A escola não era muito longe, mas não seria muito agradável ir à pé até lá. A viagem foi rápida e vinte minutos depois eu estava em frente à Assumption High School. Sua arquitetura era magnífica com seus acabamentos característicos da Idade Média além de um enorme jardim. Quando digo enorme, é porque o jardim era quase do tamanho de um campo de futebol, o que me fez pensar nas inúmeras construções que poderiam ser feitas naquele espaço.

Aqui estava eu de novo, entrando em meu mundinho particularmente imaginário. Só percebi Annie me chamando quando começou a bater freneticamente no vidro ao meu lado.

– Katniss, o que houve? Não vai conseguir que ninguém venha aqui te dar aulas particulares dentro do carro – Annie falou, segurando o riso.

– Foi mal, é que eu estava observando – Respondi saindo do carro – A arquitetura do colégio retoma traços da Roma Antiga, além da Idade Média. É simplesmente magnífico!

Annie não parecia muito interessada em continuar o papo, pois apenas sorriu para mim e concordou com a cabeça como quem não sabe o que dizer. Caminhamos juntas pelo longo jardim em direção à porta de entrada que se encontrava aberta. Primeiro pensei que fosse aço, depois percebi que era madeira pintada de um preto escarlate. Sinceramente, eu estava doida para conhecer a pessoa que arquitetou e decorou este colégio. E olha que eu ainda estava do lado de fora. Sabe-se lá o que eu ainda encontraria do lado de dentro.

Quando achei que nada mais me surpreenderia, adentrei as grandes portas de madeira escuras soltando uma exclamação involuntária ao observar a decoração.

– É lindo, não? – Já havia até me esquecido de Annie ao meu lado à essa altura do campeonato. Uma decoração destas poderia distrair qualquer um.

– Sim, é lindo – Disse olhando ao redor – É que quando você me disse que usaríamos uniforme imaginei um colégio do tipo sem decoração e extremamente rígido.

– Bem, a primeira parte você se enganou, já a segunda infelizmente você está certa já que...

– Oi Annie – Um garoto alto com um corpo levemente definido havia acabado de interromper nossa conversa – Eu queria falar contigo sobre aquele trabalho de filosofia... – Foi então que ele finalmente me notou – Ah... Que mal educado eu sou, saio atrapalhando a conversa de vocês sem ao menos me dar ao trabalho de me apresentar. Oi, eu sou o Peeta – Disse estendendo uma de suas mãos em minha direção.

– Oi. Ah... Sou Katniss – Disse sem parar de fitar seus belos olhos azul mar.

– Er... Você não vai apertar minha mão? – Perguntou sem graça.

– Oh...Me desculpe – Disse apertando sua mão. Eu estava tão ocupada observando seus lindos olhos azuis que até esqueci que havia uma mão estendida a mim.

– Não liga não, Peeta – Annie disse – A Katniss está sempre assim, no mundo da lua – E começou a rir. Peeta acompanhou sua risada e a única coisa que pude fazer foi corar. Que maravilha! Ser apresentada como a garota que vive no mundo da lua não é nada legal – Já pensei em diversas coisas, mas a única que faz sentido seria que ela está apaixonada. Aposto que deixou um namorado lá em Denver, por isso não gostou de vir para Louisville.

– Annie!! – Disse arregalando os olhos e indicando Peeta ao meu lado. Os comentários dela sempre me deixavam sem graça.

– Foi mal, não queria te deixar sem graça – Annie adorava fazer essas brincadeirinhas, e olha que não éramos tão intimas assim. Sabe-se lá o que ela faria se fossemos amigas.

– Acho que já vou indo – Peeta disse endireitando sua bolsa – Annie, depois a gente resolve a questão do trabalho. Acho que a Katniss até pode fazer conosco já que ainda não tem um grupo.

– É,pode ser – Disse Annie – A gente resolve isso mais tarde. Vai lá em casa hoje à noite para terminarmos, então.

– Tudo bem – Peeta se despediu e foi em direção ao corredor que provavelmente levava às salas de aula.

– Bem – Annie virou-separa mim – Vamos ver seu horário. Espero que bata com o meu.

– Mas... Nós não vamos ficar na mesma sala? – Achei que Annie ficaria comigo o tempo todo, e isso até que me tranqüilizou um pouco. Até agora.

