Eu imaginei ao longo da semana umas milhares de vezes como ficaria o baile. Sério. Eu tentei visualizar cada lugar e como seria, e na minha cabeça o cenário era bem bonitinho. Mas isso aqui... isso aqui é perfeito. Não importa o quanto minha imaginação pudesse ser fértil, não faz jus ao que eu estou vendo. E sentindo e presenciando. Do meu lado, eu vejo alguns garotos nerds (com aqueles paletós xadrez etc), olharem embasbacados para a torre Eiffel, posta no meio da sala. Algumas pessoas já foram expulsas, porque ficaram tão bêbadas com o ponche que começaram a ficar chatas. Lily e Danny estão aqui, e Lily está com um penteado bonito, que deixa o cabelo meio afro dela mais reluzente. Danny está usando paletó e calça jeans, daquele estilo de dançarinos de hip hop, então está esquisito, mas aparentemente uma garota gostou porque eles estão conversando. Eu não achei Cathy ainda. Mas nem quero achar. Por enquanto eu estou na mesa, ouvindo uma amiga de Owen e o namorado dela falarem sobre Hillary Duff. Eu não sei por que mas estão super animados e Owen está ouvindo com atenção. Eu não. Estou olhando os casais dançando e rindo. Eles parecem felizes. E sabe o melhor?

Eu tenho a leve impressão de que parte disso é minha responsabilidade. Eu fiz isso. Eles só estão aqui tentando falar francês pra combinar com a decoração por causa de mim. Acho que eles estão tão contentes que não se lembram de me provocar, ou talvez eles saibam que eu fiz isso. De qualquer forma, eu também estou contente. Contente porque por mais que a maioria daqui tenha feito minha vida um inferno, na maioria das vezes nos últimos meses, EU estou sendo a responsável por uma noite de memórias incríveis pra todo mundo. E eu gosto de pensar que algum dia eles vão olhar para trás e lembrar do baile, e terem a remota lembrança de uma garota chamada Willow, que fez isso tudo por eles. E talvez, mais tarde na vida deles, eles se sintam agradecidos.

O.K. De volta para a realidade. 

Mas vale a pena sonhar, não é? 

Eu não acho Ramona em lugar algum, mas eu continuo vagando meus olhos pelo ginásio, procurando por ela. Imagino se ela vai estar usando uma daquelas roupas esquisitas pesadas ou se ela resolveu vir como uma estudante animada. A julgar pela animação dela com esse baile, eu escolho a segunda opção, mas tenho que pensar que o namorado dela terminou com ela algumas semanas atrás e ela deve estar meio acabada. Ainda assim, eu não quero que ela venha com uma daquelas roupas de todos os dias. Se o lugar está especial, eu também quero que ela esteja. 

Owen disse que temos que esperar até ela estar pronta para obrigar ela a sair da depressão chatinha em que ela se encontra. Eu espero que isso não demore muito, mas nunca se sabe. Eu só quero que pelo menos hoje ela esqueça daquele idiota e se anime. Talvez seja minha própria mente falando para si mesma, mas eu estou tentando ficar contente. 

O tópico da conversa dos amigos de Owen muda de Hillary Duff para aquela modelo que desmaiou na passarela semana passada e quando eu sinto a mão de Owen apertando a minha, eu sei que ele se desinteressou pela conversa tanto quanto eu. Se bem que falar de modelos não deve ser legal pra ninguém. 

Eu olho para ele, pelo canto dos olhos. Ele está sorrindo, mas não mostra os dentes. 

-Algum problema? -Eu pergunto, casual, sem olhar para ele. Ao invés disso, continuo procurando Ramona. Tenho que admitir que eu estou ficando meio curiosa pra ver como ela está. 

-Sim. -Ele diz, sério, e toda minha atenção se volta pra ele. Eu o encaro, UM POUQUINHO alarmada. 

-O que foi? -Eu pergunto curiosa. -Está tudo bem? 

-Não, não está tudo bem. -Ele diz, mais sério ainda e eu tento não entrar em pânico. Ele percebe e ri um pouco. Idiota. Eu reviro os olhos. -Falando sério agora, não está tudo bem, mesmo. 

-Por que? 

-Você não está dançando comigo. -Eu solto uma risada cética. 

