–Preferia os mariachis. -Ramona resmunga pela décima vez, desde que Chick, Morgan e Jazz estacionaram na esquina da minha casa. Quando eles estão perto de nós o suficiente, Chick reclama para Ramona:

–Eu ouvi isso, garota. -Mas ela não se abala. Ao invés disso, dá de ombros e vai até o carro de Will para chamá-lo. Ele está falando no celular, conversando com algum sócio ou algo assim. Acontece que as ideias de Ramona podem ser úteis às vezes. Porque ela ligou para Chick e nós só tivemos que esperar cinco minutos até ele e os outros chegarem. Eles vão fazer... bem, uma serenata para minha mãe. Eu só rezo para que ela não se apavore e espante eles daqui jogando pílulas de remédio neles ou algo assim. Isso não ia ser legal. De qualquer forma, estou sentindo uma onda de animação entre todos que estão aqui. Está escurecendo e ficando mais frio, mas ninguém está ligando. Morgan, Jazz e Chick nos cumprimentam e vão até o carro falar com Ramona e Will. Eu e Owen (que está sentado no carro, na minha frente) seguimos eles. Quando estamos perto, conseguimos ouvir a conversa.

–Que música você quer que a gente cante? -Morgan pergunta.

–Ei, não vai ser esquisito um bando de adolescentes se declarando para uma mulher de meia idade? -Ramona diz, não perdendo a essência de irritante. Porém, todos ignoram ela, outra vez.

–Vocês tem alguma em mente? -Chick diz o nome de uma música, que eu não conheço e Will parece pensar um pouco. Aparentemente, ele conhece. -Pode ser. Willow? -Eu olho para ele.

–Oi?

–Sua mãe está mesmo em casa?

–Sim, eu já fui checar umas quinhentas vezes. -Eu respondo. E fui mesmo, em todas as vezes que eu fui para casa hoje, nessa uma hora em que a gente está aqui, minha mãe estava lá, assistindo tevê e comendo bolo. Como ela tem feito desde que expulsou Will. Ele balança a cabeça, respira fundo e olha para Morgan.

–Tudo bem então. Vocês estão prontos?

–Nós só temos que ensaiar algumas coisas, tudo bem? Jazz, pega o violão lá no carro, por favor? -Morgan pergunta para a namorada.

–Eu já volto. -Ela diz, e então sai. Morgan e Chick se lançam em uma conversa com Will e Ramona e Owen sentam na calçada, junto comigo.

–Você acha mesmo que vai dar certo? -Eu pergunto, hesitante, para Ramona.

–Bem, metade do trabalho está feito, que é convencer Will. E pelo que você disse, a sua mãe ama ele. Vai dar certo. -Ela responde, pela primeira vez gentil. Eu resolvo acreditar nela. Qual a pior coisa que pode acontecer? Pelo menos Will vai tentar. E eu estou gostando de ficar aqui, com Owen e Ramona na rua, enquanto eles estão conversando sobre música do outro lado da rua.

–Você tem razão. Obrigada por ligar para eles. -Eu agradeço, sincera. Ramona não é educada com muitas pessoas, mas eu realmente tenho que ficar agradecida por ela ser sempre tão legal comigo.

–Tanto faz. Eles são bons. Porém preferia os mariachis.

–Porque a mãe da Willow ia achar mariachis muito românticos, claro. -Owen replica, revirando os olhos e chutando as pedrinhas da rua. Então eu noto um fato um tanto quanto... esquisito. Ele está de touca. E ele está bonito. E eu coro e ele percebe. -O que foi? -Eu desvio o olhar imediatamente, olhando para o chão.

–Nada. -Eu respondo, bem na hora em que Ramona responde:

–EU ia achar mariachis românticos. Uma vez Seth... -E então ela para, fica séria e eu sinto Owen ficar tenso do meu lado. Felizmente, ela não começa a chorar. Em vez disso, ela levanta, e vai até o carro dela, pegando o celular. Eu faço menção para levantar, mas Owen me puxa para o chão outra vez.

–Espera. Ela não quer ninguém com ela agora, ela só quer um tempo pra ficar triste. -Eu o encaro, confusa. A luz da lua ilumina seu rosto.

–Mas eu não quero que ela fique triste. -Ela é minha amiga. Ver ela sofrer é ruim para mim também. Isso é novo para mim, já que Cathy nunca sofreu por causa de nada na vida dela. Mas agora eu finalmente posso ajudar alguém, e eu só quero fazer direito.

