Laura E Edgar - Uma Outra História escrita por Cíntia


Capítulo 26
Desafios


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada pelos comentários. Eles me fizeram escrever esse capítulo. Muito obrigada mesmo, mas o meu agradecimento especial nesse capítulo vai para Roberta Kress, que recomendou essa história.



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Por Laura

Eu ainda lembrava do ataque que sofrera, daquele homem nojento me batendo, querendo me tocar, de como me sentira … como era ultrajante. Mas eu tinha que continuar... eu iria continuar.

Edgar passara uma noite comigo, claro que não fizemos nada, basicamente só dormimos mesmo, mas ele fora carinhoso, me consolou, tentava me animar. Eu pude ser abraçada e conversar com ele sem me lembrar daquela mágoa. Ser embalada por ele, precisava dele e ele estava lá por mim. As vezes, fechava os olhos, e ainda podia me sentir em seus braços, uma sensação aconchegante, uma paz.

Mas eu sabia que essa noite não significava uma reconciliação, era um momento que ele passou por cima dos nossos problemas, e me apoiou, mas esses problemas ainda existiam e nos separavam. De qualquer forma, sabia que podia contar com ele.

Fiquei em casa no dia seguinte ao meu ataque. Edgar me convencera, mas a verdade é que não conseguiria voltar aquele lugar, e olhar os rostos dos meus colegas tão cedo. Só de pensar em ver aquele homem novamente me causava náuseas.

Além do mais, meu rosto estava inchado e machucado por causa das pancadas que levara, e o meu corpo todo dolorido, e cheio de hematomas. Me doía sentar, mexer ... mas a verdade é que essa dor era bem menor do a que vinha da minha alma.

Isabel e Celinha me ajudavam, me mimavam até. Consegui ver meu filho, ele já devia estar ficando assustado com tanto tempo sem me ver. Disse que sofrera um acidente, eu gostava de falar a verdade a ele, mostrar o mundo do jeito que era. Mas esse tipo de coisa, ele ainda era muito pequeno para entender e enfrentar. Ele não quis ir a escola, queria ficar comigo, e eu deixei, seria bom passar o dia todo com ele.

Enquanto isso pensava nos meus próximos passos. Tentei fazer uma denúncia na delegacia, Edgar como advogado me acompanhou. Mas o delegado me dissuadiu, disse que era a palavra de um funcionário antigo e respeitado da biblioteca, um pai de família, contra a de uma divorciada e uma faxineira negra. Que não daria em nada e só me faria sofrer mais. Eu me sentia injustiçada, e vi também o quanto isso irritou Edgar.

Mas a verdade é que ele estava sendo sensato, a palavra de uma mulher não tinha o mesmo valor do que a de um homem, ainda mais se elas eram divorciadas ou negras. A minha esperança era conversar com Seu Assis, apesar de mais velho, ele tinha uma mente aberta e me parecia um bom homem. Ele não poderia deixar Cândido trabalhar mais lá.

Passei o fim de semana assombrada por todos esses eventos, e até chorei um pouco. Mas pude me distrair com meus amigos, meu filho, até mesmo com Edgar que apareceu mostrando sua preocupação, mesmo que ainda pudesse perceber a sua mágoa.

Na segunda- feira, acordei decidida. Coloquei uma maquiagem mais pesada tentando esconder o machucado do meu rosto, não deu para esconder completamente, mas aliviou o aspecto. E cheguei a biblioteca um pouco mais cedo do que o habitual.

Ao entrar lá, comecei a me lembrar do que acontecera, mas me forcei a afastar essas lembranças. E fui conversar com seu Assis. Ele me olhava preocupado e disse complacente:

– Você está bem, Laura?

– Estou me recuperando, Seu Assis.

– É bom saber disso – ele sorriu

– O senhor sabe o que realmente aconteceu? - falei séria

– Sim, estou ciente, encontrei Cândido desacordado naquele dia. Sinto muito, Laura.

– Obrigada. O que o senhor pretende fazer?

– Laura … -o seu olhar ficou sério – você me parece uma ótima mulher, e é uma funcionária exemplar. Mas …

– Mas o que, Seu Assis? - estava ficando irritada, ele me olhava triste

– Cândido é um funcionário antigo... ele é um cafajeste na verdade, e o que mais queria era vê-lo longe daqui. Mas tem os seus padrinhos, eu não posso demiti-lo. E ele também tem filhos, crianças inocentes, não quero que elas passem necessidades. Já você é uma funcionária nova...

– Deixa eu ver se entendi … ele agiu errado, mas é um funcionário antigo, e você não pode demiti-lo por causa dos seus padrinhos e pensando no bem dos filhos dele? Mas eu que não fiz nada de errado, você demitirá sem pensar que também tenho um filho que poderá passará necessidades?- estava nervosa, mas falei de maneira firme, e de certa forma serena

– Laura … há outras questões envolvidas! Eu não quero falar para não te abalar mais!

– Pode falar, eu aguento ... e prefiro assim.

– Tá bom... Vou falar... Desde que descobriram sobre o seu divórcio alguns funcionários, leitores e até doadores vieram reclamar comigo. Não gostam da sua presença aqui, dizem que uma mulher divorciada não condiz com um lugar de respeito. Eu não compactuei com a opinião deles, tanto que a mantive no emprego. Veja bem, eu não sei os motivos do seu divórcio, nem preciso saber, não gosto de interferir na vida dos meus funcionários. Para mim você é um excelente moça, distinta, e uma ótima profissional. Mas também há aquele rapaz que aparece de vez em quando. Não falei nada, mas dá uma impressão ruim.

– Que rapaz?

