Seis meses depois

Eram chegadas as minhas férias, estaria tudo perfeito se Loki não tivesse me dito que não tiraria férias comigo por causa do trabalho. Fiquei chateada, bem chateada mesmo, tivemos uma discussão feia, bem discutir discutíamos sempre, mas nada comparado àquilo.

Eu não deveria estar surpresa, algum dia ainda iriamos brigar por causa da obsessão dele pelo trabalho. Dias antes ele estava de péssimo humor, triste porque Narfi e Vali haviam morrido – um depois do outro. Eram peixes de aquário, eles não viveriam mais tempo, mas ele gostava muito deles, às vezes até me sentia enciumada, confesso.

Mas voltando a nossa briga feia, eu fiquei tão irritada que sai de casa e fui falar com Frigga, precisava desabafar, e acho que não seria uma boa falar com a minha mãe sobre isso, tampouco meu pai – ele era calmo demais. Mas quando eu cheguei na mansão Odinson encontrei apenas o meu sogro. Ele estranhou a minha aparição naquela hora da noite. Ao que parecia, Frigga estava na casa de Nanna, pois Phil havia pegado uma otite e ela estava lá ajudando filho e nora.

– O que há Sigyn? – ele me perguntou me oferecendo para me sentar.

Eu o fitei por alguns instantes, e depois encarei o chão, não demorou muito para que meus olhos se enchessem de lagrimas. Ele me encarou compreensivo e me deu um ombro amigo literalmente para chorar.

– Brigaram então? – ele disse rindo um pouco – Aquele tipo de briga que parece que vai acabar com tudo.

– Eh – eu disse chorosa enquanto sentia que algo estava escorrendo pelo meu nariz – eu não sei o que fazer...

– Me conte o que aconteceu...

Eu expliquei eu havia entrado de férias, e que há algum tempo antes eu e Loki tínhamos combinado de tirar as férias na mesma época, mas pelo visto as coisas não tinham seguido esse curso. E então chorei de novo.

Ele apenas ouviu e acariciou a minha cabeça num carinho paternal.

– Eu lhe entendo menina, Loki é complicado demais. Mas se você quiser, eu posso obriga-lo a tirar férias.

– Eu não acredito que ele cederia – falei desanimada.

Odin arriou os ombros, em claro sinal de concordância comigo.

– Tem razão, aquele lá...

– Eu até tento entende-lo, mais ele é tão difícil, mas ainda assim eu o amo.... Mas ele às vezes não parece levar isso em consideração.

– Ele leva sim querida, só não expõe. Pode apostar que logo ele vem atrás de você.

Sorri de maneira triste, sem querer me lembrei da sharwama.

Odin me encarou agora um pouco sério.

– Sigyn, há algo que queria lhe contar sobre Loki.

– Que ele é adotado? Ele me contou.

Ele pareceu um pouco surpreso.

– Mas me fez jurar que não contaria para ninguém.

– Desconfiei que já soubesse.

Odin deu um suspiro antes de continuar.

– Queria muito me dar bem com ele de novo, mas acho que sempre usei o pé esquerdo com ele.

Os assuntos que me aborreciam antes ficaram de lado, encarei meu sogro ainda mais curiosa.

– Por que?

– Hum sabe... sempre que eu olhava para ele, me lembrava do segredo que tive que guardar.

– Loki me contou que seus pais verdadeiros pediram para vocês nunca falarem sobre eles. Ele diz que não se importa, mas eu sei que no fundo não é bem assim...

Um pequeno silencio se fez. E eu voltei a indagar.

– Odin, por que eles não queriam que Loki soubesse sobre eles? O detestavam tanto assim?

Odin deu sorriso triste.

– Não tire conclusões precipitadas minha jovem, o buraco é mais fundo do que pensa. Foi por o amarem muito que eles me pediram esse favor.

Fiquei perplexa ao ouvir aquilo, balancei um pouco a cabeça.

– Eu não entendo... como assim?

Odin olhou para suas mãos e depois para mim.

– Sigyn. Os pais de Loki morreram pouco tempo depois de ele ter nascido.

Minha garganta ficou seca, pisquei os olhos atordoada.

– Morreram... como assim morreram?

– Eles eram pacientes terminais.

E então eu não disse nada, apenas virei o rosto, e coloquei a mão no rosto, nunca imaginava isso, sempre imaginei outras hipóteses sobre os pais de Loki, mas nunca havia imaginado isso.

– Mortos? Meus pais estão mortos?

Tanto eu quanto Odin encaramos Loki surpreso na entrada da sala.

