Quando a sessão de tortura acabou (vulgo: nós chegamos em casa), Lewis me acompanhou até a porta.

- Espero que tenha gostado da viagenzinha. - disse ele, sorrindo. A animação dele era muita, e se eu não estivesse tão tensa com a presença dele, eu iria sorrir. 

- Obrigada mesmo, Lew, foi ótimo essa viagem, eu precisava de um descanso, sua família é... - comecei e então me contive. Respirei fundo e dei um sorriso tímido. - Tenha um bom dia, Lew, obrigada por tudo.

- Hey, Cath... - disse ele pegando no meu braço. Olhei-o e por um segundo pensei que ele soubesse que eu havia escutado o que ele havia dito na mesa e o que tinha dito a noite, mas não era isso. - Não se esqueça que temos um compromisso depois de amanhã.

- Droga, eu havia esquecido. - eu disse, batendo a mão na testa. - Até mais, Lewis, tenho que dar um jeito nisso.

- No que? - perguntou ele, mas eu já havia entrado.

 - Onde estava? - perguntou uma voz. Acendi a luz e era meu pai.

- Sai com os Tompsons. - eu disse.

- Vamos ter um almoço em casa hoje. Ou melhor, daqui a uma hora, acho melhor ir se arrumar. - ele disse. Dei de ombros e subi. Entrei direto no meu quarto, indo pro banheiro, evitando a janela, sabendo que Lew estaria lá. 

- Espero que isso me dê coragem para contar e se não der, pelo menos pra fugir de casa. - eu "rezei" e entrei de baixo do chuveiro. Depois de uns 20 minutos sai do banheiro e fui para o meu quarto, cantando "Stereo Hearts" (n/a: VIDA) e fuçando no meu armário uma roupa boa pra eu vestir.

- Vamos, Catharine, eles chegaram. - disse minha mãe, esmurrando minha porta. Suspirei e peguei uma roupa qualquer e, claro, minha blusa de couro. Fui até o banheiro e fiz uma maquiagem forte. 

- Cath, dá pra você vir até a janela? - ouvi uma voz gritar. Respirei fundo, contei até 10 e fui até a janela.

- Fala, Lew. - eu disse. - Não tenho muito tempo.

- Aonde você vai, mocinha? - disse ele e senti uma pontada de ciumes em sua voz. Acho que estou vendo coisas. 

- Eu tenho um jantar, senhor Tompson, gostaria de vir? - perguntei, sorrindo para ele.

- A senhorita quer a minha presença? Achei que estivesse me evitando. - disse ele e senti minhas bochechas corarem.

- Lew, eu vou precisar de você comigo essa noite, não torne isso mais dificil. - eu disse 

- É difícil ficar comigo? - perguntou Lew.

- Lewis, eu não disse isso! - eu disse e ele simplesmente saiu da janela. Ótimo, isso é perfeito. Limpei uma lágrima que caiu e respirei fundo, saindo do meu quarto. Quando eu desci estavam pelo menos 10 pessoas na minha sala. Não que minha sala fosse pequena, mas estava minúscula naquele momento.

- Pai? Mãe? - chamei e todos se viraram para mim.

- Então essa é a famosa filha dos Parker's? - perguntou alguém.

- Sobre o famosa eu não sei se sou ainda, mas sou filha dos Parker's. - disse friamente.

- O que quis dizer com ainda? - perguntou uma mulher bem vestida.

- Bom eu iria tratar esse assunto mais tarde, mas já que insiste, eu... - começou mas a porta de entrada foi escancarada e um Lewis bem vestido, como eu nunca havia visto, surgiu na minha frente. 

- Cath! - berrou ele e correu até mim. - Vamos contar juntos. 

Ele pegou a minha mão e entrelaçou nossos dedos, pela primeira vez. Ele sempre pegava na minha mão, mas nunca dessa forma. Meu coração se acelerou e eu comecei a suar fria. Por um segundo eu até esqueci as pessoas ao nosso redor.

- Lew... - comecei mas ele apenas sorriu e virou-se para meus pais.

- Senhor e Senhora Parker, eu escrevi a filha de vocês pro The X-Factor. - disse ele e todos soltaram um "OOH" indignado, seguido por "Ele é louco?" "Como assim?"

- Senhor Tompson, eu... - começou meu pai e eu cortei-o.

- Eu quero ir. - eu disse e ai que todos ficaram mais indignados.

- Você pirou, Catharine? - perguntou minha mãe. - Ficou louca de vez? Você não vai.

- Desculpa, mãe, mas uma vez na minha vida vou viver por mim e não por vocês. É meu sonho, não vou largá-lo por que você quer que sua filha seja uma garota exemplar. Só uma dica: se quer uma filha exemplar, seja uma mãe exemplar. - eu disse e arrastei Lew para a cozinha comigo, largando todos na sala me olhando como se eu fosse uma alienígena.

- Cath, o que foi isso? - perguntou Lew, num tom surpreso.

- Não sei eu acho que eu... - comecei mas Lew me puxou para um abraço.

- Cath, você enfrentou sua mãe. Você se impôs. - disse ele, todo animado. - Você não sabe o quanto eu to orgulhoso. 

- Orgulhoso? Mas Lew eu só mandei a real. - eu disse me afastando dele.

- Mas Cath você foi demais ali, o jeito que você falou, o jeito que você reagiu, você foi perfeita. Você é perfeita, Cath. - disse ele meio ofegante e corou no final. Não sei quem estava mais corado.

- Mas Lew, eu não fiz nada demais, hora ou outra ela ia saber. - eu disse e sorri para ele. Ele pousou a mão na minha bochecha igual tinha feito naquela noite e sorriu, envergonhado.

- Você... - começou ele, mas então a porta da cozinha foi aberta e uma mão começou a arrastar eu e o Lew para fora da casa.

- The X-factor? - perguntou a pessoa. Virei-me e Jay nos olhava de forma séria.

- Mãe a ideia foi minha! - disse Lew, tentando me cobrir.

- Não, tia, eu aceitei a ideia. - eu disse.

- Não mente, Cath, eu fiz a inscrição sem você saber. - disse Lew, desesperado.

- Hey, quem disse que vou brigar com vocês? Eu vou é parabenizar! - disse Jay.

- Como é? - dissemos eu e Lew ao mesmo tempo.

- Lew você tem uma voz divina e pelo que ele me contou, você também tem Cath. Eu estou bem orgulhosa por vocês estarem seguindo o sonho de vocês. - disse Jay e nos abraçou. 

- Obrigada, mãe. - disse Lew, com um sorriso lindo.

- Obrigada, Jay. - eu disse.

- Pode me chamar de mãe, Cath. - disse ela dando uma piscadinha marota para mim.

- Sim, mamãe. - eu disse e sorri.

- Mãe, Cath pode dormir em casa hoje? - perguntou Lew.

- Seria um prazer. Pode dormir em casa sempre que quiser. - disse Jay, sorrindo para mim e indo para a casa deles.

- Você vem comigo? Vou só pegar uma roupa e um pijama. - eu disse e Lew sorriu.

- Vamos. - ele disse. Entramos na minha casa e todos pararam para me encarar, mas quem liga? Lew está comigo e me apoiando. Jay também está do nosso lado e isso faz com que eu não me sinta culpada em ter aceitado esse desafio, e sim feliz por ter decidido realizar meu sonho começando pelo primeiro passo.