Laura E Edgar - Uma Outra História escrita por Cíntia


Capítulo 11
O almoço


Notas iniciais do capítulo

Muita obrigada pelos comentários, eles me animaram mais um vez a escrever esse capítulo, que é dedicado a todas que comentaram. Espero que gostem.



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Por Laura

Voltar aquela casa em que eu fora tão feliz me afetou demais, era como se vivenciasse o meu passado e sentisse a mesma felicidade. Ainda mais quando olhava aqueles cômodos tão familiares e percebia pouquíssimas mudanças. E além disso, estava mais uma vez com Edgar enquanto Matilde nos servia.

A mesa e comida me traziam lindas recordações de um tempo tão feliz e belo. Os guardanapos e a toalha eram os mesmos e tinham as nossas iniciais. Eu me perguntava como Edgar conseguira viver naquela casa, mudando-a tão pouco. Com certeza as lembranças seriam muitas. Penso que eu não suportaria.

Nós começamos a comer e ele não parava de me olhar, um olhar encantado, mas que ao mesmo tempo me parecia, o de um lobo vendo um carneiro. Minhas pernas estavam bambas e se eu não estivesse sentada, provavelmente precisaria de um apoio para me manter em pé. Meu coração batia apressado, parecia querer sair pela minha boca.

Infelizmente, meu rosto não era escondido pela mesa, o sentia esquentando, e ele provavelmente deveria estar bem vermelho. Eu tentava me conter, mas não conseguia. Sorria e também olhava bastante para Edgar. Às vezes desviava o olhar, mas não resistia ficar muito tempo sem vê-lo.

Talvez para quebrar um pouco o constrangimento e o clima estranho. Edgar começou a falar. Fez-me perguntas, e nós acabamos contando das nossas vidas nesses últimos anos. Falei do tempo em que morei no interior, dos lugares que vivi, das coisas que aprendi, das aulas que dei para crianças, das minhas ideias educacionais. Eu não cheguei a mentir, mas me doía o fato de esconder uma parte muito importante da minha vida, o meu filho. Mas sobre ele eu ainda não estava preparada para falar, nem aquele era o lugar e hora certa para revelar o meu segredo.

Ele me contou sobre a carreira, seus clientes, sobre como ele havia se tornado um advogado renomado e provavelmente bem pago. Dava para perceber que estava muito bem financeiramente.

Também falou da mãe, do pai e do irmão. E eu notei que ele evitou assuntos polêmicos, já que não comentou da filha, nem daquela mulher. Provavelmente mantivera um caso com ela durante esses anos. Nós estávamos divorciados, e eu não me deveria me incomodar com isso, mas somente o fato de imaginá-lo com ela, fazia o meu coração doer quase como se eu fosse ter um infarto, e me deixava fora da minha razão.

Entretanto ele ostentava um sorriso encantado, e ainda me olhava com paixão e desejo, e mesmo tentando e devendo resistir, eu retribuía seus olhares e sorrisos. Até que tocamos em um assunto mais perigoso:

– Onde que você está morando? – ele sorria, e até parecia uma pergunta inocente, mas por causa do meu filho, essa era uma informação que não podia revelar.

– Desculpe Edgar, mas isso eu não vou te contar.

– Por quê? Pensei que você já tivesse perdido o medo de mim e o dos meus acessos de fúria – ele ria e brincava, mas sabia que estava entrando em um assunto complicado

– Não é isso. Só quero preservar a minha privacidade. Espero que entenda.

– Eu não entendo. Já sei onde trabalha, que mal faria saber onde mora? – ele parecia chateado

– Por isso mesmo, o local do meu trabalho já é suficiente para você me encontrar. – falei firme

– Você está envolvida com alguém... – seu olhar pareceu demonstrar dor, e eu não queria que ele sofresse.

