ICEgirl escrita por NKIDDO


Capítulo 39
FINAL + EPILOGO「Uma tal de linha vermelha」


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo gente, eu queria agradecer a todos que acompanharam meu projeto até o final. Eu criei essa fic na ideia de me mostrar aqui no Nyah, procurando escrever algo simples de digerir, já que pouca gente se interessava nas minhas fics mais complicadas, o que me fazia deletar elas. Não vou dizer que Icegirl foi um super sucesso, mas já está de bom tamanho pra mim.

No momento que eu fiz a Ailyn e uma simples historia de que ela morava no alasca e viajou para sweet amoris sem conhecer nada, o resto simplesmente surgiu na minha cabeça. Eu sabia sobre os pais dela, sobre tudo.

Obrigada por tudo, de verdade.



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FINAL

Às vezes eu me pergunto se perder a memória foi tão ruim quanto todos dizem. Foi uma perda parcial, e como comentam os médicos juntamente com algumas testemunhas, quase que uma defesa do meu corpo; Como se tivesse algo que eu não devesse lembrar. Não existe um meio de saber se foi realmente ruim ou não se esquecer de alguma coisa/alguém porque eu simplesmente não me recordo se é ruim ou não.

Puxo a corda do arco até a minha bochecha, tomando cuidado para não romper o objeto com a minha força. Eu deveria ser rápida e precisa, aquela ave viria em breve, e se eu não atirasse como deveria seria mais algumas horas paradas naquele frio.

Embora não nevasse, meus pés sempre estavam sob a neve branca e macia que eu tanto gostava. O frio já estava ficando costumeiro, eu me readaptava rapidamente, ainda mais com as corridas matinais do meu pai, um “aquecimento” antes do longo dia. Toda vez que eu bufava de nervosismo, uma fumaça branca tapava a minha visão, às vezes até mesmo quando eu respirava.

A imagem escura do animal cruzou meus olhos, e por puro reflexo eu miro e atiro o mais rápido que eu consigo, ou seja: Muito rápido. Desço o barranco com cuidado para não pisar em nenhum buraco e quebrar a perna, como aconteceu há algum tempo atrás.

- Ei passarinho – Chamo inutilmente, ele não responderia por que estava morto e provavelmente porque não saberia responder mesmo.

Minha roupa grossa e com varias camadas dificultavam um pouco minha locomoção, mas o hábito me fez correr rápido o suficiente para ganhar qualquer corrida com uma pessoa normal. Meu casaco ia até antes do joelho, com um capuz com pelos de algum animal nas pontas. Nas pernas eu usava uma meia calça, mais meu pijama e a calça de caçar. Botas pesadas e impermeáveis mantinham meu pé em uma temperatura agradável.

Localizo a pequena ave a poucos metros de mim, e eu eliminava ainda mais essa distancia, já preparando um saco para colocar o jantar. Ajoelho-me diante do animal e sem nenhuma cerimonia o atiro para dentro do saco, e estava acorrendo tudo magnificamente bem até que eu percebi que uma pequena alcateia me cercava.

- Se eu me machucar, papai vai ficar furioso com vocês. – Os alerto, meu velho habito de falar com o que não pode me responder.

Deixo o arco preso no meu ombro, como se fosse alça de uma mochila e jogo o saco nas costas, com as mãos livres, tiro os dois machadinhos que eu sempre mantinha preso na cintura.

- Vocês não vão gostar disso.

[***]

Abro a porta com os pés, quase a arrombando. Minha mais ficaria braba comigo, mas se ela visse que eu estava carregando peso demais para abrir com as mãos, talvez ela não brigasse comigo.

- Ailyn! – Ouço ela me repreender da cozinha – O que eu falei sobre chutar a porta?

- Como você sabe que sou eu? – Largo as armas no chão e vou em direção à cozinha com toda a caça.

- Seu pai já chegou. – Ela reduz a altura da voz na medida em que eu vou adentrando a cozinha.

A cozinha estava quente como sempre, - não quente, mas um quentinho agradável – por causa do forno ligado – Pelo visto a parte do meu pai vai na frente, humpf. Deixo toda a caça em cima da mesa e meu pai começa a organizar e conservar enquanto eu me aqueço.

