Beautiful Bones escrita por loliveira


Capítulo 11
Boas Lembranças


Notas iniciais do capítulo

esse...capítulo...está...pessoal...demais...vou...chorar.



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A pressão é enorme mas eu sei que eu tenho que fazer isso. Porque se eu não fizer, nós simplesmente não temos chances de ganhar essa competição entre as equipes de artes. Desde que Cathy entrou (no Programa e pro grupo do Danny e da Lily), as coisas estão piores. As aulas em si nem tanto, mas agora tenho que aguentar Lily E Cathy, olhando pra mim e me julgando. Eu não posso nem usar minhas camisetas de ficar em casa lá porque agora elas têm ataques de riso por causa disso. Eu sei. Eu NÃO deveria ligar. Mas, outra vez, ela era minha melhor amiga. O que eu posso fazer? Ignorar? Às vezes, eu me pergunto se as coisas estariam as mesmas se aquele incidente do namorado dela nunca tivesse acontecido. Eu provavelmente estaria sã e salva das brincadeiras na escola, e ela ainda seria minha amiga. Sabe o que é mais irônico em tudo isso? Todo mundo na escola acredita que eu nunca beijei alguém, menos a Cathy. Ela acha que sim, já que eu supostamente beijei o namorado dela. Mas o resto da escola (ATÉ. A. LILY) acredita que eu nunca beijei ninguém. Isso até parece uma piada, de tão engraçado que é. Pensando bem, minha vida inteira já é uma piada, então, eu poderia rir o dia inteiro. 

Olho pra mãe do Owen, e pro resto de gente que está na sala. Todos do comitê, ouvindo CATHY falar sobre como é uma ideia genial fazer o baile sobre as flores da cidade. É um tema muito legal e criativo se você levar em consideração o cérebro de gelatina que Lily tem. Talvez o Danny e a Cathy tenham salvado o trabalho um pouco, mas levando em consideração, outra vez, que eu sempre tinha que fazer os trabalhos quando eu e a Cathy fazíamos em dupla, acho que Danny foi o único que realmente fez alguma coisa. Por mais que não pareça que ele sabe alguma coisa de flores. Ele parece aquele garoto que pisa nas flores do jardim da vizinha, mas não dá pra julgar. Isso eu aprendi com as frases filosóficas dele nas aulas de artes. 

A sala está cheia, eu estou tremendo, e Ramona, do meu lado está roendo as unhas. Desde que Cathy entrou no Programa, ela anda mais vingativa que o normal, me pressionando pra que o nosso tema seja o escolhido. Ela é uma amiga, e eu sei que ela está fazendo isso por mim, só que botar mais pressão nos ombros dessa garota aqui, não dá muito certo. O mínimo que pode acontecer, é eu explodir. 

Cathy termina de falar, e então eu olho aterrorizada pra Owen, em busca de uma direção. De repente, eu paraliso no meu lugar. Isso sempre acontece. Aquela onda aterrorizadora de medo que me faz congelar no lugar bem na hora de alguma coisa importante. Eu odeio essa coisa. 

-Willow. Respira. Só, vai. Vai dar tudo certo, eles vão amar você. -Ele diz, calmo, como se tentasse acalmar um leão prestes a atacar. Só que no meu caso, estou prestes a ser devorada. 

-Ah, pare de drama. -Ramona diz. Animadora. -A única pessoa com quem você tem que se preocupar, de verdade, é a minha mãe. Porque ela tem a escolha final. Nós não contamos pra ela sobre o que é o nosso, então você só tem que falar muito bem. Mas o resto é resto, você só tem que explicar as coisas como elas realmente são e ela vai amar. Agora, vou contar até três, antes de gritar pra todo mundo que você desmaiou e te deixar inconsciente. E isso quer dizer que a Cathy iria ganhar. E no fundo você sabe que não quer que a Cathy ganhe. Porque a Cathy é uma vaca. 

-Uma Va-Cathy. -Owen concorda. -Então vai lá, e só seja você mesma. 

-Minha eu mesma é uma droga. -Eu explico desesperada agora que eu escuto a voz da diretora gritando "próxima".

-Um... Dois... -E então alguém me empurra para frente de vinte pessoas, esperando pelas minhas palavras. Eu arregalo os olhos e olho pra Owen e Ramona, no canto da sala. 

