Beautiful Bones escrita por loliveira


Capítulo 1
Pai-Preocupação




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/342100/chapter/1

O primeiro e-mail começa com "Willow!!" e eu sei que boa coisa não vai aparecer. Meu pai não bota dois pontos de exclamação, nunca. Nos cinco anos que ele vem me mandando e-mails, nem uma vez botou um ponto de exclamação a mais. E ele não é muito fãs de mudanças. Mas assim, eu já posso ter uma ideia do que vai ter no resto do e-mail.

"Sua mãe me contou sobre o programa de artes. Quando é que você ia me contar? Eu sou seu pai e se você precisasse de dinheiro, era só me pedir. Mas estou contente por eles terem chamado você. Então, assim que eu soube, depositei o dinheiro das aulas extras na sua conta bancária, e todo o final do mês, é só você dar para a sua mãe, que ela cuida de tudo. Você devia me contar mais cedo, e eu teria te inscrito no programa antes. Mas vai ser uma experiência legal, não é? Você não artes, não ama?"

Não, eu não amo.

"Como você está filha? Soube que sua mãe está noiva! Precisa me contar tudo! Sophie está mandando lembranças. E também está reclamando que você não liga mais. Queremos notícias, filha.

Com amor, papai.

Geoffrey Durieux, Producteur Exécutif CW."

Cinco minutos depois, o segundo e-mail.

"Willow..."

Ah não. Isso não. Sem reticencias. Isso chega a ser pior do que os pontos de exclamação. Dessa vez, eu não tenho uma ideia do que vai estar escrito. Eu tenho praticamente todas as palavras. E elas são mais ou menos assim:

"Sua mãe me ligou, outra vez, para contar sobre Cathy. Eu e Sophie queremos dizer que sentimos muitíssimo filha. E estamos arrasados com a notícia. Não posso nem imaginar o que você está sentindo. Quer que eu fale com os pais dela? Achei absolutamente medonho o que ela fez para você, e estou pensando seriamente em entrar em contato com a escola. Vou ser honesto em dizer que nunca gostei dessa sua amiga, nunca me pareceu confiável. Tomarei todas as providencias para fazer esses rumores que ela espalhou pararem. Pelo menos, estou contente em saber que você ainda é meu bebezinho. Ha. Brincadeira.

Como você está, querida? Eu sinto tanto pelo que aconteceu. Sophie está igualmente arrasada. Você precisa de alguma coisa? É só pedir que vou providenciar. E em resposta, Benoît está bem, obrigado por perguntar. Dando um pouco de trabalho, mas faz tempo que eu não cuido de um bebê, então Sophie entende quando eu troco a fralda errada.

Esperarei suas respostas, e espero que você fique melhor. Sua mãe disse que está meio abalada ainda. Você é melhor que isso filha, realmente.

Com amor, papai.

Geoffrey Durieux, Producteur Exécutif CW."

A perspectiva de meu pai entrando em um processo contra a escola me enche de medo. Eu não preciso disso. Me faria mais perdedora do que já sou. A verdade é que tem algumas coisas que minha mãe deixou de fora, quando ligou para ele. Nas duas vezes. A primeira é que eu TENHO dinheiro, então se eu quisesse, eu poderia pagar o programa de artes. O probleminha é que eu simplesmente ODEIO falar sobre artes.

Essa coisa toda começou quando minha professora de inglês pegou meu caderno e viu meus desenhos. Eles não são particularmente bons, porque eu não estava desenhando para alguém ver, mas ela mostrou para a diretora do programa e ela ligou para a minha mãe. Eu não entendo por que ela quer que eu vá, minha mãe, quer dizer. Ela sabe que eu sou um fracasso. E eu não sei para que isso seria útil na minha vida. Falar sobre essas coisas não me faz me sentir melhor. Não é como se eu estivesse indo pra um psicólogo ou alguma coisa assim.

A segunda coisa que ela deixou de fora foi que ela já está de casamento marcado. Mas é esquisito ela ter dito pro meu pai que ela ao menos estava noiva. Deve ser a primeira vez que ela fala sobre isso para o meu pai, então deve ser um sinal. Um sinal que ela finalmente superou o divórcio deles e está seguindo em frente. Já estava na hora, porque já se passaram cinco anos desde o dia que ele assinou os papéis e voltou pra França.

