Por Edgar

Eu estava visitando a minha mãe. A verdade é que eu não pretendia demorar muito, já que Laura e Antônio ficariam em minha casa essa noite.

Ainda não havia contado a ela sobre meu filho, nem sobre Laura. Pensei que seria melhor falar depois que Antônio soubesse, e quando Laura e eu estivéssemos numa situação menos complicada. Nossa relação havia melhorado nos últimos dias, mas ainda seria difícil, até mesmo um pouco vergonhoso, explicar para Dona Margarida o que acontecia. Entretanto nossa conversa tomou um rumo inusitado:

– Estava pensando, você anda tão sozinho, filho. Eu não estou desmerecendo a Melissa. Você sabe o quanto amo a minha neta. Mas eu queria que você formasse uma família normal. Com esposa e filhos – eu pensei em Laura, mas não queria falar sobre a nossa situação, então simplesmente respondi.

– Eu não posso oferecer um casamento a uma mulher, mãe. Você sabe!

– Eu sei, mas e se ela fosse uma mulher que já realizou o sonho de se casar, mas acabou tendo o seu sonho interrompido... Eu tenho uma amiga viúva ... jovem ...bonita. Gostaria de te apresentar. Talvez um almoço, ou ....

– Não, mãe. Eu sei que ... mas não. - não sabia o que dizer a ela, então pareci indeciso

– É muito difícil para uma mãe ver um filho sozinho, Edgar. Você tem que seguir a vida. Sei que Laura voltou ao Rio, mas isso não muda nada. Você tem prosseguir. Não quero que se torne um velho solitário. Estou pensando em seu bem – ela me falava compreensiva, mas só de pensar em outra mulher entrando na minha vida naquele momento complicado, fiquei aflito, isso estragaria tudo

– Não, mãe! Por favor... não.... Isso só vai ... – falei nervoso, alto, gaguejando, não deveria ter agido assim, mas não consegui manter a tranquilidade.

– Calma, Edgar. Não precisa ficar dessa maneira – ela me olhou assustada, nunca a havia respondido daquele modo antes.

– Desculpe ... –estava me acalmando -Acho que é melhor te contar o que está acontecendo. Eu queria manter em segredo até resolver as coisas. Mas talvez seja melhor te contar... Laura e eu temos um filho ... Antônio.

– Edgar... um filho?

– Tem 5 anos. Ele é lindo, mãe, esperto, um garoto maravilhoso. – falei babão

– Que ótima notícia! –ela estava feliz - E você e Laura voltaram?

– Essa é uma pergunta difícil. Eu estou me aproximando do meu filho, ele ainda não sabe quem sou, Laura e eu decidimos esperar um pouco para contar... Tenho até um bom relacionamento com ela. Mas é que ao saber que Laura escondeu meu filho de mim por tanto tempo surgiu certo ressentimento entre a gente.

– Então vocês não estão juntos? – ela me perguntou confusa

– Ai ... isso é difícil de falar ... ainda mais com a própria mãe...- eu estava envergonhado – É que ...na verdade ... estamos juntos ... mas ao mesmo tempo não estamos – ela me parecia mais confusa – Como posso dizer... Bem, nós temos uma vida conjugal, mas não falamos sobre isso, não planejamos o futuro, quase ninguém sabe ... Entendeu?

– Acho que sim – ela parecia surpresa, mas não estava chocada.

– Então, mãe, a situação é essa.

– Agora me diga por que estão vivendo ... como posso dizer...- ela parecia indecisa- essa espécie de caso?

– É que ... estávamos brigando muito e não queríamos nos desentender por causa do Antônio. Não conversamos sobre certos assuntos polêmicos. Temos vários problemas, mas não falamos sobre eles. Eu carrego essa mágoa por ela ter escondido o nosso filho e ... –ela me interrompeu

– Me diga uma coisa. Você ama a Laura?

– Sim... muito.

– Ama o filho de vocês?

– Claro! Ele é maravilhoso .. mãe. E é meu filho!

– Então porque não resolvem as coisas de uma vez? Por que não superam os seus problemas? Porque não dão uma família normal a ele?

– É que ...

