Beautiful Bones escrita por loliveira


Capítulo 8
Amigos




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-Eu não posso fazer isso. -Eu reclamo, alarmada. -Eu simplesmente não posso. -Owen e Ramona me olham sem entender. Com cara de paisagem. 

-Por que não? -Como eles não conseguem entender que eu não sou boa em falar em público? Eles querem que eu faça o discurso para o comitê, sobre o porquê do nosso projeto ser tão bom a ponto de ser escolhido pra ser usado no baile. Eles querem que EU fale. Eu. A garota mais... não-popular da escola inteira. 

-E..Eu vou me perder. Eu vou começar a gaguejar. Eu vou pirar. E vou estragar tudo. -A simples verdade. Do nosso lado, um garçom passa com um prato de ravioli e eu fico esperando o mesmo cara trazer nosso pedido. Nós estamos no restaurante do Will, enquanto esperamos nossa comida chegar, e eles tentam me convencer a falar com o comitê. Minha habilidade pra falar em público é zero. Eu vou ficar nervosa, e eu já sei que eu vou ser um desastre. Porque tem algumas coisas que você simplesmente sabe que vai acontecer e não há nada que impeça elas de acontecerem. E sendo um desastre - e sabendo disso - eu me contento plenamente em evitar mostrar minhas desastrosas habilidosas o máximo possível. Ninguém precisa saber que eu sou uma droga nisso. 

-É claro que não. Pare de fazer drama, garota. 

-Então por que VOCÊ não fala? -Eu pergunto para Ramona, me sentindo um pouquinho irritada. Quer dizer, ela pode apresentar o trabalho se ela quiser, então porque ela não vai? 

-Eu não estou oficialmente no grupo de vocês. Duh. -Ela revira os olhos, irritada. 

-E você? -Eu pergunto para Owen. Ele levanta o olhar, surpreso. 

-Você está perguntando por que eu não falo? -Owen fala como se eu não tivesse escutado alguma parte importante de alguma história. Como se estivesse faltando. E então, tudo de uma vez, os dois começam a rir. O que é esquisito já que atrai pessoas olhando para nós e eu não sou a pessoa mais agradável de se olhar. Nem a mais bonita. Muito menos a mais bonita, então eu olho pra baixo, tentando ignorar os olhares. 

-Willow... minha mãe... nossa mãe... é a diretora da escola. -E mais uma rodada de risos. Eu quero me enterrar no chão. Não sei bem o motivo, mas eles estão rindo de mim. O que basicamente resume todos os motivos pra eu estar morrendo de vergonha. 

-Oh. -É tudo que eu consigo dizer, antes do garçom trazer nossos pratos. Lasanha. E é o próprio Will que traz. A verdade é que Will está radiante por me ver com amigos. Apesar de que eu não ache Ramona e Owen meus amigos... ainda. Simplesmente conheço eles há três semanas. Não dá pra ficar amigo de alguém tão rápido, dá? De qualquer forma, Will acha que sim, então está sorrindo de orelha a orelha quando entrega nossos pratos. 

-Vocês... estudam juntos? -Ele pergunta, tentando conter sua curiosidade ou felicidade. Com ele parece a mesma coisa. 

-Sim, senhor. -Owen responde, e eu fico com vontade de rir. É esquisito, ver alguém chamando Will de senhor. É como alguém me chamar de um nome completamente novo, é esquisito. Como se não se encaixasse. Porém Will parece gostar então olha para mim e dá uma piscadela. Escolho ignorar enquanto ele continua;

-Nas mesmas aulas? 

-Não. Estamos no último ano. -Ramona diz, com um garfo cheio de lasanha pronto pra ser comida. O sorriso de Will desaba só um pouquinho, o suficiente para que eu perceba que ele queria que eles estivessem lá no próximo ano, pra me ajudarem. 

-Ah. Parabéns, garotos. -Will olha para a porta e vê mais gente chegando, então olha para nós com um olhar de remorso. -Preciso ir. Willow, você precisa de carona pra ir pra casa? -Quando eu vou responder que sim, Ramona interrompe. 

-Na verdade, ela vai com a gente. -Essa parte não era planejada. Mas eu tento não parecer surpresa. Mas eu aposto que está escrito "surpresa" pelo meu rosto todo. Pelo jeito como Owen começa a rir de mim. Esse garoto ri demais. 

-...É. -Eu complemento, pegando um pedaço da lasanha. Will balança a cabeça repetidamente. 

-O.K. Bon Appetit. Até depois. 

-Até. -Nós falamos em uníssono, depois ficamos alguns segundos apenas comendo. E aquela sensação familiar volta, assim como todas as outras vezes que eu venho aqui. Aquela sensação de estar num grande jantar da vovó esperando por comida enquanto você brinca com seus primos. Essa sensação, e eu paro por alguns segundos só pra encarar o restaurante. Eu respiro fundo, também. 

Hoje eu estou bem. Cathy não falou nada para mim na escola, mas eu ainda escuto os risinhos. Mas a diferença é que hoje eu estou bem. Ou só... O.K. Sabe... vivendo um dia após o outro, e esperando pelo melhor. Ou talvez só esperando. Pelo que eu ainda não sei, mas pelo melhor, com certeza. As coisas estão calmas e eu não tive que cuidar de nada para minha mãe hoje, ou aguentar as crises emocionais dela. Ela parece grávida. Chorando toda hora  e falando sobre as segundas chances dela. Eu acredito em segundas chances; mas estou tão cansada de ouvir minha mãe falando disso toda hora que estou com medo de começar a duvidar. Então... acho bom que hoje, pelo menos hoje, eu tenha mantido distância de tudo. Só fui para o Programa e agora estou comendo no restaurante do Will. E parece tão familiar que estou começando a duvidar que é isso que me faz me sentir bem hoje. Essa sensação de estar segura. De que as coisas vão ficar bem. De que as pessoas gostam de mim o bastante pra jantarem comigo, sem nem ficarem olhando no relógio a cada cinco segundos. Eu volto a comer, olhando para o meu prato e ouvindo minha barriga roncar. Eu estava morta de fome. 

-Então -Owen comenta. -Ficou muito surpresa quando soube? Que nós éramos filhos da diretora? -O tom dele é de puro humor, então eu sei que ele está me provocando. 

-Um pouco. 

-Até parece. Faltou você cair da cadeira só. -Ramona diz e eu encolho os ombros. 

-Até faz sentido, sabe, por vocês não terem muitos... -E eu deixo a frase solta no ar. Porque eu olho para baixo, corada com o que eu ia falar. 

-É. Amigos. Acho que temos isso em comum, não é? -Ramona replica, seca. -Enfim, nós somos e é verdade, não temos muitos amigos, mas e daí? É melhor ter um amigo, por mais que ele seja Owen, -Ele faz uma careta a menção do seu nome. -Do que várias vadias caindo em cima de você. 

Eu faço silêncio, sem saber o que falar. Muito constrangida pra dizer qualquer coisa, até meu celular tocar. É a minha mãe. 

-Vem. Pra. Casa. Agora. -Ela diz, pausadamente e milhares de possibilidades passam pela minha cabeça. Uma lista de tudo que pode estar errado. Eu já me levanto. 

-O que aconteceu? -A casa pegou fogo. Ela sofreu um acidente. Fomos roubadas. Um meteoro caiu do céu, e caiu em cima do nosso carro. Alguém morreu. Eu penso em tudo isso, mas uma onda de nervosismo e alívio percorre meu corpo quando ela responde:

-Estou grávida. 


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