O Vazio escrita por Liminne


Capítulo 2
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/34473/chapter/2

Parte II

Estava andando para o colégio na manhã seguinte e quase passei direto do portão.
Patético, eu sei. Mas tenho que confessar que o acontecimento da noite anterior tinha me perturbado um pouco. Okay. Perturbado [i]muito[/i].
Foi tudo tão repentino! Foi tudo tão... Inesperado! Mas não posso negar que aquilo balançara meu coração. Não como... Você sabe... Como se eu estivesse... Er... [i]Gostando[/i] dele. Não desse jeito, claro que não! Mas foi tipo... Uau! Um beijo é algo importante!
Ai não! Por que eu tive que mencionar essa palavra? Por que eu não paro de me lembrar disso?! Meu rosto já está tão quente que parece que vai sair fumaça!
Certo, certo. Vamos esclarecer as coisas. Eu só deixei que ele me... Er... Eu só deixei que ele realmente... Hun... Aquilo só aconteceu por alguns simples motivos bem lógicos e compreensíveis:
1- Eu tinha acabado de levar uma pedrada na cabeça.
2- Eu tinha acabado de acordar de uma pedrada na cabeça.
3- Foi ele que me atacou!
Eu posso ser acusado de não ter feito nada para impedir, mas é só ler os dois primeiros motivos para entender, não é?
Agora se me perguntarem se eu correspondi... Bem... Para ser sincero, nem eu sei direito. Quero dizer... Eu nunca tinha feito isso antes, o que esperavam de mim?!
Então, depois de tudo, estou assim. Mal dormi à noite, quase saí com a camisa do uniforme do lado avesso, passei direto do portão da escola e... É. Também acabei passando direto da sala de aula.
Eu não sabia direito o que tinha acontecido comigo, mas de uma coita tenho certeza: ele mudou definitivamente o meu ritmo.
Entrei finalmente na sala. E lá estava ele. Droga. Eu não conseguia nem olhar direito. Meu rosto estava esquentando de novo. Imagens da noite anterior começaram a aparecer diante dos meus olhos...
Ai meu Deus, ele estava sorrindo. Não. Ele estava rindo? Ai não. Ele achou que eu era um completo idiota que nunca tinha... Bem... E... E eu fiz tudo errado! E agora ele está rindo de mim!
Ei! Ichigo! Pare de pensar assim! Até parece que você quer que ele tenha gostado, que coisa!
- E aí, Ichigo? – ele falou comigo assim que eu sentei.
Eu estava tão em pânico que nem virei pra trás. E também não falei nada. Só balancei a cabeça e emiti um som esquisito.
Ótimo. Lindo.
Era melhor eu esquecer a presença dele e prestar atenção na aula. É. Perfeito. Ainda tinha que sustentar meu nome no ranking dos melhores alunos, não podia dar mais motivos para os professores terem birra comigo.
Ele estava me perguntando alguma coisa, mas eu fingi que não estava ouvindo. Melhor assim. Mais seguro.

