Laura E Edgar - Uma Outra História escrita por Cíntia


Capítulo 33
Acontecimentos


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada pelos comentários anteriores, eles me animaram tanto que até escrevi um capítulo maior. Esse capítulo é dedicado a todas que comentaram.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/342481/chapter/33

Por Laura

Edgar ficou bem chateado após a briga de Toninho e Melissa. Eu entendia a sua frustação, ele queria que os filhos fossem amigos. Conversei com meu menino, que mesmo assustado, me contou o que acontecera. Eles estavam brincando, mas Melissa se irritou com a brincadeira e gritou com ele. E ele acabou gritando de volta. Ele estava envergonhado, pois fizera aquilo com uma menina, e meninos não deviam ser bravos com meninas. Eu o tranquilizei, essas coisas aconteciam. Eu e seu pai depois de tantas brigas erámos provas disso, mas claro que não nos citei como exemplo.

Eu e Edgar conversamos, eu disse que tudo daria certo, que as crianças acabariam se acertando, mas a verdade é que estava com certo medo disso, uma preocupação ... não sabia como a atitude de Melissa afetaria o meu filho. E apesar de não comentar com Edgar, algo me dizia que havia mais coisas nessa história.

Decidimos fazer tudo com mais calma. Tentar essa aproximação deles sem forçar nada. Íamos esperar uns dias passar e depois eles brincariam novamente.

Em outro momento, acabei tendo uma boa surpresa ao ler o Correio da República, o talentoso Antônio Ferreira havia escrito uma reportagem sobre a violência contra as mulheres. Ao lê-la, parecia que fora escrita para mim, era como se ele soubesse o que acontecera comigo. Eu queria falar com ele e agradecer, pensei em comentar com o Edgar sobre isso. Perguntar se ele conhecia o Ferreira. Mas me sentia pouco a vontade de conversar tais assuntos e não falei nada.

Certo dia, eu estava fazendo uma pesquisa para uma matéria, estava próxima ao gabinete do meu pai. Quando terminei, resolvi fazer uma visita. Seria bom conversar com ele para descobrir se o humor da minha mãe já tinha melhorado, pois soubera que ela ficara arrasada depois da revelação do divórcio. E também queria saber como estava sendo a convivência dela com o Toninho, já que eu deixava Tia Celinha ou meu pai levar meu filho de vez em quando para ver a avó.

Como era de se esperar, a Baronesa já se recuperara. Mas continuava inflexível, para a sociedade ela havia me renegado e não teria contato comigo. Já com meu filho, ela parecia ser muito carinhosa, ele gostava das visitas, e segundo meu pai ela adorava o neto.

Depois ele me perguntou sobre a minha procura de emprego, sabia que havia sido despedida da biblioteca, mas não que fora atacada. Achei melhor ele não ter conhecimento disso.

Contei que não consegui nenhum emprego em uma escola por ser divorciada, mas estava fazendo uns trabalhos que davam para me manter:
– Se é assim, filha, por que não trabalha comigo? – ele falou sorridente

– E eu faria o que? – estava levando na brincadeira

– Não sei... Arrumo uma coisa para você fazer.

– Pai, eu não me sentiria bem de você inventar uma função para me dar um emprego. – disse decidida

– Não é bem assim, Laura. Eu quero ajudar, mas não seria algo inventado. Na verdade, pensei numa coisa agora. Estou trabalhando num projeto.

– Um projeto? – ele havia me deixado curiosa

– Como médico, sempre me senti mais próximo de projetos de saúde. Mas depois que você teve dificuldades em pagar uma escola para o meu neto. Eu pensei em quantas crianças pobres e com potencial devem ficar sem estudar, pois seus pais não tem dinheiro. Um amigo editor até me passou um manuscrito com ótimas ideias educacionais. Ele ficou entusiasmado com o texto e pretende publicá-lo. Mas a verdade é que também gostei bastante das ideias, e estou começando um projeto para criar uma escola. Devo conseguir umas verbas do governo. Precisaremos de alguns doadores também. Mas acho que conseguiremos fundar essa escola daqui a algum tempo. E como você é professora, filha, pode me ajudar a erguê-la, a escrever detalhadamente como seria. A fazer um plano, e depois até dirigi-la ou ministrar aulas.

– Pai ... agora você me impressionou é uma ideia maravilhosa. – mas uma curiosidade ainda me guiava – Quem escreveu o tal manuscrito?

– Um jornalista, ele ganhou um concurso falando sobre Educação e também escreve artigos para o jornal daquele amigo do Edgar ...

