My Happy Princess escrita por Lawlie


Capítulo 1
Capítulo 1 - Capítulo Único, Princesa Feliz


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :3
Aceito sugestões, críticas, elogios (até parece) e o que mais vocês quiserem comentar. Boa leitura.



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​A garota de nossa história aqui será chamada de Princesa Feliz. Ela era uma menina muito feliz, como o nome dizia, e nunca havia conhecido um sentimento além da felicidade. Desde o momento em que ela nasceu até o fim de sua juventude, foi mimada, bajulada e tratada como uma verdadeira princesa. Tinha tudo o que queria, e dezenas de pessoas que gostavam dela e a elogiavam, além de morar na que diziam ser a maior mansão do país. Isso a tornava um pouco egoísta e arrogante, mas ainda sim era encantadora. Ela não sonhava com coisa alguma pois tudo que imaginava que gostaria de ter estava em sua mão antes mesmo do dia seguinte. Ela jamais ultrapassava os limites dos grandes muros que cercavam o aparentemente infindável jardim que cercava a casa por todos os lados.

Ela não tomava conhecimento de nada que acontecia no mundo lá fora, mas isso para ela não importava: o único mundo que ela queria conhecer e viver eram os limites de sua imensa mansão. Comia sempre do bom e do melhor, a qualquer hora do dia ou da noite. Caso quisesse qualquer coisa, tinha, nem que para isso as pessoas tivessem de ir buscar, mesmo que fosse de madrugada. Vestia as melhores roupas e vestidos, tendo ainda estilistas e costureiras que trabalhavam só para ela. Usava jóias e sapatos caros também, qualquer coisa que quisesse usar ou vestir, perfumes, acessórios.

Sua cor favorita era o amarelo: do sol, do ouro, dos seus vestidos favoritos e de seu cabelo. A Princesa Feliz era linda, também. Tinha os lindos cabelos loiros que iam até os ombros, geralmente presos com um laço branco charmoso no alto da cabeça, olhos azuis encantadores e a pele levemente rosada, com uma marca de nascença no ombro esquerdo. Sua voz era incrível, e ela cantava super bem, além de tocar violino e piano. Quando ela cantava e tocava, os olhares, ouvidos e atenção de todos as pessoas da casa se voltavam para ela, maravilhados com seu encanto.

O único contato que ela tinha com o mundo exterior eram as correspondências que trocava com amigas distantes com vidas iguais à dela. Conversavam sobre seus vestidos, passeios pelos quintais de suas casas, as pessoas que moravam junto com elas, e vários outros tipos de assuntos felizes. Porém, quando as outras garotas mandavam a ela cartas sobre os garotos por quais se apaixonaram ou receberam declarações, a Princesa Feliz as ignorava.

Além de toda essa felicidade, a Princesa Feliz não conhecia a tristeza, sofrimento ou dor. Nenhuma palavra que trazia qualquer um desses sentimentos ou seu significado, como saudade, amor, ódio ou depressão era citada naquela casa. A Princesa Feliz não ligava para declarações de amor e recusava os presentes dos pretendentes que ela não aprovasse.

Era amada por todos, elogiada, eles pareciam não enxergar seus vários defeitos porém viviam falando de suas muitas qualidades, a presenteando e cuidando dela. Todos a cercavam, queriam ficar perto dela e conversar com ela. Todos, todos. Menos um certo rapaz.

O rapaz parecia-se muito com ela, apesar de pertencer a uma família diferente que compartilhava a enorme residência, por serem famílias inteiramente unidas há muito tempo. Ele também possuía a cor rosada na pele, cabelos loiros - também lindos e macios, porém em um penteado diferente - , uma marca de nascença no ombro e geralmente era visto usando a cor amarela. Mas ele nunca havia trocado UMA palavra sequer com ela, nem parecia se importar com a beleza ou os talentos da Princesa Feliz, pelo contrário: criticava alguns de seus erros na presença das pessoas que não giravam em torno dela - porém que ainda a serviam -, virava-lhe o rosto e debochava sempre que ela tropeçava, errava uma nota ou algo desse modo acontecia-lhe. Também não corria para socorrer-lhe sempre que ela caía ou se machucava, fazendo um escarcéu, como todos os outros. Apesar disso, ele sempre estivera lá, desde o momento em que os dois eram apenas bebês, até o momento em que chegavam à adolescência.

No início, a Princesa Feliz simplesmente ignorava e esnobava o rapaz que não transparecia nenhum interesse por ela. Anos se passavam e ele era para ela como uma pedra num canto e ela para ele como um incômodo com quem havia de conviver. Porém, quando chegou a juventude, o que era apenas um grão de poeira foi se transformando aos poucos em um enorme pedregulho dentro do sapato. Ela queria que ele babasse e se curvasse quando ela passasse, como todos os outros rapazes do palácio. Queria que ele oferecesse a ela um buquê de rosas amarelas, que ela provavelmente recusaria. Ou que pelo menos admirasse suas canções ou se preocupasse quando ela cortava o dedo. Mas isso não acontecia.

Certa noite, em uma das vezes (que vinham se tornando cada vez mais freqüentes) em que ela encostava a orelha à porta do quarto dele, tentando descobrir mais sobre o rapaz, ouviu-o tocando um instrumento como o piano e cantando. Ela não soube definir a voz dele. A única voz que lhe soara bonita no mundo até agora era a dela, a única música que agradava-lhe ouvir, por isso não soube dizer o que achava da voz do garoto, apesar da sensação de que ela harmonizaria perfeitamente com a sua. Passou a sentir raiva, achando que o que ele queria realmente era tomar seu lugar, no centro das atenções, mas isso não fez com que ela perdesse toda a curiosidade, que só aumentava a cada olhar, a cada toque nos esbarrões que aconteciam (geralmente propositalmente da parte dela) pelos corredores do local.

