Crystals Stations escrita por Mellodye


Capítulo 1
Recordações Geladas


Notas iniciais do capítulo

* Sigh * Eu... acho que devo muitas desculpas para todo mundo. Aposto que boa parte já havia desistido de mim e dessa fic, e provavelmente nem todos vão voltar, mas... é... eu estou realmente tentando, ok? E agradeceria imensamente para aquele que ainda ousasse acompanhar a fic mesmo que ela tenha sido... completamente apagada e recomeçada. Mas é isso, eu quero deixar só mais interessante pra vocês do que a enrolação que tinha criado antes. Só espero conseguir dessa vez. Aproveitem.



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Merida P.O.V

– Uuuugh...

Virei-me de um lado para o outro na cama, lamentando-me mentalmente a falta de sono. A tempestade dava um ar medonho no quarto, com seus pingos arranhando minha janela como patinhas de cães furiosas. O vento soprava tão bruscamente que o castelo parecia tremer todas as vezes que investia. Bem, eu não me importava. Afinal, nem tinha mais medo disso. Mas o que mais poderia se dizer de uma madrugada entediante, após outro dia cheio de discursos reais que me matavam de tédio?

Enrolava-me nos cobertores, mudava de posição, forçava os olhos, contava carneirinhos, encarava as sombras bruxuleantes nas paredes vindas das árvores, cantarolava alguma coisa, lia algum livro, praticava esgrima com a quina da cama... Mas isso só me deixava mais acordada ainda. Era como se a janta tivesse sido alterada com algo energético, o que não era nada impossível tendo meus três irmãos sobre o mesmo teto.

E o que mais me irritava não era a falta do sono, e sim o tempo que precisaria esperar ali, sozinha, para ver o sol novamente e poder sair para fazer algo realmente útil.

Sentei-me, suspirando. Fixei o olhar na janela quadriculada do quarto escuro, quando um raio cortou o céu, como se estivesse me provocando

– Sério? - murmurei, revirando os olhos. Joguei as mechas cor de fogo para o lado, deixando-as cobrir totalmente minha visão, na mais profunda falta de ideias.

Peguei-me então imaginando por um momento como seria ser uma garota comum além da grandiosa princesa DunBroch. Em um momento como esses, elas não estariam se escondendo atrás dos cabelos, e sim participando de uma festa íntima ou algo do tipo, vestindo camisolas longas, comentando sobre garotos, trocando ideias e segredos, preparando chás e biscoitos, trançando o cabelo uma da outra...

Suspirei. Era uma grande honra ser princesa, claro que era.

Porém, também muito solitário.

Afinal, quantas vezes eu já havia sido convidada para brincar com os outros, e sempre tinha vergonha de aceitar achando que não saberia como reagir depois daquilo? E todas as outras que minha mãe havia proibido por causa de minhas lições. Mesmo depois da história envolvendo magia, ursos, transformações e maldições, essa parte da liberdade ainda me faltava. Eu nunca tinha tido realmente um melhor amigo para poder contar e desabafar, e nisso eu incluo os filhos dos vários duques que nos visitavam. E quem mal me conhece, ou seja, até minha família, nunca irá ver além da garota valente e desafiadora que encara o mundo de frente.

Balancei a cabeça, comandando a mim mesma para parar de pensar naquilo. Se eu não pudesse ser isso, então também não pensaria sobre.

– E esse, senhoras e senhores, é um verdadeiro exemplo de uma princesa com tédio mortal, pensamentos deprimentes e uma fome de ferro por...- parei por um momento, buscando as palavras. - Algo que ela nem mesma sabe. - murmurei, com o tom demorado, fingindo fazer uma reverência como no discurso real daquele mesmo dia, enquanto capotava de costas na cama novamente, de braços abertos.

E só fora dos cobertores percebi como meu quarto estava frio. Mas, claro, estávamos no inverno, e isso significava feriados, festas, discursos... Tudo o que eu não conseguia aproveitar ao máximo por conta de meu dever.

Pensando bem, era minha estação mais detestada. Pelo menos atualmente, já que quando era pequena, minha mãe me levava para os bosques e ficávamos o dia todo explorando e brincando. Eu treinava com meu arco, acertando montinhos de gelo, e às vezes fazíamos bonecos de neve, enquanto ela contava histórias sobre várias lendas da floresta.

