"Eu morreria por ela quantas vezes fosse necessário."

As palavras saíram da boca de Edward para instalar-se em meu coração para sempre.

Não importava mais para qual Bella ele nutria amor, não importava qual Bella ele desejava ter, nada importava.

Apenas uma coisa: Eu não iria suportar perdê-lo.

Jane tinha um sorriso brilhante em seu rosto pálido quando retirou o capuz de sua capa.

Seu cabelo era preso atrás de sua nuca.

- Você não mudou nada, Edward. Nem seu amor e muito menos sua estupidez. 

A voz de Jane era desprezada, porém, ainda sufocante.

- Bem, Edward, você sabe que eu não vim até aqui para uma reunião em família.

- Você nunca fez parte de minha família. - Edward murmurou.

Em meio a gargalhadas, Jane retrucou:

- Muito obrigada. Me sinto estupenda por isso. Vai ser uma pena ter que fazer isso, porém, é para o nosso bem... - Eu imaginava a dor que Renée deveria sentir por ouvir sua filha falando tudo aquilo. Em seu rosto uma felicidade abrigava-se. - Desculpe, amado irmão.

Em um suspiro frustado, Jane deu inicio ao jogo mais doloroso e cruel de toda a minha vida.

Edward em um segundo, estava de joelhos ao chão fofo pela neve e seu rosto se contorcia em dor.

Por ele estar a alguns passos a minha frente, eu corri até estar ao seu lado, e me ajoelhei em sua frente.

- Pare! 

Era tudo que eu conseguia escutar de outras vozes e da minha também.

Minha cabeça estava longe.

- Me mate! - Eu sussurrei suplicante. - Me mate em seu lugar.

Uma onda de náuseas me invadiu e logo então, eu já estava ao chão, em posição fetal.

Eu não sabia o que ou como aquilo tinha me acertado.

Eu apenas sei que eu desejava morrer.

A morte era a única coisa que eu pensava no momento.

Nada de correr, ou gritar, ou até mesmo chorar. Apenas a morte em minha cabeça.

No início, a dor fez meus ossos fraquejarem, o que me fez perder o equilíbrio.

Em seguida, eu senti a frustração de Jane tentando paralisar todos os órgãos de meu corpo.

E para o meu desespero, ela estava conseguindo.

Eu procurava por Edward mas eu nada conseguia me concentrar.

Uma nova onda, dessa vez de calor, aqueceu meu corpo como em uma calorenta noite de verão no Texas.

Eu clamei por Esme. 

Edward.

Ou qualquer outro.

Eu não sabia o que eu falava.

Apenas sentia minha boca abrir e logo após contrair-se.

Meu coração ficava cada vez mais fraco.

Cada vez sem cor, vida ou sangue.

Eu sabia que em poucos segundos, a minha cor iria se igualar a neve, e nada mais restaria.

Apenas Edward em meu coração.

"Bella, fique comigo!"

Não sei como ou porque mas eu escutei o clamado de Edward.

Eu me sentia leve.

Leve.

Livre.

E feliz.

Finalmente a morte estava ao meu lado.

A dor não tinha mais efeito sobre mim.

Senti meus lábios, ainda doloridos, transformando-se em sorriso.

O sorriso mais feliz de minha vida por saber que eu iria morrer.

Por saber que a dor não iria mais me fazer mal.

Mas eu estava errada.

Não era a morte.

Era apenas um castelo.

Eu estava em um salão feito de cristal, por isso, eu não entendia como eu sabia que era um castelo.

"O castelo do baile." 

A voz sussurrou em minha cabeça.

Eu me preparava para iniciar uma sessão de gritos por frustração, porém, uma risada infantil despertou meu completo interesse.

Caminhando em pequenos passos, cheguei até a entrada de um novo quarto, dessa vez completamente feminino e da cor dourada.

A porta estava aberta.

Eu olhava ao redor procurando por algo conhecido, e o mais estranho, é que eu reconhecia tudo.

Desde a cor das paredes até o pequeno ramo de flores a cama.

Uma voz feminina chamou por meu nome.

Virando em direção a voz, encontrei uma mulher igualmente parecida a mim.

- Oh meu Deus! 

O mais estranho foi que nós duas falamos isso juntas.

O mesmo cabelo, o mesmo tipo físico, a mesma paixão em nossos olhares.

- Bella!

Uma outra figura feminina materializou-se a meu lado.

Dessa vez era Rosalie.

- Rose... O que estou fazendo aqui ?

- O único jeito de não deixar você morrer foi trazendo você aqui, Bella.

Eu sentia toda a animação da outra Bella.

Do mesmo modo que eu sabia que ela sentia todo o medo e frustração por minha parte.

- Onde está Edward ? - Eu sussurrei.

- Ele já está bem. Quero dizer... A única dor que ele sente é por saber que vai perder você.

Pequenos passos infantis chamaram nossa atenção e com um suspiro de felicidade, observei a outra Bella dizer:

- Ele já estava morrendo de saudades, Rose.