- As alcateias estão ficando perigosas, filha acho melhor caçarmos juntos, mesmo que renda menos. – Sugere meu pai – Além do mais, vamos ter que comer um monte para a comida não estragar, haha.

Meu pai sempre falou de uma forma grosseira, não conhecia tantas palavras assim, e falava como conseguia se expressar melhor.

- Então a minha filha vai seguir a carreira da mãe como professora? – Ela falou sorrindo, mexia na panela grande com sopa.

- Sim, quem diria não é mamãe? – Começo a rir – Na época mal fazia ideia do porque eu estava aprendendo tantas coisas.

- Falando em não fazer ideia senhorita Ailyn – Meu corpo salta do chão ao ouvir o “senhorita” na frente do nome. Acho que sabia o que ela ia dizer – Faz duas semanas que chegou e ainda não arrumou aquele quarto com as suas malas!

- Mas mãe... Está frio no quarto... – Começo a miar, implorando por pena.

- E está frio lá fora também senhorita Ailyn, vá! Sua bagunceira.

- Nya – Digo em voz alta, manifestando minha insatisfação enquanto saio da cozinha e vou em direção ao meu quarto.

Chegando lá encontro a segunda guerra mundial e a minha cama, a única coisa que estava arrumada. Meu colchão sequer era grosso como o que eu tinha na casa da minha tia, havia mais coberta do que colchão. No chão uma mala vermelha com mudas de roupas atiradas para todos os lugares. O quarto do Alasca era mil vezes menor. Eu tinha um armário com muitos casacos, meia dúzia de blusas e calças. Uma gaveta para as meias e roupas intima. Ao lado da minha cama uma mesinha com uma vela e uma caixa de fósforos do lado. Era quase um corredor.

- Por onde começar...

Tento guardar as que estão jogadas primeiro, examinando se existe alguma que já esteja sujo – e atirando em um cesto de roupa suja. As roupas finas ficaram lá, e eu trouxe apenas as de inverno. Morria de rir só de pensar no quanto eu estava agasalhada quando viajei para cá.

Puxo um casaco de dentro da mala e algo bate no piso de madeira em um baque, depois rola pelo chão, produzindo um som engraçado e um tanto perturbador. Não me recordava de ter colocado aquilo na minha mala; Era uma espécie de cristal com uma flor congelada lá dentro.

Minha cabeça começou a doer, como se uma presa de urso a penetrasse lentamente. O ar já não alcançava meus pulmões e tudo começou a girar, rodopiar e finalmente falecer.

[...]

Um balde cheio de memórias se localizava em cima de uma porta, na minha cabeça – era engraçado, como aquelas pessoas que pregam peças. Estava e sempre esteve tudo ali em cima, pronto para me pegar a qualquer momento, e então todos ririam enquanto eu me afogava em lembranças; sendo boas ou ruins.

Mas ainda era uma peça, então eu ainda fui surpreendida pelo turbilhão de imagens com as quais eu me deliciava e absorvia, pegando de volta o que sempre foi meu e me foi tirado. Era uma sensação engraçada, rever todos aqueles momentos desde o inicio, sabendo o que eu sabia agora. Minha pureza e inocência... não diria que foram tirados de mim agora.

Eu de fato havia perdido Kentin para sempre agora, sequer sabia o que ele faria porque não me lembrava dele quando tive a chance de ficarmos juntos – Já que ele se livrou de algum tipo de aposta com Narine.

Desperto ainda com as roupas da caça em cima da cama, meu quarto completamente vazio embora fosse claro que minha mãe ou meu pai tivessem encontrado meu corpo inerte do chão. Sentia-me completa agora, já que o buraco em minha mente fora preenchido pelas mais belas e tristes lembranças, e eu simplesmente não conseguia ficar magoada com nada, exceto com o fato de que eu não veria Kentin. Meu arrependimento me machucava, me fazia ter vontade de ser uma menina mimada pela primeira vez e jogar coisas no chão, só pra as ver terem um triste fim assim como eu tive o meu.