– Provavelmente não – Disse Annie – Quer dizer, não o tempo todo. É que depende das matérias que você escolheu.

– Matérias? – perguntei confusa. Não me lembro de ter escolhido matéria nenhuma – Mas eu não escolhi nenhuma matéria.

– Não se preocupe – Disse Annie sorrindo – O Abe já resolveu tudo. Ele perguntou tudo à sua mãe – Ela me puxou antes que eu pudesse questionar novamente – Venha,vamos descobrir logo seu horário.

Caminhamos por um longo corredor, até que chegamos a uma sala de paredes de vidro, onde se encontrava escrito “Diretoria”. Annie deu duas batidinhas leves na porta e entrou me puxando junto.

– Sra. Coin, eu vim buscar os horários da aluna nova – Disse Annie. A diretora possuía seus cabelos presos em um coque alto e possuía roupas impecavelmente alinhadas. Seus óculos meia lua contribuíam para seu visual sério.

– Sim, claro – Sua voz era um tanto grave e rígida, acho que estou começando a conhecer a parte rígida do colégio – E qual é o nome?

– Katniss, Katniss Everdeen – A diretora me olhou pela primeira vez e sua cara não mostrava muita simpatia.

– Aqui estão seus horários – Disse estendendo-me uma folha com diversas informações.

– Obrigada – Disse pegando o papel de suas mãos e virando em direção à porta. Puxei Annie, que continuava parada, comigo e juntas saímos da sala – Puxa! – Disse assim que saímos da sala – Ela dá medo.

– É, todos morrem de medo de entrar em sua sala – Disse Annie enquanto caminhávamos pelo longo corredor – Mas não liga não, ela só faz cara de mau. Não morde – Annie virou-se para mim e sorriu – Vem, vamos ver seus horários.

Annie pegou afolha de minha mão e ficou observando por alguns minutos, então me entregou fazendo uma careta engraçada.

– Só teremos duas aulas juntas – Disse abrindo sua bolsa e me mostrando seus horários – As matérias que o Abe escolheu para você são um saco. Sua primeira aula é de Química, na sala 1002. Deixa que eu te levo lá – Annie me puxou pelo corredor até uma sala no final do mesmo – É bem aqui.

Entrei na sala e me dirigi ao professor um tanto receosa.

– Sou a aluna nova – Disse estendendo meu papel para que pudesse ficar em seu campo de visão.

– Sim, claro Srta. Everdeen – Ele deu um belo sorriso e pegou o papel – Pode se sentar – Disse indicando as cadeiras que estavam vazias. Caminhei em direção a uma bem no final da sala onde eu não pudesse ser notada.

– Oi – Alguém disse assim que sentei-me. O garoto que havia se referido a mim não me era estranho. De alguma forma eu o conhecia, só não lembrava de onde. Ele deve ter percebido minha cara, pois complementou:

– Sou eu, Gale – Disse indicando a si próprio com o dedo indicador – Nós nos vimos na casa da Annie, está lembrada?

– Ah, sim, claro – Disse batendo com a mão na cabeça e balançando-a afirmativamente – Como eu poderia esquecer, até desmaiei – Não pude conter o sorriso que se formou em meus lábios diante do comentário involuntário.

– Está se sentindo melhor? – Ele parecia preocupado.

– Sim, estou – Foi só um desmaio – Estou ótima – Disse firme, de forma a assegurar minha afirmativa.

– Que bom – Disse e virou- se para frente – Prometo não te perturbar, você parece gostar de química.

– Sim, eu gosto – Virei-me para Gale e ele fez o mesmo – Mas não precisa agir como uma múmia ao meu lado. Conversas casualmente discretas durante as aulas são importantes – Gale fez o máximo esforço possível para conter a risada que viria logo a seguir, contudo seu rosto vermelho denunciava que logo ele iria ceder.

– Respira, Gale – Tentei ajudar, mas foi em vão. Gale não agüentou mais segurar ecomeçou a gargalhar.

– Vamos dar uma pausa nas conversas casualmente discretas então – Foi o que Gale conseguiu dizer após quase cinco minutos de gargalhadas e vários olhares de reprovação por parte do professor e de alguns alunos – Ou vão nos expulsar da sala.

– Concordo plenamente – Disse lançando um esboço de sorriso e virando-me para frente.

