Laura E Edgar - Uma Outra História escrita por Cíntia


Capítulo 15
Tranquilidade


Notas iniciais do capítulo

Obrigada pelos comentários, dedico esse capítulo a todas que comentaram e especialmente a Patrícia Aguiar, que fez a primeira recomendação dessa história. Vocês não sabem o quanto fiquei feliz com isso. Espero que gostem desse capítulo.



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Por Laura

Após minha briga com Edgar, os dias seguintes foram menos agitados. Pelo menos do lado de fora, pois ainda me me remoía por dentro. Ainda escutava as palavras dele, o via em seu acesso de fúria, e doía a opinião dele sobre mim, e o fato de achar que era o meu dono. As vezes, olhava o meu filho e me perguntava quando responderia suas perguntas sobre o pai, quando poderia apresentá-lo a ele. Depois do que ocorrera, isso me parecia tão distante.

Mas trabalhava tranquila (sem receber visitas surpresas e indesejadas), vez ou outra, até levava ou buscava Toninho na escola. Tia Celinha me ajudava durante o dia o com ele, já que Isabel tinha os seus compromissos.

Ela comprara o teatro Alheira, o mesmo que trabalhou antes de deixar o Brasil. E bem .. o lugar parecia ser uma bagunça e Isabel tentava colocar ordem lá.

Pela noite, tínhamos ótimas conversas, eu falava muito dos meus problemas e segredos, Edgar e Toninho eram assuntos recorrentes.

Isabel, assim como eu, enfrentava vários problemas, e preconceitos. O pai dela a renegara. Ela lembrava constantemente do filho que havia morrido. O Zé voltara ao Rio depois da revolta da chibata e ainda mexia com ela.

Aliás, sobre a revolta, li ótimas e esclarecedoras matérias, um novo e talentoso jornalista, do Correio da república (o jornal do Guerra), Antônio Ferreira, procurou mostrar outro lado, o dos marinheiros e não demonizá-los como a maioria fazia.

Até eu comecei a alçar voo no jornalismo. Precisava de dinheiro, pois não me agrava que meu pai pagasse a escola de Toninho. E havia um concurso na biblioteca para escrever sobre algum problema que assolava o país, sendo que tinha um prêmio em dinheiro para o melhor texto.

Resolvi falar sobre educação e cultura. Eu era apaixonada por esse tema, e o entedia bem. Havia escrito um manuscrito sobre educação e novas ideias educacionais, mas não tive coragem de publicá-lo, ou melhor, sabia que por ser mulher não me levariam a sério.

Também escrevia algumas histórias, e reunidas poderiam render outro livro. Mas pelo preconceito, e também por causa do meu trabalho e meu filho que me tomavam tempo, não tentei levar nada a publico.

Entretanto com esse texto, comecei a ter esperança, me empenhei bastante e ao fim consegui escrever um belo artigo. Achava que tinha chances de ganhar, Celinha e Isabel partilhavam da minha opinião. Mas não teria oportunidade se assinasse o meu nome. Então escolhi um nome masculino, Paulo Lima e deixei uma caixa postal para comunicarem comigo.

Era duro me passar por homem para as minhas ideias serem ouvidas. Mas eu precisava do dinheiro, tinha um filho, queria que me ouvissem, e ainda fazer a diferença. E não seria impedida por ser mulher, esse fato não me tornava menos capaz.

Fora isso, eu tinha uma rotina, evitava ir a lugares que sabia serem frequentado por pessoas do passado, como a Confeitaria Colonial ou o Bar Guimarães. Comecei a pensar se já não estava chegando a hora de apresentar meu filho a outros parentes como Alice ou Albertinho, mas ainda tinha medo de que essa informação chegasse aos ouvidos errados. O fato do Edgar achar que ele era filho de outro me impedia. Não queria que ele soubesse a verdade ainda.

As vezes, quando saia da biblioteca, eu até olhava para os lados para ver se Edgar estava lá, ou quando estava verificando livros nos lugares mais vazios, escutava passos, lembrava dos nossos beijos, da nossa declaração. Não sei se o fato de perceber que ele não estava me deixava mal ou bem.

De vez em quando, eu levava Toninho para ver o avô. Era tão bonito vê-los juntos, eles se davam tão bem, e como meu filho não conhecia o pai, era a sua primeira e única influência masculina. Não era mesma coisa entretanto, e eu imaginava o que sentiria quando visse ele e o pai juntos.

Um dia, quando, eu, ele e Isabel passeávamos num parque, encontramos Cândido, um colega que sempre fora gentil comigo e até me ajudava a carregar livros. Ele estava acompanhado da mulher e dos dois filhos pequenos. Toninho pode brincar com eles. Ao vê-lo com duas crianças e um homem com idade para ser pai dele, percebi a noção de família completa. E senti um baque, afinal meu filho não tinha isso, e deveria ter tido.

Isabel chegou a se reconciliar com Zé, mas a relação dos dois parecia passar por problemas. Ela decidira fazer uma apresentação de dança para conseguir dinheiro e pagar dívidas. Mas ele não gostou da ideia, ainda achava que o que ela fazia não era digno.

Eu estava voltando com Toninho da escola, hoje seria a apresentação de Isabel. E pela primeira vez, eu não o colocaria para dormir. Lourdes, a nova empregada de Isabel, se comprometeu a ficar com ele. Apesar de sentir feliz por poder sair como há muito tempo não fazia, havia certo aperto em meu coração, ele ficaria longe de mim, era como se eu perdesse parte da vida dele... Nós eramos muito grudados, e já estava na hora disso acontecer.

Só não esperava encontrar com aquela mulher pelo caminho, o que me trouxe preocupação. Eu não a cumprimentei, fingi que não a vi, mas sei que ela nos notou. Olhou bem o meu rosto, e o do meu filho, deve ter entendido. Agora, ela sabia que eu tinha um menino, que entendia concretamente o que era ser mãe, e possivelmente, até quem era o pai de Toninho.

Imaginei o que ela faria com essa informação, provavelmente não contaria a Edgar, já que deveria sentir que era uma desvantagem para ela e a filha. Mas eu tinha medo que fizesse algo contra meu garoto. Ela que não tentasse nada, pois eu não admitiria, aí ela veria o que eu era capaz de fazer.


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo como diz o título foi um pouco mais tranquilo. Mas espero que tenham gostado dele. Então comentem, recomendem, façam sugestões, essa participação é muito importante para mim, e sem isso não escreveria tanto.