****

Na hora do almoço, estava indo para o terraço como sempre. Mas senti quando ele começou a me seguir. Típico.
Ele pensa que não, mas eu sei que ele me segue todos os dias seja para onde eu for desde que entrou nesse colégio.
Qual o problema dele? Por que ele se interessou tanto assim por mim?
E mais curioso: depois do que aconteceu ontem, por que ele continua me seguindo?
Parei no meio da escada.
- Grimmjow. – me virei para ele devagar. Estava escuro ali, aquilo me dava uma vantagem. – Eu sei que você está aí.
Ele também parou e eu consegui ver o seu sorriso na escuridão. O jeito que ele tem de sorrir sempre me faz questionar o que passa pela cabeça dele. E as hipóteses parecem ficar cada vez piores.
Ele não disse nada por um tempo, só foi subindo os degraus até me alcançar. Recuei quando ele chegou perto.
- Eu não posso almoçar com você? – perguntou. E então eu percebi que ele estava com comida na mão.
- Ahn... E-Er... – gaguejei idiotamente. Por que isso sempre acontece comigo?!
- Ótimo, então vamos. – ele passou a minha frente e saiu andando.
Eu fiquei irado. Por que ele sempre tomava a liberdade de fazer o que queria? Eu não tinha respondido a pergunta dele, droga!
Não me restou outra escolha que não continuar meu caminho para o terraço.
Chegando lá, o vazio. Keigo não almoçava comigo desde aquele maldito dia da escada. E, por conseqüência, nem Mizuiro e nem o resto dos amigos dele. Eu geralmente não me importaria de comer sozinho. Estou acostumado a não ter muitas companhias.
Mas dessa vez eu tinha uma. E não era daquelas que se ignora facilmente ou que se fica bem à vontade de estar por perto.
Só esperava que Chad chegasse logo.
Sentei no chão. Ele sentou perto.
Droga. Perto demais pro meu gosto.
- Por que me ignorou durante a aula toda? – ele perguntou. Era incrível como parecia relaxado!
Eu não ousava olhar diretamente para ele.
- Eu acho que você já percebeu que eu não sou um delinqüente. – respondi no tom mais distante que consegui usar. – Eu gosto de estudar.
- Sei... – ele pareceu entediado com a minha resposta. – E então? – seu tom mudou drasticamente. Tanto que eu senti um arrepio. – Quer dizer que você nunca tinha beijado... – eu podia ouvir seu sorriso.
Não... Não... Mil vezes não! Não estava acreditando naquela pergunta!
De repente, nem que eu quisesse sair correndo eu conseguiria. Minhas pernas tinham perdido toda a força. Eu não estava mais quente e nem vermelho. Eu estava praticamente pegando fogo! Palavra nenhuma sairia pela minha garganta apertada, só se fosse separada em mil tentativas de sílabas, ou seja... Uma vergonha total!
E as coisas só estavam piorando porque, sem querer, meu rosto virou-se para ele e meus olhos arregalados estavam captando aquele quase riso matador por inteiro.
Diante do meu silêncio ridículo, ele começou a gargalhar. E eu quase pude ver minha alma me dando adeus.
- Hahahahaha! Como eu imaginei! – ele bebeu um gole do suco de caixinha fazendo muito barulho. – Você é tão previsível, Ichigo!
Eu precisava me defender! Eu precisava tentar me defender, pelo menos!
Franzi as sobrancelhas e tentei parecer digno e controlado.
- C-como você sabe disso?! E-eu n-não respondi a sua pergunta! – não importava se tinha gaguejado, só precisava encará-lo.
Como se fosse assim tão fácil!
- Não estava querendo saber. – ele me encarou de volta, com o riso pairando nos lábios. – Eu só estava querendo ver a sua reação. Porque qualquer um teria certeza disso! – riu de novo.
Aquilo me enfureceu!
- Eu fui pego de surpresa! – gritei me defendendo. Mas o que eu estava fazendo afinal? Por que eu insistia tanto em ter feito aquilo direito?
- Tudo bem, tudo bem. – ele engoliu o riso, mas ficou me olhando com aquela cara irritante. – Não se preocupe, Ichigo. Da próxima vez vai se sair melhor.
Eu sabia que estava me denunciando com as bochechas completamente vermelhas. Então a única coisa que podia fazer era desviar o rosto.
E aí ele se atreveu a puxar meu queixo. E ficou a pouquíssimos centímetros de mim.
Eu paralisei. Na hora errada.
- O-o que você está fazendo?! – perguntei enquanto tentava me descongelar.
- Pronto para sua segunda tentativa? – o sorriso dele de perto parecia ainda mais estranho. Cara... Ele não podia estar falando sério!
- Não! – eu consegui gritar e me afastar dele. – Não estou pronto e nem nunca estarei! – me revoltei. Chega daquela palhaçada! Ele achava que eu era um brinquedinho?
Parecia que sim, porque ele ainda estava achando divertido.
- Que isso, Ichigo! – ele levantou-se para vir atrás de mim e enfiou as mãos nos bolsos como de costume. – Não seja assim tão pessimista! Acredito que você vai bem dessa vez!
- Eu não estou falando disso! – bati o pé no chão irritado. – Eu não estou com medo, só estou dizendo que não vai mais acontecer!
- Não precisa ficar tímido... – ele foi se aproximando. Parecia estar ignorando tudo que eu estava berrando para ele. – Até que eu tenho bastante paciência com novatos!
Argh! Pervertido! O que eu fui fazer, hein?! Sou um imbecil!
- Por que você não desiste de uma vez?! – eu dei alguns passos atrás.
- Não costumo desistir do que eu quero. – ele respondeu sem se abalar com o que estava dizendo. – E eu quero você.
Parei de andar. Minhas pernas falharam de novo! Merda!
- Fica longe de mim! – foi a única coisa que consegui dizer quando ele estava chegando perto demais e eu não tinha mais para onde ir.
- Não fique se fazendo de difícil, vai! – ele continuava vindo na minha direção, bem devagar, como se estivesse apreciando o joguinho. – Eu passei as últimas semanas estudando sobre você, te salvei ontem e aceitei ser a pessoa a preencher sua vida!
- Não fale como se eu tivesse te pedido! – eu encostei na grade do terraço. Ou eu parava, ou me atirava lá embaixo. – Você que me pediu para ser essa pessoa!
- E você correspondeu meu beijo. Isso foi um sim. – ele concluiu por ele mesmo, como sempre. – Vamos, Ichigo... Você sabe que era o que você queria...
O que eu queria... Como ele podia ter tanta certeza de que era isso que eu queria se nem mesmo eu sabia ao certo?
Coloquei a mão no peito. Meu coração estava disparado. E desde quando isso não acontecia?
Tá, fazer seminário para toda a classe não conta.
O negócio é que... Talvez ele tivesse razão... Eu precisava daquilo. Precisava de alguém que mexesse comigo como só ele estava fazendo. Mas era tudo tão... Tão...
Ele estava perto, pertíssimo. Os olhos azuis engolindo os meus. A perna encostando de leve na minha...
- Ichigo. – a porta do terraço se abriu e um cara moreno e gigante apareceu.
Chad. Que momento maravilhoso para aparecer!

