– Shiu. – Jess alertou quando paramos em frente a sua porta. Eu estava ansiosa e nervosa, como se estivesse fazendo algo errado.

– Me sinto uma criança. – adimiti.

– Eu também, mas anda logo. – assenti e abri a porta.

Assim que entramos na sala, ouvimos uma gargalhada vinda do outro cômodo. Caminhamos até lá passinho por passinho e abri de fininho a porta do quarto.

Meus olhos arregalaram, minha boca quase caiu no chão e por muito pouco a garrafa não foi junto. Jessica fez um barulho com a garganta chamando a atenção dos dois que estavam extremamente compenetrados no que faziam.

– Bella! Jess! – James exclamou, totalmente surpreso com nossa presença ali, mas não mais que eu e Jessica vendo ele aos beijos com nada mais e nada menos que meu primo, Jacob Black.

– Meu Deus! – exclamei ainda encarando os dois. Desde quando eles eram gays? Um dos meus melhores amigos e meu primo! Eu os conhecia, sabia do passado galinha que os dois tinham e agora... Pensei, pensei e pensei, mas nada fazia sentido. E por mais que aquele assunto não me dissesse respeito, eles me dariam satisfações.

Desde quando eles ficaram íntimos? Eu lembro de tê-los apresentado na minha última premiere. Será que estavam juntos desde então? Encarei os dois mais uma vez e James já havia se levantado e vinha ao nosso encontro. Jacob ainda estava sentado na mesma posição em que eu o encontrei. Ele olhava para as mãos e parecia mortificado ao ser flagrado.

– Porra, o que vocês estão fazendo aqui? – James perguntou num tom acusatório, como se estivesse nos recriminando por estar ali.

– O que estamos fazendo aqui? – repeti, a maneira como ele falou despertou a raiva em mim. – Viemos fazer uma surpresa de aniversário para o nosso amigo. – Jessica assentiu.

– Não sabem bater? Não sabem ligar avisando que estão vindo? Não pensaram que eu poderia estar fazendo algo importante? Que eu estivesse ocupado? – ele gesticulava com os braços, visivelmente aborrecido.

– Nós ligamos, James. Eu pedi que Mike ligasse e perguntasse o que você estava fazendo. E você disse que estaria aqui sem fazer nada. Por isso viemos. – Jessica tentou acalmá-lo.

– Mesmo assim, vocês estão erradas. Vocês invadiram a minha privacidade! Não é porque são minhas amigas que tem o direito de entrar assim na minha casa e se meter sem mais nem menos na minha intimidade. – ele esbravejou aumentando o som consideravelmente. De repente seu dedo indicador estava apontado para mim e para Jess. – VOCÊS NÃO TEM O DIREITO! – me assustei com sua reação e dei um passo para trás.

– James, não... – Jacob saiu de seu estado de letargia e tentou falar algo.

– CALA A BOCA, JACOB! – ele gritou. – Saiam daqui agora! – ele apontou para a porta a minha boca voltou a cair.

– VOCÊ ESTÁ FICANDO DOIDO? – Jessica urrou. – Acha que está falando com quem, James? Eu não sou nenhuma puta que faz tudo o que você manda. Se é que você ainda come putas... – ela debochou e o vermelho escarlate tomou conta do rosto de James. – Eu chego aqui com as melhores intenções, querendo festejar com você e é assim que retribui? Nos expulsando? Francamente, eu achei que tia Margot tivesse lhe dado melhor educação.

– NÃO FALA DA MINHA MÃE! – ele berrou de volta.

– Eu falo! Porque tenho certeza que ela não aprova o que você está fazendo agora, nos tratando desse jeito. – ela apontou de volta pra ele. – Caralho, James, que porra você está pensando?

– AAAAH! – ele berrou e num surto pegou um vaso e tacou na parede. – SAIAM DAQUI, CACETE!

– Vamos, Jess. – a chamei com os olhos banhados em lágrimas. – Acho que nosso amigo não está por aqui. – ela assentiu e saiu do quarto. A segui e senti uma mão me segurando.

– Eu vou com vocês. – Jacob disse. Assenti e voltei a caminhar para a porta.

