Crystals Stations escrita por Mellodye


Capítulo 3
A Clareira


Notas iniciais do capítulo

Não vou pedir desculpas pois não sei muito bem se as pessoas continuam aqui e gostando, mas se estiverem, quero dizer que todos vocês são incríveis por continuar acompanhando mesmo comigo vacilando toda vez :v Cap um pouco menor dessa vez, mas espero que gostem.



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Merida P.O.V

– Eu estou falando sério! - reclamou ele com a voz esganiçada, agarrando-se cara vez mais na cela. Podia sentir sua respiração pesada colada em minhas costas. - Não vou aguentar ficar aqui por mais tempo!

– Se acalme! - eu disse segurando o riso, por mais maldoso que isso fosse. Nunca havia visto alguém tão desesperado em cima de um cavalo, e isso parecia ter graça até mesmo para Angus, que relinchou alegre e disparou ainda mais contra o solo coberto de neve. - Achei que você tinha dito a cinco minutos atrás que não seria difícil sair para um passeio. - murmurei, enquanto me virava para encará-lo, com minhas mechas avermelhadas cobrindo boa parte da visão.

– Bem, eu achei que iríamos andando! - protestou ele aos gritos, sendo o único jeito de se falar já que o vento nos cortava sem piedade. Ele mordeu seu lábio enquanto pressionava mais a palma no couro. As pontas de seus dedos franzinos já estavam esbranquiçadas de tanto esforço. - Da próxima vez você precisa ser mais específic... - sua voz foi substituída por um pequeno espasmo quando Angus saltou sobre um tronco. - Aaaaaaaah!

Comemorei aos gritos em pura satisfação nos segundos em que o cavalo planou, até encontrar o chão com suas patas grossas novamente e prosseguir a corrida no terreno montanhoso. Aquele caminho não poderia ser mais reconhecido por mim. Em pelo menos um dia da semana eu levantava cedo, sempre montada em Angus, e passava por ele. Mas é claro, essa não era nossa única rota. Havia pelo menos sete diferentes pela floresta, mas essa era a ‘linha principal’.

– Vocês são loucos por aqui, não é? - perguntou ele novamente, encolhido em minhas costas, com a respiração ainda mais acirrada.

– Ah, claro. Tanto é que vemos com muita frequência os... cavalos feitos de areia negra que podem voar. - concordei com a cabeça ironicamente, enquanto dava um tapinha no pescoço de Angus, indicando para que ele diminuísse a velocidade e cruzasse uma linha de arbustos baixos, na direção da clareira congelada.

O garoto se calou atrás de mim, com um suspiro pesado.

– Ei, eu... sinto muito. - também suspirei. - É só difícil de acreditar sendo que... bem, é minha casa, e nada disso nunca aconteceu por aqui.

– Você fala como se outros garotos sem memória também houvessem batido na sua porta como única opção. - murmurou ele.

– Bem, sabe... teve uma vez em que... - comecei, tomando fôlego, mas ele me interrompeu tocando meu ombro.

– Não precisa fazer isso. - Disse ele, enquanto Angus finalmente parava. O garoto mal esperou: largou-me, deslizou para fora da cela e se lançou no gramado congelado como se fosse a única coisa estável ali.

Eu também desmontei de Angus, e enquanto desamarrava a trouxa com comida presa ao lado da cela, fiquei na ponta dos pés, tentando ver além do dorso do cavalo, onde o garoto encarava a visão silenciosamente, com os braços cruzados.

– Então... - tossi discretamente. - O que acha de...

– Não quero mais falar sobre isso. - murmurou ele, cabisbaixo.

– Ah, ok. Mas você devia parar de cortar as pessoas, sabe? - revirei os olhos, caminhando até ele, colocando a trouxa acima de uma rocha. Topei em seu ombro de propósito, com um pequeno sorriso, enquanto caminhava na direção da floresta, recolhendo alguns pequenos galhos no caminho. - Vai querer ajudar na fogueira ou não?

Ele me encarou como se achasse que eu estivesse brincando. Olhou para seus pés por um momento e então respirou fundo, sorrindo como se ele mesmo fosse uma piada. Seguiu-me o mais rápido que podia, também apanhando galhos que eu havia deixado passar.

