Hurricane escrita por Rocker


Capítulo 53
Capítulo 53




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Hurricane II

Capítulo 30

– Vejam! - gritou Caspian, apoiando-se na beirada para enxergar o casco da serpente que cercava o navio. - O que é aquilo?

Uma pele verde e escamosa, com formas pulsantes e grossa. Era o corpo da serpente.

– Tarde demais! Tarde demais! - gritou o lorde.

Gael, estremecida com aquela cena, se afastou dos marinheiros que tentavam ver algo através da água suja e escura. Afastou-se para o outro lado o barco, para longe dos marinheiros e para longe do que quer que fosse que ameaçava a vida deles. Tentava inutilmente parecer menor do que já era, protegendo-se com seus próprios braços. Lúcia, que percebera a falta da menininha ao seu lado e de Lena, virou-se ao ouvir as exclamações do lorde de que o estranho animal estava embaixo do barco.

– Gael! - gritou Lúcia, segundos antes da cabeça da serpente emergir da água, do outro lado do barco e logo atrás da menininha.

Erguia-se assustadoramente sobre o Peregrino, a caçadora atrás de sua caça. Uma cabeça verde e aparentemente gosmenta, coberta por lodo do fundo do mar e uma boca redonda abrindo de modo a rosnar assustadoramente. Um cheiro de podridão e envelhecimento podia ser sentido no ar à medida que a serpente se aproximava, pronta a abocanhar sua enorme presa de madeira. Edmundo tremia sobre suas pernas, tentando ao máximo não mostrar seu medo e apavoramento. Mas era um pouco difícil ter que enfrentar seu medo de frente e ainda mostrar que não estava abalado. Mas Lena conseguiu perceber seu estado de espírito e se botou à sua frente, criando uma ilusão de proteção que o moreno logo quis agradecer. Mas não era hora.

Lúcia, que também se sentia apavorada diante do monstro que a mente de seu irmão criou, engoliu em seco e correu até o outro parapeito, para puxar Gael de lá.

– Vem cá, corre! - ela gritou para a menininha, puxando-a pela mão e colocando o braço em suas costas para criar uma falsa proteção.

– Não me decepcione! - dizia Ripchip corajosamente, na cabeça do dragão alaranjado. - Sem medo, sem retirada!

O dragão voava de encontro à serpente, procurando não demonstrar total medo. Edmundo, superando suas próprias expectativas diante de seu medo, deu um passo à frente, protegendo tanto Lena quanto Lúcia com seu corpo - a espada em mãos, apontada direto para a boca da serpente que se aproximava. A serpente, com seus dentes escorrendo um líquido viscoso e transparente, se aproximava mais e mais, até que o fogo do dragão colidiu contra sua boca. Lena percebeu então que não poderia depender do dragão para sempre - até mesmo ele tinha seus limites de coragem! E não seria possível atacar aquela fera enquanto ela não estivesse mais próxima ao barco.

E ela não podia deixar isso acontecer.

Era hora de ela se mostrar útil mais uma vez.

Aproveitando a distração de todos com a serpente marinha, Lena correu até o camarote de Caspian e pegou o arco-e-flecha de Susana. Não que ela fosse suficientemente boa em mira, mas precisava tentar.

Tentar não ser inútil.

Tentar superar as expectativas, tanto dos marinheiros quanto dos seus pais em sua última tentação.

Afinal, ela era Lady Lena.

~*~

A visão clara da serpente se chocando contra o barco, a fim de se livrar do dragão que se agarrara à sua pele escamosa cobriu os olhos de Lena assim que ela saiu do camarote. Ripchip logo passou do braço do dragão para a pele escamosa da serpente, desembainhando a espada.

– Por Nárnia! - gritou o ratinho, munido de sua natural coragem, e fincou a espadinha na pele do nariz da serpente, que urrou.

Ripchip o atacava repetidas vezes, sem dó alguma e sem medo de cair dali. A serpente, porém, continuava a se mexer violentamente e lançou o ratinho para longe - este que teve a sorte de conseguir se segurava numa corda ligada à vela do barco.

– Eustáquio, aguente firme! - gritou ele assim que recuperou o equilíbrio.

