20 de Janeiro de 1994

Querido amigo, estou feliz, de verdade. Minha irmã está bem, concordou em frequentar um psicólogo, e está melhorando o temperamento a cada dia. Sem drogas. Sem surtos. Minha família está bem novamente. Meu irmão voltou a jogar e está melhor do que nunca. Tudo isso em menos de 20 dias. Talvez o ano novo traga alguma magia boa afinal. Fico feliz por eles, mas sinto que estou tão quebrado por dentro, como se fosse quase impossível me reconstruir de novo.

Sam e Patrick voltaram para a faculdade, antes de irem, tive uma breve conversa com Sam:

"- Prometa por favor que vai curtir a sua faculdade, vai frequentar festas, chapar com seus novos amigos, ficar com uns veteranos, mas por favor não tenha pressa de ser adulta, e não seja burra, a não ser que queira que essa história se repita novamente, e seja pior."- Dei um beijo em sua cabeça enquanto ela assentia devagar. Eu sei que fui meio grosso, sei que eu não posso mandar nela, nem segui-la o tempo todo e ver o que está fazendo de certo e errado, mas algo me diz que dessa vez ela vai ser racional.

. . .

Chloe está morando no meu porão. Eu não podia deixar que ela morasse num carro roubado, então ofereci a ela meu porão. Ela aceitou.

"- Você não pensa no seu pai? No que ele pode pensar de você? Digo, ele deve achar que está morta."

"- Claro que eu penso, a toda hora. Sem ofensa, eu gosto de viver no seu porão, mas isso não é a vida que eu planejei." -Ela disse olhando em volta.

"- Eu sei, eu não gostaria de morar num porão, sorte que esse é bem limpo, tem até uma cama só pra voc..."

"- Seus pais e sua irmã estão aqui?"

"- Não, pode falar alto, eles só voltam daqui algumas horas."

"-Ahhh ta... Charlie eu as vezes penso em ir para casa sabe, mas tenho medo deles me colocarem de volta naquela clinica horrível." -Chloe suspirou.Silêncio. "- E se...não deixa pra lá."

"-Fala."

"- Você não vai concordar com isso."

"- Por que não tenta falar primeiro?"

"Charlie, e se você fosse comigo? Olha se não quiser tudo bem, mas eu poderia dizer que, sim eu fugi, mas que te conheci e nós vamos nos casar, ou estamos noivos. Isso seria só uma desculpa caso eles ainda estejam do mesmo jeito com aqueles mesmos pensamentos de que eu sou louca... Nesse caso, nós voltamos e... Eu posso arrumar um emprego e alugar algum lugar." - Chloe nem me olhou para dizer, estava animada e os olhos brilhavam, de repente voltou a si. "-Ah, você deve achar ridículo, deixa pra lá."

"-Eu achei ótimo. Nós não vamos nos casar de verdade né?" -Arregalei os olhos.

"- NÃO NÉ, idiota."- Ela virou os olhos e riu.

"- Sendo assim, podemos ir quando quiser. Claro, num final de semana ou quando eu não tiver aula."

"-Ai Charlie obrigada, obrigada, eu nem sei como agradecer não sei mesmo." -Ela me abraçou forte, e eu retribui sentindo o cheiro dela no meu moletom que ela vestia.

"-Não precisa. Amigos são para isso." -Sorri. Ela assentiu meio magoada. "- O que houve?"

"-nada!" -Ela sorriu.

Nós ficamos nos encarando por um tempo.

"-Quer ouvir uma música que eu gosto bastante? Chama-se Infinity."- Ela disse enquanto levantava o fone de ouvido.

"Claro!"

Ela me deu um fone e colocou o outro nela. A música começou. Era tão intensa, as notas eram altas e suaves, misturadas, aquele instrumental era diferente de tudo que eu já havia ouvido, era uma mistura de Folk, um rock alternativo. Quando sai de meus pensamentos percebi que Chloe estava bem perto, eu conseguia sentir a respiração dela.

Os lábios dela ficaram em uma linha fina, e depois voltaram ao normal, ela me encarava em um momento e em outro olhava o chão, parecia tímida. A música tocava intensamente, e numa batida e outra, Chloe me encarou e me beijou.

Nos beijamos intensamente enquanto ouvíamos uma música intensa. Acabamos deitando na cama, e ela subiu em cima de mim, nós ainda estávamos nos beijando. Nossos fones caíram e ela parou, jogou-os no criado mudo velho,e me encarou. Eu não queria parar. A música ainda ecoava em meu cérebro, eu a deitei, e comecei a beijá-la de novo, nossos corpos quentes encostando um no outro.

Ela tirou a minha blusa e a dela. Aquilo ia acontecer. E eu queria. E ela queria. Estávamos ofegantes e ela tocava meu corpo, minhas costas nuas, e passava a mão em meus cabelos, ela era tão delicada e carinhosa.

Quando eu estava prestes a tirar a calça, ela me empurrou.

"-NÃO."- Ela gritou "-não Charlie, não dá. Eu juro que tentei, mas nem com você, não dá, eu juro, me desculpa , não dá." - Ela rapidamente se encolheu na cama e começou a chorar.

Não pude deixar de ficar admirando ela ali. Tão delicada, cada parte de seu corpo era perfeita, A barriga,e os ombros, as pernas nuas tão lindas, o cabelo bagunçado, ela parecia uma criança. Não nas mesmas circunstancias, mas parecia. De repente me toquei, e parei de observa-la.

"-Ei, calma, não chora, Chloe o que houve? Calma, está tudo bem"-Ela ainda não olhava pra mim.

"-Vai embora por favor. Me deixa sozinha Charlie. Vai embora." - Ela disse com a cabeça entre as pernas.

"-Eu vou, mas eu só queria saber porque você está desse jeito." -Eu estava realmente preocupado.

Ela levantou a cabeça com o olhar fixo no nada, o rosto inchado.

"Eu pensei que eu conseguiria, eu não queria te decepcionar, mas eu pensei que já tinha passado. Eu... Eu... Eu sou uma idiota, uma tremenda idiota e criança! Vai embora por favor Charlie p-por favor." - Ela soluçava.

Eu me levantei, dei um beijo de leva em sua cabeça e sussurrei um "Está tudo bem", e sai.

Eu não sei o que aconteceu. O que essa Menina esconde? Minha mente pensa em várias possibilidades que eu quero achar que não existem, ou que pelo menos não aconteceram com ela.