Depois de alguns segundos, ficamos um a frente do outro com o olhar desafiador, ambos com uma pequena quantidade dos gravetos secos.

– Campeonato de quem pega mais galhos? - perguntou ele, rindo, enquanto espalhava seus fios castanhos para retirar o excesso de neve.

– Pode apostar! - sorri também e dei meia volta, correndo para apanhar quantos gravetos podia.

–- X --

Hiccup P.O.V

Mordisquei mais um dos bolinhos, saboreando o toque doce que descia pela garganta. O fogo crepitava ao meu lado pacificamente, mudando de forma à medida que Merida cutucava a pilha de madeira com um galho restante. As sombras que se formavam ao nosso redor pareciam esconder horrores.

O silêncio reinava por bons minutos, e aquilo era extremamente gratificante, já que estávamos realmente exaustos depois de cavalgadas, competições - desde a dos galhos até a de quem monta a melhor fogueira - e mais corridas.

– Então... - a ruiva começou do outro lado da fogueira, sem retirar os olhos da mesma. - Acho que agora seria um bom momento para conversar sobre o que aconteceu... - seu tom foi desacelerando cuidadosamente.

Tomei fôlego para uma resposta, mas ela voltou a me cortar.

– Ou não, tudo bem. Ótimo. Nada de conversas. É sua privacidade e escolha, claro...

Ri minimamente. - Desculpe, você deve estar morrendo de curiosidade. Só acho que não tem maneira alguma de contar o que realmente ouve sem que eu pareça... um completo louco.

Ela bufou, intrigada.

– Certo, então minha única esperança de respostas é que tudo isso aconteça de novo... bem na minha frente?

Dei de ombros. - Se é que realmente aconteceu.

Ela revirou os olhos. - Você é mais complicado do que deveria.

Nos encaramos, separados pelas chamas, e rimos mais uma vez. Mas, na verdade, meu sorriso escondia um grande nervosismo. Afinal, se aquilo não havia sido real, o que estava acontecendo comigo?

Me preparei para falar novamente, mas ela voltou a interromper no mesmo segundo.

– Sei que você não vai acreditar, mas também já passei por uma experiência completamente... bizarra. - ela escondia um sorriso sobre um olhar vago, como se aquilo a enchesse de nostalgia.

– Mesmo? - arqueei a sobrancelha. Ajeitei-me como alguém que se prepara para ouvir uma história longa - porém interessante - ao redor da fogueira.

– É, veja bem... - ela juntou as palmas como um contador de histórias, e soltou um longo suspiro antes de começar a contar o ocorrido de um ano atrás. O modo infeliz que vivia por conta de sua mãe trata-la como uma princesa em treinamento em nada mais. As tantas mudanças que ela desejava dentro de casa, e para piorar, ainda seria obrigada a ter um casamento arranjado com três estranhos - e um tanto idiotas - príncipes de outros clãs...

– Isso é horrível. - comentei, concordando com ela, e um tanto intrigado.

– Eu sei! - ela socou o ar como se um oponente invisível estivesse lá. - Mas é claro que nada disso aconteceu, pois fui boa demais para cada um deles. - ela ergueu o queixo, convencida, e soltei um riso fraco. - Ou talvez foi por causa de uma certa pessoa que conheci... - o acento escocês dela me deixava ainda mais imerso nos acontecimentos. - Sabe, é por causa dela que não acho que esteja inventando essa história dos cavalos.

Levantei a cabeça, curioso. - Quem?

– Nunca soube o nome dela. - A ruiva confirmou. - Mas o principal é que ela era uma br...

Um vendaval anormal cruzou o pequeno acampamento, levantando nossos fios loucamente, e também extinguindo o fogo. Enquanto a fumaça desaparecia no mesmo segundo pela estranha corrente de ar, nós dois nos levantamos no mesmo instante - quase como um reflexo involuntário.

Merida apanhou seu arco e o deixou ao lado do corpo. Seus olhos brilhavam, atentos, como uma verdadeira vigilante.

– Sabe o que está...? - tentei perguntar, mas ela apenas me calou com um Shhh.