-Você quer que eu dance na frente de todas essas pessoas? Certo. -Eu digo, zombeteira. Subitamente, ele se levanta da cadeira e me olha, abaixando a cabeça. 

-Não me faça te puxar pra cima. -Ah não. Não. Não. Não. Eu olho desesperada para o pessoal ao meu redor, mas ninguém está olhando pra gente.

-Er... Acho que agora não. -Eu tento dizer sem parecer muito nervosa. Ele ergue uma sobrancelha. 

-Ninguém vai sequer olhar pra você. -Ele diz, tentando me convencer. Eu olho pra ele, com uma expressão torturada, esperando que isso faça ele mudar de ideia. Mas ele continua com a mesma postura. Owen pega minha mão e então, num movimento só me puxa pra cima. Eu olho pra ele horrorizada. Um dos motivos é porque estamos perto demais, e eu não quero que ele me beije na frente de todas essas pessoas. Mas ainda assim eu tento não parecer tão desesperada por causa disso (mas eu dou um passinho pra trás) e o outro motivo é que ele pode muito bem me puxar para a pista de dança e me fazer morrer de vergonha. 

E quer saber? É exatamente isso que ele faz.

-Owen, lembra da última vez que a gente dançou uma música lenta? Eu pisei no seu pé. -Eu explico, tentando convencê-lo a desistir disso de uma vez. Ele me olha divertido. 

-Por mais que eu gostaria de dançar uma música lenta com você agora, isso não vai acontecer. Pelo menos não nesse momento. -Eu encaro ele confusa, sem saber o que pensar sobre isso. Então, Ramona aparece. 

-Willow! Como você está gatinha! -Pausa para apreciar o milagre que está acontecendo hoje. 

1-Ramona está feliz. Ela está SORRINDO. Ela não sorri assim há algum tempo. Mas isso não é o mais impressionante. O mais impressionante é que:

2-Ela está usando rosa. Tudo bem, a maquiagem dela continua daquele jeito meio pesado que ela sempre usa, mas o vestido é ROSA, pelo amor de Deus. E é curto. CURTO. Ramona. Usando rosa e vestido curto. 

Bem, ela pode estar bêbada. 

-Obrigada. -Eu digo, meio incerta, me desvencilhando dos braços de Owen para dar um abraço nela. Eu viro a cabeça para lançar à Owen um olhar confuso e ele só arregala os olhos e dá de ombros, tão confuso quanto eu. Quando eu saio do abraço, ela pula no pescoço de Owen. É a vez dele de me lançar um olhar completamente atônito, e eu respondo da mesma maneira que ele, dando de ombros. -Você está bem? -Eu pergunto, quando ela se solta. 

-Estou. -Ela fala, dessa vez séria. E então eu acredito. 

-Sério? -O irmão dela pergunta. 

-É. Eu decidi não ficar mais triste por causa daquela vadia. -Ela diz e eu fico mais confusa ainda. 

-Quem? 

-Seth. 

-Você acabou de chamar seu ex-namorado de vadia? -Owen pergunta, acusador. Nós dois encaramos ela, e eu procuro algum sinal de embriagues, mas não acho. Ela parece surpresa com nossa especulação. 

-Uh-uh. -Ela concorda. 

-Ramona, você está bêbada? -Dessa vez sou eu que pergunto. Eu sei que se ela estiver ela não vai dizer, mas não custa tentar. 

-Não. Nem tomei o ponche. -Ela explica, séria. -Eu só não vou ficar mais triste por causa dele. -Ela diz, então muda de assunto. -Ei vocês viram a decoração? Ficou demais, não ficou? -Nós olhamos em volta, pela milésima vez, e eu consigo identificar o orgulho nos olhos dos dois quando eles terminam de escanear o lugar. 

-Ficou mesmo. -Owen concorda, olhando para mim. E então, uma música qualquer do Allstar Weekend ou algo assim começa a tocar. É agitada, algumas pessoas gritam quando ouvem e todos começam a dançar. Eu sorrio para Owen, entendendo o que ele quis dizer antes. Ele me gira. Depois de novo e de novo, e joga as mãos pra cima. Eu olho para o pessoal ao meu redor e vejo que Owen estava certo. Ninguém está prestando atenção em mim, mas eu não ligo a mínima. Owen me toma nos braços dele e depois eu jogo meus braços para cima. Rio um pouco também a medida que a timidez vai lentamente indo embora. E eu nem estou bêbada. Do meu lado Ramona também está dançando e girando sozinha, com as mãos pra cima e fazendo guitarras de ar com as mãos, junto com Owen. Eu morro de rir. 