As aulas transcorreram perfeitamente entre conversas e risadas com Gale e atenção nas aulas. Gale era muito engraçado, não tinha como não sorrir a cada comentário que fazia. Ele me contou sobre seus irmãos e o fato dele odiar ser o caçula. Eu não tinha muito o que falar, então me contive em ouvir suas histórias, o que era óbvio, eram muito mais interessantes do que as minhas. Quando menos esperava, já estávamos na hora do intervalo.

– E então – Perguntou Gale – Vamos?

– Vamos? Onde? – Perguntei sem entender.

– Almoçar Catnip, já são meio dia – Em nossa segunda aula,o professor perguntou meu nome devido ao fato de eu ser aluna nova, mas como eu estava em uma das últimas cadeiras ele não entendeu direito, e acabou ouvindo algo como “Catnip”. Desde então, Gale passou a aderir como apelido – Mas se não quiser tudo bem, afinal para ficar em forma deve maneirar mesmo na comida – Disse sorrindo enquanto pegava sua bolsa da cadeira. Gale era simplesmente cômico, conseguia fazer piada com tudo, além de ser incrivelmente simpático e claro, o que não tinha como não perceber, um gato. Balancei minha cabeça tentando afastar estes pensamentos de minha mente. Afinal, eu tinha acabado de conhecê-lo.

– Claro, vamos? – Disse indicando a porta.

Caminhamos pelo longo corredor e não demorou muito para encontrarmos Annie, conversando com um garoto cujo nome não prestei muita atenção ao ser apresentada. Fomos então, os três em direção ao refeitório, onde encontramos uma mesa vaga. Annie sentou-se e disse para que eu e Gale fossemos pegar o lanche enquanto ela ficava guardando nosso lugar.

– Catnip, posso te fazer uma pergunta? – Perguntou Gale assim que ocupamos o final da fila.

– Sim – Eu disse – Mas com uma condição – Falei sorrindo.

– Diga – Ele parecia preocupado, então me adiantei para dizer.

– Contando que você pare de me chamar de Catnip – Gale passou a mão pelos cabelos olhando em volta e finalmente disse:

– Qual é o seu problema com apelidos? – Sua pergunta tinha um quê de sarcasmo.

– Essa era a pergunta que queria me fazer? – Disse enrolando-o com um sorriso brincalhão no rosto.

– Não – Disse ele rindo – É que como você acabou de chegar na cidade, não deve conhecer os pontos turísticos e outras coisas mais, então eu pensei... – Ele passou a mão pelos cabelos um pouco nervoso – Bem... Eu queria saber se você não gostaria que eu te mostrasse a cidade. Sabe, para o caso de você não se perder – Então ele começou a rir – Não seria legal uma garota bonita como você se perder nesta cidade gigante, não?

– É, você tem razão – Disse entrando no clima – Não seria nada legal – Ficamos gargalhando como bobos na fila até que reparei na moça que servia nossa refeição e instintivamente parei de rir.

– Essa é Greasy Sae – Disse Gale ao meu ouvido, para que apenas eu pudesse escutar – Não liga não, ela está sempre assim, mal humorada – Dava para perceber, pois as rugas que formavam sua carranca eram tão destacadas que me fez pensar se algum dia ela já sorriu.

Assim que chegamos à mesa Annie foi buscar seu lanche e voltou logo depois com uma bandeja composta por frutas, suco e um pão integral. Fiquei imaginando se ela algum dia comia alguma coisa que não fosse saudável, mas achei melhor guardar o pensamento para mim.

As aulas seguintes passaram mais lentamente do que o normal. O fato de ter Annie conosco em duas delas impedindo eu e Gale de conversar fez com que eu pensasse que ela aprovava a rigidez do colégio. Entretanto, foi bom, pois com Gale eu não prestava tanta atenção e teria que perder minha tarde estudando para não ficar prejudicada.

Saímos da sala e rumei nos calcanhares de Annie até seu Mercedes, não tinha reparado em Gale atrás de nós até chegarmos no carro.

– Que horas hoje, Catnip? – Gale perguntou ofegante atrás de mim.

– Não sei, às 8 está bom pra você?

– Sim, está ótimo – Gale me deu um beijo na bochecha e saiu.

Quando olhei para Annie ela sorria maliciosamente para mim.

– O que foi? – Perguntei.

– Nada – Ela disse ainda sorrindo.