Voltei-me para a rocha onde os suprimentos estavam dispostos. Nada ali poderia ser usado como uma arma de minha utilidade, por isso apenas apanhei a sacola com o restante da comida e a atravessei no ombro direito, enquanto recuava na direção de Merida.

Ficamos de costas um para o outro. Aquilo era estranho; como se já houvéssemos sido treinados desde sempre como reagir a um ataque. Porém não parecia haver nenhum.

De repente, Angus começou a relinchar desesperadamente. Ele empinava e se balançava de um lado para o outro, como se quisesse gritar ‘ Subam logo e vamos dar o fora daqui! ‘

Um lampejo de preocupação cruzou o olhar de Merida. Ela abaixou o arco e correu na direção do cavalo para tentar acalmá-lo. Eu queria realmente ir ajudar, mas algo me deixou preso naquela posição de defesa, e meus olhos não se permitiam desviar do esquadrinhamento nos céus.

E ai aconteceu. Pontos vermelhos emergiram de nenhum lugar em particular, apenas surgiram. Quatro. Oito. Doze. Doze pares de orbes vermelhos-sangue pairando no ar, encarando o acampamento.

Um arrepio percorreu minha espinha. Fui dando mínimos passos na direção da ruiva, que continuava tentando controlar Angus.

– Merida. - sussurrei, sem tirar os olhos do céu. - Merida! - chamei novamente. Meu corpo começava a tremer de nervosismo. - Acho que realmente precisamos ir embora.

Ela se virou minimamente, e seu rosto empalideceu diante da visão assustadora.

Por um impulso assustador, ela sacou o arco e agarrou uma das flechas. Lançou diretamente na mais próximas das orbes. A flecha zuniu, ameaçadora, porém nada mais fez além de atravessar os pontos avermelhados. Quando fez isso, a imagem aterrorizante do cavalo feito de trevas tremeluziu no azul do céu.

Ela prendeu a respiração ao meu lado, ficando um tanto surpresa com a imagem.

Mas antes que pudesse pelo menos dizer um ‘ Bem, agora acredito em você! ‘ As feras avançaram.

Senti que ela pretendia atirar outra flecha, mas por algum motivo agi ainda mais rápido. Agarrei o pulso dela, fazendo-a largar a flecha no chão. A arrastei junto comigo na direção da floresta, com os ouvidos pulsando pela ação repentina. Acreditei tê-la ouvido gritar ‘ Angus, NÃO! ‘ Mas não me virei realmente para observar a cena. Meu único objetivo era continuar correndo, pois sabia que aquelas coisas ainda nos perseguiam. Quanto mais rápido íamos, mais comprida a floresta parecia.

Depois de três minutos desviando entre troncos, galhos e rochas, meu peito já queimava pelo esforço.

E com os olhos banhados por suor, mal notava para onde realmente estava nos levando.

Os últimos sons que ouvi foram a da voz de Merida gritando ‘ ESPERE! ‘, do baque metálico de meu pé forjado em uma rocha íngreme e então de dois corpos se chocando contra o tecido gélido que a água formava. Afundamos juntos, e quando voltamos a emergir, tudo parecia mais claro. Eu ainda não havia soltado o pulso dela: sabia que não poderia ou estaríamos perdidos.

Ela se debatia loucamente de um lado para o outro, tão confusa quanto eu, enquanto éramos arrastados bruscamente pela corrente do rio íngreme. Éramos jogados de um lado para o outro, batendo de margem em margem.

Virei-me para trás, o caminho em que tínhamos caído, e pude ver a mínima cena com seis cavalos negros nos encarando com seus olhos maliciosos. Eles apenas observavam, como se não quisessem mais nos seguir, como se seu trabalho já houvesse terminado.

E então fui jogado para a direita, e senti como se todos os meus ossos estivessem se estilhaçando. Minhas costas se preensaram contra uma rocha imensa em um dos lados do rio, e minha consciência foi apagando. A última sensação foi a palma de Merida se descolando da minha.

E então apaguei.


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Notas finais do capítulo

Por favor, se tiver algo pra opinar, não tenha medo de falar pra mim XD Vocês movem a fic de agora em diante.