Crystals Stations escrita por Mellodye


Capítulo 2
Estábulo Real


Notas iniciais do capítulo

Fracassei mais uma vez, demorei muito muito muito -.- Mas quero agradecer principalmente a Guidinha por ter opinado. Eu realmente não acho como poderia deixar do jeito que tava já que escrevo diferente agora >—
Anyway, para aqueles que estiverem lendo, tomara que gostem :3 Estou tentando deixar a história mais interessante e não tão rápida como a antiga :/



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Hiccup P.O.V

Meus olhos se abriram, e com um sobressalto, comecei a ofegar, como se automaticamente soubesse que estava em perigo. Porém, minhas palmas apenas encontraram o macio tecido dos cobertores de lã que me mantinham aquecido. Receoso, fui me sentando aos poucos no colchão.

Todo o meu corpo ardia de exaustão, e eu tinha problemas para até mesmo lembrar o porquê disso. O pior era a cabeça que latejava como se houvesse se chocado contra uma rocha bruta. E foi quando meus olhos finalmente se ajustaram que consegui captar onde realmente estava.

Era um quarto pequeno, porém aconchegante. Tinha paredes cor de mel, com detalhes em símbolos estranhos. O teto era de madeira escura, como se exibisse um certo tipo de conforto para quem estivesse ali. A claridade atravessava as persianas entreabertas no lado direito do quarto, ao mesmo ritmo leve que o vento soprava e a balançava. Havia também mais uma cama ao lado da minha, e entre ambas, uma pequena mesinha de cabeceira onde uma xícara de leite que anteriormente deveria estar quente - repousava, assim como uma pilha de roupas limpas e uma vela completamente esgotada.

Por quanto tempo eu já estive aqui?sussurrei para mim mesmo, tentando encarar além das cortinas para ter uma visão de onde estava. Nada. Tinha medo de me movimentar para além da cintura, por isso continuei estático, decidindo encostar-me nos travesseiros afofados. E então comecei a refletir sobre as últimas cenas que tinha passado.

A caminhada incansável de quilômetros por rotas cobertas de neve, com a frustração maior do que qualquer outra coisa. Eu não sabia quem era, onde estava ou como havia chegado ali. Era simplesmente devastador acordar no meio de uma floresta de pinheiros congelados, sozinho, perdido, sem pistas, e é claro, sem um dos pés. Como eu poderia achar uma resposta lógica para tudo aquilo? Simplesmente não existia nenhuma. E foi só depois de horas congelando na neve - com nada a não ser um casaco de pele sobre as vestes leves - que tive a visão de um vale abaixo de mim, onde um majestoso castelo de pedra dominava a região, seguido por pequenas casas e uma paisagem gelada e ao mesmo tempo encantadora. Foi então que trabalhei de gastar o resto de minhas forças naquela direção, descendo montanhas, escorregando diversas vezes em rochas que não via pela nevasca, arranhando-me com galhos e quedas inesperadas. Quando finalmente havia chegado aos portões, me trataram como algum tipo de praga que precisava ser exterminada ás ordens do rei... e então...

E então eu vi aquela garota. E não ligava mais para o rei, se era um castelo de respeito ou outra coisa, apenas ver a preocupação no rosto dela me deixou no mínimo tranquilizado... o bastante para apagar de exaustão bem ali.

Escutei um rangido, e foi tudo rápido demais para que eu pudesse me preparar. A porta se abriu em um baque forte, e foi ricocheteada até seu extremo, como se houvesse sido aberta com um chute.

E então uma silhueta contornada adentrou no quarto, porém de costas para mim, sendo que estava com as palmas ocupadas.

– Porcaria de porta... - disse ela com sua voz abafada, como se estivesse segurando algo na boca. Ela foi recuando, adentrando mais no quarto, e se virou na minha direção, porém sem mal me perceber, e eu continuava parado, apenas observando-a. Seus fios de fogo estavam realmente uma confusão; parecia que ela havia acabado de acordar, e para contê-los usava uma simples faixa esverdeada. Ela carregava uma bandeja dourada, com uma caneca - de conteúdo quente pela fumaça que soltava - e tinha uma maçã entre os dentes. Apanhou o leite frio ao meu lado, como se decepcionada por ninguém tem bebido, e trocou-a pela caneca quente.

– Ahm... olá? - eu disse discretamente, moldando um pequeno sorriso.

Seu susto foi um momento que devia ser recordado. Ela estufou seu peito e recuou para trás, derrubando a bandeja e esparramando leite por seu vestido e piso. Arregalou os olhos na minha direção, respirando fundo antes de falar.

