Laura E Edgar - Uma Outra História escrita por Cíntia


Capítulo 12
Mudança


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, muito obrigada pelos comentários no capítulo anterior. Esse capítulo é dedicado a todas que comentaram. Esper o que gostem.



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Por Laura


O meu almoço com Edgar e a invasão da Catarina ainda me incomodava demais. Eu me sentia enganada, e pior que não era somente por ele, por mim também. Pois eu quase cheguei a acreditar que a situação havia mudado e que poderia ter paz com Edgar. Não... Eu havia feito o certo, foi melhor para o meu filho não ter nascido naquele ambiente.

Mas preferi não me abater. Trabalhei e cuidei do Toninho normalmente. O melhor remédio para esses problemas era continuar e não me abalar.

No dia seguinte, já acordei mais animada. Mal podia esperar pelo fim dele, já que iria a casa da Isabel. Minha amiga chegaria de Paris, e eu queria muito encontrá-la.

Mas os problemas ainda me perseguiam, pois após dar uma aula, quando me preparava para ir verificar o estado de alguns livros me deparei com aquela mulher:
– Vim falar com você. - Catarina disse sem cerimônia e cheia de cinismo

– Não sei se entende! Mas estou no meu trabalho. Não sou paga para ficar de conversas com você. Com licença !– falei firme, tentando me livrar dela, mas ela ainda bloqueava minha passagem

– Aja como se eu fosse uma leitora, Laura.... De qualquer forma, é melhor fazermos isso de uma vez, não vai tomar muito o seu tempo.

– Se for assim – percebi que era melhor não resistir - Comece!

– Imagino que você já tenha entendido a minha relação com o Edgar. Fico satisfeita em saber que você está aceitando que ele tem uma segunda família. - a minha vontade era cair feito um andaime em cima daquela mulher, mas não era o lugar para isso e aquele tipo nem merecia o esforço

– Catarina, entenda um coisa. Eu não voltei ao Rio para reatar com o Edgar. Fique tranquila, ele é todo seu e continuará sendo como foi nesses anos... - doía falar isso e pensar que eles estiveram todo esse tempo juntos, mas não poderia deixá-la sair por cima - Entretanto eu voltei para ficar, não vou sair daqui.

–Nem eu quero que você vá- ela cheirava a cinismo.- Desejo melhor para você e o Edgar. Só quero que entenda que não afastará o Edgar de mim e nem da filha... Eu sou mãe, você teve um aborto, mas não sabe o que é, como é ser... É algo que e... eu não posso deixar que prejudique a minha filha.

Eu fiquei furiosa, ela explorava a dor da perda do meu primeiro bebê, que eu senti vivo dentro de mim, e a minha vontade de ser mãe. Queria me humilhar. Eu desejava esfregar na cara dela que tinha um filho, e sabia bem mais sobre ser mãe do que ela, já que não usava o meu garoto assim. Entretanto, Toninho era mais importante, e não iria falar dele com aquela víbora só para atingi-la Mas pelo menos por dentro, eu pude sentir um certo prazer. Falei friamente:

– Com já disse, fique tranquila. E por falar em sua filha, você que é uma mãe preocupada... poderia me dizer como que ela está?- eu também usava a minha ironia

– A menina está bem.

– Ótimo saber disso. Agora com licença. Acho que nossa conversar terminou – ela parecia meio confusa, abriu caminho para mim dessa vez e eu me aprofundei na biblioteca.

Agora mais essa, tinha que aguentar aquela mulher me procurando no trabalho, pelo menos ela não saiu tão vitoriosa quanto achava que sairia, apesar de ter conseguido espalhar seu veneno em relação a Edgar. Como ele fora se envolver com uma mulher assim? Como ainda continuava com ela? E porque isso ainda doía tanto em mim?

Voltei ao serviço, aquela víbora não merecia nem pensamentos. Mas ao sair do trabalho mais uma surpresa me aguardava:

– Laura, eu preciso falar com você. Esclarecer as coisas que aconteceram ontem – falou Edgar um tanto preocupado

– Não precisa. Eu entendi, era sua filha e você ficou preocupado, ela estava em perigo- falei fria- Você não tem que me dar satisfações.

– Eu não preciso, mas quero. Por favor, me deixe falar – ele parecia arrependido, o que me lembrou parte do passado que eu queria tanto esquecer.

– Não, Edgar.

– Você disse que poderíamos ser amigos!

– Talvez eu estivesse sendo um pouco precipitada. Mas de qualquer forma, eu não posso agora. Já estou atrasada.

Eu saí sem olhar para trás. Fui muito dura com ele. Mas naquele momento, estava com pressa e realmente não queria conversar sobre nada daquilo.

Fui a pensão, arrumei meu filho e fomos para casa de Isabel. Não consigo descrever a emoção enorme de rever minha amiga, e apresentar Toninho a ela.