–Mas ela quer. -Quando percebe que eu estou perdida, ele explica. -O coração dela está partido. E isso é uma droga, mas você não pode simplesmente tentar animar ela quando nem ela está preparada para isso ainda. Ela só quer sofrer a perda por algum tempo até estar preparada o suficiente para deixar alguém ajudá-la.

–Mas e se ela não conseguir? -Eu questiono, pensando sobre o assunto.

–Primeiro, dê a ela um tempo. Depois você pode tentar animar ela. Só não force a barra pra ela. Ela vai explodir. -Ele explica.

–Tudo bem... me desculpe. -Eu olho outra vez para Chick e os outros. Morgan e Jazz estão conversando, só os dois. Ela fala no ouvido dele, e ele solta uma risadinha feliz, depois beija ela. Eu sinto uma pontada de... inveja? Eu não sei. Quer dizer, eu definitivamente sei que não estou interessada em Morgan, mas eu não consigo evitar sentir uma pitada de inveja da facilidade com que eles agem quando estão juntos. E ele beija ela, bastante. E ela beija ele de volta, com mais fervor ainda. Eu queria que as coisas não parecessem tão complicadas sob o meu ponto de vista. Para eles, parece tão... fácil, quase natural. Eles estão sempre juntos, eles tomam decisões juntos e parece tão simples. Porque o simples fato de eu estar perto de Owen me deixa tão nervosa? Ou de qualquer pessoa, para falar a verdade? Morgan abraça ela e ela encosta o corpo contra o dele enquanto ele beija o pescoço dela; é uma cena intima, mas não consigo parar de olhar. É como se eles não ligassem para a possibilidade de pessoas estarem vendo eles. De repente, eu estou com vontade de chorar. Eu solto um suspiro e a voz de Owen ecoa na minha mente.

–Qual o problema? -Ele bate com o joelho dele no meu, me acordando do transe. Não o encaro. Mas, surpreendendo até a mim mesma, eu falo:

–Eles parecem tão felizes um com o outro. -Não é bem falar... é mais sussurrar. Porque eu estou envergonhada demais para falar mais alto. Aposto que Owen deve estar achando isso ridículo, mas é assim que eu me sinto, e isso é uma droga.

–Eles deveriam. Eles se amam.

–Corrigindo: eles parecem tão felizes amando um ao outro. -Ele ri, depois tira a touca da cabeça, deixando os cabelos arrepiados. Ignorando aquela vozinha constrangida na minha cabeça, eu passo a mão pelos fios, abaixando-os. Quando ele me encara meio surpreso, eu dou de ombros, TENTANDO mostrar indiferença. Acontece que os cabelos dele são muito bons de se mexer. Eu gostaria de ficar mexendo por mais tempo. E ainda bem que eu não disse isso em voz alta. Ele volta a encarar Morgan e Jazz, assim como eu.

–Acho que eles finalmente se encontraram, entende? Eles foram... feitos um pro outro? Não sei essa linguagem romântica...

–...A palavra certa é almas gêmeas. -Eu provoco, mas ele leva a sério.

–É isso aí. Acho que eles são almas gêmeas.

–Eu estou feliz por eles. -Eu atesto simplesmente.

–Eu também. -Ele sorri para mim, e eu faço o mesmo. Então meu celular toca, e quando eu vejo um ID francês, eu sei que ou é meu pai, ou Sophie, a esposa dele.

–Alô?

–Chérie!–Sophie.

–Bonjour. –Eu respondo e escuto ela rindo.

–Oi, querida, como você está?

–Estou bem, e você? Que horas são aí?

–Está quase amanhecendo. Mas achei que você ainda estaria acordada. -Sophie é muito legal, apesar de tudo que minha mãe falou dela nos primeiros anos de casamento do meu pai.

–Algum motivo especial para sua ligação? -Eu brinco, rindo internamente do sotaque francês dela.

–Você nunca mais ligou! -Sophie briga comigo, fingindo irritação. -Eu precisava falar com você, mas cansei de esperar a ligação, então liguei.

–O que você precisa falar? -Interrogo, um pouco preocupada. Ela nunca precisou falar comigo a ponto de me ligar.

–Bem... seu pai me contou do baile... e eu tenho alguns vestidos pra você! -Eu respiro fundo, aliviada que ela não esteja falando de alguém acidentado, ou hospitais, ou más notícias sobre o meu pai.

–Ah, sim, o baile. -Então eu percebo uma coisa: eu vou ter que ir para o baile. Ah, não. -Eu não sei se eu vou...

