Beautiful Bones escrita por loliveira


Capítulo 4
Individualidade


Notas iniciais do capítulo

hello



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/342100/chapter/4

Para a minha surpresa, nós não falamos sobre artes na aula de artes.

O.K. Nós falamos sobre artes, mas não da maneira que eu achei que seria. Sabe, aquelas horas inteiras cheias de conteúdo, onde a professora fala palavras em italiano como "chiaroscuro" e ensina a gente a falar os nomes dos artistas franceses corretamente. Não é isso. E de certa forma, é bom. Porque eu não queria vir aqui falar sobre isso, uma vez que eu não sei nada do assunto. Nadinha. Zero. Como eu tentei explicar para a minha mãe, a única coisa que eu sei fazer é desenhar. Até uma criança sabe desenhar. Então não fazia a menor ideia do motivo de eles terem me chamado, já que eu sou uma droga nisso de falar sobre arte. Mas quando a professora faz a simples pergunta:

–O que é artes para você? -Eu sinto um alívio percorrer meu corpo, porque eu pareceria patética tentando acompanhar os outros se nós fôssemos falar sobre artistas e tudo que vem junto com essas coisas complicadas. Até Lily parece mais inteligente que eu nesse assunto, mas outra vez, eu não conheço ela, então tenho que tirar isso da minha cabeça.

A sala está na mesma formação do primeiro dia. E dessa vez, quem está mexendo no celular é Ramona. Owen, do lado dela, está desenhando, e e eu tenho que resistir à vontade de esticar o pescoço para ver o que é. É esquisito, quando você sabe fazer alguma coisa, você quer ver o que os outros estão fazendo também. No meu caso, não para copiar, é só a criança que gosta de desenhar dentro de mim, morrendo de vontade de ver o quanto ele é bom nisso. Se eu tivesse coragem, eu comentaria se fosse um desenho bom, mas não sei o que é, nem tenho coragem.

Na escola, às vezes, até mesmo inconsciente, eu tento achar algum deles andando pelos corredores. Lily é sempre mais fácil. Ela está na mesa das líderes de torcida, almoçando com Cathy e todo o grupinho. Danny está nas mesas lá de fora, azarando as garotas que passam. Mantive distância dele depois que vi isso, porque honestamente, não preciso de mais rumores. Eu tive que andar um pouco pra achar ele, mas não liguei muito. Não é como se eu tivesse alguma coisa pra fazer durante o intervalo, além de andar sozinha por aí. Foi uma distração legal até.

Não acho Owen, nem Ramona. Mas não fiz questão de procurar por eles. Eu me senti como se estivesse desrespeitando a privacidade deles ou algo assim. E vai saber o que eu poderia achar se eu os encontrasse. Nenhum deles olha para mim quando eu passo. Pelo menos isso evita que eles propositalmente me evitem, o que seria pior, então me contento em passar despercebida.

Ramona, surpreendentemente, é a primeira a responder.

–É uma forma de expressão.

–Só isso? -Catherine pergunta. Hoje ela está usando um coque bem no topo da sua cabeça, com uma saia estampada com maças. Mesmo que eu nunca tenha coragem para usar algo assim, tenho que perguntar onde ela compra as roupas dela. São fofinhas. Ramona revira os olhos.

–Você quer o quê? Uma bíblia? Para mim, é só isso. -A professora só balança a cabeça, concordando, depois espera alguém mais falar.

–É uma forma de botarmos nossas ideias no papel. -Owen argumenta.

–Não é só no papel, idiota. -Lily retruca, usando um tom superior. Eu alguma vez mencionei que odeio ela? Fico irritada com a sua resposta, mas antes que eu possa falar alguma coisa, Owen responde, calmamente.

–Para mim, é isso. Eu não estou falando sobre arte no geral, estou falando sobre a minha arte. Minha arte é no papel. Não importa o tamanho dele ou o tipo, é só em papel. Não é em paredes, quadros ou qualquer outra forma. Então, para mim, é isso. -Lily fica quieta. Ele falou bem demais para que ela faça mais algum simples comentário.

–Muito bem, Owen. Danny?

–Artes... vejamos... artes é a minha vida. -Ramona ri, mas não comenta nada. -Não é como você -Ele gesticula para Owen. -Você desenha. Eu danço. Artes é minha vida, porque eu estou dançando toda hora. -Eu nunca poderia imaginar que palavras tão... profundas pudessem sair da boca de um garoto como esse. E é bom ser surpreendida.

–Muito bem. Willow? -Ela vira para mim. Outra coisa engraçada sobre a aparência dela é que suas sobrancelhas são ruivas. Não é anormal, mas não vejo todo dia alguém com sobrancelhas ruivas que nem a dela, e eu demoro um tempo para parar de olhar e responder.

–Eu não sei. Acho que... acho que é uma forma que meu cérebro usa para me mostrar que eu posso ser boa em alguma coisa. Mesmo quando eu não sou boa nessa coisa. Eu realmente não sei.