A Princesa Feliz começou a deixar lenços caírem perto dele, fingir que não conseguia abrir potes, perder objetos por vontade própria, para ver se despertava pelo menos um pouco do cavalheirismo do rapaz, que ela esnobaria com crueldade e o maltrataria, mas nada adiantava. Quis chorar de raiva, mas isso não aconteceu por que ela não sabia chorar como nunca havia chorado. Apesar disso, ela ainda esbanjava felicidade, nada havia mudado, a não ser algumas pontadas que a incomodavam no fundo do peito.

“Por que aquele garoto não presta atenção em mim? Como se cantasse melhor do que eu! Como se fosse belo como eu! Como se um dia pudesse cantar a meu lado! Por que ele não se enxerga e começa a querer me fazer feliz também? Quando isso acontecer, ele vai se arrepender de ter me ignorado por todo esse tempo!”-, pensava, e apesar da raiva, esses pensamentos deixavam-na mais feliz ainda. Ela então ia provar mais de suas jóias com ouro e vestidos amarelos, fitas no cabelo e tudo mais que sempre servia para aumentar sua felicidade.

Até que, um dia, uma nova palavra chegou à casa, geralmente em tom muito baixo para que a Princesa Feliz, que não conhecia o significado, ouvisse: guerra. A guerra deixava todos os habitantes da casa abalados e um pouco cabisbaixos, mas apesar disso a felicidade ainda reinava naquela linda mansão. Foi nessa época que a Princesa Feliz cansou de ficar só esperando e observando, e passou a seguir o rapaz a qualquer lugar que fosse, tentando conversar, mas ele nada respondia. Então começou a perguntar “Por que você me ignora? Por que não me dá atenção? Por que não se ajoelha aos meus pés, por que não gosta de mim? Por que não fica pasmado quando canto ou toco?”, entre outras perguntas. Ele nada dizia.

Então, quando as pessoas que moravam ali pareciam ainda menos felizes com a notícia de “guerra”, a Princesa Feliz, que não tinha conhecimento disso, estava observando, pela janela, todas as extensões do seu mundo, onde reinava a felicidade, até que percebeu que havia alguém atrás dela. Virou-se, sorridente, porém de má vontade, e seus olhos viram a cena que jamais imaginara ver: o rapaz de cabelos dourados como os seus, que nunca lhe dirigira a palavra ou se aproximara demais dela, estava ali, segurando uma belíssima flor amarela em uma das mãos. A flor tinha uma beleza que a Princesa Feliz nunca tivera a possibilidade de admirar, e o cheiro era melhor ainda.

– Estou indo lutar na guerra. – o garoto anunciou, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa – Mas quero que fique com isso e se lembre de mim. – e entregou-lhe a flor.

A garota ficou paralisada por alguns momentos, com a flor próxima ao rosto, exalando um perfume que jamais havia sentido na vida, a cor amarela se misturando a vários tons de dourado.

– Está havendo uma grande guerra lá fora, com medo e destruição, em um mundo que você não conhece. Aqui você está protegida. – examinou o rosto da menina, que abria a boca para dizer algo, mas logo a fechara, então ele continuou – Passei todo o tempo te ignorando pois suportar sua beleza era difícil demais para mim. Nunca fui cavalheiro com você pois tinha medo que você me rejeitasse.

“Não te elogiava para que teu orgulho não aumentasse ainda mais e você não se tornasse uma pessoa orgulhosa em excesso, e criticava teus defeitos por que quem ama os expõe e ajuda a pessoa amada a corrigi-los. Não apreciava sua música pois sempre que isso acontecia me recordava de meu sonho mais impossível, que é cantar junto a você, princesa.

“Nunca te dei presentes caros porque não queria que tu recusasses. Também evitei conversar contigo por temer revelar meus sentimentos verdadeiros. Jamais me declarei a você porque ser rejeitado pelo meu mundo seria como morrer. Mas agora que vou partir e correr o risco de nunca mais voltar, estou expressando tudo que penso em relação a você. Tu és toda minha felicidade, princesa.

Dizendo isso, o rapaz segurou o rosto da Princesa Feliz e beijou-lhe a fronte. Em seguida, fechou os olhos e lhe deu seu primeiro beijo nos lábios. Antes que a Princesa Feliz fizesse algo, ele virou as costas e saiu.

A Princesa Feliz ficou encarando o nada, sentindo seu mundo desabar. Um imenso buraco começou a abrir em seu peito, causando sensação de nunca ter sentido algo na vida. As pontadas de tristeza que ela nunca havia sentido começavam a aparecer, tornando o vazio algo insuportável, e ela chorou pela primeira vez na vida. Agora ela entendia a causa de sua felicidade, porém tarde demais. E agora, a Princesa Feliz via toda a felicidade do seu mundo e o motivo dela sair pela porta, com a possibilidade de nunca mais voltar.

– Meu príncipe... – ela conseguiu murmurar, antes de perdê-lo de vista para sempre.

Mais uma historia de amor arruinada pela insegurança e o orgulho




"Não muito tempo depois, foi encontrado, em meio aos escombros do que fora uma enorme mansão vitimada pelos bombardeios, o corpo de uma garota, que em vida tivera cabelos dourados e olhos azuis, segurando para sempre uma flor que mesmo despedaçada não perdera sua beleza.
Não muito longe dali, o corpo de um rapaz com a mesma aparência, que havia morrido lutando, com um retrato da garota no bolso da blusa."


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Notas finais do capítulo

Talvez eu faça mais fanfics nesse estilo, achei bem bacana... obrigada por terem lido! ^u^