– Fous le camp! -Ela xinga, em francês. -É claro que você vai! É o baile. Alguém te convidou? -Eu rio. Como se isso fosse possível.

–Não, ninguém me convidou.

–Deveriam. Você vai sim! Vou mandar os vestidos pelo correio. Eles chegam aí a tempo não é? Devem chegar. Não quero saber de você ficando em casa, tudo bem?

–Você é quem manda. -Eu desisto. Ela provavelmente ia me encher a paciência até morrer por causa disso. Além do mais, os vestidos que ela me dá são bonitinhos.

–Willow, nós vamos indo. -Will diz, na minha frente. Eu balanço a cabeça e me despeço de Sophie.

–Preciso ir, eu te ligo depois, prometo, OK?

–Chérie, estarei esperando a ligação. -E então ela desliga. Owen me ajuda a levantar e nós vamos andando a pé até a minha casa.

–Vou falar com Ramona, vejo vocês logo, logo. -Ele avisa, e então segue para o carro. Jazz aparece do meu lado, e nós ficamos alguns segundos encarando Will exalando nervosismo, mexendo nas suas mãos.

–Não sei por quê ele está tão nervoso. Não é nem ele que vai cantar. -Ela brinca e eu rio.

–Ele está com medo que ela diga não. -Ela considera minha resposta.

–Acho que ele não tem o que temer, mas é fofinho ver ele se preocupando tanto, não é?

–Sim. Ele gosta mesmo dela.

–Eu sei, é fofinho, como eu disse. -Nós caímos em silêncio outra vez. Nós dobramos a esquina e Will, Chick (que está com uma guitarra) e Morgan aceleram o passo. -Ele está tão ansioso quanto... como é o nome dele mesmo?

–Will.

–É. Will. -Ela diz, se referindo a Morgan.

–Bem, deve ser a primeira vez que ele vai tocar uma serenata para alguém, acho que o destino do casamento do Will está nas mãos dele.

–Não é a primeira vez. -Eu consigo ver o sorrisinho de boba dela e isso também me incomoda. Bem pouco, mas eu sinto uma inquietação.

–Há quanto tempo vocês estão juntos?

–Um ano. Mais ou menos. -Ela dá de ombros, e eu estou chocada. Nunca vi um relacionamento durar tanto assim.

–Nossa.

–E você? -Eu rio.

–O que tem eu?

–Tem certeza que você e ele não são um casal? -Por motivos desconhecidos, eu fico vermelha. Porque eu lembro do desenho de Owen.

–Tenho. Mesmo se eu quisesse, é mais complicado que isso.

–Como assim?

–Eu nunca namorei ninguém. Nem beijei ninguém na minha vida! -Eu digo, mas ela não fica surpresa, ou chocada.

–E daí? Se ele gosta de você, ele pode te esperar. E acredite, pelo jeito que ele age perto de você, ele gosta. -Eu coro outra vez, mas não tenho tempo de responder porque Will grita o nome da minha mãe. E quando ninguém abre a janela, ou a porta, ele grita de novo. Owen e Ramona aparecem do meu lado, nós três explodindo de ansiedade. Acho que eles querem que isso dê certo tanto quanto eu. De repente, a luz da varanda acende e da porta sai minha mãe. E é nessa hora que Morgan começa a tocar o violão, e Chick toca alguns acordes na guitarra. Jazz começa a dar mini pulinhos do meu lado e sem pensar (eu acho), Ramona grita um "Wo-Ho". Os dois (Morgan e Chick) começam a cantar enquanto os outros dois (Will e a minha mãe) se encaram. O que é meio esquisito, porque eu só vi adolescentes fazendo isso e os dois são adultos bem crescidos, mas eles se encaram e chegam cada vez mais perto.

Então, quando a música está quase acabando, Will se ajoelha. Meu coração começa a bater mais rápido e eu agarro o braço de Owen em busca de um apoio porque eu estou eletrizada. Eu só espero que ela diga sim.

–Você aceita casar comigo... de novo? -E então, eu acho que aperto o braço de Owen tão forte, que ele tira minha mão e deixa na dele. Mas eu não tenho tempo que me sentir constrangida porque eu explodo em lágrimas. Porque:

1-Minha mãe está chorando, e:

2-Ela está tão feliz. E o melhor de tudo é que ela merece. Ela merece Will e ele merece a minha mãe porque eles parecem tão feliz JUNTOS. Assim como Jazz e Morgan.

Owen me abraça. E meu coração explode. Por dois motivos. Um porque ele dá um beijo na minha testa.

E o outro, é o "sim" que a minha mãe dá.