– Paulo Lima –não deixei ele terminar, meu pai estava falando de mim, e fiquei radiante

– Sim, você o conhece?

– Muito bem ... Prazer, eu sou Paulo Lima- falei sorrindo.

Meu pai ficou extremamente surpreso e orgulhoso. E depois conversamos animados sobre o plano da escola. Era uma ótima ideia, e acabei aceitando o emprego que ele me propunha. Ao voltar para casa, conversei com Isabel sobre isso e ela também ficou animada. Propôs que a escola se localizasse próxima ao morro da Providência para poder alcançar as comunidades mais pobres daquela região. E disse que apoiaria o projeto, inclusive seria doadora.

No dia seguinte , eu e Edgar deixamos Toninho com Celinha e saímos para ver escolas para o nosso filho. Ele tinha selecionado algumas, que segundo ele, pareciam ter uma visão mais liberal.

Na primeira nos apresentamos como pais divorciados e o diretor nem pensou em aceitar Toninho. Na outra o diretor nos escutou e depois disse:

– Nós podemos aceitar o garoto, mas temos uma condição. Para nos resguardar e ao menino. Pedimos que o senhor ou outra pessoa o traga e busque. A senhora não poderá mais aparecer aqui. – ao ouvir aquilo, uma raiva começou a surgir em mim, mas me contive, pois precisava pensar, não queria que meu filho ficasse sem escola, eu fiquei calada, mas Edgar disse impetuoso

– Sinto muito. Mas essa não é uma condição aceitável. Não é errado ser divorciada. E não acho que meu filho deva estudar em uma escola que impõe isso a mãe dele.

Nos levantamos e saímos. Eu sabia que Edgar aceitara uma condição parecida na escola de Melissa em relação à Catarina. Mas em relação a mim, ele não aceitara, me defendera , e fiquei admirada. Quando já havíamos saído, falei com ele:
– Edgar, você tem certeza? Não quer pensar mais? Talvez a gente não consiga uma escola para o Antônio.

– Tenho, não quero uma escola que não te aceite, Laura. Senão é capaz de acontecer a mesma coisa que na outra. E isso seria intolerável, não vou deixar que nada daquilo aconteça novamente com você e o nosso filho. – ele falou firme

– Você tem razão. É que eu tenho medo de não conseguirmos uma escola.

– Ainda temos outra para ver hoje. Tenho certeza que dará certo nessa – ele falou confiante e sorrindo, aquilo acalmou meu coração.

Mas quando chegamos ao lugar, notei que era um colégio de Padres:

– Edgar, você tem certeza? Se as outras escolas leigas não nos aceitaram, essa nos aceitará?

– Vamos tentar. Eu tenho uma intuição sobre essa. E se não conseguirmos vai ser só mais uma recusa - ele era muito otimista, ainda acreditava na demais na bondade humana.

Nós entramos , e tive a sensação de que talvez Edgar estivesse com a razão, os padres me pareciam muito simples, não eram daqueles que tinham adornos de ouro, usavam vestes humildes e cruzes de madeira. E até notei algumas crianças mulatas. Será que ainda havia esperança para a humanidade?

Nós fomos recebidos pelo diretor, o padre João, ele era um home idoso, tinha o cabelo todo branco, e até podia se notar uma pequena corcunda, mas quando olhei em seus olhos, vi uma grande disposição, um brilho, ele também tinha um belo sorriso, o homem parecia um santo.

Conversamos com ele. Falamos sobre o nosso filho. E sobre sermos divorciados, ele nos escutou a até o fim e disse:

– Antônio será muito bem recebido, ele é muito novo, mas como já sabe ler e escrever, precisaremos conversar com ele para saber em qual classe encaixá-lo. Mas poderá começar logo se você quiserem. – Edgar e eu sorrimos, era bom demais.

– Padre, obrigada ... – eu estava emocionada – Você o aceitou de maneira tão completa.

–E por que não aceitaria? Ele deve ser um ótimo menino. Jesus já dizia que as crianças tem o reino dos céus. Elas são inocentes e não podemos recusá-las por causa do que outros fizeram. Na verdade, até mesmo julgar seus pais é complicado. Quem pode julgar é somente Deus. Quem não pecou atire a primeira pedra, né? –ele sorriu- Vou dizer mais uma coisa para tranquilizar a senhora ... aqui na escola temos filhos naturais e outros filhos de divorciados. Claro que eles não usam uma etiqueta para indicar quem é qual, quem é natural ou legítimo, quem é filho de divorciados ou não. Mas é de conhecimento geral que há crianças que tem situações diferentes em suas origens. Procuramos ensinar a todos os meninos a aceitar as diferenças, a serem tolerantes.

