Beautiful Bones escrita por loliveira


Capítulo 13
Perfeito


Notas iniciais do capítulo

hayo



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-Owen? Você está aí? -Eu grito, enquanto abro a porta de uma galeria, e vejo o endereço que ele me passou outra vez. É esse o endereço, mas tudo está escuro e eu não consigo ver nada. Deve estar certo, já que a porta estava aberta. Eu demoro alguns segundos para ter meus olhos ajustados a escuridão e lentamente eu começo a ver silhuetas no escuro, mas nenhuma de se parece com o corpo de um garoto. Vou avançando. -Você está tentando me assustar? Ou eu estou falando sozinha? Oi? 

Então eu escuto um barulho, um vulto borrando minha visão, e por fim, sinto alguém pegando nas minhas mãos, mas a essa altura eu já sei que é Owen. Não sei o porquê, mas eu apenas sei, mesmo que eu só veja a silhueta dele.

 -E aí? -Ele diz, parado.

-...Oi. O que a gente veio fazer aqui? 

-Ah, você vai ver. 

-A Ramona veio? -Eu pergunto, meio desconfortável por estar sozinha com ele. 

-Não, ela tinha algumas coisas pra fazer. -Uma onda de pânico e de outra coisa, uma coisa que eu não consigo identificar. Eu estou sozinha, com Owen, num lugar que eu não conheço. Me arrepio só de pensar nisso. E ele percebe, porque comenta meio ofendido: -Você ainda não acredita que eu não vou te sequestrar e te cortar em pedaços? Do que é que você tem medo, Willow? 

-Não... não é medo. E eu confio em você. É que... hm... eu nunca fiquei assim tão... perto de um garoto antes. Não perto. -Eu corrijo, meio afetada e constrangida. -Só, nunca fiquei sozinha com um antes. Acho que é isso. -Ele murmura alguma coisa que eu não entendo e eu continuo. -Mas eu confio em você. Foi mal. -Eu digo, me sentindo levemente culpada. 

-Pelo que você está se desculpando? -Ele pergunta meio confuso. 

-Também não sei. -Ele ri um pouco e começa a se mover, me levando junto. 

-Eu não beijar você, se é isso que você está preocupada. -Parece que um peso saiu dos meus ombros. Um que eu nem sabia que existia, mas por outro lado, começo a sentir outra coisa. Que eu igualmente desconheço. É quase como se eu estivesse esperando que ele fizesse isso. E... eu não sei. De qualquer forma, tenho que parar de pensar nisso para fazer uma pergunta muito importante. 

-Onde você está me levando? O que nós vamos fazer aqui? Tem certeza que você não quer me sequestrar e me cortar em pedaços? Porque isso é um bom lugar pra fazer isso. Aposto que ninguém escutaria meus gritos. -Eu brinco, tentando trazer um clima mais leve, mas querendo que ele me responda a pergunta. Ele empurra uma porta, abrindo-a e depois solta as minhas mãos. 

-Não, não quero te matar. E você já vai ver. Pronta? -Eu faço que sim com a cabeça e ele cobre meus olhos com as mãos. -Então feche os olhos, rapidinho. -Ele diz e eu consigo sentir o hálito dele na minha cabeça. Eu fecho os olhos, nervosa. Ele tira uma das mãos dos meus olhos, mas eu continuo de olhos fechados, enquanto eu escuto um interruptor sendo ligado. Ele volta com a mão aonde havia botado. -Não se apavore, tudo bem? Isso é só uma coisa que vamos fazer... por diversão. 

-Você está me assustando. -Eu digo, verdadeira. Do que é que ele está falando? Estou prestes a perguntar quando ele tira as mãos dos meus olhos e eu os abro. Meu queixo vai até o chão quando eu vejo um enorme pedaço de tecido branco preso com alguma coisa em uma parede, com alguns metros de altura por mais alguns metros de comprimento. É branco. Imaculadamente branco, assim como todas paredes. Mas isso não é o que mais me impressiona. No chão,  há pincéis de todos os tamanhos, e latas enormes de tinta, junto com panos, esponjas, espátulas e três escadas de madeira. Forrando o chão, um enorme tapete, que inicialmente deveria ser branco, mas está todo sujo de tinta, não há janelas. Só a porta. -Isso... isso...

-Isso se chama Clube de Monet. -Ele encolhe os ombros, nervoso. -Eu conheci esse lugar no primeiro ano, mas nunca pintei aqui. 

-Você disse que só pintava no papel. -Eu digo, encarando seu rosto e dando um passo para trás, para me distanciar  um pouco. Não digo acusando, só... atestando o que ele já sabe. 

-Certo. Mas eu resolvi fazer algo novo. Para o baile, acho que vai ser uma boa ideia. Aliás, pinturas estão incluídas no projeto. -Owen explica rapidamente. -Eu aluguei para hoje. E aí, você acha que... 

