Beautiful Bones escrita por loliveira


Capítulo 10
Luz e Sombra


Notas iniciais do capítulo

heyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyy



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–Você é ridícula. -Uma voz atrás de mim fala e eu congelo. Cathy. Lentamente, eu me viro, para encará-la. Tentando não enlouquecer, eu puxo minha mochila para mais perto. Estou há alguns passos da porta da sala de artes.

–Cathy. -Eu digo, sem emoção, e ela estreita os olhos, me olhando com desdém. Eu fico nervosa. É esquisito, agir como uma estranha perto dela.

–Pra você eu não sou Cathy. E como você pôde ser tão patética a ponto de pedir para sua amiguinha valentona vir jogar comida em mim? Não consegue se defender sozinha? Aquilo foi o cúmulo da ridiculosidade.

–Eu não pedi para ninguém fazer nada. Com licença. -Eu tento entrar na sala mas ela bloqueia a passagem.

–Eu sempre soube que você era fraca demais pra se defender. Aquilo foi tão a sua cara.

–Eu tenho que ir. -Eu digo, a voz fraca. Ela dá um risinho e então libera a passagem. Eu entro na sala, mas antes de ir ao meu lugar, eu respiro fundo. Bem fundo mesmo. Porque aí eu posso ficar ocupada demais pra chorar. Eu estou morrendo de vontade de chorar, mas seria muito esquisito. Porque Catherine e os outros já estão aqui, e provavelmente olhando pra mim. Eu só posso tentar adivinhar porque estou com os olhos fechados. Mas quando eu os abro, eu tenho certeza - todos eles estão olhando pra mim, como se eu fosse uma lagartixa que caiu do teto ou algo assim.

–Bom dia, Willow. Sente-se. -Então eu sento, do lado de Danny, mas dessa vez, não é Lily do meu lado, é Owen. Lily está na última carteira, falando com Danny. Ela parece feliz. Ou pelo menos, feliz o suficiente para não me encher a paciência. Ela ainda fala sobre como é bom beijar alguém na minha frente só pra me provocar. Mas hoje, ela está sorrindo (pelo menos, parece um sorriso de verdade) e quando olha pra mim, não diz nada. Ela só olha por olhar mesmo. Talvez seja pena, porque eu devo estar fazendo uma bela careta (eu SEMPRE faço uma careta quando não quero chorar, não importa o quanto eu tente disfarçar.) e devo estar tão feia que ela se recusa a me dirigir a palavra. De qualquer forma, estou contente que ela tenha calado a boca. Porque eu não aguentaria mais um comentário sobre minha falta de jeito com:

1-Garotos.

2-Sexo. (O que não é falta de jeito. É completamente sem jeito.)

3-Beijos.

4-Roupas bonitas. (Só na visão dela, porque eu sei que minhas camisetas do Bruce Springsteen são demais. O argumento dela é que o cara é velho e rouco demais pra ainda fazer sucesso. Obviamente, eu ignorei o insulto. Mesmo que eu não ache que ter a voz "rouca demais" seja um insulto. É tipo... uma benção de Deus).

Mas tem uma coisa, que é pior que todo o resto e que acaba comigo, por isso eu estou contente sobre o silêncio dela. É essa coisa complicada, complexa e imprevisível chamada de:

5-Amigos.

Realmente? É só isso que ela sabe falar. Falar de verdade. Tipo, toda hora. Até quando a gente não está no Programa. Ela para no corredor pra falar comigo sobre isso (raramente, mas para). Ela não tem coisa melhor pra fazer? Provavelmente ela só está fazendo isso por causa da Cathy. Mas eu não ligo para os motivos dela. Eu só quero que ela continue assim, e pare.