–Alguém alguma vez já disse que você não é boa em artes? Desenho? -Catherine fala. Eu penso um pouco. Na segunda série, um garoto disse que minha girafa parecia um elefante de tão feia e gorda que ela era. Mas não acho isso seja a resposta que a professora quer que eu responda.

–Acho que não.

–Então como você pode achar que você não é boa? -Eu solto uma risada leve, meio constrangida.

–Eu só não sou. Tem pessoas melhores que eu. -Num baque, ela se levanta e vai para o quadro. Eu não sei o que pensar, até ela começar a escrever, em letras grandes e engraçadas.

"Individualidade."

–Isso -Ela aponta para a palavra anotada. -É o que vocês precisam aprender a ter. Lição número dois: Saber usar a individualidade.

–Isso quer dizer que a gente tem que parar de copiar os outros? Eu não copio ninguém. -Lily fala, confusa.

–Não confundam individualidade com originalidade. Individualidade é o que te difere dos outros. É o que te faz melhor. -Ela diz isso olhando para mim, como se me explicasse. -Você pode não ser a melhor artista do mundo, que pinta mais rápido, com as cores mais bonitas e os traços mais precisos. Mas você é você e ninguém mais pode ser. -Ela anota "Você" bem grande no quadro ao lado de "individualidade", e depois faz várias nuvenzinhas, contornando as duas palavras, e por último, desenha flores ao redor, na parte do quadro em que fica um espaço muito grande em branco. -Você é a única pessoa que pinta exatamente como você. Entende? Vocês precisam ter consciência disso.

–Mas e se a gente se inspirar em alguém?

–Você não vai pintar... ou dançar, -Ela olha para Danny -Como a pessoa. Os movimentos técnicos podem ser iguais, mas a emoção, a dor, o amor, tudo que se passa quando você dança, ou pinta, não vão ser iguais as emoções que a pessoa sentiu. Então nunca vai ficar igual, principalmente porque as emoções influenciam em grande parte na sua grande performance. -Ela senta na mesa e fica balançando os pés. Eu anoto isso no meu caderno o mais rápido possível. Mesmo que agora, minha cabeça não esteja tão afim de aprender isso, uma hora, quem sabe, eu posso rever essas coisas. Na próxima vez que alguém falar que minha girafa é um elefante por ser gorda e feia, por exemplo. -Pois bem. Vamos ao que me interessa. -Nós rimos. -Recebi uma carta do diretor Hans ontem. E aparentemente, estamos com problemas para decidir o tema do baile de primavera esse ano, uma vez que todas as outras escolas já escolheram temas que nós pretendíamos usar. -Ela balança a cabeça pesarosa. Algo me diz que ela gosta do baile tanto quanto os alunos. -Então, ele propôs que os meus alunos, vocês, propusessem para o comitê do baile, o diretor e os professores, temas para o baile. -Lily e Danny grunhem em protesto, enquanto Owen começa a rir, olhando para Ramona, que está fazendo uma careta. -Não gostaram? Vou tornar as coisas mais interessantes. Vou separar vocês em grupos. -Mais reclamações. -E o time cujo tema for escolhido, vai ter mais dois pontos bônus da média do semestre.

Todos ficam mais alertas. E quando a professora percebe, ri.

–Dois pontos? Minha mãe me dá uma barra de ouro se eu ganhar dois pontos da média. -Danny exclama,

–Vejamos... Lily e Danny. Owen e Willow... Ramona... -Ela olha pra cara de vento que Ramona está fazendo, e dá de ombros. -Você dá apoio moral para Owen, ponto final, podem começar a planejar. Mãos à obra, depois dou detalhes sobre isso, tudo bem? Vão, vão, vão!

Eu olho para Owen e ele olha para mim, dando um sorrisinho e encolhendo os ombros, meio sem graça. Ramona revira os olhos e puxa ele para onde eu estou.

–E aí. -Ela diz.

–Oi.

–Oi. -Owen me responde. Quando o silêncio cai sobre nós, eu pergunto a coisa mais idiota que eu tenho para perguntar.

–Há quanto tempo vocês estão... juntos? -Os dois arregalam os olhos, olham um para a cara do outro, e então começam a rir. Descontroladamente. Eu não sei o que eu disse de engraçado. Tem alguma coisa errada com o meu rosto (exceto ele inteiro)? Quando Ramona para de rir, Owen ainda está tentando respirar.

–Nós não somos namorados. Somos irmãos. Eu podia ter dormido sem essa. Vou ter pesadelos sobre beijar Owen a noite toda agora. -Eles são... irmãos. Por essa eu definitivamente não esperava.

–Eu... não... acredito... que... -Então ele ri mais um pouco, e Ramona dá um tapa no ombro dele.

–Pare de rir, otário. -Ele para, tentando conter a risada enquanto olha para mim. Por isso, eu abaixo o rosto, fazendo meu cabelo cair involuntariamente na frente do meu rosto. Quando a respiração dele normaliza, Ramona continua: -Vamos arrasar nessa parada, pequenos gafanhotos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

volte sempre