Eu teria que conviver com aquilo, mantendo no coração que a carreira que eu seguiria no ano seguinte seria a que ele mesmo me recomendou. Ser professora seria meu tesouro precioso, e eu o faria pensando nele todos os dias.

- Isso é tão injusto.

No lugar de quebrar qualquer coisa, apenas caminho lentamente para fora de casa. Meus pés se arrastando como se houvessem âncoras amarradas. Logo eu estava arrastando a neve junto comigo, quase fazendo um morro com os pés. Queria parar, queria desmanchar na neve e com sorte pertencer a ela para não ter de lidar com a dura realidade. A verdade era que eu não queria guardar ele com carinho nas minhas lembranças, eu o queria aqui comigo.

E então eu quase explodi de alegria ali mesmo.

Você acredita em destino? Acredita em algo que conduza sua vida de forma inevitável, onde você não pode escapar do que está marcado a fazer?

Minha mente vagou para longe, em uma lembrança com a minha mãe.

FLASHBACK—

Eu estava alegre naquela noite, mesmo estando doente. Minha mãe me preparou uma bela sopa com a carne que eu havia caçado na noite passada com meu pai – eu tinha apenas nove anos. Mesmo adorando minha vida, eu sabia que eu me sentia vazia, sem um objetivo, invejando silenciosamente a felicidade dos meus pais, a que eu provavelmente não teria.

- Meu anjo – Minha mãe me acalmava enquanto trançava meus cabelos tão brancos quanto os dela. – Eu vou te contar uma historia para você dormir, o que acha?

- Pode ser outra desta vez? – digo calmamente – Não quero mais a do lobinho solitário, me deixa triste...

- É triste? – Minha mãe cora um pouco, confusa. – Mas eu até deixei um final feliz...

Explico para ela que não é culpa dela; que sua historia inventada é ótima, mas me magoa porque eu me sentia solitária, e que eu não teria um final feliz.

- Ora, é isso? – Ela se acalma, dando um tapa no ar, como um “capaz!” – Então eu vou lhe contar uma lenda, pode te ajudar.

Era a lenda da linha vermelha do destino – recordo-me mais claramente agora.

De acordo com essa lenda, os deuses, assim que uma pessoa nasce, amarram uma linha vermelha - invisível aos olhos humanos - nela, conectando- a pessoa, a qual, ela estará destinada a estar viver e amar no futuro, ou seja, a sua alma gêmea.

Uma corda vermelha invisível conecta aqueles que estão destinados a se encontrar, independentemente de tempo, lugar ou circunstâncias. A corda pode ser esticada ou emaranhada, mas nunca irá se romper.

E depois que minha mãe contou-me sobre essa lenda, meus olhos brilharam. Esse se tornou meu novo objetivo, e neste dia provavelmente eu dormi e acordei como uma nova Ailyn. Eu simplesmente estava decidida a encontrar essa pessoa à qual eu estaria destinada. Uma lenda boba para alguns, entretanto para mim... era tudo. Eu não invejava mais meus pais, porque eu sabia que em algum lugar, alguém estava pensando a mesma coisa, esperando para me encontrar.

E agora mesmo, este fio dançava por toda a neve branca, completamente encolhido, e não esticado como sempre esteve. Em meio ao meu transe, só e somente ele poderia me acordar dizendo...

FLASHBACK—

- Ailyn!

Ah, sua voz. Como eu a desejei, ainda dizendo meu nome de uma forma tão surpresa e aliviada ao mesmo tempo. Lá estava ele, com um mapa gigantesco na mão, uma mochila e bem agasalhado como jamais o vira.

- Kentin...Kentin...

Eu não merecia tanta felicidade, não merecia. Contudo lá estava eu, desabando em lágrimas enquanto corria aos tropeços na direção do moreno. Ele abriu um sorriso largo, despejando tudo que tinha em mãos e a mochila no chão, só para ter os braços livres para mim. Sem cerimonias, eu me joguei em seus braços e me senti rodopiar suavemente, enquanto sorriamos transbordando de felicidade. Aos poucos ele reduz a velocidade do giro até eu pousar suavemente na neve, finalmente colando meus lábios nos dele. Nada precisava ser dito, eu sabia e ele sabia que agora nada nem ninguém podia nos separar, sabíamos do amor que um tinha pelo outro.