Eu sempre fui uma criança que acreditava nesse assunto místico. Achava sim que as árvores tivessem sido derrubadas por trolls, que o sol e a lua apareciam apenas quando os dois resolvessem dar uma volta, que os desenhos nas estrelas fossem acontecer no futuro, nas ninfas das florestas e lagos que estavam sempre nos protegendo, e é claro, nas luzes mágicas que realmente nos levavam ao nosso destino.

Mas se havia uma coisa que eu nunca tinha formulado alguma resposta aceitável, eram sobre as estações.

Primeiro, achava que elas vinham sem ordem, independentes e ao mesmo tempo unidas, como se rodeassem apenas nosso reino como em uma brincadeira. Depois achava que elas caíam do céu, decidindo se iriam abrir, colorir, derrubar ou congelar as plantas. E também achava que elas tinham temperamento e personalidade, já que tudo mudava quando outra estação chegava.

Dei uma risada lembrando de quando fazia guerra de neve com meu pai, ele sempre me deixava ganhar. Ou então quanto brincava de esconde-esconde nos montes de folhas secas amontoadas no chão. E também quando competia com minha mãe para ver quem coletava as flores mais coloridas e perfumadas do vale. Mas meu momento preferido era quanto todos íamos passar o dia no lago, podendo aproveitar o sol radiante, com o ar puro percorrendo tudo e todos.

– Para onde foi tudo isso? - perguntei a mim mesma, baixinho. Sempre havia decidido que os momentos bons haviam sido destruídos com o nascimento dos trigêmeos. - Humpft...

Mas então, meus pensamentos foram interrompidos lentamente, no tempo em que uma pessoa leva para se aproximar de você. Foi como se o quarto tivesse parado no tempo. Não sentia direito nenhum músculo do meu corpo, além de um formigamento nas palmas que deslizavam em meus fios encaracolados. Continuei olhando para o teto de carvalho, por alguns segundos antes de me sentar na cama, enrolando-me em um dos cobertores para me aquecer. Fui levantando lentamente, um tanto tensa. A única coisa que parecia viver realmente era a chama de minha vela acesa na cabeceira.

O silêncio que cobria o quarto foi interrompido por um minúsculo Crac, Crac de algo que parecia estar congelando. Segui com o olhar até a janela, e prendi a respiração depois de uma pequena avaliação.

Uma fina camada de neve fazia espirais no vidro, como se alguém estivesse simplesmente desenhando uma pintura de gelo. Um floco. Fiquei pensando nas possibilidades do que poderia fazer algo assim... Afinal, nem nevando realmente estava por conta da chuva.

Já estava no meio do caminho até a janela, quando ouvi passos no corredor, além da porta escura. Meu corpo saiu da paralisação e consegui me jogar desajeitadamente no colchão. Ofeguei enquanto me ajeitava normalmente, para não ter suspeitas. Fechei os olhos com força, respirando e inspirando profundamente: a velha tática de fingir o sono.

A porta de carvalho rangeu, e pude perceber alguém se aproximando até mim. Passou a mão em meus cabelos, fechou as cortinas, ( cobrindo totalmente a cena bizarra do gelo ) e mergulhando o quarto na escuridão reconfortante.

Estranhei tudo isso? É claro. Mas já fazia um ano que era comum, e agora estava explicado, pois quando acordava, minhas janelas estavam abertas, os livros e papéis organizados na mesa, as velas apagadas antes de se extinguirem, e principalmente um copo com água fresca para quando acordasse: tudo deixava o quarto mais aconchegante. A resposta era minha mãe, Elinor. Havíamos nos aproximado bem mais depois do acidente com o doce enfeitiçado e o fim do casamento arranjado.

Ela cantarolava docemente enquanto arrumava a coberta que cobria apenas minhas pernas depois do lançamento improvisado na cama. Sentou-se em um espaço ao meu lado, voltando a alisar meus fios.

– Espero que esteja tendo lindos sonhos, minha garotinha preciosa. - sussurrou ternamente, e então beijou minha testa.

A porta se fechou delicadamente depois que ela se levantou. Abri os olhos, dando uma espiada pelo quarto, agora na completa escuridão. Sempre que se olhava bem pra ele, eu me sentia como se estivesse num tipo de toca gigante. As paredes eram de um tom verde musgo, com detalhes que nunca tinha decifrado; símbolos estranhos e antigos. Havia meu guarda-roupa de madeira, ao lado uma mesa onde deixava meu arco, folhas e tinteiro para desenhos, seguido então por uma pequena estante onde havia alguns livros. Pessoalmente, eu adorava os livros de guerra.