Não houve muito efeito de incentivo. A serpente conseguiu finalmente se livrar do dragão, que saiu voando por cima do barco com certa dificuldade em se manter no ar. Estava prestes a dar meia volta para atacar novamente o monstro, quando este já a o havia pego pelas asas e mergulhado no mar. Segundos depois, a serpente apareceu afastada dali, com o dragão preso pelos dentes. Sacudiu a cabeça, torturando o pobre dragão alaranjado, e o jogou contra um rochedo com força total. O dragão arfava com a dor que sentia pelo corpo. A serpente estava prestes a dar o golpe final quando o dragão reagiu e lançou uma rajada de fogo sobre a cabeça da serpente, que submergiu de volta na água.

O lorde empurrou aos marinheiros, à procura de espaço até a borda.

– Xô, criatura! - ele urrou, lançando sua espada.

– Não! - gritou Caspian.

– A espada! - gritou Edmundo.

Mas já era tarde demais e a espada já se encontrava cravada no ombro esquerdo do dragão.

– Eustáquio! - gritou Lúcia, desesperada.

O dragão levantou voo, mesmo com dificuldade. Voou para uma abertura iluminada no céu de nuvens negras.

– Não, não! Volta aqui! - gritava Lúcia para o ar, pois o dragão já não mais a ouvia.

– Estamos perdidos, perdidos! Dá meia volta no barco! - bufava o lorde, subindo as escadas para o leme, empurrando um marinheiro e pegando o timão.

– Detenham esse homem! - gritou o marinheiro jogado ao chão.

O barco teve um movimento brutal devido à direção do lorde. Drinian se aproximou dele, e deu-lhe um soco. O homem, fraco e insano, caiu desmaiado no chão sem pestanejar.

– Tripulação! Todos às suas posições! Remos acelerados! - Drinian gritou ordens aos pulmões.

Os marinheiros se dispersaram, ansiosos para retomarem seu trabalho e se livrarem de uma vez por todas daquele lugar. Lúcia olhou atônita para aquele movimento. Adiantaria realmente? Antes eles precisavam encontrar uma saída! Olhou para a abertura iluminada no céu, por onde Eustáquio passara, e pediu.

Aslam, por favor, nos ajude.

E então uma gaivota apareceu, fazendo seu costumeiro som agudo, passando pela abertura iluminada.

A salvação que Aslam lhe trouxera.

~*~

Lena olhava toda a atitude daqueles que trabalhavam. Estavam nervosos, claro. Mas não para aguém que acabara de enfrentar uma serpente gigante e feiosa. Será que nenhum deles podiam sentir a tensão no ar? Não a tensão do medo e ansiedade, claro. Mas aquela tensão que prediz que algo está prestes a acontecer. Poxa, só ela sentia isso? Não era possível! Uma coisa que ela aprendeu durante os ataques que sofreu da névoa verde, era que um medo nunca ia embora até ser cortado completamente até a raiz.

– Lena, você está bem? - perguntou Lúcia e Lena balançou a cabeça para se concentrar, mas sem espantar os pensamentos.

Edmundo, que observava atentamente o lugar onde a serpente desaparecera no mar, virou-se ao ouvir a pergunta da irmã.

– Ainda não acabou. - disse Lena, olhando para o mesmo ponto que Edmundo observava segundos antes.

– Também sentiu isso? - Edmundo perguntou, franzindo o cenho.

Lena assentiu. - Um medo nunca vai embora até ser cortado pela raiz. - refletiu seus pensamentos em voz alta.

Edmundo se arrepiou ao ouvir tal frase, mas não entendeu o que a menina quis dizer realmente.

– Ainda pode voltar? - perguntou Lúcia, preocupada.

Lena assentiu e se afastou, ainda com o arco de Susana em mãos, mas Edmundo a segurou pelo pulso.

– O que vai fazer? - perguntou ele.

– Vou fazer o que precisar para matar esse animal. - ela respondeu, convicta de que conseguiria. Poderia até mesmo falhar, mas faria sempre o meu melhor.

– Você não pode! - ele exclamou. - Você pode morrer!

Lena abriu-lhe um sorriso triste. - Você me conhece, Eddie. Farei o que for preciso para não me tornar um fardo inútil.

Cara, como fui me apaixonar por uma menina tão teimosa?!, perguntou-se Edmundo, observando-a se afastar.


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