Laura E Edgar - Uma Outra História escrita por Cíntia


Capítulo 44
Final


Notas iniciais do capítulo

Meninas muito obrigada pelos comentários, mas a minha dedicatória especial vai para a Gaby, que recomendou a minha história.



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Por Laura

Após Catarina ir embora. Comecei a sentir que tudo ia melhorar. Não tê-la a nossa volta me dava uma impressão de paz, a paz que sempre quis ter.

Edgar e eu conversamos muito sobre Melissa. Não podia dizer que eu não tinha medo dela depois dos arranhões que vi no braço do meu filho e das suas atitudes dissimiladas. Mas o fato dela confessar tudo mostrava que tinha recuperação, ela era apenas uma menina má orientada. Estávamos confiantes que conseguiríamos tirar essa má influência que ela recebera da mãe, para isso bastava muito amor e carinho. E a acolhemos em nossa família, ela fazia parte dela, já que mesmo sem laços de sangue, era filha de Edgar.

Resolvi contar a Guerra que eu era o Paulo Lima. E que só assinaria reportagens com o meu próprio nome. Apesar de reconhecer o meu talento, ele não aceitou de primeira, tinha o seu ranço machista. Guerra era muito liberal quando se tratava de homens, mas de mulheres era outra história. O clima permaneceu tenso por um tempo e nisso tive o apoio de Edgar, e de Celinha, que estava noiva dele.

Por fim, sem seus dois melhores jornalistas, discussões com a noiva, e por ser chamado de retrógrado, ele cedeu. E na próxima reportagem, passei a assinar como Laura Vieira. Guerra até escreveu um editorial informando que eu era Paulo Lima.

Claro que houve reações. Minha mãe, por exemplo, não gostou nem um pouco de me ver como jornalista, mas D. Constância não mandava em mim há muito tempo. Houve reação de leitores, mas Guerra como um bom defensor da verdade, segurou a bandeira da liberdade e enfrentou-os de frente. Isso foi até motivo de orgulho para Celinha, que se casou feliz com ele.

Meu livro sobre a Educação acabou sendo publicado com meu pseudônimo mesmo. Mas como a informação de que eu era Paulo Lima era de conhecimento público, consegui algum reconhecimento com ele.

O projeto da escola andava muito bem, nós já estávamos contratando professoras. E ela seria inaugurada antes do que eu pensava. Minha amiga Sandra passou a participar, e provavelmente me substituiria na direção do colégio durante o tempo em que eu precisasse me afastar por causa do bebê.

Edgar estava procurando uma escola mais liberal para Melissa, e como não havia encontrado uma boa opção, resolveu colocá-la na nossa escola. Era uma boa maneira de me aproximar dela, e ela também teria uma educação de qualidade e sem preconceitos. Ela já estava se acostumando comigo e passou a me chamar de Tia Laura.

Eu pensei em colocar Toninho na nova escola, mas desisti, meu filho adorava o seu colégio, e a verdade é que ele já sabia ler e escrever, estava em uma classe mais avançada, e a nova escola só teria a classe inicial naquele momento, tendo as outras classes à medida que os alunos evoluíssem.

Padre João também adorou o projeto da nova escola, tanto que se comprometeu a dar aulas voluntárias de vez em quando. Ele dizia que sentia falta de dar aulas, já que nos últimos anos ele trabalhava só como diretor.

Edgar e eu começamos a conversar com as crianças sobre seu novo irmão. Introduzimos o assunto com cuidado, e acho que elas passaram a aceitar bem. Toninho queria que fosse um menino para fazer companhia em suas brincadeiras, mas dizia que se fosse uma menina, ele a protegeria como uma princesa. Já Melissa mostrou um pouco mais de ciúmes, mas Edgar disse a ela que ela iria adorar, que bebês eram pequenos como as bonecas que ela gostava de brincar.

Nós divulgamos a minha gravidez, após assinarmos a revogação do divórcio. Ainda bem, pois estava ficando difícil de esconder. Minha barriga já começava a aparecer, e eu tinha constantes mal estares. Na própria audiência do divórcio foi difícil disfarçar, eu estava enjoada e Edgar se mostrava preocupado. Me chamava de meu amor, perguntava se estava bem, me amparava, tocava e olhava para minha barriga. Acho que o juiz deve ter descoberto o que acontecia, e nem precisou pensar muito.