-...Que eu não vou conseguir pintar? Acho. 

-Isso é besteira, você desenha bem. 

-Mas não pinto. 

-Nem eu. Por isso vamos tentar. -Ele joga para mim um avental, e eu tiro meu suéter para pôr, por cima da camiseta. Hesitante, ele me joga um pincel também. -Não aceito não como resposta. 

-Clichê. -Eu comento e ele ri. Eu penso um pouco. Que mal isso pode fazer? -E se não der certo? Você pagou por esses tecidos não é?

-Paguei. Se não der certo, a gente só guarda pra nós mesmos e seguimos em frente. -Minha vez de rir. 

-Certo. Acho que assim não tem problema então. Posso fazer rabiscos com lápis primeiro? 

-Claro. Vai tentar, então? 

-Bem... já que você não aceita não como resposta... -Eu digo, fingindo indiferença, e nós rimos depois disso. Eu pego um lápis e vou para um canto da sala, e só encaro por uns cinco minutos o tecido branco. Quase com medo de começar. Então eu me forço a fazer o primeiro traço. Bem leve, bem indefinido. Só para perder o medo, já que, uma vez que você começa, é fácil demais continuar. Já que o estrago (ou não) já está feito. Então eu levo o traço mais adiante, até ter a torre central de Notre Dame levemente esboçada. Eu uso a escada pra deixar o desenho maior e depois desço para respirar fundo, antes de fazer os lados oeste e leste do desenho. Parece mais gótica que o normal, mas tento não reparar toda hora nisso. 

-Está ficando muito bom. -Owen comenta e eu sorrio. 

-Obrigada. -E então procuro o desenho dele, mas não acho. -Cadê o seu? 

-Não fiz ainda, estava vendo você fazer o seu. Achei legal, o jeito que você realçou o que todo mundo odeia. 

-O que é que todo mundo odeia? -Eu questiono, confusa. 

-O estilo gótico. A maioria acha isso coisa do capeta. Mas ficou legal do seu ponto de vista, mesmo que esteja mais evidente. -Ele pega um lápis e encara o tecido, assim como eu, antes de começar a desenhar. Ele faz um traço também, mas então para. 

-O que você vai tentar desenhar? 

-Torre Eiffel. Mas... isso parece chato. -Eu penso um pouco, tentando achar um jeito de tornar a figura mais interessante. 

-Talvez você possa fazer como eu... bem, como eu inconscientemente, fiz. Capriche no que todo mundo odeia sobre a Torre Eiffel. Ou no defeito dela. -Ele me olha, perdido. 

-Qual o defeito dela? 

-Você consegue acreditar -Eu começo a descer da minha escada e vou para mais perto do desenho dele -Que o monumento mais famoso de Paris, é torto? -Ele parece surpreso. 

-O quê? A Torre? Como assim? Não parece. 

-Eu sei, não é muito, mas há uma inclinação, sim. E você sabia que um escritor francês famoso, escreveu uma carta dizendo que o projeto da Torre tinha um "esqueleto horroroso"? Acho que esse tem que ser o seu ponto de partida. 

-Hm... boa ideia, vou tentar. Obrigado. -E então ele gruda o lápis no tecido outra vez, e assim como ele, eu fico observando enquanto ele traça o lápis pelo tecido branco. E me surpreendo quando ele faz uma Torre bonita, e extremamente inclinada. Mas eu entendo o que ele quer dizer. O que eu quis dizer no meu desenho também, sem pensar sobre isso. E entendendo o que ele quis dizer, eu entendo outra coisa, consequentemente. Talvez eu não seja um fracasso total. Talvez ser um fracasso total seja o que me torna diferente. Talvez o meu "esqueleto horroroso" e os meus defeitos sejam o que me fazem... bem, ser eu. Mesmo que "eu mesma" seja uma porcaria na maior parte do tempo, não há ninguém que seja uma porcaria do jeito que eu sou. E isso é um tanto reconfortante. Talvez eu não esteja completamente perdida, afinal de contas. 

Ele continua o desenho dele, e eu começo a pintar o meu, com amarelo vivo e pinceladas grossas, como se uma criança estivesse pintando. Mas eu não ligo. Nós ficamos em silêncio, conversamos um pouco, depois voltamos ao trabalho. Pedimos pizza, pintamos mais um pouco, e conversamos também. Eu perco a noção do tempo, mas eu não estou com sono ou cansada. Adrenalina corre nas minhas veias a medida que eu deixo o desenho me guiar. É quase algo mágico. Uma sensação tão boa que quando Owen me chama, eu me sinto um tanto decepciona, por perder aquela emoção que me prendia. Mas não é por muito tempo. É só até eu ver o desenho completo dele. E não é nada se não perfeito. 


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