Fiquei de joelho e logo me levantei, chutando as cobertas e correndo até a janela, afastando as cortinas o mais silenciosamente possível para não dar suspeitas. E então me desapontei: o floco não estava mais lá, apenas pingos de água escorrendo. Percebi que a chuva havia parado e decidi abrir o vidro para tomar um pouco de ar. A luz da lua me cegou além do vitral por um instante, mas pouco me importava. Vi a neve caindo pelos vales e montanhas, mesmo com chuva e trovões ao longe ela continuava sendo incrível. Suspirei, como se sonhasse acordada. O que quer que criasse a neve, merecia os meus grandes agradecimentos.

Desviei a atenção da neve, encarando a lua. Um arrepio percorreu meu corpo, e por um momento pensei ter ouvido alguém dando risada ao meu lado.

Você está enlouquecendo, Merida. - disse para mim mesma mentalmente.

Mordi o lábio, fechando a janela. Assim que a tranca fez seu trabalho, suspirei uma última vez antes de voltar para a cama. Por alguma razão, agora eu sentia uma paz interior, que trazia o sono pouco a pouco. Me aconcheguei entre os cobertores, apagando lentamente.

Meu quarto e eu mesma estávamos agora banhados pela claridade pura vinda da lua cheia.

**

Fechei a porta do quarto após colocar meu típico vestido esverdeado para passar o tempo. Caminhei pelos corredores do castelo, que por acaso eram feitos de pedra, o que os deixava ainda mais frios. Tochas iluminavam os caminhos.

Deslizei sentada pelo corrimão de madeira da escada que levava até a cozinha; Um lugar que parece mais um porão, com piso e paredes de madeira. Grandes prateleiras e diversas mesas se estendiam no local. Duas empregadas conversavam, enquanto a outra retirava uma bandeja do forno.

Apanhei uma maçã das diversas numa cesta de palha acima do balcão, mordiscando-a.

– Bom dia, princesa. – cumprimentou a mulher com a bandeja de biscoitos. Acenei com a cabeça, radiante, seguida por uma reverência apressada. Sim, era uma criada, mas elas eram boas amigas na hora de dar conselhos, como ‘’ Devo jogar meus irmãos pela janela ou não? ‘’ E para mim não eram menores que ninguém ali.

Enquanto caminhava em direção da sala de jantar, subindo novamente as escadarias, passei por mais criadas que carregavam cestas na direção do lavabo. Elas pararam sua conversa para se curvarem, mas acenei para que dispensassem a cerimônia. Quando passei por elas, sussurrei. - Já disse que não precisam ser assim comigo, ok?

Elas sorriram, concordando com a cabeça.

Parei na frente das grandes portas de madeira, dando outra mordida na maçã antes de alisar meus cachos minimamente. Ajeitei minha saia, e então, entrei.

A sala era mais um tipo de saguão, gigantescamente amplo, com imensos vitrais cor areia, que davam um ótimo efeito na luz do sol, o que não era muito visível hoje por conta da neve e o céu escurecido. Também havia o grande lustre pendurado acima da mesa, assim como os vários quadros e cabeças de animais pendurados, algo que meu pai fazia questão de manter.

Minha mãe lia as correspondências, enquanto meu pai, Fergus, devorava pãezinhos com geleia um seguido do outro. Meus irmãos não estavam tão diferentes, espalhando cereal por toda a mesa enquanto riam da cara um do outro.

Dei uma última mordida na maçã, a jogando em um cesto próximo no chão, para então sentar na cadeira mais próxima, que então era quase a mais distante, e ainda assim perto dos trigêmeos. Meu pai parou de devorar os pães e me deu uma olhada.

– Você está horrível. - disse como se não fosse nada demais.

Um de meus irmãos não se segurou após olhar pra mim, e caiu na risada. Minha mãe deu-lhe um olhar de desaprovação.

– Há há. - revirei os olhos, sabendo que era apenas brincadeira deles, enquanto pegava uma colher para começar a tomar meu mingau quente.

– Ahm... Merida...Não sendo tão rude, mas concordo com seu pai... - Elinor começou, não sabendo muito como continuar. Arregalei os olhos, me interrompendo na colherada do mingau: não era comum dela ficar sem palavras para um argumento.

– Do que é que vocês estão falando...? - perguntei lentamente, ainda reagindo como se fosse uma piada.

Mamãe tossiu um pouco, dando uma mínima olhada para meu pai. - Dessas suas... olheiras enormes? - perguntou ela de modo mais delicado possível

– Ah, bem. - esfreguei um pouco meus olhos. - Não... não dormi muito bem. - dei de ombros, querendo me livrar do assunto, enquanto voltava para minha tigela.