Depois disso pensei que só aproveitaria a minha gravidez e família em tranquilidade. Mas o Mundo nem sempre é tranquilo.

Faltava pouco tempo para o casamento de Isabel e Zé, quando ela descobriu que seu filho não havia morrido, e que minha mãe roubara e escondera o garoto. Meu sobrinho se chamava Elias. E a confusão foi geral, brigas, processos, o casamento foi adiado, Elias passou a viver com Isabel. Albertinho criou uma situação de insegurança na vida dela. E eu não podia acreditar no horror que minha mãe havia feito.

Mas mesmo com essa tensão, tinha momentos mágicos com a minha família. Meu bebê começara a se mexer na minha barriga. Quando Edgar o sentiu pela primeira vez, vi como seus olhos brilhavam. Ahhh, era tão bom tê-lo comigo nesse momento. Melissa e Toninho também pareceram se animar ao sentir o irmão.

Edgar e eu conversávamos muito no quarto. E às vezes, falávamos sobre o nome do bebê:

– Pedro – ele falou firme

– Augusto- eu brinquei

– Aurélio- ele colocou mais outro na roda

– E se for menina, meu amor?- perguntei sapeca

– Aí... vai ser a princesa mais linda do mundo. E poderia ter o nome da mulher mais bonita do Universo – ele falou aproximando os seus lábios dos meus

– Qual? – perguntei

– Qual poderia ser.. Laura ... Esse é nome mais bonito do mundo, da mulher mais bela do Universo – ele me beijou.

– Mas você não acha que uma Laura já é suficiente nessa casa? Pensa se ela tiver o meu gênio?- falei rindo

–É você tem razão, duas Lauras numa mesma casa causaria um incêndio no bairro – ele sorria encantador

Mas com o tempo, eu comecei a achar que havia alguma coisa estranha comigo e o bebê. Sentia muito movimento dentro de mim. O bebê parecia ser agitado demais. Minha barriga estava enorme. Edgar dizia que eu estava linda, mais bonita do que antes. Mas eu sabia que havia ganhado bastante peso, pelo menos, mais do que na gravidez de Toninho.

Pensei se deveria falar sobre meus anseios a Edgar, fiquei com medo de preocupá-lo com bobagem. Mas ele era o meu marido, e o pai do bebê, achei que deveria saber. Ele disse que não devia ser nada, que estava tudo bem. Mas percebi que ele se preocupou.

Nós fomos juntos ao médico, contamos o que acontecia e ele me examinou. Usou um instrumento estranho que parecia uma taça, e que segundo ele se chamava estetoscópio de Pinard:

– Está tudo bem com a senhora. E com o bebê, ou melhor, com os bebês. Parabéns vocês terão gêmeos ...- o médico falou e eu Edgar nos olhamos felizes, então ele continuou- Mas por serem gêmeos, o cuidado tem que ser maior, eles podem nascer antes do tempo, o parto pode ser mais perigoso, e deverá ser feito num hospital já que pode ser necessária uma cirurgia.

Edgar me olhou preocupado.

– Doutor... mas Laura e o bebê correm risco? – ele gaguejava

– Fiquem tranquilos, eu já fiz muitos partos nessa vida, já cuidei de grávidas de gêmeos antes. Vai dar tudo certo. E sua esposa é jovem e saudável. Seremos cuidadosos e não acontecerá nada de errado.

Quando voltamos para casa percebi que Edgar ainda estava abatido, ele estava com medo. O que era uma notícia feliz, pelo risco, tinha se tornado motivo de anseios. Eu também fiquei com medo pelos meus bebês. Eles eram tão desejados, nada de ruim podia acontecer.

A noite, Edgar me abraçou e foi muito carinhoso. Mas percebi que ele estava preocupado e achou melhor que não fizéssemos amor.

No dia seguinte, eu conversei com meu pai, que me tranquilizou, ele dizia que dois bebês eram um prêmio e deveríamos pensar só nisso agora, que o resto iria se ajeitar.

Eu encontrei com Padre João ao buscar Toninho. Começamos a conversar, ele era um educador como eu e sempre tínhamos ótimos papos. Acabei contando sobre os bebês. E ele me tranquilizou, disse que Deus não me daria uma carga que eu não aguentasse. Que era uma benção. Que daria tudo bem e ele rezaria por mim. E isso me tranquilizou, para mim, ele era um santo, um sábio, ele sabia o que estava falando.