– Um alto e loiro.

– O Edgar, mas ele é … -ele me interrompeu

– Como disse, não tenho o direito de interferir na sua vida. E parece que ele realmente gosta de você. Já que deu uma baita lição naquele crápula do Cândido.

– Lição? Como assim? - eu não entendia

– Ahhh, você não sabe … - ele começou a sorrir como se sentisse realizado – Ele veio aqui e deu uma surra fenomenal no cafajeste. Cândido está no hospital, e deve ficar algumas semanas sem trabalhar.

– Não, não sabia. - sei que era estranho pensar algo assim, mas me senti um pouco melhor, Edgar tinha feito isso por mim, era tão... tinha dado uma lição naquele homem... eu estava admirada

– Mesmo assim, Laura, você é uma mulher divorciada, e já tem isso contra você. Não deve ficar andando com rapazes assim. Sei que é de uma família rica. Por seu filho... Por você … reaproxime dos seus parentes, eles não lhes deixarão passar necessidades, e se for possível até tente se reconciliar com seu marido. Vai ser melhor. Digo isso apenas como um conselho, a opinião de alguém mais velho.

– Obrigada. É que as coisas não são bem assim … Mas entendo que você teve boa vontade . E aprecio isso. Você é um homem bom, mas penso que se os homens bons continuarem agindo assim o mundo nunca será um lugar melhor! – falei de maneira suave, ele me olhou envergonhado e voltou a falar

– Hummm ...Aqui está seu pagamento pelo mês todo, você não precisa mais voltar, tire esse tempo para pensar. A verdade é que mesmo sem Cândido, penso que não estaria segura trabalhando, há outros homens que poderiam tentar o mesmo– ele me entregou um envelope – Eu sinto muito por fazer isso e te desejo boa sorte - ele parecia sincero

Eu sai daquela biblioteca de cabeça erguida, mas antes procurei Isaura, a agradeci mais uma vez, me despedi, disse onde ela poderia me encontrar, e que poderia me procurar a qualquer hora, ainda mais se ela precisasse de algo.

Resolvi caminhar um pouco para pensar. Estava desempregada e apesar de ser um alívio não precisar mais pisar naquele lugar, não me agradava ficar sem emprego.

Quando voltei para casa, Toninho já tinha ido para escola. Mas um tempo depois recebi um telefonema Pediam que fosse lá, meu filho havia brigado, e isso me deixou muito preocupada:

– O que aconteceu? Meu filho não é de brigar. - falei ao chegar lá, tinha muito medo pois já imaginava o motivo da briga

– D. Laura, uns garotos mais velhos implicaram com ele, e ele acabou reagindo – me disse o diretor do colégio que também era padre

– Ele está bem?

– Sim. Não se machucou, apartamos a briga a tempo – isso me tranquilizou um pouco

– Mas foi bom a senhora ter vindo aqui. Nós precisamos conversar sobre outro assunto – ele foi direto

– O que? - perguntei e ele me parecia constrangido

– É que ... quando a senhora matriculou o Antônio não informou que era divorciada – eu sabia que coisas ruins estavam por vir e resolvi reagir

– Não pensava que era obrigatório informar esse tipo de coisa! É um direito meu, é um estado civil! - disse firme

– Eu entendo, mas essa é uma escola religiosa e os pais dos outros alunos não gostaram de saber que seus filhos estudam com o filho de uma divorciada. Pensam que o menino pode influenciar seus filhos.

– O que? Meu filho, é só um garotinho! E um ótimo menino, por sinal! - falei irritada

– Eu sei, Antônio é brilhante. O professores me dizem o quanto ele é esperto e doce! Mas talvez não seja bom a ele frequentar a nossa escola. O motivo da implicância dos outros garotos é justamente o fato da senhora ser divorciada. A verdade é que não estamos preparados para lidar com esse tipo de situação. E seria melhor ele sair da escola.

– Pode ficar tranquilo, Padre, eu pensava que essa era uma ótima escola, que estimulava a tolerância e a bondade. Mas estava enganada! Meu filho não virá mais!– eu estava furiosa

Fui até onde Toninho estava, o peguei no colo e sai apressada daquele lugar. Não era meu filho que não devia estar ali, era aquela escola que não o merecia. Eu estava possessa. Aguentava esse tipo de coisa contra mim, mas não contra o meu garoto. Com ele era inadmissível. Ele era só um garotinho, meu bem mais precioso, e tinha que protegê-lo.

Tentava disfarçar, mas ele acabou percebendo algo e disse:

– Você está brava comigo, mamãe? - o coloquei no chão e fiz um carinho em seu rosto

– Não, claro que não! Você nunca deixa a mamãe brava, pelo contrário. São problemas de adulto, meu amor, não tem nada a ver com você!- ele sorriu, um sorriso amarelo, percebi que estava triste, logo ele que sempre fora um menino tão alegre, aquilo cortou o meu coração

– Quer tomar um sorvete? Ir ao parque? - eu tentava falar animada

– Não. Não quero – era tão duro ver meu garoto assim e tive uma ideia

– Que tal ver o Edgar? Você quer vê-lo?- por um instante pude perceber uma excitação em seu olhar, apesar dele balançar o ombro como se não importasse – Então vamos até a casa do Edgar! - o carreguei novamente e continuei a andar apressada

Era uma boa ideia, tanto para mim quanto para ele, talvez Edgar conseguisse diminuir essa neblina que nos cercava.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, espero que tenham gostado, sei que é dificil ver Laura enfrentar tantos problemas, mas essa era uma etapa que achei que ela teria que passar.
Comentem, recomendem, isso sempre me faz escrever mais.