A semana se arrastou como se fosse uma lesma em câmera lenta. Se eu sou exagerada? Nenhum pouco.

Finalmente é feriado. Finalmente vou poder ficar em casa sem fazer absolutamente nada a não ser, comer, dormir, comer, ver televisão, comer e... Comer também.

– Filha, eu e sua mãe vamos ao shopping comprar roupas novas. Amanhã iremos nós três em uma noite de autógrafos do escritor favorito de sua mãe. - ouvi meu pai falar do outro lado da porta do banheiro. Eu havia acabado de tomar banho e estava penteando os cabelos quando ouvi ele.

– Tá... - disse sem tirar os olhos do espelho com os mesmos fixos em minhas orbitas castanhas. - Tanto faz. - resmunguei assim que tive certeza que meu pai não estava mais atrás da porta.

Ao sair do banheiro reparei que a casa estava completamente em silencio, como de costume. Calcei minhas pantufas e desci até a sala de estar para assistir um pouco de TV, enquanto meus pais estavam fora.

Assim que liguei a televisão e me sentei no sofá - lê-se joguei - ouvi a campainha tocar. Soltei um resmungo amaldiçoando quem tenha sido o cidadão que tocou a campainha e me levantei para abrir a porta.

Dei de cara com Lewis com aquele seu famoso sorriso amigável ao abrir a porta o que me fez soltar outro resmungo.

– Diga o que quer. - falei de mal humor.

– Nossa mal entrei e você já me trata assim? - riu ele entrando na minha casa sem eu ter ao menos o convidado. Ao ver a casa vazia perguntou: - Cadê seus pais?

– Foram no shopping. - fechei a porta e me direcionei para a poltrona em que meu pai normalmente se sentava. - O que te traz aqui Lew? - disse de um modo formal tentando imitar um psicólogo, pois eu estava sentada na poltrona e ele deitado no sofá maior.

– Minhas pernas. - disse me fazendo rir. O mesmo sorriu vitorioso e então começamos a conversar sobre assuntos variados até que meus pais chegaram e tivemos que nos comportar.

– Olá Lewis, que bom vê-lo aqui. - disse minha mãe sorrindo para ele e dando um beijo em cada bochecha rosada do menino, o que me fez rir.

– Quis ver Cath. - disse ele sorrindo para mim e eu sorri de volta para ele.

– Convidou Lewis para ir conosco amanhã filha? - disse meu pai colocando seu casaco sobre as costas do sofá.

– Não sabia se podia. - disse olhando para Lewis que percebeu meu desespero.

– Não se preocupe senhor e senhora Parker. Eu tenho que ficar cuidando de minha irmãzinha amanhã. - sorriu ele tentando fazer com que meus pais não o convidassem, pois ele sabia como eles eram.

Você acha que eu não iria falar deles para o único amigo meu nessa geleira? É claro que iria.

– Façamos questão Lewis. - disse minha mãe alisando as costas do garoto de um modo muito estranho o que fez meu cenho automaticamente se franzir.

– Está bem... - disse ele com receio olhando para mim que dei de ombros desistindo de não levar Lewis para o lado das trevas.

Minha mãe também insistiu que Lewis jantasse em casa. Ela nunca fez janta para mim, mas quando tem visita ela se fantasia de dona de casa e faz qualquer coisa que você pedir para ela.

– Até amanhã meu querido. - disse a dita cuja que deveria ser minha mãe se despedindo do meu amigo enquanto ele me dava um longo abraço para voltar para casa.

Subi sem o conceito de meus pais até meu quarto e me joguei na cama tentando impedir o grito que estava preso na minha garganta de sair.

Ouvi um barulho vindo da janela de meu quarto e sabia do que se tratava. Levantei-me, arrastei silenciosamente a cadeira até próximo à janela e me sentei na mesma segurando uma caneta e um punhado de folhas.

Lewis estava do mesmo modo que eu do outro lado, em sua casa. Ele escreveu alguma coisa e levantou o papel me mostrando o que era:

"Está tudo bem Cath?"

Sorri amigavelmente para ele e escrevi a resposta:

"Sim... Acho que sim pelo menos. E você, tem certeza que vai comigo amanhã?"

Ele demorou um pouco para ler, pois minha letra não era a das mais bonitas. Ao finalmente ler toda a pergunta riu e escreveu algo para depois me mostrar:

"Sim, tenho que estar perto de você para lhe proteger dos monstros malignos".

Ao ler aquilo não aguentei e cai na gargalhada junto a Lewis do outro lado do jardim. Nossas casas eram separadas por um pequeno jardim da senhora Tompson.

Ele apenas riu e voltou a escrever. Abaixo daquela frase havia outra menor que a primeira.

"Vai dormir anjo"

Franzi o cenho com o apelido e escrevi como resposta mostrando para ele:

"Não estou com sono..."

"Mesmo assim, você tem que estar bem amanhã para se apresentar para os amigos da sua mãe". Essa fora a resposta dele e por fim amassou todos os papeis que tinha escrito e os jogou janela a baixo fazendo-os cair no jardim de sua mãe.

Bufei e fiz o mesmo que ele. Acenei com a mão me despedindo do mesmo para poder ir me deitar. Mas estava enganada com não estar com sono, pois assim que deitei meu corpo na cama macia dormi feito pedra.

***

– Estou parecendo uma boneca de pano... - reclamei me olhando no espelho. Eu estava vestindo um vestido marrom claro, com uma meia calça cor de pele com corações também marrons. Usava também um salto alto cor de pele e maquiagem.

Meus cabelos estavam soltos, descendo lindamente até minha cintura.

– Está bonitinha vai. - disse Lewis rindo da minha cara.

O fuzilei com os olhos pelo reflexo do espelho e ele riu mais ainda.

– Está linda Cath, vamos logo. - Ele estava muito bonito. Seus cabelos castanhos rebeldes estavam penteados em um topete. Seus olhos azuis brilhavam mais do que nunca e ele usava uma calça jeans clara com uma camisa de botões azul clara e um sobre tudo preto.

– Como eu odeio minha vida. - respirei fundo indo para o carro que já nos esperava na frente de casa para irmos nessa tal noite de autógrafos.