Dessa vez, estou suspeitando que seja realmente oficial. Minha mãe vai se casar.

Ela já ficou noiva sete vezes nesses cinco anos e apesar de tudo ter acontecido rápido demais, ela nunca se deixou abalar. Ela é o contrário de mim: bonita, independente e simpática. Não é segredo que qualquer homem que tenha uma remota chance com ela tente botar um anel no seu dedo. Ela é tipo a mulher fatal da cidade, sempre conquistando corações ao mesmo tempo que os partia. Não me surpreende que meu pai tenha pedido o divórcio.

A última coisa que meu pai não pareceu notar é quão ruim está a escola agora. O inferno. Se ele quisesse acabar com o problema, teria que processar metade dos alunos da escola, não só a Cathy, a única coisa que ela fez foi espalhar o boato, e então todo mundo terminou o serviço comentando, fofocando e tornando minha vida uma completa confusão.

O pior de tudo, é que o rumor é verdadeiro.

A maioria das garotas no ensino médio estão preocupadas com virgindade. Eu estou preocupada com o fato de que eu nunca beijei ninguém minha vida inteira. Meio vergonhoso, já que eu tenho dezesseis anos; mas o que se pode fazer? Eu sou um fracasso.

Eu nunca fui bonita. Cathy sempre foi a melhor. Ela tinha um namorado bonito, e mais alguns garotos aos seus pés. A vida perfeita. Aquele garota que irradia confiança e felicidade por onde passa e você imediatamente sente inveja. Ela é linda. E eu sempre vivi na sombra dela, até o namorado dela tentar me beijar. Quando eu recusei, ele contou pra Cathy que EU tentei beijar ELE e é aí que o inferno começou. Porque eu finalmente tive que sair da sombra dela, mas eu não estava preparada com a luz. Agora eu estou sozinha. Ela sempre foi minha única amiga, e então, uma vez que ela está me ignorando/tornando minha vida um inferno, estou sozinha.

Tudo por causa de uma mentira. Ela resolveu acreditar no namorado do que em mim, a garota que ela conhece a vida toda. Isso é incrível, não é? Como a confiança de uma pessoa pode ser tão sensível, a ponto de ela acreditar em alguém que ela conhece há três meses, do que em alguém que ela conhece há seis anos.

Eu fecho os meus olhos, tentando não chorar. Eu me odeio por chorar toda hora, mas isso meio que me esgota. Respirando fundo, eu me levanto e vou até minha mãe, no seu quarto, de roupão e dando uma olhada em revistas de casamento.

–Não posso acreditar em como você me sacaneou. -Eu grito pra ela. Ela levanta o olhar, sem mudar a expressão.

–Do que é que você está falando?

–Você contou pro papai sobre o programa de artes! E sobre a Cathy! -Eu jogo minhas mãos no ar, exasperada.

–Ele é seu pai. Ele precisa saber dessas coisas.

–Agora ELE tem que saber que eu sou uma puritana também. Que vergonha. Dá pra imaginar ele conversando com a Sophie sobre isso. Se bobear até Benoît já deve ter beijado alguém na vida dele.

–Ele é só um bebê. Que exagero, Willow.

–Ele é francês. -Bebês franceses são mais requisitados que modelos. Eu sento no pé da porta. -E como você pôde dizer pra ele que eu não tinha dinheiro pro programa? Só pra ele pagar pra mim? Você está me obrigando a ir?

–É claro que eu estou. Filha, desde o que aconteceu com a Cathy... eu sei que você está triste. Talvez você só precise de novos ares. Mudança. Pelo menos, tente.

–E se eu for um fracasso? -O que é de se esperar.

–Ah, pelo amor de Deus. Você vai falar pro seu pai que está super contente e vai pro programa.

–Mãe...

–Faça isso por mim. -Eu solto um gemido de insatisfação. -Melhor ainda, -Ela diz, jogando a revista na minha cara. -Faça isso por você.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!