelo de Safira sempre chamara minha atenção, mas agora... Estavam mais belos que antes, maiores... Mas ainda não tinha visto o verdadeiro atributo que fez com que eu me apaixonasse por ela. As quatro primeiras aulas duraram anos! Queria que chegasse logo o intervalo! Queria falar com ela, queria matar a saudade acumulada nesses cinco anos, queria abraça-la... O sinal tocou.

–E ai Mat? Vai pra toca?

A toca era como o Simon chamava o lugar entre o jardim e o estacionamento, que provavelmente ninguém conhecia, ou conhecia, mas não tinha vontade alguma de ficar lá, por não ter ninguém por perto. Eu ficava lá já por esse mesmo motivo! Evitar pessoas. Principalmente os valentões, não que eu tivesse medo de enfrentá-los, mas queria evitar confusões em casa com a minha mãe. Às vezes sentia saudades de praticar as aulas de defesa pessoal dadas por meu pai. Meu pai... Mas um turbilhão de pensamentos agora ocupava a minha cabeça.

–Sim, qualquer coisa me liga que eu apareço...

–Tranquilo! Até a próxima aula Mat!

–Até...

Saí apenas depois que vi que todos tinham deixado à sala, Simon tinha ido jogar basquete com os outros garotos do time, e Safira provavelmente foi

arrastada para algum lugar pela Anabel, provavelmente elas estavam indo para as salas de alunos mais velhos. Bem, fui pra toca, lá pelo menos ficaria longe do barulho do intervalo, tinha um pouco de sossego lá e conseguiria pensar um pouco.

Ao chegar, sempre era a mesma sensação, me sentia envolvido pelo lugar, pelas árvores, pela paz do lugar, às vezes acho que eu só ia para escola pra passar esses vinte minutos do intervalo na toca. O tempo parecia até passar mais rápido quando eu estava na toca, bastava sentar na sombra do grande pinheiro, e pensar em algo... Eu realmente gostava daquele lugar.

Ao longe pude ouvir o sinal tocar, era o começo da quinta aula. Não sei o quê era pior, a aula de química ou ter que aguentar o cheiro do Simon todo suado do meu lado após ter passado o intervalo todo jogando basquete. Mas hoje, nada disso tinha importância, eu estava mais preocupado em “filmar” cada movimento da Safira.

–Ouvi dizer que tem um cara do terceiro ano louco por ela.

Garotos gostarem da Safira não era uma novidade para mim, mas por algum motivo que eu desconhecia, ela sempre preferiu ficar comigo a ficar com os “caras legais”, a meu ver ela sempre fora bela, inteligente, e conseguia ser sexy sem ser vulgar, claro que os homens iam cair aos pés dela...

–Você sabe quem é?

–O capitão do nosso time de espadachins.

Meu sangue... ferveu... Eu nunca deixaria um idiota daquele encostar um dedo na Safira!

–Rod? Rod Tarmville? Aquele idiota?!

–Ei! Ei! Ei! Que raiva é essa? Ele é encrenca na certa cara! Sabe que ele é famoso na escola! Além de ser filho do treinador! Comprar briga com ele não é diferente de querer fazer a escola toda se voltar contra você, Mat!

–Ele ganhou cargo de capitão do time porque o pai dele trapaceou nos exames de espadachim e todo mundo sabe disso, mas nem o diretor teve coragem de enfrentá-lo!

–Nossa... Você gosta mesmo dessa Safira hein? No seu lugar eu iria então logo falar com a garota, pois sabe que o Rod conquista a garota que ele quiser por ser rico, influente e famoso! Não estou elogiando ele Mat, mas você sabe que o que estou falando é verdade!

–Pois é... Mas quando eu puder tomar uma atitude contra ele não pensarei duas vezes...

Eu e Simon nos calamos, pois já era a segunda vez que o professor estava chamando nossa atenção, então passamos o resto da aula calados. Depois de uns vinte e cinco minutos o sinal tocou.

–Ei Mat, não se esquece do treino de espada hoje à tarde.

–Vou estar lá Say.

Após o termino da aula, ainda fiquei sentado na sala um tempo, para esfriar a cabeça, e por as ideias em ordem. O começo desse ano letivo estava bem mais conturbado do que os anos anteriores; o sonho, a Safira, o Rod, e não sei o porquê, mas o meu pai também não me saia da cabeça.

Comecei a organizar minhas coisas colocando tudo na mochila de qualquer jeito, até que senti um toque no meu ombro. Para minha surpresa... Era Safira.

Algo me dizia que ela estava brava...

–Porque você não veio falar comigo? Seu idiota!

Levei um soco no ombro. Não sabia o que falar... Senti meu estomago se contorcendo...

–Eu... Eu...

–Você o quê?! Porque está tão calado? Idiota!

E levei mais um soco no ombro.

–Senti sua falta Matsui, a gente nem conseguiu se despedir...

–É...

–Como vão as coisas?

–Bem... Err... Tão meio que indo... Você sabe...

–Qual é? O que você tem Matsui?!

Do outro lado da sala pude ouvir a voz de Anabel, a qual parecia meio irritada.

–Safira! Só falta você! As meninas estão te esperando!

–Okey...

Respondeu Safira em um tom não muito animado. Voltou-se para mim e falou entre os dentes:

–A gente ainda tem muita coisa pra conversar Matsui.

–E onde posso te encontrar?

–Depois a gente se fala! Até mais!

Então Safira caminhou na direção em que Anabel estava e aparentemente ela estava levando uma bronca por estar falando comigo. Acho que em pouco tempo Safira nem me direcionaria mais o olhar. Mas... Eu ainda sentia algo muito forte pela Safira, queria lhe dizer tantas coisas que acabei não dizendo nada! Eu sou realmente um idiota. Bom, o melhor ao se fazer na hora era ir para casa tomar uma ducha. E assim o fiz.

Mal tive tempo de chegar em casa, já era hora de voltar para o treino de kendô, se bem que eu preferia ficar em casa dormindo... Mas lembro de uma vez ter prometido a meu pai de que sempre estaria fazendo alguma atividade física, e essa era a atividade com a qual eu mais me identificava, se bem que nunca fui um destaque em usar a espada de madeira. Mas insistia em ficar no kendô, para aprimorar minha percepção com as coisas e minha velocidade de raciocínio.


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