-Er... oi. Meu nome é Willow e o meu tema é sobre... -Minha voz treme e eu olho pra Ramona. Ela parece tão esperançosa. E ela quer tanto que o nosso tema ganhe. Eu olho pra Owen e eu consigo ver nos olhos dele que ele acredita que nós podemos ganhar. Ele acredita. Em mim. Subitamente, um sentimento toma conta de mim. Não é medo de não conseguir. É mais... medo de não tentar. Eu preciso fazer isso, porque há mais em jogo que a minha reputação, ou minha timidez. É muito mais profundo. É a felicidade deles também. Porque é o último ano deles como estudantes e eu devo uma noite maravilhosa à eles. Eu olho de volta para as pessoas, esperando que eu termina a frase, e antes de falar, eu respiro fundo. -Isso está errado. Não posso começar assim. -Eu escuto uns murmúrios vindos dos integrantes dos comitês, e então falo mais alto dessa vez. -Escutem. Eu não sei muito sobre bailes. Ou festas. Ou qualquer coisa que envolve me socializar. Quem me conhece sabe que eu não  sou exatamente a pessoa mais amigável, ou popular dessa escola. Mas tem uma coisa que eu sei. No dia do baile, é o único dia que você acorda, e então, por míseras horas, você acredita que tudo pode acontecer. É quando o seu cérebro propositalmente esquece que a sua vida é um inferno, e te deixa ansiosa. Porque simplesmente tudo pode acontecer. Você pode se vestir como uma princesa e ninguém vai te zoar por isso. Você pode se sentir o máximo, porque você merece se sentir o  máximo naquele dia. É o único dia, que você pode se sentir do jeito que você quiser, porque é um dia especial. Pra dançar daquele jeito que você nunca teve coragem. Ou pra ficar bêbado, porém eu não recomendo, já que as ambulâncias do ano passado acabaram com o som da festa. Enfim, é o dia. Não só para as garotas. Para os garotos também. Eles podem ficar chiques e parecendo o James Bond pra impressionar as garotas e não vão parecer desesperados. -Alguns, incluindo Owen, começam a rir, e minhas mãos finalmente param de tremer e eu começo a anar de um lado para o outro. -Mas não é só isso. É um dia para criar lembranças. Porque a vida é feita de lembranças. E uma boa vida é feita de boas lembranças. Dito isso, agora eu digo que o nosso tema é Paris. Vocês sabem. A cidade-luz, e conhecida como a cidade mais romântica do mundo. Essa mesma. Então vocês se perguntam: por quê? E eu respondo: porque se nós só vivemos uma vez, e a vida é feita de boas lembranças, eu quero que as minhas lembranças sejam as melhores e as mais inesquecíveis. Eu quero memórias que valham a pena serem recordadas, e é por isso que nosso tema é Paris. Porque se um dia, eu acordasse e soubesse que eu tenho só um dia de vida, eu iria para Paris. E não é só  porque meu pai mora lá -As pessoas suspiram de surpresa, mas eu continuo. -É porque não há lugar mais bonito para se viver. É romântico. É moderno. É francês. Pensem nisso. Torre Eiffel. Arco do Triunfo. Pensem nas memórias, nas emoções. -As pessoas começam a conversar entre si e eu fico calada, mas então a diretora manda todos calarem a boca. 

-Pode continuar, Ms. Durieux.

-Obrigada. -Respiro fundo, outra vez. -De qualquer forma, se quiserem pensar no lado técnico, podemos falar sobre isso também. Pensem no bocado de cultura que vamos estar apresentando para os alunos. Pensem no processo de criar todas as luzes, pensem em como as pessoas que vão se sentir, depois de criarem a escultura de uma Torre Eiffel e então chegarem no baile e o produto final estiver lá, lindo e com todos elogiando. Vamos pensar naquelas pessoas, as excluídas, as nerds, as pessoas do grupo de marcenaria, que vão se juntar, para fazer a parte sólida da decoração. Imaginem a emoção dessas pessoas, ao verem alunos, ao verem garotas elogiando o trabalho deles. Porque essas pessoas, são talentosas, e merecem o reconhecimento que a maioria não dá. Essa é uma chance de fazermos com que essas pessoas, que vivem um inferno o ano inteiro, se sintam especiais, porque participaram de algo especial. E elas vão ter lembranças boas. Pra lembrar daqui há cinco, dez anos, olhando pra trás, e lembrando de como as pessoas ficaram deslumbradas com o trabalho delas. Pensem no dinheiro que podemos arrecadar, com a venda dos cadeados, para a ponte da França, que se olharem nesse documento -Eu aponto para alguns papéis em cima da mesa. -Vão ler com mais detalhes. Nós podemos arrecadar. Para o Programa de artes, talvez? -Eu sorrio para Catherine, na porta. -Ou até para novos uniformes para as líderes de torcida. Pensem no quanto isso nos ajudará. Por fim. Eu quero que vocês pensem em vocês. No "vocês" adolescente, que sempre sonhou com o baile dos sonhos. Imagine entrar e ver o cenário mais bonito de Paris. Imagine dançar sob a sombra da Torre Eiffel, e tornar os laços eternos, com os cadeados na ponte. Pensem que vocês acordaram e descobriram que tem apenas alguns dias de vida. Você gostaria de passar os últimos dias da sua vida em Paris? Com os seus amigos? Ou talvez com aquele possível namorado. Aquele amigo que está esperando pra se declarar para você. O que vocês pensariam disso? Eu não posso responder por vocês. Mas eu posso responder por mim. Ou por Owen, e Ramona, e pelo grupo de ciências, e de música. Porque, daqui há cinco, dez anos, eu quero olhar para trás e pensar "caramba, eu tive o melhor dia da minha vida" quando eu lembrar desse dia. E eu quero, no dia do baile acordar e pensar que tudo é possível, e quando eu entrar no ginásio, eu entre em um conto de fadas, e então, eu quero realmente acreditar que tudo é possível, porque, afinal, eu vou estar em Paris. E eu posso dançar do jeito que eu quiser. E beber o quanto eu quiser. E conversar o quanto eu quiser. E ter uma noite maravilhosa. E o mais importante, eu quero ter lembranças maravilhosas. Para quando eu for morrer, seja cedo ou tarde, eu tenha completa satisfação em dizer que eu vivi uma vida maravilhosa. Porque minhas lembranças serão maravilhosas. -Um silêncio profundo se instala na sala, apenas por alguns minutos. 

Para então, todo mundo começar a aplaudir.


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Notas finais do capítulo

bye