Por Laura

Eu estava aliviada. O médico dissera que estava tudo bem comigo e com o bebê. Que a dor que sentira era normal. Mas quando entrei em casa percebi que alguma coisa errada estava acontecendo. Matilde cuidava de Melissa e parecia triste. Não via meu filho e Edgar em lugar algum:

– Aconteceu alguma coisa, Matilde?

– Ahhh. D. Laura as crianças brigaram. Melissa teve um ataque de asma e seu Edgar colocou o Antônio de castigo – um medo tomou conta de mim, eu sabia que não deveria ter saído, sabia que algo assim poderia acontecer se eu estivesse longe.

– E onde que ele está? – perguntei preocupada

– Seu Edgar está no escritório e Antônio no quarto.

Não pensei duas vezes e subi as escadas. Abri a porta do quarto e vi meu menino chorando, ele quase não chorava e raras vezes o vi triste daquele jeito, o abracei:
– Meu amor, o que aconteceu, conta para a mamãe...

Ele se recuperou um pouco e começou a falar. Disse que Melissa vinha implicando com ele há algum tempo. Que o empurrava, o xingava e as vezes batia nele. Ele não reagiu no início, já que ela era a irmã dele e uma menina. Mas eu disse que ele podia. E naquele dia, ele resolveu não ficar parado, gritou com ela e a empurrou. Ela passou mal, e o Edgar ficou bravo com ele, mandou que pedisse desculpas a Melissa. Mas que ele não pediu já que ela tinha começado, e ele só se defendeu. Assim, Edgar o colocou de castigo. Ele ainda falou que não queria que Melissa passasse mal, mas que ela que tinha começado e ele não pediria desculpas. Meu filho era determinado, não podia negar isso.

Eu fiquei furiosa com Edgar. Ele não soube lidar com as crianças, e prejudicara o meu filho. Meu menino estava chateado, se sentindo injustiçada pelo pai que ele acabara de conhecer. Sabia que por ter sido vítima do pai o efeito seria maior.

Ele se aninhou em meus braços e fazia carinho nele quando percebi, que havia uma pequena mancha vermelha na manga da camisa, a desabotoei e vi o que parecia arranhões, não eram muitos, mas notei que alguns eram mais antigos e tinha um mais recente, mas que já parara de sangrar.

Aquilo me deu mais raiva ainda. O levei para baixo e pedi que Matilde o olhasse e que não deixasse as crianças se aproximar. Melissa se passava por inocente. Mas eu conhecia o meu filho. Sabia que ele não mentia. Ela estava aprontando.

Fui falar com Edgar no escritório. Quando entrei percebi que ele estava abalado, mas a raiva me dominava:

– Edgar, me diga o que aconteceu? Você colocou o meu filho de castigo...

– Laura ... ele empurrou a Melissa , ela passou mal e ele não pediu desculpa. Tinha que fazer alguma coisa.- ele falou triste

– Que tal escutar o seu filho... Você sabe o que aconteceu?

– Melissa disse que Antônio bate nela.

– E Toninho disse que ela bate nele, que ela começou e que ele só se defendia. Mas você preferiu acreditar nela!

– Meu amor ... eu não sei em quem acreditar, para mim nenhum deles são capazes de agir de maneira tão ruim. Acho que por serem crianças estão imaginando coisas. Não deve ter acontecido algo assim. Mas o empurrão eu vi, e Antônio tinha que pedir desculpas – ele preferia não enfrentar a realidade.

– Edgar... eu não conheço a Melissa, mas conheço o meu filho. Sei que ele não estava mentindo ou imaginando coisas. Ele não é disso, ainda mais no estado que o encontrei hoje. Ele estava chorando... Toninho só chora quando a dor é muito grande, ele acha que meninos não devem chorar, tem que ser corajosos. E a dor que ele sentia era enorme já que havia sido injustiçado pelo próprio pai! – falei firme e acima do meu tom habitual

– Laura... – ele gaguejava – a gente não sabe o que aconteceu... mas vamos resolver.

– É vamos resolver... punindo o meu filho e deixando Melissa escapar. Acreditando nela e não e nele. Não Edgar, não. Você só atrapalhou as coisas. – ele me olhou triste, parecia perdido.

–Mamãe, eu quero ir embora daqui. Me leva para a casa da Tia Isabel – falou meu filho triste, ele havia chegado sem percebermos, não deveria ter nos visto discutindo daquela maneira.

– É claro, o que eu não faço por você? – falei recuperando a calma e o abraçando, Edgar nos olhava assustado , mas ficou calado. O carreguei no colo e o levei até Edgar – Toninho, deixa a mamãe mostrar seu braço para o Edgar? – dobrei a manga da camisa dele e Edgar viu os arranhões- Agora vai até Matilde e pede para ela pegar uma roupa sua pois nós vamos para a casa da Tia Isabel.

Toninho saiu e Edgar me olhou desesperado. E vê-lo daquele jeito começou a abrandar a minha raiva:

– Laura ... você não vai embora, né? Não agora, não com o bebê e o Antônio – me aproximei dele.

– Meu amor ... Calma ... não é bem isso. Meu filho quer ir, ele não se sente seguro aqui. E eu também não sinto que ele está seguro. Ele está triste, mas vai melhorar. Não estamos ...- eu tocava em seus rosto.

– Você disse que não afastaria mais meu filho de mim.

– Edgar, eu não estou afastando. Provavelmente é apenas um dia. Você sabe onde nós estaremos. Mas Toninho pediu, ele precisa disso. Eu tenho que ir- falei calma e ele me beijou

– Meu amor ...fica, vamos resolver as coisas. Você vai ver. –ele pediu intenso depois que encerramos o beijo

– Não ... você está meio perdido. Não tem condições de resolver nada agora. Vai ser bom, vai dar para colocar as ideias no lugar. Aliviar as emoções do momento. Nós vamos, mas voltamos.- falei e fui embora

Deixei Edgar arrasado, isso partia o meu coração, mas parecia ser o melhor. Precisávamos colocar as ideias em ordem. O Edgar, principalmente precisava disso. Não podia deixar machucarem meu filho daquela maneira. Tinha que pensar nele e no novo bebê que seria mais desprotegido do que ele. Um tempo seria bom, talvez precisássemos repensar certas coisas, talvez tivéssemos tomado algumas decisões precipitadas.