Procurando por Rose, encontrei seus olhos centralizados em um pequeno garotinho.

Cabelos louros como os de Rose e olhos enormes e chamativos como de Emmett.

Precisei engolir a seco antes de respirar fundo e controlar lágrimas.

Caminhando em nossa direção, o menino usava uma elegante roupa azul e dourada.

Certamente a cor do reino.

Seus olhos tinham a mesma cor de olhos vampiros, por isso, descobri que vampiros já nascem assim.

Rosalie ajoelhou-se a frente do pequeno menino com uma aparência de cinco anos.

- Oh meu bebê, você não sabe o quanto eu o amo. - Era tudo que ela dizia.

Ela repetia enquanto o embalava em seus braços.

Uma onda de tristeza e felicidade brotou em meu corpo.

Tristeza por parte da outra Bella.

Felicidade por minha.

Eu não sabia o motivo de sua tristeza, porém, eu sabia que ela iria cuidar do pequeno filho de Rose quando ela voltasse para o futuro.

Ou presente.

Eu não conseguia pensar direito no momento.

Tudo que rodeava minha cabeça era a canção que saia dos lábios de Rose, enquanto embalava seu pequeno em um sono profundo e eterno:

"Durma pequeno príncipe, o sol já vai nascer.

Brincar com a felicidade, você vai fazer.

Descanse, descanse, pequeno príncipe.

Você sabe, você sabe, que eu sempre ficarei com você."

A criança em seu colo, já de olhos fechados, exalava uma tranquilidade invejada por mim.

Eu também desejava ser embalada todas as noites.

Por Edward.

Um soluço despertou a atenção de todos no local, porém, eu sabia que esse som tinha vindo de minha garganta.

Eu chorava por saber que não iria sentir mais essa sensação de conforto e proteção.

Eu sabia que o meu tempo estava acabando.

- O que eu direi para ele, Bella ? 

O olhar de Rose era quase tocável.

Ela despejava lágrimas sentimentais e sensíveis.

"Diga que eu o amarei por mil anos.

Para sempre."

O barulho de uma respiração descompassada invadiu meu ouvido, e abrindo os olhos, me encontrei em um lugar totalmente diferente.

Em minha volta, árvores e animais dançavam por todo o local.

O barulho da cachoeira me avisou que eu estava de volta ao início de tudo.

Eu estava em Texas.

Eu estava em casa novamente.

No lugar em que minha história começou, ou continuou, com Edward.

E em minha frente, ele me olhava com paixão e devoção.

- Edward... O que...

- Eu não deixaria você ir tão fácil assim, Bella.

Sem aviso prévio, nossos corpos se tocaram e uma fusão entrou em ação.

Nosso abraço era o mais apertado e ao mesmo tempo, o mais puro de toda a história.

E nele existia proteção, carinho, saudade e o mais importante... O amor.

- Eu não quero deixá-lo, Edward.

Minha voz era falha por culpa das lágrimas.

Eu tentava não parecer tão fraca ou tão desesperada.

Mas ele sabia, ou melhor, sentia que eu estava.

- Eu não quero deixar você ir, Bella... Mas é para o seu bem.

- Como assim ?

- A primeira Bella veio ao mundo para me mostrar que existe algo mais importante que conquistas de guerra ou fortuna: O amor. 

Seu indicador passeava por cada curva de meu rosto.

- E a segunda Bella, a minha verdadeira Bella, voltou para me tirar da escuridão. Mesmo sofrendo nas mãos de Charlie, mesmo com todos os desafios, o seu espírito não esqueceu de mim. Continuou me buscando, mesmo que em segredo, até poder tirar toda a maldade acumulada em meu coração por ter perdido a primeira. 

Eu tentava dizer algo, porém, nada saia.

Eu não tinha coragem ou era forte o suficiente para retrucar.

Eu apenas sabia que não queria deixá-lo.

- Edward, eu o amo... Por favor! Não quero ir.

- Bella, se você não for agora... Eu não irei suportar ver Jane transmitindo mais dor a você. Meu corpo físico não vai se lembrar dessa conversa, porém, o espírito... Esse espírito sim. E eu sei que mesmo sofrendo, eu não irei deixar de te amar... Jamais, Bella!

Nossos corpos se tocaram por uma última vez antes de uma forte luz branca, protetora e quente tomar meu corpo.

Eu me deixei levar.

Eu sabia que iria esperá-lo.

Não importava quanto tempo demorasse ou quanto sofrimento eu fosse ter na escuridão que eu iria.

Eu sei que meninas como eu jamais irão para o céu.

Ou talvez, nem mesmo exista um céu.

Eu apenas sei que iria esperar por Edward.

Afastando nossos lábios, Edward sussurrou em uma última voz conhecida, antes do universo me engolir.

Ou melhor, antes de ser transmitida para um universo diferente.

Desta vez mais vivo, sem espaço de tempo, hora ou sensações.

Apenas as palavras de Edward:

"Querida, não tenha medo

Eu tenho te amado por mil anos

Te amarei por mais mil."

FIM!