Nós ficamos algumas músicas dançando e quando paro para respirar, estou suando. 

-Eu já volto. -Digo no ouvido de Owen, por causa da música alta. Ele concorda e eu saio pela porta do ginásio, indo ao banheiro. Meus saltos tiquetaqueiam o chão enquanto eu seguro meu vestido, para não tropeçar. 

Mas uma coisa me faz parar, porque está bloqueando a passagem. E essa coisa é o namorado de Cathy. Porque ela foi inteligente o suficiente para continuar com ele depois dos rumores do nosso "beijo". Ele não está com uma cara muito boa. 

-Com licença. -Eu digo, suave, para que ele não fique irritado e faça algo errado. Mas ele não sai do lugar. 

-Então, aqui estamos sozinhos novamente. -O tom de voz dele me assusta. E eu não lembro o nome dele, surpreendentemente. 

-Preciso ir.

-Willow, Willow, Willow...-Ele fala, lentamente e eu fico com medo, porque ele se aproxima. Ele está de terno, mas não parece bonito como Owen. E ele está com um sorriso que me faz estremecer. Ele vê isso, mas interpreta errado. -Eu sei que você me quer. Faz tempo que não nos vemos. 

-Por que você não volta pra sua namorada? -Eu desvio, mas ele me segue e me puxa. Eu estou com medo, mas não posso deixar que ele veja isso. 

-Porque é você que eu quero. -Se isso tivesse saído da boca de qualquer um teria soado menos assustador do que soa saindo da boca do namorado de Cathy.

-Bem, eu não quero você. -Eu digo firme (mas nem tanto). Ele ri. 

-Mentirosa. -Ele chega perto até me encurralar contra a parede, seu quadril me pressionando. Eu quero gritar e correr, a medida que o rosto dele se aproxima do meu. Pego os braços dele e tento empurrá-lo para fora, mas isso só faz com que ele pegue meus braços e segure-os. Então ele vem com o rosto em direção ao meu e eu fecho os olhos e viro o rosto, esperando que ele pare. Algo acontece. Porque um segundo depois que eu fecho os olhos, o namorado de Cathy está no chão. E não fui eu quem o deixou assim. 

Eu abro os olhos e vejo... Owen. Ele me olha preocupado e eu faço muito esforço pra não chorar de medo. Ou de alívio. Ele me abraça, forte, enquanto o garoto no chão geme de dor. Owen deu um soco nele. 

-Seu babaca! -Ele grita. 

-O que você está fazendo com o MEU namorado? -Oh, não. Essa é a voz da Cathy. Droga. 

-Ele, esbarrou em mim. 

-E você o jogou no chão? -Ela grita, indo ao encontro do namorado, mas não abaixa para cuidar dele, ao invés disso, ela me encara, furiosa. 

-Ele tentou me beijar, Cathy. De novo. 

-Você acha que eu sou assim tão ingênua? Você é uma vadia, Willow. Não tente mentir. -As lágrimas rolam do meu rosto e eu não falo nada. Porque não há nada que eu possa falar para fazer Cathy entender que o namorado dela é um babaca. 

-É verdade. -Owen diz. -Eu vi. -Ele fala, tenso e com a voz fria. 

-Você chamou seu namoradinho idiota pra falar por você? E ele caiu nessa? -Ela ri, debochada. Mas não dura muito. Aparentemente, Ramona estava ali também há algum tempo, porque se cansou de Cathy e deu um soco nela também. Ela cai, do lado do seu namorado. Eu olho para Ramona, em choque. 

-Bem, eles combinam melhor assim. -Ela dá de ombros, voltando ao seu estilo garota  má. E eu não a prefiro de qualquer outra maneira. Estou prestes a relaxar, nos braços de Owen outra vez quando uma voz familiar ecoa, um tanto irritada pelo corredor. 

-Mas que diabos está acontecendo aqui? -A mãe de Owen pergunta.