Hurricane escrita por Rocker


Capítulo 33
Capítulo 33




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Hurricane II

Capítulo 10

Caro diário, minha vida sofreu uma reviravolta inacreditável! Eu fui raptado pelos meus primos e fiquei à deriva em águas desconhecidas num barquinho ridículo. Pra piorar, eu divido a cabine com um rato muito antipático. E eu que já achava ruim de dormir com meu primo.

No dia seguinte, Eustáquio ficou em um canto, onde ninguém o incomodaria, e continuou escrevendo.

Até agora, todo mundo que conheci nesse lugar esquisito, sofre de delírios incríveis. Ir atrás de névoas verdes e procurar fidalgos perdidos. Só pode ser resultado da má alimentação. Ou então enlouqueceram de vez. Primo Edmundo não é exceção. Ele passa cada segundo livre esfregando aquela espada de lata como se fosse uma lâmpada mágica, ou então se agarrando com aquela namoradinha estranha dele. Tá na cara que precisa de um hobbie.

– Roedor irritante. - murmurou Eustáquio, ao avistar Ripchip conversando com Edmundo do outro lado do convés. - Ele delira mais que meu primo.

Uma gaivota pousou ali perto, num barril ao seu lado.

– Na Inglaterra temos ratoeiras pra bichos como ele. Falando em comida, por acaso sabe onde eu como?

A gaivota nada disse, e o garoto estranhou. Por quê a ave não falava?

– É... Por quê está falando com o passarinho? - o menino ouviu a voz do minotauro ao longe.

– Ora, porque naturalmente eu presumi... - defendeu-se Eustáquio.

Mas o minotauro começou a rir antes mesmo que ele terminasse sua fala. - Ele fala com passarinhos!

– Doidinho de pedra, esse aí. - disso o marinheiro ao lado do minotauro. Deu um tapinha no abdómen do minotauro e este o devolveu fortemente nas costas.

Indignado, Eustáquio expulsou a ave e se levantou para ir à cozinha do barco. Procurou e pegou uma laranja, colocando-a na camisa. Porém, ele não se safaria.

– Está ciente - disse uma voz fina atrás dele, fazendo-o bater em algumas panelas, no susto. -, que roubar ração é um crime hediondo no mar?

Eustáquio procurou o dono da voz.

– Aqui em cima.

Ripchip, de braços cruzados e peito estufado. Eustáquio tremia da cabeça aos pés, mas tentava parecer calmo. O que, claro, não deu muito certo.

– Ah... Você. - disse Eustáquio indiferentemente, mesmo que ele não estivesse. Ele ia indo embora, mas Ripchip pulou para seu lado, detendo-o.

– Homens já morreram por muito menos. - disse o rato.

– Pelo quê? - o garoto perguntou, desentendido.

– Por traição! Não serei sonso nem outras tolices! Entregue-me a laranja e eu finjo que não vi.

– Eu não sei do que tá falando! - insistiu Eustáquio.

– Eu vou lembrá-lo. - disse Ripchip, indo à frente e lançando a cauda sobre o rosto do menino, mas ele foi rápido e a segurou.

– Olha, eu já estou farto de você!

Ripchip, irritado, pegou a espada lentamente.

– Largue essa cauda, agora. O grande Aslam em pessoa me deu essa cauda. Ninguém, eu repito, ninguém toca na cauda e ponto! Ponto de exclamação!

Eustáquio já soltara a cauda e levantado as mãos em forma de defesa, enquanto se afastava da espada do rato.

– Desculpe!

– Então me passa a laranja e vamos acertar as contas! - Ripchip pegou um facão com a cauda e entregou a Eustáquio.

– Por favor, por favor, não! - Eustáquio disse desesperado. - Eu sou pacifista!

En garde!

Ripchip fez um movimento e Eustáquio saiu correndo, subindo as escadas para o convés. Quando subiu, porém, Eustáquio bateu contra o minotauro.

– Olha por onde anda!

– Desculpe! - Eustáquio pediu rápida e nervosamente, antes de voltar a correr e acabou derrubando tudo por onde passava, no desespero de fugir do rato.

Ripchip o alcançou, pulou em uma corda e ficou frente a frente com ele, sobre um barril no centro do convés. - Tentando fugir? Estamos em um barco, lembra?

– Não podemos conversar?!

– Essa foi por roubar! - fez um corte na camisa dele, deixando a cor da laranja à mostra. - Esta por mentir! - fincou a espada na laranja e a arrancou dali. - E esta por me irritar! - e bateu com a laranja no rosto do menino.