– Nunca mais... eu disse nunca, faça isso de novo! - exigiu ela. - Mas... você... está... está mesmo acordado! Uau! - ela deu um sorriso aliviado. - Papai disse que se você continuasse desmaiado depois desses três dias, ele iria declarar que você já estava morto e...

– Três dias...? - perguntei, confuso, enquanto ela começava a esfregar furiosamente a mancha de leite no vestido.

– Han, sim. - ela deu de ombros. - Você está deitado ai a três dias sem dar nenhum sinal de vida. As criadas vieram diversas vezes para tratar de seus ferimentos e dar água em seus lábios rachados de frio. - sua voz emanava certa ironia, como se desejasse mostrar compaixão pelo meu estado.

– Três dias! - repeti para mim mesmo. - Eu... me desculpe, mas não faço ideia de onde estou, quem é você ou ao menos quem... - fui interrompido por um suspiro agitado dela.

– Ah não, você é que deve uma explicação primeiro. - ela cruzou os braços, me encarando de modo sério. - Qual é seu nome? De onde você apareceu...?

– Esse é o problema, eu não... - me atrapalhei com as palavras, não sabendo continuar. Urrei baixo com certa frustração. - Pode só responder as minhas perguntas?

– Eu perguntei primeiro.

– Na verdade fui eu que...

Quem é você? – ela repetiu, me encarando com o olhar ainda mais penetrante. Tinha a impressão que não poderia discutir com ela, e assim não sabia o que dizer. Gaguejei alguma coisa sem sentido, mas simplesmente não lembrava de nada antes de acordar na neve. Olhei para minhas palmas pálidas, repletas de curativos sobre os arranhões avermelhados, e depois segui para as minhas roupas por um momento. Suspirei, negando com a cabeça enquanto tampava os olhos com as costas das mãos, constrangido, e falei baixo para a garota.

– Eu não... sei. – Admiti com um tom trêmulo.

Ela pareceu surpresa. Apostei que ia duvidar de mim. Ficou pensativa por um momento, caminhando de um lado para o outro no quarto. Levantei a cabeça e ela me encarou mais uma vez. Fiquei surpreendido ao ver que se sentava na cama ao meu lado. Passou os dedos pelos fios vibrantes, sem olhar pra mim.

– Pelo menos se lembra de alguma coisa? Você chegou completamente acabado aquele dia. Todos realmente achavam que você não iria passar daquela noite. E então só permaneceu assim; em um tipo de transe com sonhos bons, sem que nada o despertasse.

Engoli em seco. - Não... sinto muito. Eu sei tanto quanto você.

E afundamos em um silêncio profundo por alguns minutos, até que resolvi tentar de novo.

– Estamos em um castelo, certo? - dei um tempo para que ela pensasse, mesmo não sendo necessário. - Mas onde realmente estamos?

– Escócia. – Respondeu ela, como se não quisesse puxar assunto.

– Ah. - me senti agradecido pela resposta, porém de nada mudava: eu não fazia ideia que lugar ficava essa Escócia.

– É, isso realmente não importa se você não sabe onde isso fica. - disse ela, como se lesse meus pensamentos. - Bem... - ela começou a se levantar. - Está na hora da minha caminhada. Fico feliz por você ter se recuperado.

– Ei, pode pelo menos me dizer quem é...? - comecei, envergonhado.

– Sou Merida, descendente primogênita do clã DunBroch, - arregalei os olhos, e ela pareceu se divertir com a minha expressão. - Mas pode me chamar só pela primeira parte.

Eu ri, descontraído. - Ei... você... eu... será que não poderia te acompanhar?

– E por que eu aceitaria isso? - ela arqueou as sobrancelhas, porém seu tom não era nem um pouco rude.

– Bem, sabe... eu acabei de acordar de um longo desmaio. - Comecei, como se fosse um assunto de extrema importância no qual ela precisasse prestar atenção. - Você é a única pessoa que eu realmente faço ideia de quem seja... - comecei a afastar as cobertas para levantar - E se eu continuar mais um minuto deitado, acho que já posso começar o processo de hibernação.

Ela achou graça. Sua risada era no mínimo estranha, como se estivesse se engasgando, mas eu achava aquilo ainda mais divertido, e por isso também não deixei de acompanhá-la.

– Ok, Senhor das boas razões. - disse ela tampando os lábios para conter o riso. - As criadas separaram alguns pares de roupas quentes pra você, e esperam que sirvam pois é praticamente a única coisa que parece caber.