Voltei para casa sem medo. Eu teria dois bebês saudáveis, daria tudo certo. Contei as crianças que eles ganhariam 2 irmãos e elas pareceram reagir bem.

Edgar ainda parecia preocupado e nós conversamos no quarto:

– Meu amor... Eu estou bem... os bebês também. Vamos pensar em coisas boas, nessas duas crianças não em ... – falei o abraçando

– Eu tenho medo de perder você, perder os bebês. E se...

– Tudo vai dar certo – falei enquanto o beijava- Vamos pensar só na felicidade, esse é um momento de pensar na vida.

– Certo – ele sorriu, parecia mais calmo.

Fui para cima dele, e comecei a tirar a sua roupa, ele se afastou um pouco:

– Eu preciso de você, Edgar. Preciso dos seus carinhos, do seu calor. Você não vai me negar isso, vai?- disse insinuante

Ele sorriu e veio até a mim, começou a tirar as minhas roupas e me tocar com amor.

Os dias foram passando e nós estávamos animados com a chegada dos bebês. Pensávamos em 2 nomes de meninos, 2 de meninas, um de menino e outro de menina. As opções eram muitas. Já tínhamos os berços, roupas e brinquedos. Edgar parecia estar mais babão do que nunca com a minha barriga enorme. E ainda estimulava as crianças a me mimar.

Para evitar que os bebês nascessem muito antes do tempo. Eu fiquei de repouso no fim da gravidez. Ficar tão parada era difícil para mim, mas fazia pelos meus filhos. Abri uma exceção apenas para ir ao casamento de Isabel e Zé, que haviam se acertado, e que seriam padrinhos de um dos bebês. Os outros padrinhos seriam Guerra e Celinha, que tinham acabado de adotar uma menina linda menina, Carolina.

Eu recebia algumas visitas, além de Celinha, Guerra e Isabel. Sandra aparecia sempre e me informava da escola. Meu pai também vinha e dizia o quanto estava feliz comigo grávida. Até minha mãe aparecia, mas nós quase não conversávamos para evitar brigas.

Eu comecei a sentir as contrações umas 2 semanas antes do previsto. Edgar estava muito nervoso, voltou várias vezes a casa, já que sempre esquecia alguma coisa. Mas ele conseguiu me levar ao hospital.

Quando eles me levaram, percebi o quanto Edgar ficou aflito. Ele queria estar comigo, mas eles não deixavam no hospital.

O médico falou que os bebês pareciam estar na posição correta, e que não precisaria de cirurgia. E após algumas horas de muita dor e força, nasceu o meu menino. Eu mal consegui vê-lo, pois ainda tinha outro bebê chegando, mas percebi que ele era carequinha o que me lembrou Toninho quando nasceu. Dezoito minutos depois nasceu a minha menina, a minha princesinha. Ela era cabeluda, tinha os cabelos escuros como os meus.

Depois de um tempo, Edgar apareceu com os bebês já limpos e embrulhados nos braços, o seu sorriso nunca fora tão belo, o seu olhar nunca me pareceu tão brilhante. Como ele parecia feliz. Eu apesar de cansada, também me sentia muito contente, realizada.

Ele ficou com a nossa princesinha nos braços, e colocou o nosso menino nos meus:

– Parabéns, meu amor. Eles são lindos, os bebês mais bonitos do mundo – ele se inclinou e me beijou, tomando cuidado para não machucar os bebês

– Eu não te falei que daria tudo certo- sorri satisfeita

– Você tinha razão. Agora eu estava pensando. - ele olhava para o nosso filho, enquanto ninava a nossa menina- Nós já temos um Antônio, o que acha de termos um Paulo?

– Você está sugerindo chamá-lo de Paulo?

– Sim. O que acha?

– Concordo – falei satisfeita

– Adoro quando você concorda comigo-ele disse contente

– E nossa princesinha? Qual nome você sugere? – perguntei

– Qual gostaria, meu amor?

– Eu gosto de Cecília. – disse direta

– Acho que ela tem cara de Cecília – Edgar falou enquanto olhava bem em seu rosto – Concordo!

– Adoro quando você concorda comigo – falei e ele me beijou novamente.