– Edgar, você está complicando o que não é tão complicado. Resolva as coisas com a Laura. A perdoe, o que ela fez foi grave, mas ela devia está querendo fazer o melhor. E ela te deu um filho. Um menino maravilhoso como você próprio disse... Vocês estão perdendo momentos preciosos de felicidade – ela falou tão sensata

– Você tem razão, D. Margarida. Eu e Laura vamos nos acertar...– dei um beijo nela e me preparava para sair

– Filho?

– Sim – me voltei para ela

– Traga o meu neto aqui ... logo. Quero muito conhecê-lo.

– Claro- sorri e sai

Eu estava feliz, esperançoso. Minha mãe me dera o último empurrão que precisava. Minha situação com Laura já estava melhor, mas a gente tinha que resolver as coisas de uma vez.

Andei pelas ruas avoado, e acabei chegando em casa mais tarde do que pensava pois já era noite. Encontrei Laura sentada sozinha no sofá:

– O Antônio?

– Ele dormiu há pouco. Estava cansado. –ela tinha um brilho que não conseguia explicar

– É uma pena, queria ter visto ele antes de dormir. Acabei ficando mais tempo do que pensava na casa da minha mãe- falei sorrindo

– Sem problemas. Amanhã você o verá ... Edgar, eu andei pensando... – ela parecia receosa - A situação está bem melhor, vejo o quanto você e Toninho estão tão próximos. As coisas andam tão bem ... ele e Melissa parecem estar se entendendo. Acho que está na hora de contar a ele a verdade, contar que você é o pai dele!

– Laura .... – meu coração começou a bater acelerado, eu desejava isso há tanto tempo– é maravilhoso ... Você tem certeza? – perguntei para confirmar enquanto sorria

– Tenho, já está na hora... – ela tinha um sorriso nos lábios, parecia confiante, e eu não podia acreditar, era tanta felicidade , o imaginava me chamando de pai, mas então ela continuou – Tchau, Edgar. Boa noite. – e a minha felicidade começou a ir embora enquanto Laura se dirigia a porta

– Laura ... você não vai ficar? – eu já estava aflito

– Eu não te disse? – ela sorriu, mas percebi um pouco de melancolia em seus olhos – Toninho não pediu que eu ficasse hoje... ele falou que eu podia dormir na casa de Isabel. Ele confia e gosta de você a ponto de não precisar mais de mim aqui.

– Não ... Laura ... – fiquei desesperado, logo agora, era como se ela estivesse me deixando novamente.

– Edgar... vai ser melhor assim. O que está acontecendo entre a gente... precisamos pensar nisso. No que vamos fazer a seguir, não dá para ficar desse jeito. Essa distância vai ser boa. Poderemos colocar as ideias no lugar e decidir se queremos ficar juntos ou não. É o melhor, você vai ver – ela falava suave para me acalmar, mas suas palavras só me atormentavam mais, estava saindo, mas peguei em seu braço, me posicionei a sua frente e olhei bem fundo em seus olhos.

– Fica!- pedi com intensidade

–Edgar... É melhor não. A gente não pode continuar assim. – ela estava decidida, mas percebia que ela não queria ir.

– Eu não preciso de distância para saber o que quero fazer. Eu te amo, Laura. E quero ficar com você. Você não me ama? – falei firme, e estava com muito medo do que ela diria.

– Eu te amo, Edgar ... Mas tem os nossos problemas ... – eu percebia que lágrimas começavam a se formar em seus olhos

– Então... fica! Os problemas nós resolvemos juntos, prometo! Meu amor... fica – eu praticamente suplicava

– Você não sabe o quanto queria ouvir isso – sua expressão havia mudado, ela sorria.

– O que? – perguntei mais aliviado e já sorrindo

– Meu amor! –ela quase sussurrou

– Então você vai ouvir muito de agora em diante, meu amor – eu explodia de felicidade.

– Meu amor.. –ela disse e a beijei vorazmente

A sensação era indescritível. Eu não podia acreditar, era bom demais. Não havia mais aquela barreira que nos separava, nós havíamos colocado em palavras o que sentíamos. Era libertador, era fabuloso. Eu não podia ser mais feliz.

Depois que interrompemos o nosso beijo. Eu a tomei em meus braços e subi as escadas com ela no colo... E todas as nossas roupas já estavam jogadas no chão poucos instantes após chegarmos ao quarto...