Não muito longe dali, Lena e Lúcia riam de algumas bobagens ditas por Colin, enquanto Edmundo ainda tentava engoli-lo, e perceberam a comoção entre os marinheiros, que agora gritavam algumas coisas em uma roda que fizeram em volta dos dois.

– O que será que é isso? - perguntou Lúcia, erguendo o pescoço para tentar ver.

– Alguma briguinha entre os marinheiros. - respondeu Edmundo de modo indiferente. Ele não se importava, preferia mais ficar ali conversando com Lena, mesmo que Lúcia e Colin estivessem junto.

– Provavelmente. - concordou Colin. - Por aqui é quase ritual.

– Bem, eu podia jurar que tinha ouvido a voz irritante do seu primo. - comentou Lena.

Edmundo revirou os olhos, mas Lúcia se aproximou do burburinho para poder enxergar. Lena, porém, sabia que não conseguiria passar por todas aquelas pessoas, então simplesmente subiu sobre a beirada do barco, segurando-se numa rede de cordas que se ligava do chão ao mastro principal.

– O que está fazendo? - ele perguntou preocupado.

– Tentando enxergar alguma coisa. - ela respondeu, esticando o pescoço e vendo Ripchip e Eustáquio.

Eustáquio, com as mãos tremidas, fez dois arcos no ar, mas o rato conseguiu desviar e pular para a beirada do barco, a beirada contrária onde Lena subira para ver.

– É assim que eu gosto! Vamos duelar! - disse Ripchip, e jogou a laranja para o lado, onde Drinian pegou da escada. - Anda, vem! Cadê seu melhor golpe?!

Eustáquio atacou, mas Ripchip se defendeu.

– Foi esse?! - o rato rolou. - Concentre, rapaz!

Eustáquio foi com o facão mais algumas vezes e Ripchip pulou de forma magnífica em todas as vezes.

– Agora pare de bater asas como um pelicano bêbado! - disse o rato. - Postura! Mantenha a lâmina em riste! Levanta, levanta! Assim!

Eustáquio foi com tudo, mas Ripchip pulou em suas costas e depois foi andando por toda a borda. Pulou por uma corda e parou em cima de um barril. Eustáquio tinha o facão preso na madeira e demorou um pouco para se soltar.

– Estou aqui! - provocou o rato e o menino atacou novamente. - Agora desliza os pés. O esquerdo não, o direito! Entendeu? - ele pulou no chão e bateu com a lâmina nos pés de Eustáquio. E depois pulou na beirada novamente. - Vamos! Agilidade, destreza! É uma dança, rapaz. Dance!

Eustáquio atacou rapidamente desta vez e Ripchip perdeu o equilíbrio e foi pra trás. Eustáquio foi para a borda para procurar pelo rato, mas não havia nada. Ripchip o empurrou pelas costas e quando ele se virou, o rato o empurrou, com as palavras finais.

– E isso... é tudo!

Eustáquio caiu sobre uma cesta, que caiu juntamente com um grito desconhecido. Lúcia se aproximou da cesta, vendo alguém saindo de lá.

– Olha! - ela disse.

Gael, a menininha do homem que embarcara com eles nas Ilhas Solitárias, saiu da cesta, um pouco envergonhada e confusa.

– Gael? - seu pai apareceu, surpreso. - Como veio parar aqui?

Todos olhavam confusos e murmuraram a respeito, e a menininha se levantou um pouco amedrontada e ajeitando os cabelos. O marinheiro a abraçou. Drinian se aproximou e cruzou os braços - todos ficaram quietos, esperando por palavras do capitão sobre a passageira clandestina.

– Parece que temos uma nova tripulante. - disse o capitão, por fim.

O marinheiro sorriu aliviado e Drinian entregou a laranja à garotinha, que a pegou com cautela. Drinian saiu e Lúcia se aproximou.

– Bem vinda a bordo.

– Majestade. - disse a menininha, fazendo uma reverência.

– Me chame de Lúcia. - disse Lúcia, passando o braço pelos ombros dela amigavelmente. - Vem cá. - e saíram.

– Mexam-se homens! - gritou Drinian. - Mãos à obra!

Eustáquio recolheu o facão do chão.

– Boa luta. - disse Ripchip, chamando sua atenção. - Ainda faço de você um espadachim.

Eustáquio sorriu com o elogio. Nunca havia recebido um elogio antes, mas nem por isso seria menos irritante com o rato.

– Pois é, claro! - disse arrogantemente, mas havia uma pequena gota de agradecimento em seu tom de voz. - Se eu tivesse lutado com alguém do meu tamanho, o resultado teria sido diferente.

Ripchip riu, enquanto ele ia embora. - Sem dúvida.


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