Já estava levantado quando ela terminou de falar, e suspirei ao encarar mim mesmo. Eu realmente parecia uma espinha de peixe andante. Porém ao vislumbrar o chão, meu coração pareceu apertar: aquele pé faltando... era como se houvessem roubado uma parte de mim.

– Ok, milady. - trocamos mais uma risada pelo modo formal de falar. - Onde devo encontrá-la depois que estiver adequadamente preparado?

Ela colocou as mãos na cintura, sarcástica. - É só caminhar até o final do corredor e descer o par de escadas até o hall. Vou estar lá esperando. - então ela recuou um passo e fez uma reverência segurando seu vestido, e dando mais uma risada antes de passar pelo arco da porta, a fechando delicadamente.

É. Eu poderia estar perdido. Mas algo me dizia que tudo isso não faria diferença enquanto estivesse com Merida. Quer dizer, pelo menos uma pessoa não havia me tratado como algo ruim. E também, que diferença faria? Conseguia ver que nós dois seriamos grandes amigos.

**

Quando cheguei ao hall, Merida não estava lá.

Chamei seu nome pelo menos três vezes, sem nenhuma resposta. Meu pé metálico ecoava no piso de modo irritante, assim como minha voz esganiçada. Dei uma volta pelo hall, encarando as várias estantes de livros, pinturas e decorações em geral.

Escutei então a imensa porta principal rangendo e me virei para olhá-la. Porém mais uma vez, nada da ruiva, era apenas o vento forte trazendo a porta de um lado para o outro furiosamente.

– Estranho... - murmurei enquanto caminhava até ela. Definitivamente alguém deveria ter passado por ali as preces para deixar algo tão importante entreaberto. E então minha mente se iluminou, fazendo-me sentir estúpido: dã, é claro que essa pessoa tinha sido Merida.

Quando ultrapassei o portal, agradeci imensamente pelas roupas que as criadas haviam oferecido. Aquela lã era a única coisa que iria suportar a nevasca alucinante ali fora. O vento não demorou em bagunçar meus cachos castanhos de um lado ao outro, tão bruscamente como faziam com a porta. Vesti a touca costurada na capa acinzentada, para tentar diminuir a pressão que investia contra meu rosto e fazia meus olhos lacrimejarem.

– Merida! - gritei mais uma vez, dando um passo para fora, sendo instantaneamente controlado pelo vento de um lado para o outro como um pequeno filhote perdido. Era difícil andar, pois a neve estava profunda o suficiente para que meus pés se prendessem a cada passo sem estabilidade. - Raios, Merida! Cadê você?

Andei pelo menos 5 minutos até notar uma trilha de pegadas que estavam quase totalmente cobertas pela nevasca, percebendo que se seguisse o caminho iria de encontro com uma grande cabana de teto alto, com cercas de madeira inofensivas rodeando o local. Corri o melhor que pude até lá, afundando e levantando, afundando e levantando, mais uma vez e outra, outra e mais outra. Quando tive um bom alcance da cerca, passei a me apoiar nela para chegar até a entrada da cabana.

Uma luz bruxuleante vinha de suas pequenas janelas, e isso me deu pelo menos um pouco de esperança para encontrar a garota. Haviam vários utensílios jogados ao lado da porta, principalmente botinas, assim como baldes, cordas, pás e enxadas.

Estufei meu peito e bati na porta, que se abriu sozinha com um rangido. Dei de ombros. Tudo estava sendo muito estranho aquele dia, de qualquer modo.

– Olá? - perguntei após colocar minha cabeça para dentro do recinto.

E agora me sentia ainda mais estúpido: Não era uma cabana, era um... estábulo. Cavalos se aconchegavam em suas devidas bainhas, bebericando água, comendo maços de palha e petiscos deixados por ai, e eram todas gloriosas criaturas.

Caminhei na direção do que mais me chamou atenção: um alazão completamente negro, com grandes olhos esverdeados. Ele relinchou ao me ver, o que só me deixou ainda mais fascinado. Era como se eu já tivesse um contato próprio com criaturas de grande porte, e era uma sensação reconfortante.

– Hey garoto. - eu me aproximei do animal, que bateu as patas um tanto estressado. Levantei as mãos como se estivesse me rendendo - Ei, está tudo bem. Sou amigo, não vou machucar você. - apanhei uma cenoura em um cesto próximo e estiquei-a, oferecendo para ele. - Viu? Está tudo...

Fui interrompido por uma sucessão de relinchos em pânico dos cavalos nas outras bainhas. Eles se empinavam como se estivessem sendo atiçados por algo não muito bom. Curioso, arqueei a sobrancelha e comecei a observá-los: todos olhavam para o mesmo lado.