– JACOB, VOLTA AQUI! – James gritou, mas Jake não lhe deu ouvidos. Eu já chegava na porta quando um vaso se espatifou contra a parede bem ao meu lado. Estaquei imediatamente.

Me virei lentamente para James que me encarava com olhos assassinos.

– Seu filho da puta, você queria me acertar? – esbravejei para ele. – Eu achei que você já tinha parado com essas crises, James. Vá se tratar! – finalizei e saí de vez daquele quarto.

Do lado de fora, seguranças acabavam de sair do elevador e corriam para onde estávamos. Os hóspedes dos outros quartos se amontoavam no corredor e tímidos flashes eram disparados. Rolei os olhos. Jacob se colocou à nossa frente e foi andando entre as pessoas. Dentro do apartamento ainda se podia ouvir o barulho de coisas se quebrando. Algum segurança perguntou a Jacob o que estava acontecendo e ele respondeu que tinha um descontrolado dentro do quarto. Continuei andando e não olhei para trás pra saber o que aconteceu, mas antes de o elevador se abrisse, eu ouvi os gritos chorosos de James.

Foi no final de uma aula de teatro que James teve sua primeira crise. Psiquiatras disseram que aquilo era um evento esporádico e ocorria devido ao trauma que James teve de perder a mãe assassinada num assalto à casa deles. Desde então, James tinha um surto no qual ele se transtornava e ficava irreconhecível. Eu e Jessica já havíamos presenciado uma crise ou outra, mas nessas ele só gritava e arrancava os próprios cabelos, nunca tinha quebrado nada e nem ficado tão agressivo como estava agora.

O caminho até chegarmos no carro foi silencioso e pensativo, cada um preso no seu mundo de especulações.

– Jess, pra onde você vai? – perguntei querendo saber um caminho.

– Pra sua casa, não é porque não cantei os parabéns que não vou comer o bolo. – ela disse sarcástica e eu sorri. Como bem a conheço, sei que nesse momento ela está se mordendo de tanta raiva.

– E você, Jake? – perguntei a ele, que estava sentado no banco de trás.

– Posso ir com vocês? – ele pediu e eu assenti, dando a partida no carro.

Chegamos em minha casa e Jessica foi direto para a cozinha atrás de taças para o champanhe. Me acomodei na sala, assim como Jacob, que tinha um olhar totalmente perdido.

Jess voltou a nos serviu a bebida e o bolo. Ficamos ali, cada um comendo na sua e digerindo não somente o alimento, mas também a situação que havíamos acabado de passar.

– Desculpa. – Jake quebrou o silêncio. Seu rosto estava atormentado. – Bella, eu... Deus. – ele puxou os cabelos. – Eu jamais trataria vocês daquela maneira, ou colocaria vocês nessa situação.

– Nós sabemos, Jake. – o tranquilizei. – James tem esses surtos de vez em quando, não se culpe por nada. – ele assentiu e ficou calado por um tempo.

– Naquela noite da premiere, eu e James trocamos telefone e marcamos de sair pra uma balada, “pegar umas gostosas”, como ele mesmo sugeriu. – ele voltou a falar e eu entendi que ele contaria a história toda. – Então nós saímos alguns dias depois e fomos pra balada. Eu e ele ficamos com várias mulheres naquela noite. Estávamos mortos de bêbados e James propôs que eu fosse pro seu flat dormir lá, já que eu não teria condições de chegar na minha casa. Não vi maldade nenhuma ali e aceitei.

“Quando chegamos lá, James ligou pra recepção e pediu algumas coisas pra gente comer, e mais bebidas. Ele sentou ao meu lado e ficamos conversando sobre bobagens e aventuras. A essa altura, eu já estava mais bêbado do que nunca. Ele foi chegando mais perto e mais perto e acabou me beijando. Eu ainda não tinha percebido, mas eu não pude negar que eu estava atraído por ele”.

“Ficamos só nos beijos e quando a consciência me tomou eu me separei dele. Ele tentou me convencer a aceitar aquilo, que nós dois queríamos, mas eu sou homem, sou hétero e jamais aceitaria aquilo. Ele disse que pra ele tava sendo difícil também, que era a primeira vez que ele desejava um homem, que ele beijava um homem... Eu fiquei puto com ele e fui embora”.

