Beautiful Bones escrita por loliveira


Capítulo 6
Histórias Bonitas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/342100/chapter/6

O meu e-mail de resposta começa assim:

"Pai,"

E tem sido sempre assim, desde o primeiro e-mail de resposta. Minha mãe diz que isso expressa pouco meus sentimentos por estar falando com o meu pai, mas para mim, isso é o suficiente. Ele sabe que eu amo ele, e isso é o suficiente. Para nós dois. Eu respiro fundo, pensando no que eu vou falar. Com o meu pai, às vezes é melhor tomar cuidado, pra não dar um mínimo deslize, ou caso contrário, ele vai começar a se preocupar mais do que deveria. E por mais que eu agradeça a preocupação do meu pai, ela deixa toda essa situação um pouco pior. Faz com que eu me sinta pior. 

"Mamãe está noiva, sim. E de casamento marcado (mas não sei se eu deveria te contar, então não fale nada a ela). Will é legal, divertido." Penso em adicionar um comentário como "Diferente dos outros noivos da mamãe." mas eu me dou conta que ele nem sabe sobre os outros. Então continuo. "Eu estou cuidando de tudo, mas eu não ligo. É legal, até. Ela está mais nervosa que eu, surpreendentemente. Acho que ela finalmente achou a pessoa certa. Sobre Will (eu sei que você vai querer saber dele): ele tem um restaurante. Muito bom, aliás. A comida me lembra a daquele restaurante na frente da sua antiga casa, em Avignon. Quando nós o conhecemos, eu perguntei se era um tipo de franquia daquele restaurante. Mas é totalmente americano. Impressionante. 

Eu estou bem. De verdade. Você não tem que abrir um processo contra a escola, nem nada assim. As coisas ficariam piores. Eu estou bem. Confie em mim." Mesmo que eu esteja mentindo. "As coisas estão melhorando. Por favor, por favor, por favor, não faça nada, nem ligue para os pais de Cathy, ou o que quer que você tenha em mente. Eu consigo resolver isso sozinha. Você me ensinou bem, você sabe. Eu posso me cuidar. 

A piadinha foi sem graça, só para você saber. Não pense que quando eu der meu primeiro beijo, você vai ser o primeiro a saber (só estou sendo honesta...), talvez a mamãe saiba primeiro, alguma das minhas tias avós, quem sabe. Mamãe contou sobre Cathy pra família inteira. Elas todas estão sabendo das boas novas agora. Eba. 

Comecei o Programa de Artes da escola. Obrigada pelo dinheiro. É legal, até. Não é aquela baboseira de técnica e teoria, como eles ensinam normalmente. Minha professora é legal. Meio excêntrica, algumas vezes, mas é legal. Só temos cinco alunos na sala, se você contar com a Ramona, que é uma garota que praticamente não faz nada, mas que vem sempre. Ela tem um irmão, Owen, e nós três fomos encarregados de criar um projeto-tema para o baile desse ano. Estou me sentindo esquisita ao contar que Ramona quer que façamos sobre Paris. Parece ironia do destino, algumas vezes, quando eu penso nisso. Não decidimos nada, ainda. Mas  Owen também gostou. Ainda não contei para eles que você mora em Paris. Porque acho que a decisão seria meio óbvia. É claro que eles iriam querer fazer sobre Paris, afinal, você podia ajudar. 

Também não contei pra eles que eu já fui à França. Isso seria ainda pior, eu acho. Enfim, a outra equipe (os outros dois alunos da sala) estão competindo com a gente, pra ver qual tema o comitê vai escolher. Vale nota. Bastante, até. Então eu espero que a gente ganhe. Em compensação, os outros dois alunos pararam de falar com a gente, por causa disso. Não que eu falasse muito com eles. O garoto era legal, mas a menina, nem tanto. 

Prometo ligar. E falar com Sophie. Espero que vocês estejam bem. E obrigada pela preocupação, pai, mesmo que eu não precise. E ligue você também. 

Com amor, Willow."

Aperto o botão de enviar e espero até o sonzinho de "e-mail enviado" tocar. Dois giros da minha cadeira depois, ele toca e eu levanto. Minha mãe me chama. 