Nossos corpos agora estirados sobre a neve, enquanto mais cristais de gelo caiam sobre nós, querendo congelar aquele momento e nos manter ali para sempre. E provavelmente, ficaríamos até o fim dos tempos.

Epilogo.

- Mamãe, é muito frio aqui, não podemos voltar pra casa? – Crystal me olhou com aqueles olhos tão azuis quanto os meus, e desde que ela nascera eu compreendi porque todos me olhavam como se estivessem hipnotizados, deveriam estar mesmo.

- É o aniversário do seu avô, e também o lugar que eu cresci e meus pais se conheceram, meu anjo – Digo a copia versão feminina de Kentin. – E também, seu pai me pediu em casamento aqui, deveria estar honrada!

- Neve sagrada, não brinque com a sua mãe, já lhes contei que este colar foi de um urso de verdade?

Kentin gostava de ver a reação das crianças, e Crystal se escondeu atrás de Neith, meu menino de 11 anos com cabelos brancos e olhos cor oliva. Ele adorava as histórias sobre o Alasca, e embora fosse durão jamais parou de pedir por elas. Agora ele estava em meio a toda aquela neve, provavelmente imaginando todas elas.

- O taxi logo chega – Anuncio, e Crystal fica um pouco mais aliviada. – É triste que tenhamos pouco tempo aqui – Digo um pouco chateada.

Adoro dar aula na universidade, mas eu queria ficar um tempo a mais na minha cidade natal, pra variar. Castiel faria um show dali uns dias, e eu e Kentin iriamos assistir como combinado – há muito esquecemos o remorso da juventude.

Ambre e Nathaniel eram uma bela dupla de advogados hoje em dia, e Amber insistiu que eu colocasse algumas pessoas na justiça, mas eu preferi esquecer as mágoas e seguir em frente. Rosalya se tornou uma famosa estilista da marca “Snow Paradise” e Alexy é praticamente seu braço direito. Ela sempre me trazia roupas bonitas, e hoje em dia posso me considerar uma.

- Algo errado, Ai? – Chama Kentin, meu amor e marido. Sua voz ainda me derretia por dentro.

- Só estava me lembrando de algumas coisas – Suspiro, deixando a neve tomar conta – Vir aqui me trás tantas lembranças... – Pego o cristal com a flor congelada – Garry vai estar lá hoje.

Ver tudo aquilo me traziam lembranças do meu tempo de moça. Eu passava o dia com meus pais, seja estudando ou na caça; mas um dia eu tenho a oportunidade de ir para outro lugar. Era o destino me fazendo encontrar Kentin, eu sabia disso.

Kentin era um militar, mas pode tirar uns dias de folga pela família, e viajamos o mais rápido possível. Ele adorava meus pais.

Olhando para trás, lembro-me das dificuldades que eu tive que passar, e eu penso que nada nesse mundo poderia me fazer pensar que não valeu a pena passar por aquilo para encontra-lo. Eu passaria por tudo aquilo de novo e de novo, Kentin, se fosse para te encontrar de novo. Eu te escolho e sempre te escolherei, em todas as vidas que estamos destinados a passar juntos.

Eu simplesmente desejava felicidade a todos, até mesmo os que me fizeram mal, porque eles me tornaram forte e o que eu sou agora. Eles me levaram até você.


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Notas finais do capítulo

Bem gente, este é o final de ICEGIRL e da nossa querida Ailyn. É sempre dificil terminar uma historia, e eu nao sei se eu consegui me expressar tão bem, mas é o que temos né USAHUSAHS

Destino é uma coisa que eu acredito com muito afinco, e provavelmente não é a primeira vez que vão ver isso nas minhas fics. Eu não sei se vou continuar com YOU ARE A PIRATE, isso depende de vocês... Eu vou tentar fazer uma outra fic, na visão de um homem também, com o tema antigo.

O talvez um mais ~ALICE~ porque eu gosto bastante. Então, eis a pergunta: PIRATAS, PRINCESAS OU ALICE?


Espero que respondam, deem um "finalizado" e se possível recomendar. Até breve em Fire with fire!