Abro os olhos e percebo que adormeci, levanto e me olho no espelho, olhos inchados de tanto chorar, uma angustia, uma sensação de como tivesse feito algo de errado. Sim, eu tinha errado, mas ninguém entendia que eu precisava daquilo, eu precisava esquecer os problemas. O celular vibra, era Laura, tinha mais oito ligações dela.

— Oi Laura. — falo com a voz cansada.

— Sua vaca! Você some, nem dá noticias.

— Desculpa, aconteceram umas coisas ai…

— Que coisas? — diz com um tom de preocupada. E a gente passa uns 20 minutos conversando e minha mãe bate na porta.

— Laura, vou ter que desligar, depois a gente se fala, beijo. — desligo o celular e abro a porta e viro o rosto.

— Se arruma, o diretor do seu colégio chamou a gente pra uma reunião. Desça em 30 minutos. — fecho a porta antes mesmo de ela terminar de falar.

Entro no carro e ela tenta puxar assunto.

— Passou a dor de cabeça?

— Um pouco. — respondo sem querer muito papo.

— A gente precisa conversar, sem brigas, sem discutir, afinal, você já ta bem grandinha pra entender como são as coisas.

— Mãe, eu assumo o que eu fiz, mas eu também tenho meus motivos. — e lágrimas caem sobre o meu rosto.

— Eu não vejo motivos pra você fazer isso.

— Você não sabe nada da minha vida! — Eu tinha segredos, eu tinha uma mágoa guardada, uma ferida jamais cicatrizada, mas nunca tinha contado pra ninguém.

— Tem razão. — ela fala preocupada comigo.

— Tenho? — digo espantada, pois ela nunca tinha me dado razão para alguma coisa.

— Sim, a gente precisa se conhecer melhor uma a outra. — chegamos à frente do colégio, saímos do carro e eu olho em volta para ver se avisto alguém, naquele dia não aula e nem prova, então… A barra tava limpa, pelo menos por enquanto.

— Olá Sr. Renato. — era o diretor do colégio, ele que comandava tudo ali, era um pouco mandão, mas não me assustava.

— Bom tarde Sra. Heloísa. Vamos até minha sala para conversamos melhor, me siga. — sentamos e minha mãe pergunta:

— O que podemos fazer com a Gabriely? — olho para ela espantada.

— Então… É época de provas e creio que ela passe por média, a Gabriely é uma excelente aluna não acredito que tenha feito isso, a não ser que tenha sido influenciada. — abaixo a cabeça. — Moçinha, alguém te ofereceu bebida? — não queria entregar Leonardo, afinal, a ficha dele tava bem suja ali no colégio, achei melhor não complicar as coisas.

— Não, não. Eu levei bebida. — minha mãe olha pra mim e revira os olhos.

— É… Parece que temos problemas. Bem, como falei é época de provas, então tenho certeza que ela não irá ficar em recuperação, mas você passará as férias de Inverno aqui no colégio ajudando na biblioteca.

— Ótimo. Isso não irá mais acontecer Sr. Renato. — minha mãe diz.

— Eu espero. Eu acompanho vocês até a porta. — levanto e quando abro a porta esbarro com Daniel.

— Ah… Oi, você é a garota maluca da festa não é? — fico trêmula.

— Sim, sou eu. Eu tenho que ir. — saio rapidamente e ele segura minha mão.

— Espera! Você ficou em recuperação? — tive a impressão que ele queria conversar comigo.

— Creio que não, e você?

— Tenho quase certeza que vou ficar em Português e Inglês. — dei um sorriso e fico aliviada.

— Vou indo Daniel, a gente se vê. — ele abre um lindo sorriso.

— Ok, juízo garota. — rimos e eu abaixo a cabeça e vou embora, olho para trás e ele tava me olhando, Daniel desvia o olhar e pela primeira vez naquela semana eu sorrio de alegria.