-Willow! Vamos! -Ela definitivamente ouviu o som da minha caixa de mensagem. Eu pego minha bolsa e desço as escadas, encontrando minha mãe parada na porta com uma expressão impaciente. Uma expressão que não combina com o vestido vermelho sangue que ela está usando, ou com os saltos altos, que botariam qualquer garota da minha idade no chinelo. 

-Você sabe que nós só vamos fazer a prova do vestido, não é? -Eu pergunto, em parte realmente querendo uma resposta. 

-Sim. Vamos logo, eu quero acabar logo com isso. 

-Achei que você estivesse ansiosa pra ver como ele vai ficar em você. -Nem tanto, para falar a verdade. Eu já vi ela com alguns vestidos de noiva ao longo dos anos. 

-E eu estou, só não gosto da dona do lugar. 

-Por quê? 

-Ela é... francesa. -Eu reviro os olhos para a idiotice da minha mãe. 

-Ela vai nos dar um desconto de mil dólares, mãe. Você tem é que amá-la. -Ms. Binoche, quando eu fui conversar sobre preços com ela, concordou em dar mil dólares de desconto por algumas fotos do casamento, que ela vai usar para botar no catálogo (A beleza da minha mãe influenciou um pouco, já que, com um pouco de maquiagem, ela parece Cindy Crawford em Fair Game. Sem brincadeira). 

-Eu vou dar minhas fotos pra ela. Quem tem que amar alguém nessa história é ela. -Eu saio pela porta, me dirigindo ao carro. 

-Vamos de uma vez. -Entrando, eu puxo minha mochila para o meu colo. Aqui tem tudo que eu preciso essa tarde: agenda de compromissos da minha mãe, orçamento, fotos de casamentos, lencinhos (Para o caso de uma crise de choro da minha mãe. Ou de alguma das outras clientes da loja, que vão ouvir minha mãe falando sobre como o amor finalmente a encontrou, etc), celular e uma caneta. Não está tão pesada quanto eu achei que estaria, mas a agenda ocupa um espaço bem grande. É a vida da minha mãe em alguns papéis. É incrível como a gente pode depender de coisas tão simples. Perdendo essa agenda, minha mãe praticamente perde o casamento. Mas como não fica com ela, ela não vai perder. 

Quando nós chegamos no lugar, eu entro e pergunto pra moça do balcão se a sala sete já está disponível. A sala sete é a última das sete salas da loja, onde as noivas vão para verem os vestidos. É também onde as mulheres que trabalham aqui são mais legais, porque Ms. Binoche não fica de olho nelas em uma sala tão afastada. Ela tem que ficar por perto nas primeiras salas, que é onde as pessoas mais empolgadas (principalmente com os primeiros casamentos) vão pra alugar seus vestidos. A sala sete é onde as mulheres podem dar opiniões negativas, verdadeiras e francas sobre os vestidos, não importando se eles são caros ou não. 

-Whitpool? -Ela recita o sobrenome da minha mãe. Ela costumava usar Durieux, até um tempo depois do divórcio com o meu pai, mas quando conheceu o primeiro possível-marido, mudou. Ninguém precisa de coisas do passado penduradas até mesmo no seu nome. Então ela tirou. Pena que isso não ajudou muito. 

-É. -Eu concordo e ela só chama uma mulher para nos acompanhar. Minha mãe só vem atrás, quieta, provavelmente com o orgulho ferido, já que ela não tem mais desculpas pra reclamar do lugar, uma vez que Ms. Binoche não vai ser nossa auxiliaire.

Então, nós entramos na sala, e eu sento no sofá. A mulher de sempre vem para dar o vestido da minha mãe. Tem outras mulheres aqui, e todas elas param pra olhar minha mãe. Ela é bonita mesmo, eu entendo essas mulheres.    -Primeiro casamento? -Ela pergunta para uma mulher, que já está chorando, vestida num vestido de casamento a la princesa Di.    -Sim...-Soluça. -O seu também?    -Segundo. -Minha mãe começa, e pelos próximos trinta minutos, ela conta as noivas dali sobre a linda história de superação (que metade é mentira) e sobre seu verdadeiro amor. E então, meia hora depois, as mulheres estão praticamente se convidando para o casamento dela. 

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

hayo bitchez



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Beautiful Bones" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.