Eu sabia que ela não ia gostar, mas esperava que ela entendesse que as coisas estavam muito complicadas na presidência. Mas não saiu como esperado e brigamos feio, muito feio. E antes que eu voltasse atrás ela saiu de casa.

Sem pensar duas vezes fui atrás dela, não de carro, mas andado de longe, sem que ela visse, vi quando pegou o ônibus para o bairro... da minha ex casa. Demorei um pouco para entrar, ela provavelmente deveria estar falando mal de mim para Odin e Frigga. Fiquei alguns minutos fora, fiquei pensando, acho que fui um idiota, eu estava louco para sair de férias com ela, mas não sei o que aconteceu comigo. Não sabia bem o que fazer então resolvi entrar, a porta estava aberta, então entrei sem fazer barulho, e ouvi as vozes de Sigyn e Odin, ao que parecia, Frigga não estava ali.

– ...há algo que queria lhe contar sobre Loki.

Falavam de mim? Fiquei quieto então para ouvir.

– Que ele é adotado? Ele me contou – não sei porque mas fiquei desconfortável.

– Mas me fez jurar que não contaria para ninguém.

– Desconfiei que já soubesse.

Houve uma pausa e então novamente ouvi a voz de Odin.

– Queria muito me dar bem com ele de novo, mas acho que sempre usei o pé esquerdo com ele.

– Por que?

– Hum sabe... sempre que eu olhava para ele, me lembrava do segredo que tive que guardar.

Hum, por que não diz logo que o fato de eu não ser seu filho lhe incomodava?

– Loki me contou que seus pais verdadeiros pediram para vocês nunca falarem sobre eles. Ele diz que não se importa, mas eu sei que no fundo não é bem assim...

Ah, pára Sigyn, até parece que eu me importo! Quer dizer, bem podiam dizer os nomes hein?

– Odin, por que eles não queriam que Loki soubesse sobre eles? O detestavam tanto assim?

Ah, com certeza.

– Não tire conclusões precipitadas minha jovem, o buraco é mais fundo do que pensa. Foi por o amarem muito que eles me pediram esse favor.

Hã? O quê?

– Eu não entendo... como assim?

– Sigyn. Os pais de Loki morreram pouco tempo depois de ele ter nascido.

– Morreram... como assim morreram?

– Eles eram pacientes terminais.

–

Tanto Sigyn quanto Odin se levantaram do sofá encarando Loki surpresos. Loki tinha uma expressão de choque. Porém logo depois ele riu descrente, numa risada fria.

– Sério isso? – ele suspirou voltando a ficar sério – Ah, tá não foi engraçado.

Sigyn o fitou e percebeu que ele a encarava de volta ora olhava para ela ora olhava para Odin, e então ela notou um certo sentimento de ciúme vindo dos olhos dele, um ciúme de filho quando vê o pai com o filho dos outros.

– Loki – Odin tentou falar mas foi cortado pelo caçula.

– Estranho não, você e Frigga ficaram anos e anos me escondendo minha... origem, depois me disseram que haviam prometido aos meus “pais” de verdade – ele disse aquilo com certo desprezo – que não queriam que eu soubesse sobre eles.

Ele ainda fitava os dois.

– Mas, você contou tudo a ela – ele agora encarava Sigyn – nossa, não imaginava que eram tão próximos assim.

– Pare com isso Loki – Odin interveio de novo.

– Por que não contou as coisas desde o início? Quando eu ainda era um menino?

– Eu tentei...

– Tentou nada! Nunca tentou, estava ocupado demais... mas não adianta de nada, eles estão mortos, não vai fazer diferença.

Um tapa.

Loki não percebeu que Sigyn havia chegado tão próximo dele. Agora ele apenas a encarava com os olhos arregalados e uma mão na bochecha. Agora vermelha.

– Para. Não faz isso... não devia ser tão duro com o seu pai!

– Ele não é meu pai! – ele gritou em plenos pulmões.

Odin fechou os olhos.

– Não diga que ele não é seu pai! – a jovem gritou nervosa – Está sendo muito ruim!

– Ruim?! Eu sendo ruim! Que engraçado, eu sempre sou o ruim por aqui!!

Loki não notou mais sua esposa estava estranha e respirando com certa dificuldade.

– Está sendo sim... eu sei que é difícil, mas não é desse... jeito.

A jovem começou a ver o esposo de maneira desfocada, a vista foi ficando escura.

– Isso não diz... Sigyn?

A garota arfou. Seu corpo pendeu para o lado, Ela só não foi ao chão porque Loki a amparou.

– Sigyn? Sigyn! – Loki a chamou dando alguns tapinhas em seu rosto.

Odin visivelmente preocupado ajudou o filho a levantar moça.

– Vamos leva-la para o quarto.