Eu tinha um sorriso no rosto suficiente grande para demonstrar toda a felicidade em meu coração.

Dormir e acordar nos braços de Edward tinha sido a melhor sensação já experimentada por meu corpo.

- A noite foi boa, né ? - Emmett gargalhava enquanto de sua boca um líquido vermelho escorria.

- Macaquinho, olha a sujeira! - Rosalie, com toda a paciência que jamais teve, secou com seus próprios dedos o líquido e logo depois o sugou.

Pelo cheiro que invadiu meu nariz, era sangue, sangue puro.

A porta do salão de café-da-manhã onde nós estávamos foi aberta com rapidez e logo Carlisle se materializava no local.

Em sua mão, uma folha branca e um celular móvel.

- Eles estão aqui! 

- Quem ? - Renée estava com a voz calma, porém, ainda existia uma certa hesitação em seus olhos.

- Os Volturi. - Emmett falava com toda a certeza, porém, quando procurei por seu olhar, ele estava completamente escuro e concentrado em um ponto fixo atrás de mim. - Aro não está por perto. Continuou na Itália.

Alice levantou-se da sua cadeira dourada com uma simplicidade e passou quase despercebida por todos, até parar em frente a uma janela espelhada e observar a rua.

- Por que ele perderia a chance de ver Bella de perto ? - A minha pequena Alice sussurrava.

Ela não desviou os olhos da janela de modo algum.

Jasper ficou ao seu lado por todo o tempo.

- Eu não sei. - Emmett sussurrou frustado.

O toque do celular de Carlisle chamou a atenção de todos e enquanto ele atendia, Edward sussurrou em meu ouvido baixo, para ninguém mais no local ouvir:

- Eu farei tudo que for preciso para manter você a salvo, Bella! 

Minhas mãos procuraram por ele com uma rapidez e logo senti toda a vibração da noite passada invadir meu corpo novamente.

Quase em silêncio, Carlisle voltou e abraçando Renée de forma protetora, murmurou medroso:

- Jake e os meninos estão na fronteira. Os Volturi estão com eles.

/

O ar era frio.

E a viagem até a fronteira do Canadá foi longa e silenciosa.

Não levamos bagagens ou qualquer coisa além de nós mesmos.

Estacionando um carro alugado preto em um ponto perto de uma ponte de madeira, que por baixo tinha um rio congelado, Edward circundou o carro e abriu a porta para mim.

Segurando em sua mão, com um casaco me engolindo e esquentando, caminhei a passos lentos sendo guiada pelos Cullen's.

Uma fileira com animais enormes, peludos e de tons diferentes estava a frente de Carlisle, que nos guiava, e em uma distância considerável, um grupo de quinze pessoas com capas pretas e no fundo da cor vermelha nos aguardava.

Uma pequena menina, com longos cabelos loiros até a cintura, olhos fechados e a mesma capa preta estava no meio dos lobos e dos Volturi.

Ela cantava uma melodia.

Não era uma melodia qualquer.

E sim, a melodia que Renée cantava para mim todas as noites antes de meus sete anos.

Antes de todo o pesadelo começar.

Meus olhos se emocionaram quando escutei o verso que sempre me embalava em um sono profundo e calmo:

"Durma pequena princesa, o sol já vai nascer.

Brincar com a felicidade, você vai fazer.

Descanse, descanse, pequena princesa.

Você sabe, você sabe, que eu sempre ficarei com você."

Edward percebendo a minha hesitação em continuar, apertou com uma certa força minha mão.

- Vamos, Bella!

Gaguejando, sussurrei:

- Eu... Não posso... Não... - Respirando fundo e dizendo tudo de uma vez, com palavras atrapalhadas, deixei a emoção controlar a razão: - Eu não consigo, Edward!

- Eu estou aqui, Bella!

Em seu olhar eu tinha confiança, porém, a todo segundo eu era atraída em direção a menina que cantava.

- Essa era a música que Renée cantava para mim, Edward... Não consigo!

Sem qualquer som, Rosalie me cercou com seus braços e sussurrando em meu ouvido, trouxe um tom de choque e felicidade a meu coração:

- Essa era a música que eu cantava para o meu filho todas as noites, Bella.

Um arrepio percorreu meu corpo, e então, eu percebi que se a Rose conseguia ser forte mesmo depois de ter perdido seu filho, eu também iria conseguir enfrentar tudo de cabeça erguida.

"Seja forte." 

A voz em minha cabeça repetia a todo momento enquanto eu continuava meu caminho até ficar em uma posição protegida entre Edward e Jake lobo.

Jake, por ser o Alfa, era o maior, parecia ser o mais forte e com a pelagem mais chamativa e bonita de todas.

Castanho.

Da mesma cor de meus olhos.

- Oi Jake. - Sussurrei e em resposta, recebi um leve empurrão de seu focinho gelado.

A menina então parou de cantar e em uma velocidade considerada lenta para um grupo de vampiros, voltou a frente dos homens de capa.

Ela era a única mulher de capa.

E ela era realmente da mesma estatura que Alice.

Uma voz sedutora e ao mesmo tempo infantil iniciou um diálogo:

- Olá Carlisle.

Carlisle tentou esconder emoções em sua voz firme mas eu percebi que o tom de voz era muito calmo quando tratava-se de Jane.

- Jane, é um prazer recebê-la.

- Não é isso que transmite para mim e meus companheiros quando tem uma matilha inteira de lobos a nossa espera.