Do lado do Owen, está Ramona. Ela está irradiando felicidade, desde aquele dia, do hospital. E é ao mesmo tempo legal e chato. É legal porque é completamente fora dos padrões de comportamento dela. Não que eu conheça ela o bastante pra dizer que ela é sempre irritada e resmungona etc. Eu só estou começando a conhecer ela, mas ela nunca ficou tão... animada. Ela nem se incomodou em prestar atenção no que Lily está usando pra tirar sarro das roupas de marca. Ela só está mexendo no celular, sorrindo e digitando freneticamente. Ela se parece muito com Owen quanto está sorrindo. Ou feliz. E disso eu sei, porque em todo esse tempo que eu conheço Owen, ele está sempre feliz. E sorrindo. É chato porque agora ela não vai simplesmente me entender quando eu estiver triste e com raiva do mundo. Parece meio egoísta, eu sei. Talvez até seja egoísta. Mas às vezes todo mundo precisa de alguém pra entender a gente quando estivermos tristes e com raiva do mundo. E é melhor ainda quando a pessoa se sente do mesmo jeito que você, porque aí ela não te julga. Não que Ramona me julgue. Ela só tenta me fazer ver o lado positivo da coisa (por exemplo: "não é ruim você nunca ter beijado alguém, porque um dia, o cara certo vai aparecer") só que às vezes - quase sempre - eu não quero ver o lado positivo da coisa quando eu estou triste e com raiva. Eu só quero reclamar um pouco. Adolescentes fazem isso toda hora, não é? Não é por causa disso que somos conhecidos? Eu já não faço metade das coisa que adolescentes normais fazem. Reclamar é provavelmente minha única tentativa de me encaixar nos padrões sociais.

–Então, vamos começar com algo simples. Luz e sombra. Ou Chiaroscuro. Como preferirem. Lily, pegue uma folha e vá passando em diante. Ramona, pegue um lápis da caixa e passe ela adiante.

–O que nós vamos desenhar? Qualquer coisa? -Owen pergunta, do meu lado. Ele, depois disso, vira pra mim e diz um "E aí" que eu respondo com a mesma coisa. Catherine anda até a mesa dela enquanto fala.

–Não, não, não. Hoje vocês pintarão... -Então eu espero ela tirar da caixa enorme um prato com frutas, livros, qualquer coisa, mas ao invés disso, ela tira... -Um lápis.

–Como é que nós vamos desenhar isso? Ou melhor, como é que nós vamos fazer sombra nisso? -Danny pergunta, meio confuso. Todos nós estamos. O lápis é branco, ainda por cima.

–Ele... ele é branco. -Eu tento trazer razão à cabeça daquela professora, mas não dá certo, porque ela não se deixa abalar.

–Estou enxergando muito bem, Willow. Mas obrigada pela observação.

–Isso é sério? -Owen questiona com um tom desconfiado.

–Claro que é. Vocês acham que Picasso, ou Monet, ou Kahlo nunca passaram por dificuldades pra pintar? Frida Kahlo sofreu um acidente e teve que ficar de cama por um ano. Mesmo assim, o pai dela mandou instalar no quarto dela, no teto, um espelho pra que ela pudesse pintar o que via. Todo mundo achou que aquele seria o fim da fase artística dela, mas não. Ela não desistiu e começou a pintar auto retratos baseados nas imagens que ela via no espelho: ela mesma. -Ela bota o lápis apoiado em cima de uma mesa, com um livro apoiando o lápis, pra que ele fique em pé, e então se vira para nós outra vez. -Metaforicamente, considerem isso como o meu espelho para vocês. Sim, o lápis é branco. E sim, ele é pequeno. Mas vocês vão ter que aprender a desenhá-lo do mesmo jeito. Então sugiro que deem uma boa olhada, respirem fundo e comecem a trabalhar. Gente, isso não é teste pra entrar em alguma universidade. Não estou pedindo que vocês desenhem o lápis mais bonito de todos, estou pedindo que vocês dominem a técnica e façam a luz e sombra mais bonita de todas. Conseguindo isso, vocês vão desenhar o lápis mais bonito de todos. E sem que eu precise pedir. -Então, aparentemente, todos nós avaliamos que a resposta foi o suficiente e começamos a encarar o pequeno lápis, parado lá.

–É pra desenhar o livro também? -Lily pergunta.

–Não, só o lápis. E vejam o ângulo da luz. Aqui do lado... e aqui embaixo também. Vejam onde termina e trabalhem com intensidade. Esfumassem bem.

Depois disso, eu não escuto mais muita coisa. Isso sempre acontece quando eu estou desenhando. Talvez seja por isso que eu goste de desenhar (mesmo quando fica uma droga). Porque você pode se desligar do mundo e se concentrar só naquilo. É que nem ver um filme tão bom... tipo Senhor dos Anéis e não ligar nem um pouco de ficar três horas sentada vendo a história acontecer. É tão bom que te deixa absorta na história e quando você vê, acabou. É a mesma coisa com desenhar, pra mim. É como ir pra outro planetar e ficar pulando numa piscina de sorvete. É bom demais pra parar tão cedo.

