POV’S KENTIN

Estava escolhendo algumas ultimas coisas pra levar na viagem quando me perco em pensamentos olhando diretamente para a janela da loja. Minha mãe me perguntava algumas coisas, mas eu fingia não ouvir.

Foi quando eu a vi.

Ela estava falando com alguém no celular, e quando acabou fez a coisa mais estranha do mundo: Tirou a bateria do celular, colocou de volta e o ligou. Pff, ela não sabia como desligar uma chamada?

Disse pra minha mãe que ia me despedir de uma amiga, e ela disse “Tudo bem, eu vou levar isso pra casa, não volte tarde”. Ailyn era diferente das garotas que eu havia conhecido até então. Ela não tinha maldade, era sincera e não me tratava como alguém insignificante.

E foi assim que eu me apaixonei por ela.

Talvez ela fosse demais pra mim. Era um pouco mais alta, parecia uma modelo. A pele alva, bochechas coradas e lábios cheios. Seus olhos eram simplesmente hipnotizantes e o cabelo... Estava curto? Não me lembro de tê-lo visto curto essa manha.

Apertei o passo.

- Ailyn! – Sempre que dizia seu nome, me sentia ousado de alguma forma.

- Kentin – Disse surpresa. Sua voz era sempre suave e gentil, convidativa. – Tudo bem com você, está meio vermelho...

- Ah, isso – Talvez eu tenha ficado mais vermelho ainda por causa disso – Não é importante... Você cortou o cabelo?

- Na verdade, Ambre cortou – Ela disse pensativa – Depois Violette ajeitou pra mim.

- Você a deixou cortar? – Provavelmente não. Ambre era uma pessoa cruel, há anos vinha me torturando.

- Não... Violette diz que ela fez por maldade, mas eu não ligo muito. Se a faz feliz – Ela deu de ombros. Ela era tão graciosa... – Mas e você o que faz por aqui?

Expliquei a ela que estava fazendo compras com minha mãe quando a vi praticamente destruindo o celular. Ela riu e disse que não sabia mexer nessas coisas atuais, pois no Alasca ela não tinha muito acesso a linhas telefônicas. Ensinei a ela como desligar de uma chamada, e como presente eu consegui o número dela! Então contei a ela o porquê de realmente ter vindo vê-la.

- Se mudar?! – Ela disse alterada – Por quê?

- Na verdade sou só eu. – Coloquei a mão sobre a nuca, sem jeito – Meu pai não atura mais o filho sendo importunada por uma mulher.

- Esse pensamento é um tanto errado – Ela falou pensativa –Mas pra onde ele pretende mandar você?

- Pra uma escola militar, ele disse que eu só saio de lá quando virar homem de verdade.

Ela se ajoelhou subitamente, e olhou diretamente nos meus olhos. Eu tinha ficado extremamente nervoso, e pretendia virar o rosto... Mas os olhos dela sugavam a minha atenção.

- Eu não acho o que o seu pai está fazendo certo, mas eu acredito que se a vida coloca algo no seu caminho, você deve enfrenta-lo. Minha mãe sempre dizia isso – Ela sorriu e beijou  minha testa de leve – Agora, eu tenho um problema – Ela se levantou e olhou para os dois lados.

- S-sim?

- Eu precisava de um lugar e uma companhia pra almoçar. Você tem tempo?

- C-Claro!

Ailyn POV’S

Kentin disse que pagaria pra mim, então estávamos em um restaurante um tanto elegante. Por alguma razão, eu tinha que colocar um pano no colo e tinham talheres diferentes para cada tipo de comida.

Ele disse que eu deveria comer como achasse melhor, ele não ligava muito pra etiqueta, mas gostava da comida dali e queria que eu experimentasse. Mas acho que fiquei ocupada demais procurando uma etiqueta.

- Já sei – Concluí – Porque você não me manda mensagens, têm o meu número não e? Eu aprendo depois como se envia!
 

- Oh, sério? – Ele disse animado – Tá legal! – De-repente ele parou de sorrir – Você quer mesmo falar com um cara como eu?

- Têm algo errado com você? – Pra mim, Ken era absolutamente normal. Ele ainda me lembrava dum filhote de lobo, então tinha que me conter para não abraça-lo.

- Eu não sou como o Nathaniel ou o Catiel... Você sabe. – hm? Ken simplesmente não fazia sentido às vezes.

- Você é você – Eu disse colocando um naco de carne na boca. Meus dentes eram afiados devido à vida de caça – É claro que não é como os dois. – Dei de ombros.

Kentin se encolheu ligeiramente, depois tirou algo do bolso. Era um colar com um pingente de urso. Ele me entregou e eu coloquei na mesma hora, animada. Agradeci e lembrei-me que tinha algo que eu podia dar em troca para que ele tivesse uma lembrança. Remexi em minha mochila e encontrei alguns segundos depois. Era um dente de urso amarrado em um barbante; Aquele urso teve o infortúnio de ameaçar meu pai e eu. Pobrezinho.

- Nossa isso parece... – Ele tocou na ponta do dente –Afiado.

- Ah sim, tome cuidado – Disse levando mais uma garfada da comida á boca – Não faz muito tempo que ele morreu.

Houve um momento de silencio para terminarmos a refeição. Quando mais eu olhava para ele, mais percebia que não fazia ideia do que se passava na cabeça de Ken. Não tinha passado muito tempo com ele, mas fui salva por ele duas vezes, de certa forma. Além do que, ele sempre era gentil. Passar um tempo perto dele me deixava feliz, conversávamos sem restrições, além de ele adorar minhas historias do Alasca.

- Eu tenho que ir... Amanha cedo tenho que viajar pra uma cidade diferente, então tenho que estar descansado.  – Ele parecia bem triste, mas não chorava.

- Ei, ei – Disse tentando acalma-lo – Tenho certeza que você sai de lá rápido. Eu também tive que sair de casa, então acho que entendo como você se sente.

- Mas eu não queria sair, justo agora que eu conheci você...

- Nós vamos nos falar sempre que você puder, eu fico feliz de ter tido a oportunidade de conhecê-lo. Talvez quando eu volte, entenda mais sobre as coisas, então você não vai mais ter que andar com uma mulher das cavernas como eu!

KENTIN POV’S

Nós rimos. Mas aquela frase “talvez quando eu volte, entenda mais sobre as coisas” tinha outro significado pra mim. “Talvez eu já tenha me apaixonado por alguém”. Eu não podia deixar a única pessoa que me olhou de igual pra igual assim. Parei de rir e a olhei com seriedade. Ela também parou, de forma que achei que ela poderia ter entendido.

- Ailyn... Eu gosto de você. – Disse sem rodeios.

- Ora, eu também! – Ela sorriu, e voltou ao seu jeito avoado de sempre. Ela não tinha entendido.

- Não, eu não gosto de você como amigo – Ela começou a se alterar, mas me adiantei a explicar – Não é que eu não queira ser seu amigo, é só que eu acho que amo você.

Ela ficou um tanto imóvel, talvez ela ainda não entendesse o que isso queria dizer. Como já estávamos próximos a casa dela, beijei-a na face e saí correndo, acenando. Eu tinha que me esforçar. Um dia ela entenderia, e eu tenho que estar aqui antes disso. Não posso deixar ninguém rouba-la de mim.

- Até mais, Ailyn!