Dando dez passos a frente, contados por minha mente bagunçada, Carlisle rebateu:

- Segurança em primeiro lugar, Jane, você sabe.

Com um sorriso sem sentimento, ela sussurrou:

- Eu sei melhor do que qualquer um aqui.

A abrir seus olhos, eles caíram diretamente sobre mim, e eu me encolhi entre Edward e Jacob.

- Oh... Bella! 

Em sua voz, um misto de confusão com insensibilidade, misturaram a uivos em minha cabeça.

Eu nada respondi, apenas apertei ainda mais a mão de Edward.

- Está tudo bem. - Ele sussurrou em um gesto reconfortante.

- Claro que está, querido... - Com uma voz indesejada, Jane continuou: - Irmão.

Meu olhar varreu por todos no local buscando alguma resposta.

Todos olhavam para Jane com admiração, eu não entendia bem o porque, mas os lobos, assim como eu, olhavam com surpresa.

De imediato a voz de Jasper veio em minha cabeça.

"Sou eu, Bells. 

Jane é irmã de Edward.

Não irmã como Rose ou Emmett, e sim, irmã de sangue.

Filha de Carlisle com Renée.

Ela resolveu escolher o lado "mal" dos vampiros, se é que existe o "bom", quando se apaixonou por Alec, um príncipe italiano.

Ela jamais chama Carlisle ou Renée por "mãe ou pai", então, sem comentários após este local.

Renée ainda chora todas as noites por sua filha perdida."

Com um sorriso em meu rosto, murmurei um "obrigada" para Jasper que sorriu em resposta.

Eu desejava ter dito que existia sim o lado "bom" e que ele, e todos os Cullen's, faziam parte do grupo "bom".

Eu queria que ele entendesse que os vampiros não são tão ruins quanto parece.

Alguns podem escolher fazer o bem.

Assim como eles.

- Quero vê-la de perto. 

Um rapaz jovem e com cabelos escuros falava para Jane.

Logo percebi que se tratava de Alec.

O olhar que ela mandava em direção a ele, era o mesmo de minha parte por Edward, e percebi que ela iria fazer sua vontade.

- Traga-a aqui!

Ela ordenou a dois homens de capas escuras a seu lado.

Rapidamente, Emmett e Jasper se infiltraram a minha frente.

Atrás, os lobos chamados por Seth e Leah, me protegiam.

E ao meu lado, Edward e Jacob formavam uma barreira contra qualquer perigo.

Ainda assim... Eu sentia medo.

Medo pelo desconhecido.

- Cheguem mais perto e vocês vão conhecer o que é ser um garoto mal. 

"Não Emmett... Péssima hora para piadas."

Escutei Alice sussurrar ao lado de Renée.

Alec parecia impaciente e por isso Jane implorou:

- Não irei machucá-la, meu irmão, por favor.

Edward procurou por mim, e em um gesto de loucura, assenti com a cabeça.

Emmett ainda tentou fazer com que eu recuasse de volta para meu lugar de origem, porém, Carlisle permitiu minha saída.

Meu tênis preto afundava na neve macia e folgada.

Eu tremia não apenas pelo frio.

Eu ainda tremia de medo quando senti as mãos de Jane em volta de meu pulso com algumas ralas cicatrizes.

- Você ainda continua bela. 

Ela suspirava frustada com seus olhos fechados.

Abrindo-os e direcionando todos os seus sentimentos para mim, senti um formigamento em cada parte de meu corpo, dos pés a cabeça.

Eu olhava em volta tentando procurar alguma saída ou lugar para me esconder.

Mas tudo que eu encontrava era um rio de sensações.

Sensações de Jane e não minhas.

Raiva.

Frustração.

Coração partido.

Medo.

Felicidade por encontrar em Alec tudo que precisava.

A tristeza por deixar Carlisle e Renée.

O nervoso quando descobriu o outro poder, herdado de seu avô materno, que podia levar sensações a pessoas apenas com o olhar.

O poder que poderia me matar de dor a qualquer segundo.

Antes de soltar meus pulsos, ela sussurrou:

- Você fez isso comigo, Bella.

- Eu... Eu... Eu não fiz nada. - Minha voz era mais fraca que um sussurro e quando eu falava, uma fumaça, culpa do frio, escapava de meus lábios.

- Sim. Eu tinha tudo para ter o reino só para mim. - Por canto de olho, vi o resultado das palavras de Jane sobre Alec.

Ele tinha seu olhar escuro e poderoso.

Ao mesmo tempo raivoso.

Jane continuou:

"Se Edward não se cassasse em menos de um ano, eu iria herdar o trono e tudo seria meu e de Alec.

Mas não!

Você apareceu!

Você destruiu todos os nossos planos."

A voz sinuosa de Edward, interrompeu o tremor de meu corpo.

- Casado ou não, Jane, o reino jamais iria pertencer a você e Alec.

Com uma risada feita para estourar todos os átomos de um ser, Jane soltou meus pulsos:

- Irmão, querido, deixe-me fazer uma pergunta para você.

A alguns passos a minha frente, Edward ficou frente a frente de Jane.

Ela parecia quebrável comparada a Edward.

- Fale!

A pergunta feita para fazer com que a dor invadisse todo o meu corpo foi feita:

"Você estaria disposto a morrer por Bella, Edward ? Ou melhor, amado irmão, você está disposto a morrer por amor ?"