– Verdade? O que aconteceu querida? Quer conversar sobre alguma cois...- Minha mãe foi interrompida por um dos guardas com armaduras prateadas reluzentes que entrou em passos firmes no salão. O brasão do reino brilhava em seu peito com um grande orgulho.

– O que houve? - Meu pai se levantou da mesa, o baque de sua perna de madeira ecoando no piso, e então derrubando sem querer seu prato de pães. Não demorou muito para um dos cães latir discretamente sem interromper o momento e ir atacar os brioches no chão.

– V-v-vossa majestade - gaguejou o guarda - É importante. Um garoto acaba de chegar à entrada do castelo. Não sabemos quem é, pois ele simplesmente...

– Um garoto? - perguntei mais alto do que devia, e todos me encararam, inclusive o guarda. Houve um segundo tenso de silêncio. Levantei-me lentamente, e assim fizeram meus pais. Percebi que ambos também estavam confusos e curiosos.

– Bem, vamos ver do que se trata... - começou meu pai, então minha mãe acenou negativamente. - Primeiro tire esse cão da sala, depois pode vir conosco. Ele tentou argumentar, mas concordou lentamente.

Segui ao lado de minha mãe. A túnica azulada que ela usava se arrastava no chão, e nossos passos ecoavam enquanto íamos ás costas do guarda, na direção do hall principal.

As portas se abriram com um rangido costumeiro, e então fomos todos surpreendidos por um sopro gelado e uma grande quantidade de flocos da neve em direção ao nosso rosto. Porém isso mal importava, apenas tínhamos olhos para as figuras ali fora.

Dois guardas de peito estufado e capacete pontudo, os sentinelas, seguravam um garoto no ar, como se ele pudesse infectá-los com alguma coisa.

Aproximei-me cada vez mais. Percebi cortes e arranhões no desconhecido, pelo fato de suas vestes estarem desgastadas e rasgadas. O mais estranho é que eram completamente abertas, - E ele não tinha morrido de frio?– como se estivesse usando um saco de batatas para seu tamanho, um casaco de pele marrom, também rasgado. Também botas fofas e largas. Quer dizer... uma, pois o outro pé apenas um apoio torto de ferro, com a parte superior como um sustento de madeira.

Isso era uma brincadeira para impressionar meu pai...?

Ele pareceu ter escutado que alguém vinha. Levantou a cabeça, e assim que nossos olhos se encontraram, percebi o desespero e confusão. Senti-me tonta por seu estado, mas continuei a encará-lo. Tinha cabelos castanhos, lisos e um tanto compridos, cheios de neve entre os fios. Seus olhos eram verde esmeralda, mas estavam apagados e cansados.

Ele ofegou por um momento, ainda me olhando, e então sua cabeça pareceu deslizar para baixo, como um monte de lama, e apagou, ainda no ar, segurado pelos guardas. Seus braços e pernas - Contando o pé de ferro– ficaram pendurados, como se estivesse sido desacordado a base de socos.

– Larguem ele! - Ordenei aos guardas, que deixaram o garoto cair de joelhos, e depois de cara num monte de neve. – Tragam para quarto de visitas.

Elinor arqueou a sobrancelha. - Querida, o que está fazendo? Mal conhecemos o garoto.

Respirei fundo, encarando mamãe. Minha reflexão sobre ser a garota sozinha me voltou lentamente ao momento - Eu...não sei. Mas por favor, confie em mim, sei que ele não será perigo, e não podemos deixar ele aqui, podemos?

Ela suspirou, suportando meu pedido sufocante. - Está bem...

– Mas...minha rainha... tem certeza que...

– É um amigo de minha filha, sua princesa. Agora, cumpra as ordens, soldado. – Ela cruzou os braços, encarando o guarda de modo calmo, porém ameaçador.

– Sim, minha rainha. - disse ele ainda com tom meio incerto, a expressão fechada.

Os guardas, relutantes, levantaram o garoto, arrastando-o pela escadaria de pedra até os corredores.

Eu não conhecia aquele garoto. O problema é que eu estava tão perdida quanto ele. E era pelo menos o que eu pensava... mas, como na maioria das vezes, deveria estar errada.


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Notas finais do capítulo

Dê sua opinião ^^ Acha que eu deveria ter deixado daquele jeito ou dado toda essa editada? See ya...