– Não, Edgar. Não é o que você está pensando. Mas gostaria que você respeitasse isso, só quero minha manter minha privacidade. Você disse que não brigaria comigo – ele pareceu mais aliviado

– Tá bom ... – ele respirou fundo e sua expressão foi se desanuviando – Vou respeitar seu desejo, mas podia me dizer ao menos que tipo de lugar é? –ele sorriu e não consegui resistir a isso

– É uma pensão. Simples, mas um lugar limpo, respeitável e que posso pagar. – falei mais animada

– Não pensou em morar na casa dos seus pais? – seu olhar compreensivo me matava

– Não... Minha mãe me renegou, ela não aceitaria, e também não quero, gosto de não depender ... dela.

– Você se divorciou de mim, e mesmo ... sendo ... comigo, te digo uma coisa, eu nunca renegaria você ou uma filha por causa disso. Não é justo o que ela está fazendo.

– Justa é uma qualidade que nunca associei a D. Constância, Edgar. Ela gosta de manter as aparências não ser justa. Na verdade, ela nem sabe que voltei.

– Sinto por isso.

– Não sinta, eu já esperava.

– Laura, sei que ainda há certa confusão e constrangimento entre a gente. Mas te digo uma coisa, não te quero mal, nunca desejei nada de mal a você ... pelo contrário. – ele começou a gaguejar... E já que agora ... você voltou para a cida_de... Sei que não somos mais casados... Mas gostaria que fôssemos amigos. O que você acha?

Seu modo de falar e olhar eram intensos, ele realmente parecia querer isso, estava hasteando uma bandeira branca, e por mais que ele mexesse comigo de outras maneiras, parecia uma boa ideia, pois mesmo ele não sabendo, nós tínhamos o Antônio e isso seria ótimo para o meu filho:

– Con-cor-do. Acho que podemos tentar. – eu sorri

–Concorda? - seu sorriso era contagiante

Ficamos olhando um para o outro, uma sensação de realização e encanto nos contagiava, e percebi que ele aproximava a sua mão da minha.

Mas o momento foi interrompido da maneira mais tempestuosa possível, aquela mulher invadiu a sala e praticamente gritava:

– Edgar, Edgar!

– Catarina? O que você está fazendo aqui? Como entrou ... – ele a olhava irritado

– A Melissa ... – sua voz conseguia se tornar mais estridente ao gritar, o que passava uma impressão de falsidade para mim- A Melissa ... Edgar ... está passando mal. A madre ligou para cá, mas não conseguiram falar com você!

– Já deram o remédio para ela? – ele parecia tão preocupado

– Edgar... me esqueci de colocar na mochila. Não sei onde estava com a cabeça. E agora não posso ir lá, nosso acordo... Só você pode ir, enquanto isso minha filha tá passando mal, pode morrer... Não sei o que fazer. – o seu desespero e sua voz eram tão exagerados que parecia que eu estava assistindo uma peça

– Calma Catarina. Eu tenho o remédio aqui. Vou lá. – ele se virou para mim, finalmente ambos pareciam me notar- Laura, me desculpe, tenho que ir.

– Claro, Edgar. Eu entendo.

Edgar saiu pela porta como um furacão. Enquanto Catarina ficava na casa com pretexto de esperar notícias da filha. O modo que ela me olhava era quase que uma alfinetada.

Racionalmente, eu compreendia perfeitamente a atitude de Edgar. Era a filha dele que estava em perigo, então tinha que sair correndo para socorrê-la. Agiria da mesma forma se fosse o Toninho.

Mas sentimentalmente não era fácil. Pois memórias devastadoras me inundaram. Parecia que eu estava vivendo novamente uma cena do passado, quando eu voltei a minha casa depois do meu aborto e a encontrei com ele e a filha. Ou quando ela veio conversar comigo agindo como se aquela casa fosse dela.

Não, Edgar e eu estávamos separados, e não tinha o direito de me sentir assim. Afinal ele estava livre para ficar com quem quisesse, até com ela. Mas novamente me senti humilhada, abandonada e de certa forma decepcionada, pois por aqueles acontecimentos percebi que nada havia mudado.

Aquela mulher continuava agindo como se aquela casa fosse sua, Edgar não a colocava em seu lugar e ainda saia correndo sem pestanejar quando ela chegava com seu falso desespero pela filha.


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Alguma sugestão? Comentários sempre me estimulam a escrever mais e melhor.