Hurricane escrita por Rocker


Capítulo 44
Capítulo 44




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Hurricane II

Capítulo 21

Lena se revirava sobre a manta, não muito distante de Colin e Edmundo. Colin estava em um estado meio catatônico, sem dormir completamente. Ele, porém, não vira quando Lena se levantou, tensa, e começou a caminhar para um pouco mais longe de onde estavam acampados. Os olhos esverdeadamente foscos e obscuros, sem seu brilho habitual. O que acontecia com a menina?

Envolta em uma névoa verde e densa, ela não tinha ideia do que realmente acontecia ao seu redor.

O que ela via?

Seus pais.

Eu corria pela relva fresca, como no dia do meu aniversário de catorze anos, meses antes dos meus pais morrerem. Era como um sonho. Um sonho lindo e real.

– Elena, espere! - gritou mamãe, correndo atrás de mim pelos campos verdes.

Ríamos como crianças, como nos velhos tempos. Minha aparência de dezesseis anos não assustaram meus pais, que continuavam exatamente como me lembrava.

– Elena, já não somos tão novos! - resmungou papai, mas, pouco depois, já me alcançava e me abraçava por trás, deixando-me com os pés no ar e um riso infantil saindo dos meus lábios.

Por mais que fosse o que ela via, ela andava sempre em linha reta. Sempre em linha reta, pisando sobre o chão rochoso e nos pedregulhos que remexiam sobre seus calçados. Ia em frente, sem ideia do que realmente acontecia consigo mesma. Pois, afinal, era tudo um sonho.

Um belo sonho. Finalmente tenho meus pais comigo, de volta. Como se nunca tivessem ido. Mas, eles tinham ido. Eu havia visto o teto da nossa casa que se incendiava, caindo sobre suas cabeças. Eles deveriam estar mortos.

– Filha, o que te preocupa? - perguntou mamãe, olhando-me pelo canto do olho com um olhar astuto. Mas não era o típico olha de mãe que eu tanto era acostumada antes do incêndio.

Remexi-me na grama, e me levantei - estávamos os três deitados sobre a grama, eu entre eles, observando juntos as nuvens no céu, como fazíamos quando eu tinha seis anos de idade. Olhei para a fisionomia dos meus pais. Iguais, porém diferentes. Era como se algo os estivesse forçando a fazer isso.

Definitivamente, alguma coisa estava errada.

– Nada, eu... - comecei, sentindo um nó se formando em minha garganta enquanto, instintivamente, eu me afastava dos dois. - Acho que vou chamar meus... Amigos. - completei, receosa ao perceber que os rostos e nomes estavam se diluidindo da minha mente.

Quem eram mesmo aquelas pessoas?

E então, algo na realidade mudou. Uma neblina densa e verda começou a rastejar aos pés, até que pararam em meus pais, já de pé.

– Amigos, Elena? - debochou mamãe, dando um passo à frente. - Você não tem amigos.

Sorrisos sádicos e diabólicos. Era tudo o que se encaixava e fazia sentido na minha cabeça. Mas então, algo mais fez sentido em minha mente.

Nomes.

Ainda não sabia quem eram, mas os nomes vinham em minha mente, repetidamente: Lúcia, Edmundo, Colin, Caspian, Susana, Pedro, Ripchip, Lúcia, Edmundo, Colin, Caspian, Susana, Pedro, Ripchip, Lúcia, Edmundo, Colin, Caspian, Susana, Pedro, Ripchip...

Até que um rosto - e uma certeza - tomaram formas em minha mente.

Edmundo. Lindo em sua pele alva e os olhos negros como correntes, prendendo os meus de modo hipnotizante. Os cabelos negros e sedosos, que eu amava desarrumá-los ainda mais, como se minhas mãos não resistissem a esse ato. Os braços fortes envolvendo minha cintura de um modo protetor e reconfortante, os lábios finos e macios desenhando o contorno dos meus.

Eu jamais esqueceria Edmundo.

Eu o amava.

– É, por incrível que pareça, eu tenho amigos. - disse, no mesmo tom de desdém que mamãe usara.

O sorriso cínico dela se alargou, enquanto eles se aproximavam em névoa verde, e eu me afastava.

– Ninguém gosta de você. - acusou papai, e eu senti uma facada em meu peito.

Mas algo me dizia para combater o que vinha em frente.

– Gostam, sim. - eu revidei, sentindo as palavras saindo desenfreadas pela boca, soltando o que ficara preso. - Tenho pessoas que gostam de mim do jeito que sou, tenho um namorado que me ama. Não sou tão inútil assim. - mordi o lábio inferior, nervosa. Não tinha ideia do que falava, mas à medida que as palavras saíam, minha mente foi desanuviando. - Fui eu quem mostrou o amor a Edmundo, fui eu quem encontrou Aslam. E tenho orgulho disso, pois só vêm a Nárnia aqueles que irão ajudá-la. - eu ia dizendo e, de repente, tudo se tornou claro. - E vou mostrar isso a todos. Sou uma deles. Sou a Lady Lena, aquela que libertou Nárnia das mãos dos tiranos telmarinos. Sou importante como Lady Polly, aquela que viera nos primórdios dos tempos.

Eu dei meu último passo atrás, prestes a entrar na orla do bosque que circundava a clareira.

Papai alargou seu sorriso cínico. - Não pode sair. Nós a impediremos.

Abri um sorriso, espelhado ao seu. - Não podem fazer nada. Estão mortos.

Virei-me, e corri pela floresta.

Finalmente livre.

Lena só percebeu que estava chorando quando braços a embalaram e um soluço irrompeu de seu peito.

~*~

– O que houve? - perguntou Edmundo, finalmente acordando aos soluços baixos que Lena deixava escapar.

Colin a levou até a manda de Edmundo, e a depositou ao seu lado. O moreno logo a aconchegou em seus braços, parando assim, com os soluços baixos que ela dava até então. Edmundo estava se roendo para culpar o loiro. Nossa, como ele queria colocar a culpa de tudo nele! Mas ele sabia que não era mais assim. Edmundo sabia que, a partir do momento em que Colin o ajudara a salvar Lena dias antes, as coisas não seriam mais as mesmas. Pois Edmundo tinha que admitir que Colin era amigo dela, e queria apenas o seu bem.

– O que aconteceu com ela? - perguntou Edmundo a Colin, transparecendo em sua voz apenas a preocupação com a menina em seus braços.

– Eu não sei. - disse Colin dando de ombros, ciente da mudança de comportamento que Edmundo tinha tido até então. - Eu acordei com o barulho de passos e quando vi que Lena não estava por perto, fui procurá-la. Ela estava prestes a dar um passo mortal em direção a um vulcão. Eu nem precisei chamar por ela, Lena simplesmente se virou, afastou alguns metros, se agachou e começou a chorar.

Edmundo baixou seu olhar para as lágrimas silenciosas que escorriam pelas faces da menina que tinha o rosto levemente enfiado no peito de sua camisa.

– Shh... - sussurrou, aconchegando-a melhor em seus braços. - Não se preocupe, estou aqui agora.


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