– E o senhor nunca teve problemas com isso? Algum pai? – perguntou Edgar impressionado

– Eu já cheguei numa época da minha vida, filho, onde já me cansei da hipocrisia. A verdade é que tenho uma idade e obras respeitáveis, poucos se atrevem a contestar as minhas ideias. O que eu quero é educar os meninos, sempre achei que o caminho para melhorar o mundo seria esse. Educar crianças para elas construírem um mundo melhor, um mundo de paz. Claro que já veio pai reclamar dessa minha aceitação, mas é o que sempre digo, quero fazer do filho dele um ser humano melhor, tolerante, pensante. Se ele não concorda comigo, será triste, mas pode colocar o filho em outra escola.

Eu saí me sentindo leve. Padre João era mesmo um santo. E havia encontrado a escola ideal para o meu filho. Em poucos dias Toninho passou a frequentar o colégio e parecia muito feliz lá.

Entretanto, outra coisa começou a me incomodar. Eu estava na casa de Isabel pensativa no sofá, ela se sentou ao meu lado e falou:

– Algum problema, Laura? –olhei para ela sem disfarçar e ela continuou – Com Edgar?

– Mais ou menos.

– Como anda essa relação maluca de vocês? – ela riu

– Você sabe, né? Nós temos passado as noites juntos quando o Toninho dorme na casa dele. -falei meio envergonhada

– É, e ele tem dormido bastante lá – ela riu e eu não me contive, ri também

– Mas é estranho, a gente não conversa sobre isso, não falamos sobre os nossos sentimentos. Ele não me chama mais de Meu amor, e começo a sentir falta dessas coisas.

– Mas isso irá se resolver, Laura. Você verá. Nessas noites, vocês deixam os sentimentos guiarem vocês. Não falam, mas agem por eles. Ele voltará a te chamar de meu amor.

– Será, Isabel? Edgar se declarava tanto antes, às vezes, eu penso se ele ainda me ama.

– Edgar, te ama, Laura. Eu vejo no modo que ele te olha.

– Ele me deseja. As nossas noites são provas disso. Mas eu começo a duvidar se depois de descobrir sobre Toninho a mágoa não corroeu aquele amor que ele sentia por mim. Se ele não está comigo por comodismo, pelo seu desejo e por tentar dar uma família ao nosso filho. Eu não quero que ele fique comigo por desejo ou por Toninho. Tem que ser por amor.

– Tira isso da sua cabeça, amiga. Edgar te ama, eu sei, logo ele voltará a dizer isso.

– Espero, Isabel. Espero... ainda mais agora – deixei escapar

– Ainda mais agora?

– Nada... deixe para lá, é uma bobagem, uma coisa que venho pensando.

– Laura ... fala! – ela estava insistente

– Minhas regras estão atrasadas ...

– Você está grávida? – ela me perguntou animada

– É só uma leve suspeita. Não tenho nenhum outro sintoma. Só estou um pouco atrasada mesmo. Mas não deve ser nada.

– Amiga, essa é uma ótima notícia. O Edgar vai ficar muito feliz!

– Isabel, ainda não dá para saber. Se eu estiver... vou amar esse filho como amo Toninho, mas não acho que é o melhor momento para isso acontecer, eu e Edgar ainda temos muitos problemas. Eles não vão se resolver com uma gravidez minha.

– Ahhh, vocês vão se resolver. Vai dar certo, Laura. E se... você estiver grávida, sei que será algo a mais para coroar a felicidade. Mas você também não evitou, né?

– E funcionaria com a gente? Se eu conseguisse resistir a ele, não estaríamos vivenciando essas noites. Eu até cheguei a pensar na possibilidade de engravidar, mas é que não achei que aconteceria agora. A primeira vez que engravidei demorou tanto.

– Ahhh. Laura... você sabe que só precisa de uma vez , né, amiga? Foi assim com o Antônio, não?

– É ... – eu sorri - mas é que com ele, eu sempre vi como uma recompensa, um milagre, algo para me trazer felicidade depois de tanta tristeza que vivera.

– Bem... a concepção não foi santa. Então te garanto que não foi milagre... – ela riu - E se você estiver grávida agora, tenho certeza que dará certo. Estou torcendo por isso. E já estou me candidatando a ser madrinha do bebê. – ela deu uma risada e me abraçou


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então aconteceram tantas coisas... né? Gostaram da ideia da nova escola de Toninho? Gostaram de Assunção se envolver com o projeto da Escola? E o mais importante, acham que a Laura está grávida? kkk
Espero que tenham gostado. E que comentem, nem que seja para me animar a escrever mais.