Então eu começo. Primeiro, eu encaro o lápis com tanta intensidade, que eu quase sinto ele quebrando de vergonha (se fosse possível um lápis ficar com vergonha, vejamos por esse lado). Eu encaro a procura da luz. Catherine, nos dias de teoria, sempre diz que temos que procurar a luz primeiro. Pra depois identificar as partes escuras. Porque senão a gente só vê a sombra e esquece que tem ao menos um pingo de luz no objeto. Porque a sombra é mais forte que a luz. Depois de encarar bastante, eu começo com umas linhas. Só o "rascunho" da coisa e aos poucos vai fluindo. É difícil, e isso eu não posso dizer o contrário. É tão pequeno que quando nós vamos começar a desenhar a sombra, temos que parar, porque a luz começa a bater. Eu nem me preocupo em ver o de Owen, ou de Ramona ou dos outros. Só preciso achar exatamente onde a luz começa e a sombra termina. Ou o contrário, tanto faz.

Eu fico tanto tempo ligada só no desenho que quando eu sinto um papelzinho caindo no meu colo, eu dou um mini-gritinho. Digno de uma líder de torcida quando quebra uma unha.

–Algum problema? -Catherine franze o cenho.

–Nenhum, só...errei uma linha. -Ela concorda e volta as anotações e eu percebo que risinhos estão saindo da boca de Owen. Me viro pra ele, mas ele só "aponta" com a cabeça para o papelzinho. Eu abro e leio. Reviro os olhos. Ele quer saber sobre a minha careta/cara-de-choro do começo da aula.

Aquilo não foi nada. Sério. Era só a minha cara normal, muito obrigada por notar.

Eu respondo, jogando o papelzinho de volta. É meio idiota, já que nós estamos lado a lado; mas a sala toda está em silêncio e quando fica assim, Catherine briga, às vezes, quando fazemos barulho. Ela diz que faz mal pra concentração. O que é meio verdade. Fico observando enquanto ele lê. Primeiro, ele fica tentando a olhar pra mim, porque olha para os meus tênis. Meio esquisito, mas eu sei que ele pensa em me encarar. Depois, ele revira os olhos e escreve. Quando eu recebo, já pronta pra ler, é a minha vez de revirar os olhos.

Eu não acredito, mas não vou perguntar mais nada. Sua mãe já falou com Will? Sobre o bebê?

É claro que ele não ia acreditar em mim. Ele não é tão burro. Na verdade, não acho que ele seja burro nem um pouquinho.

Bem, eu agradeço por me dar um espaço e privacidade. E não. Ainda não. Ela vai esperar pra contar quanto ELA MESMA estiver mais calma. Não sei quando, ainda. Deixe eu ver o seu desenho?

Quando eu jogo de volta, ele não responde, ao invés disso, ergue levemente o desenho, o suficiente para que eu veja um lápis mais bonito do que o que está em cima da mesinha com um livro. Ele realçou a sombra, e deixou as linhas mais marcantes. Coisa que eu gostaria de fazer. Ele me olha como se dissesse, "agora o seu", mas eu balanço a cabeça. Eu nunca vou mostrar meu desenho pra ele.

Infelizmente, ele se levanta, rápido demais para que eu esconda o papel, e eu vejo ele dando uma olhada rápida antes de ir jogar o papelzinho da nossa conversa no lixo. Eu jogo minha borracha nele e ele ri, pega e joga de volta. E então batem na porta, fazendo todo mundo dirigir a atenção para a professora, que exclama, feliz.

–Pessoal, ganharemos uma nova aluna! Ela vai entrar para o grupo do Danny e da Lily, na questão do baile, que eu espero que vocês estejam levando a sério. -Ela diz, enquanto anda até a porta, enquanto Owen a abre...

...E de lá, entra uma sorridente Cathy.


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Notas finais do capítulo

o que acharam? no próximo capítulo é o "discurso" da Willow pro comitê kfsjdhfksdjh como vcs acham que vai ser? sdfjsdjfh yayy bye love youuuuuuuuu