****
Não prestei atenção no resto das aulas. E como eu poderia?
Agora estava com vergonha daquele tarado maluco e do meu melhor amigo também. Que beleza!
Toda vez que olhava para trás, lá estava aquele doido sorrindo para mim. Ele não cansa não?
Mas o pior era a questão que não saía da minha cabeça: o que teria acontecido se o Chad não tivesse chegado naquela hora?
Eu não sei de mais nada. Não confio nem em mim mesmo quando estou perto dele. E eu tenho a plena consciência também de que, não importa o quanto eu fuja, ele vai sempre me perseguir e me atentar.
Se nem o fracasso que aconteceu noite passada tirou ele do meu pé, não sabia mais o que poderia tirar.
A aula terminou e eu me levantei. Sabia que ele ia atrás de mim, então nem me importei de procurá-lo.
Fui andando até os portões da escola e encontrei com o Chad.
- Ichigo. Preciso trabalhar hoje. – ele disse.
Eu fiquei assustado. Será que ele estava... Assim como o Keigo... Não... Não podia...
- Ichigo, eu trabalho três vezes por semana nesse horário. – ele deve ter percebido o pânico no meu rosto, por isso estava se explicando. – Hoje é um desses dias.
- Ah, claro! – me senti estúpido e balancei a cabeça. – É. Boa sorte, Chad!
Ele fez um sinal para mim e foi embora.
- Vamos. – Grimmjow apareceu do meu lado. Não me surpreendi. – Você ainda não está podendo se meter em brigas. – ele cutucou o meu machucado na testa. Desgraçado.
- Ai! – reclamei. – Desse jeito não vou precisar me meter em briga nenhuma para piorar! – olhei feio para ele.
- Tsc. – me olhou de volta irritado. – Pensei que fosse mais resistente que isso.
- Então se eu sou resistente, posso ir pra casa sozinho. – apertei o passo na frente.
- Você não agüentou um toquezinho no machucado. – ele disse com desdém. – Acho que não é nem um pouco resistente.
Como ele era irritante!
- Não foi um toquezinho! Você quase atravessou o curativo, porra! – me estressei.
- Olha, o menininho do papai sabe xingar! – ele debochou.
Puta que o pariu. Ele não sabia o quanto eu poderia xingar!
- Você teve que levar pontos? – ele perguntou e sua voz parecia até outra.
- Sim. – respondi. – Meu pai é médico.
- Humm... – ele me alcançou de novo, e agora estávamos andando lado a lado. – Que sorte a sua! E o que você disse para ele que aconteceu? – o sorrisinho de novo!
- E-eu disse que tinha caído alguma coisa na minha cabeça enquanto andava na rua.
- Hahahaha! – ele riu daquele jeito escandaloso e habitual. – E ele caiu nessa?
- Sei lá! – dei de ombros. – Às vezes acho que ele é só um idiota, mas às vezes parece que ele sabe de tudo.
- De tudo mesmo? – ele levantou as sobrancelhas sugestivamente.
Corei. Foi inevitável.
Mas o que raios eu estava fazendo afinal? Eu estava conversando com ele enquanto... Enquanto ele me levava para casa?!
Foi então que eu notei que a mão dele estava esbarrando na minha vezes demais. Droga! Tratei de me afastar um pouco.
- Você continua fugindo, né? – a voz dele saiu áspera.
Eu me assustei. Ele observava tudo mesmo. Ainda mais para uma pessoa do tipo dele.
Não respondi. Só desviei os olhos para algum ponto invisível.
Ele insistiu e se aproximou de novo. Não segurou minha mão, mas continuou esbarrando claramente de propósito.
- Eu estou indo com muita calma. – disse. E eu fiquei tentando descobrir se aquilo era uma ameaça. – Acho bom você colaborar.
O que ele queria dizer?! Se por acaso eu não colaborasse ele ia me forçar?!