Enquanto ele corria pela casa, eu e ela conversamos. Falamos sobre a nossa volta, nossas aflições e alegrias. Ela estava com temor de encontrar com pai, o Zé e até o como o Rio de Janeiro reagiria a essa sua volta rica, independente, e com um novo visual. Aliás, Isabel está belíssima, e decidida. Com planos de abrir o seu próprio negócio e até ajudar o pessoal do morro.

Eu falei bastante dos meus últimos dias no Rio, até mesmo dos meus encontros com o Edgar e a Catarina. Foi tão bom compartilhar nossos problemas, escutar e dar conselhos. Estar com Isabel era uma parte do meu passado que realmente fazia falta.

Ela me convidou a morar com ela. Disse que a casa tinha muito espaço, e que adoraria ter a minha companhia e de Toninho, com quem havia se dado muito bem. Segundo ela, seria uma forma dela não se sentir tão sozinha. A verdade é que era melhor e mais fácil para mim também, assim não pude recusar o convite.

No dia seguinte, contei a Celinha sobre a mudança, e ela se comprometeu a me ajudar com Toninho na casa de Isabel. Também pedi a ela que arrumasse meu filho e o levasse na biblioteca pela tarde. No fim da dia, tinha um encontro com o meu pai

O bom é que Toninho pôde conhecer direito o meu local de trabalho. Ele ficou encantado e encantou todos. D. Rosa, uma colega, até disse que ficaria de olho nele, enquanto eu dava uma aula. A verdade é que meu filho já estava acostumado com esse tipo de situação, eu o deixava lendo, e ele realmente se comportava. Só precisava certificar que ele não incomodaria algum leitor ou se alguém não o incomodaria.

Por medo de me encontrar com Edgar, não saí pela porta habitual. Ao chegarmos no ponto combinado, meu pai já nos esperava. Havia prometido a Toninho que tomaríamos sorvete, e seu Assunção queria que fôssemos a Confeitaria Colonial.

Mas como tinha a possibilidade encontrarmos conhecidos. Preferi um lugar mais discreto. E assim, pude conversar tranquilamente com ele enquanto Toninho se lambuzava com seu sorvete.

Falei da minha mudança para a casa de Isabel no dia seguinte. Ele achou estranha a ideia, já que Isabel era uma dançarina, além de mulata, e por isso vinha com uma má fama embutida e não saberia se isso seria bom para mim e para o neto.

O racismo do meu pai não me surpreendeu, eu sabia que apesar dele ser um homem bom, ainda tinha algumas ideias antigas e carregava muito preconceito. Por isso, expliquei com calma, falei do quanto Isabel era uma excelente pessoa e que eu teria mais companhia, ajuda, além de morar num lugar melhor, mais perto do trabalho e da escola do Toninho. Por fim, ele concordou e até disse que me ajudaria com a mudança.

Quando decidimos ir, Toninho já dormia. Estava andando para o carro do meu pai carregando-o com o rosto apoiado no meu ombro, e seu Assunção insistia em me ajudar:

– Me deixe levá-lo, filha. Ele deve estar pesado.

– Pode deixar, estou acostumada.

– Para que recusar a minha ajuda? Afinal, é o meu neto.

Nesse momento, percebi que estávamos sendo observados, meu susto foi enorme quando vi Guerra nos olhando confuso:

– Guerra? - eu até tremia

– Laura, que bom te ver. - ele tentava disfarçar o constrangimento

– Igualmente, Guerra – eu tentava agir normalmente, mas mal conseguia falar

– Seu filho parece ser um belo garoto.

– Obrigada.. - dei um sorriso amarelo … eu tenho que ir. - saí praticamente fugida com o desespero tomando conta de mim

Meu pai me seguia e tentava falar comigo. Dizia que as coisas não eram tão assustadoras quanto pareciam O caminho até a pensão foi a mesma coisa, quando ele me deixou em meu destino, eu disse que estava bem, mas mentia.

Coloquei Toninho na cama, e enquanto arrumava as nossas coisas para a mudança, suava frio e tremia. Parecia que estava doente, mas era apenas o medo na minha cabeça. Eu imaginava Edgar me procurando possesso, me cobrando e perguntando sobre meu filho. O resultado é que mesmo após terminar de arrumar as malas, não consegui dormir direito.

Na manhã seguinte, ainda sentia um medo terrível, mas o que quer que acontecesse, eu teria que enfrentar, então resolvi seguir em frente

Meu pai esperava com o carro para nos levar até nossa nova casa. Deixei as malas e meu filho com Celinha e Isabel e fui ao trabalho. Não conversei muito com ninguém e não sei se eles estranharam.

Resolvi verificar alguns livros em um lugar com pouquíssimo movimento na biblioteca, o silêncio e a privacidade iriam me fazer bem. Mas mesmo lá, eu não consegui sossego. Escutei passos e o notei andando em direção a mim, era o meu pesadelo se concretizando, Edgar estava vindo até mim, meu medo era tanto que não sei como consegui ficar de pé.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Comentários é sempre um bom combustível para eu escrever mais.