“Nos dias seguintes ele me procurou pra pedir desculpas, mas acabou rolando uns beijos de novo, e eu estava sóbrio. Comecei a ficar confuso, sem saber como reagir nessa situação. James continuou insistindo, me mandando mensagens e... Ele faz eu me sentir bem e querido, coisa que eu nunca mais senti depois de Renata. Não sei se essa fraqueza contribuiu para que tudo acontecesse. Hoje eu resolvi fazer uma surpresa pra ele também, disse pra ele que era extremamente complicado pra eu assumir pra mim mesmo o que estava acontecendo, mas que eu ia tentar. Ele ficou tremendamente feliz e bem, o resto vocês já sabem.”

– Hm, então quando você finalmente estava aceitando, nós aparecemos? – Jess quis saber.

– Exatamente. – Jacob respondeu.

– Desculpa, Jake, mas nós não tínhamos como saber de nada. – aleguei em nossa defesa. – No entanto, nada justifica o comportamento agressivo dele. Ele nos ofendeu.

– Eu concordo com vocês. Sabe, acho que isso foi um sinal ou algo do tipo me avisando que isso nunca daria certo, que eu tenho mesmo é que me afastar dele e enterrar essa história.

– Jake, – Jess começou. – Não é pecado nenhum desejar outro homem.

– Eu sei, mas EU não consigo aceitar isso, entende? Eu estou sendo preconceituoso e antiquado, eu sei, mas é fácil falar quando é com os outros, mas quando é com a gente...

Me solidarizei com seu sofrimento. Ele realmente estava em maus lençóis com a própria consciência. Eu não quis dar palpite. Eu sabia o que ele estava passando, foi basicamente o mesmo com Edward, apenas alterando alguns fatores. Edward era proibido pra mim, James é proibido pra Jacob. O engraçado é que essa proibição só existe nas nossas cabeças, mas ainda assim nos inibem de viver o grande prazer.

A carne é fraca e uma hora ou outra a gente cede à tentação. Comigo foi assim e eu não duvidava que pra Jacob fosse da mesma maneira, ele só precisava aceitar na cabeça dele que aquilo não era errado e superar os preconceitos que ele mesmo criou.

Jake ainda contou um detalhe ou outro sobre James e não muito tempo depois, ele e Jess pediram um taxi e foram pra casa. Fui dormir chorosa, ressentida e, acima de tudo, magoada, sabendo que no dia seguinte eu acordaria e enfrentaria mais um escândalo envolvendo meu nome.

E foi dito e feito, na primeira hora da manhã Jane me telefonou informando sobre a manchete dos jornais de fofoca, recheado de comentários maldosos, alfinetadas, especulações e fotos. Havia ainda algumas de Edward em New York em seu dia de trabalho e a frase: “Longe do namorado, Isabella Swan causa escândalo em luxuoso hotel de Los Angeles”. Puff, como se eu tivesse armado tudo.

Li em algum site de fofoca:

“Na noite de ontem foi possível ouvir gritos e vasos quebrando em uma das suítes do Four Seasons, nomes como Isabella Swan, Jessica Stanley e James Delue estavam envolvidos. Não era tarde da noite quando os hóspedes do poderoso hotel ouviram a gritaria e os barulhos de vidro se quebrando. Testemunhas relataram que as queridinhas Bella e Jessica chegaram com bolo e champanhe para comemorar o aniversário do amigo James, mas a comemoração passou longe de ser feliz. Não demorou mais que cinco minutos para a segurança do hotel ser chamada para apartar a briga. James estava descontrolado dentro do quarto e expulsava os demais do local. Uma das hóspedes alegou que a briga começou por que James não aprovou o relacionamento de Bella com o primo, Edward Higginbotham Cullen, e, após a discussão, surtou. Será que mais uma vez a nossa queridinha está quebrando um coração, como fez anteriormente com Riley Biers? Será mesmo que James Delue era/é só um amigo para Isabella? Será que Edward está preparado para também ter seu coração partido?”

COMO É QUE É? COMO ELES TINHAM A AUDÁCIA PRA FALAR ISSO? A raiva me cegou e eu levantei correndo, pegando a minha bolsa e descendo pela escada em direção ao carro. Eles faziam tanta questão de me colocar em um escândalo, pois bem, eles teriam um.