Não queria descobrir de jeito nenhum. Então fiquei quieto. Era melhor mesmo ir aceitando aos poucos... Assim eu ia saber quando dar um basta.
Mas aceitar o que?! E por quê?! Ele não podia me obrigar a nada! Se fosse necessário eu podia agredi-lo também!
Ele segurou minha mão.
Eu acho que... Talvez eu queira aceitar aos poucos... Talvez...
Continuamos caminhando, agora em silêncio. Ele parecia satisfeito com a minha falta de resistência, mas não pude fazer sua felicidade por muito tempo.
Porque me lembrei de um detalhezinho importante: estávamos NO MEIO DA RUA!
Quando tirei minha mão de perto da dele, porém, ele não ficou bravo. Acho que o mais importante era ter conseguido. Hunf. Devia ter imaginado.
- É aqui. – eu avisei quando chegamos em frente à minha casa.
- Eu sei. – ele sorriu e me lançou um olhar tão confiante, que parecia poder ver minha alma e tudo sobre mim.
Foi meio desconcertante.
- Vem aqui. – antes que eu pudesse me preparar para qualquer coisa, ele me agarrou pelo pulso e saiu me puxando.
- Ei! – protestei, mas não tão alto. Alguém em casa podia ver aquilo e... Deus me livre! – O que você quer agora?!
Ele não disse nada, só foi me arrastando até a parte lateral da casa. Onde havia sombra.
- Grimmjow! – eu sussurrei com força quando ele me encostou na parede. – Essa é a minha casa! – dei bastante ênfase. – Pelo amor de Deus!
- É só ficar quietinho que ninguém vai saber de nada. – o sorriso ficou maior e mais aterrorizante. – Eu prometo que vou devagar.
- Não é questão de ir devagar ou não! – ele se aproximava e eu ia virando o rosto. – Não podemos fazer isso aqui! Sai de cima! Sai! – tentei empurrá-lo, mas ele segurou meus braços.
- Você é muito medroso, Ichigo! – ele riu um pouco. – Se ficar tenso vai ficar difícil! Vai fazer tudo errado de novo!
- Eu não... – trinquei os dentes. – Droga, se eu sou tão ruim assim, me esquece!
- Você não é ruim... – ele continuava sorrindo. Parecia nunca ter se divertido tanto na vida. – Você só é um iniciante. – olhou nos meus olhos mais de perto. – Mas se deixar eu te ensinar, vai virar mestre...
Ahh! Não dava mais para fugir. Eu estava preso e não adiantava o quanto me debatesse. O rosto dele se aproximava rápido e eu não ia conseguir evitar o...
...Beijo. É. Aconteceu. Ele colou os lábios nos meus e, dessa vez, como eu não estava tonto por causa de uma pedrada, consegui me conscientizar melhor do que estava fazendo.
Mesmo assim não sei se fui muito melhor do que da outra vez. Saco!
- Acho que por hoje está bom. – ele separou-se de mim sorrindo. Os olhos azuis brilhantes.
Ouvimos barulho dentro de casa. Arregalei os olhos apavorado.
- Nos vemos amanhã, Ichigo! – ele soltou meus braços e meneou a cabeça. – Vamos continuar treinando! – riu e foi se afastando.
Eu não conseguia falar nada. Nem acenar. Nem me mexer. Mal podia respirar!
Quando ele sumiu de vez, eu praguejei contra a minha idiotice. Como eu sou babaca! Ele deve estar rindo da minha cara de idiota!
Por que eu tenho que ser tão inexperiente e, ainda por cima, fazer questão de exibir isso?! Que vergonha!
Não sei como eu consegui entrar em casa. E menos ainda como ninguém veio dizer que já sabia de tudo.
Além de estar na minha cara, eu já estava abusando. Ou melhor, ele!!!

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A fic continua! Vou postar aos poucos porque ficou bem grande... XD