Meu coração começou a acelerar. O alazão negro parecia o único que não tinha medo do que quer que estivesse atrás dos pilares que dividiam os cavalos. Apanhei uma pá próxima de mim, colocando-a em guarda como defesa, e caminhei lentamente na direção que espantava os cavalos.

E quando cheguei me arrependi de não ter seguido o conselho deles. Meu sangue subiu até cabeça, em pânico. Minhas palmas começaram a tremer no desespero de não saber como reagir aquilo. Pois bem na minha frente estava um pomposo cavalo, sombrio como a noite, com curvas estreitas que demarcavam suas costelas. Sua pele brilhava como pequenas estrelas. Porém, ele era praticamente transparente, como se feito de pó. Seus olhos eram feitos do mesmo material, mas em um vermelho sangue aterrorizante. Ele tinha duas presas afiadas como navalhas saltadas de seu focinho, e bufava como se já estivesse pronto para atacar.

O pior, é que ele estava mesmo.

A criatura deu um salto no ar, como se houvessem escadas invisíveis, e começou a planar sobre mim, como uma águia esperando para apanhar sua presa. Segurei firmemente a pá em minhas mãos, que já começavam a suar.

Era muita pressão para suportar ao mesmo tempo: encarar o medo e enfrentar aquela coisa, proteger os cavalos em pânico e ainda não queria deixar nenhum estrago em um lugar do castelo da família que mal conhecia... eles com certeza não iriam gostar. Então minha língua se soltou lentamente, e confrontei o animal sombrio. - Você me quer? Então venha! - e posicionei a pá de modo ofensivo.

A criatura bufou de um jeito diferente, como se risse de mim. Definitivamente algo não estava certo, pois os sons animais foram aos poucos se transformando em uma risada que parecia um tanto humana.

E era algo assustador vindo de uma criatura como aquela.

Antes que pudesse perceber, ela parou de planar e mergulhou na minha direção. Eu já esperava o impacto, mas ele nunca aconteceu. Se tivesse fechado os olhos, não iria ter como contar o que realmente se seguiu, pois o cavalo me atravessou, deixando-me infestado de sua poeira negra, e então continuou até desaparecer no chão de madeira.

Eu continuava sem saber o que fazer, paralisado e em posição de ataque com a pá, que também havia sido coberta com o pó escuro. Meu coração quase parou quando as portas do celeiro se abriram bruscamente e Merida entrou, com sua juba flamejante coberta de neve.

– Ei! - disse ela, parecendo confusa. - O que está fazendo aqui? - e caminhou até mim. - Não acho que isso se pareça muito com um hall e... - ela foi parando lentamente após me analisar. - Por que você está coberto de poeira... e segurando uma pá?

– Eu... não sei como dizer isso, mas... acho que eu vi um cavalo...

– Um cavalo? - disse ela, cruzando os braços. - Você está em um estábulo, há vários cavalos aqui.

– Não é isso, eu... eu...

– Você o quê? - ela continuava a me pressionar cada vez mais, e não pude me segurar.

– Eu acabei de ver um cavalo feito de poeira! Com presas, olhos vermelhos e...

Ela ergueu a mão para que eu parasse. - Por acaso você bateu a cabeça enquanto vinha pra cá? - perguntou lentamente, hesitante.

– Não! Eu juro Merida, alguma coisa muito estranha estava acontecendo aqui!

– Claro que estava. - concordou ela, com um beicinho. - E é por isso que o cavalo simplesmente desapareceu no chão, deixando você coberto por seu... pelo.

– Então você viu também!? - perguntei, confuso com a adrenalina.

Ela suspirou. - Olha... eu sou uma garota que acredita em muitas coisas, mas você está parecendo um louco desse jeito. - Ela deu um passo na minha direção, agarrou a pá de minhas mãos e a jogou no chão. - Acalme-se, ok? A nevasca diminuiu, então vamos aproveitar e caminhar, ai você pode me... contar tudo. - ela deu uma piscada, me apoiando.

– Tá... bem. - balancei a cabeça. - E agradeço por me deixar ir com você.

– Ah, sem problemas. - ela sorriu, e então começou a caminhar na direção do alazão que eu havia tanto admirado. - Posso... te perguntar uma coisa? - ela começou lentamente, enquanto acariciava o focinho do cavalo com uma doçura incomparável.

– Se eu souber responder. - dei de ombros, concordando.

Ela se virou com um sorriso malicioso e me encarou, voltando a cruzar os braços de modo desafiador.

– Por acaso...você não saberia cavalgar, certo?


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Notas finais do capítulo

Deixem suas opiniões! Adoro ver o que vocês tem pra falar! ^^