Beautiful Bones escrita por loliveira


Capítulo 3
Os Errados


Notas iniciais do capítulo

SEIS. COMENTÁRIOS. EM. DOIS. CAPÍTULOS. SÓ.
Eu tô pirando, thank you, thank you, thank youuuuuuuuuuuuuuuu
espero que gostem



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–Você quer que eu mande alguém ir pegar seu terno na lavanderia? -Eu pergunto para Will, o noivo da minha mãe. Eu venho ocasionalmente aqui, porque em parte gosto e em parte preciso, já que  eu e Will temos várias coisas do casamento pra arrumar ainda, mesmo que faltem semanas para o grande dia (se ele não for cancelado antes o que é muito provável que aconteça.

–Claro, pode ser. Bom dia, -Ele diz para um casal que chega ao balcão. -Desejam alguma coisa? No nosso menu de hoje temos como prato do dia filé de bacalhau ao molho de pimenta e mais as outras opções diárias...

–Queremos uma mesa, para dois. -Ele entrega então o cartãozinho da mesa, e os dois acenam, indo em direção ao lugar, procurando pelo número da mesa que corresponde ao do cartão. Will se vira para mim outra vez.

–Como foi a escola? -Eu não gosto de mentir, mas me sinto pior ainda contando a verdade para ele. Foi o pior dia da minha vida. Até agora, porque então, amanhã vai chegar e vai ficar no topo da lista, e por assim vai... provavelmente até o ensino médio acabar.

–Legal. Melhor. -Minha mente grita "mentirosa" e eu quero chorar, porque concordo com ela. Só queria que Cathy não concordasse também. Ela disse que eu só estou mentindo, dizendo que o namorado dela tentou me beijar, porque estou com medo de ficar sozinha. Há certas coisas que eu minto. Meu humor, meu dia, minhas emoções. Mas eu não minto sobre essas coisas. Coisas que envolvem sentimentos das outras pessoas. Como Cathy pode achar que eu faria uma coisa dessas? O pior não é nem estar sozinha. É ver que ninguém sequer confia em você.

–Fico feliz por você. -Me limito a puxar os cantos da boca para cima. -Você pode avisar sua mãe que hoje eu não vou jantar em casa? Um advogado vem aqui para nós acertarmos sobre o terreno do novo restaurante. Preciso ficar.

–Claro. Mas, você sabe, ela vai ficar uma fera. -Ele ri, ligando o rádio do lugar, e eu só vou o seguindo. O restaurante, apesar de ser segunda feira, está cheio. A maioria das pessoas são famílias que não querem lavar a louça de casa, e engravatados que acabaram de sair do trabalho. Esse lugar é legal, aconchegante. É aquele tipo de restaurante que te dá uma sensação familiar de conforto. Como um grande jantar de família, com todo mundo falando ao mesmo tempo e comida boa. Não que a minha família costumasse fazer jantares grandes. Ou que fizesse comida boa. -E você vai me deixar sozinha pra comer a lasanha dela. Não posso acreditar. -Eu brinco me recompondo e me tornando uma garçonete e pegando alguns copos sujos da mesa do lado e botando em cima do balcão. Ele bota os copos que ele pegou do lado.

–Ah, dê um crédito à ela. Ela só está tentando provar pra si mesma que consegue fazer uma lasanha boa.

–Esse é o problema, ela não consegue.

–Tente. Ela está tentando, pelo menos.

–Vou ver o que eu posso fazer. É difícil me concentrar quando a massa da lasanha ainda está crua. -Ele ri.

–Talvez eu consiga ir mais cedo. E você vai ver como se finge gostar de uma comida.

–Então você não gosta também!

–Vai ser nosso segredinho.

–Por que você não fala isso pra ela?

–Porque deixa ela feliz saber que fez alguma coisa certo. -Eu vou até o outro lado do balcão, pegando minha mochila e a pasta com tipos de papeis para as notas das mesas, que vão ser usadas no casamento. Esse é o problema de ser a única adulta na sua casa: você tem que fazer tudo. E nesse caso, eu tenho que fazer tudo para o casamento. Tudo menos pagar, o que é um alívio.

Eu já estou acostumada com a rotina. Os bufês, maquiadores, músicos e fotógrafos da cidade, todos já me conhecem, porque toda vez que minha mãe noiva, ela faz questão que eu contrate uma equipe diferente para o casamento, já que ela não quer que os mesmos fiquem olhando pra ela se perguntando porque ela já mudou de noivo. Me pergunto se ELA pergunta para ela mesma isso. Talvez... talvez seja por isso que ela é meio avoada. A realidade da relação não ter dado certo, de novo e de novo, deve ser dolorosa demais para ela mulher de espírito livre como ela. Eu não sei. É tão difícil entender o que se passa na cabeça da minha mãe às vezes, que na maior parte do tempo, eu nem me dou ao trabalho de tentar.

Quando eu tinha quatorze, ela ainda planejava os próprios casamentos. Durante a contagem regressiva, sempre alguma coisa dava errado. Deve ser por isso que ela terminou com todos aqueles homens. Ela só queria que algo desse certo. Pensando assim, é até fácil de a entender. Então, quando eu cresci, acabei ficando com a responsabilidade. O pior de tudo, é que depois de um tempo, você passa a gostar de fazer algo, por mais chato que ele seja. É como se o seu cérebro já estivesse programado, familiarizado com aquilo, e então você não se sente mais torturada fazendo tudo aquilo. E foi isso que aconteceu comigo. Com esse negócio de casamento. E com a minha mãe também.

Eu me acostumei com fazer uma festa de casamento. Minha mãe se acostumou a me dar um motivo para fazer. Mas mesmo comigo planejando eles, eles nunca davam certo. Nunca nem chegaram a acontecer, por assim dizer.

–Vejo você depois. -Will aperta meu ombro, tentando dar uma de pai pra cima de mim. Todos eles faziam isso também. O que é hilário. Mas eu gosto de Will, dessa vez é isso que faz a diferença, então não me incomodo ou rio internamente por ele ter feito isso. Mesmo sabendo que eu já tenho um pai. Um dos lemas da minha mãe: Quando mais, melhor.

–Até mais, Will. -Quando eu vou puxar a porta, alguém a empurra primeiro, então dou um passo para trás, e fico calada. A pessoa bateu com a porta em mim, mas não acho que percebeu. Eu olho para o chão, ao invés disso. E quando a porta está pelo menos alguns centímetros livre, eu passo pela porta olhando para trás, só para satisfazer a curiosidade, e ver quem foi que empurrou a porta.

Não sei o que pensar quando vejo Owen e Ramona do Programa de Artes entrando, e indo em direção ao balcão, falar com Will. Mas eu sei que o que eu sinto é surpresa, quando eu vejo Owen virar para trás e, sem fazer barulho algum, eu acho, já que ele está longe e dizer:

–Me desculpe.


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Notas finais do capítulo

e aí?