Depois que voltamos para casa, recebemos diversas visitas. Todos ficaram impressionados com os gêmeos. Meu pai, D. Margarida, Isabel, Celinha babavam nas crianças, e mesmo que elas ainda não fizessem nada, diziam que eram muito espertas. Isabel puxava o saco da sua afilhada, Ceci, enquanto Celinha puxava o saco do seu afilhado, Paulinho.

Mas o mais babão de todos era Edgar. Ele queria ficar com os gêmeos no colo sempre. Se encantava cada vez que eles mexiam o braço ou bocejavam. E eu dava bronca nele por causa dos mimos, pois nossos filhos tinham que se acostumar com o berço senão nós não dormiríamos a noite.

Toninho perguntava a todo o momento se eu precisava de ajuda. Ele já queria brincar com os irmãos, mas eu só o deixava pegá-los se eu ou Edgar estivéssemos por perto. Ele ainda era muito pequeno cuidar dos bebês sozinho, apesar de estava encantado com os irmãos.

Até Melissa parecia animada com os bebês, dizia que eles eram como duas bonecas, só que era melhor, já que eles se mexiam sozinhos.

O tempo foi passando, o cabelo de Paulinho começou a nascer. Eram loiros como o do pai e do irmão, só que os olhos eram castanhos como os meus. Já Ceci já era bem cabeluda, dava amarrar, fazer chuquinhas e colocar enfeites em seus cabelos castanhos. Os olhos eram verdes como o de Edgar. Ela seria uma moça belíssima, e já percebia que seria difícil controlar o ciúme do seu pai quando ela se tornasse uma moça.

Eu pude passar uns meses com meus gêmeos, amamentá-los, limpá-los, vesti-los, cantar para eles dormirem. A noite, nós fazíamos uma roda com todas as crianças da casa e Edgar contava histórias com seu jeito teatral. Os bebês ainda não entendiam suas palavras, mas sentiam a atmosfera e o movimento. Era tão bom me dedicar a família, aos meus filhos, ao meu marido. Mas esse tempo de dedicação exclusiva estava chegando ao fim. Eu tinha outros planos, eu queria trabalhar, ter uma vida além daquela, uma vida profissional.

Senti uma dor no peito no primeiro dia que voltei a trabalhar na escola e deixei meus bebês com a babá. Eu quase voltei no meio do caminho. Mas me segurei e consegui terminar meu turno. Retornei correndo para casa é verdade. E encontrei Ceci e Paulinho sorrindo, bem cuidados, pareciam me esperar. Os amamentei e os coloquei para dormir.

Depois que Melissa e Toninho também dormiram. Edgar e eu fomos para o quarto:

– Como foi seu dia, meu amor? – ele me perguntou enquanto cheirava o meu pescoço

– Foi bom, a escola está funcionando tão bem. Você precisa ver como as crianças estão aprendendo. E o seu dia, meu amor?

–Bom. Um monte de processos...- ele riu – Como nós éramos bobos, né?

– Bobos?

– Nós perdermos tanto tempo em brigas, ferimos o outro...

– Não lembra disso, meu amor.- falei colocando o dedo em sua boca

– Já esqueci – ele sorriu- A vida agora é tão boa. Tanta felicidade, tanta agitação, tantas crianças... Não lembro mais do passado.

– Eu também... E você vai continuar agindo como um bobo, perdendo tempo com palavras?- eu falei me insinuando e ele me olhou safado

– Claro que não – ele partiu para cima de mim e me beijou com pressa.

Mas Edgar tinha razão. Perdemos tanto tempo da nossa felicidade. Aquela vida com ele era tão boa, nós tínhamos a paz que sempre quis. Uma família linda. Amor e cumplicidade. Noites agitadas. Eu possuía uma carreira e já começava a ganhar reconhecimentos. Aquilo parecia um sonho. Só esperava nunca acordar dele.


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Notas finais do capítulo

Então pessoal. Esse é o final, espero que tenham gostado,eu vou sentir muita falta de escrever e dos comentários de vocês. Foi muito bom, obrigada... E ahh, não é porque é o último capítulo que não precisam comentar. Gostaria muito de saber a opinião de vocês e quem sabe me estimule a escrever outras histórias. Então comentem, tá? Já estou com saudades Laured aqui kkk. Beijos