Final Destination - Risk Of Death escrita por Paul Oliver


Capítulo 7
Injúria


Notas iniciais do capítulo

Eae gente! :D
Desculpe pela demora...Cara, não vou mais dar prazo para os caps, pois não está dando muito certo. kkkkkkkkkk
Resolvi então ficar quietinho aqui, em relação à esses prazos. Mas tenham uma certeza: eu NÃO abandonarei a fic! Podem ter certeza.
Ah, a fic terá mais de 10 capítulos. Tive que mudar pois os capítulos iriam ficar grandes demais. Esse mesmo iria dar umas 15 mil palavras! :o Daí pensei, porque não dividir em dois? Foi o que eu fiz. Então a fic, por enquanto, fica com uns 11, 12 caps. XD
Espero que gostem. Tenham uma boa leitura!



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Kramer ajeitou sua luva e olhou mais uma vez para os olhos de Carl, ambos continuavam bem fechados. A anestesia havia acabado de ser aplicada no braço do garoto, que continuava ali inerte na mesa de cirurgia. Um lençol azul claro o cobria desde seu pescoço até o restante de seu corpo, deixando apenas a sua cabeça visível.

O médico então iniciou a cirurgia, o pouco cabelo de Carl já havia sido raspado, então o produto já poderia ser passado no local de sua cabeça que seria aberto. O tal produto serviria apenas para não danificar a pele, era como uma espécie de cera quente. Kramer pegou o bisturi, que fora dado por um assistente à ele, e o posicionou sobre a cabeça de Carl e então deu início ao procedimento. A afiada lâmina do aparelho era feita de titânio e perfurava a pele da cabeça do garoto de uma maneira rápida e precisa, logo o médico pode retirar o pedaço de carne em formato quadrado, e então já era visível seu crânio. Uma assistente se aproximou e limpou o pouco de sangue que ainda saía do local, e então Kramer virou-se em direção a outro assistente.

—Eu preciso chegar ao cérebro do Carl, e aí sim poderei retirar o tumor, pra isso eu preciso da perfuradora.

O assistente a trouxe rapidamente e então entregou à Kramer. O aparelho era de fácil manipulação e Kramer já tinha certa experiência com esse tipo de procedimento, mas não sabia o porquê de estar tão nervoso. Eu já fiz isso antes, várias vezes... Eu não posso falhar agora, não posso. Eu prometi para aquela garota... Angel. Ele ajeitou a perfuradora na mão e a ligou, o barulho do aparelho era bem semelhante à uma furadeira doméstica, ou seja, um tanto desagradável. E então posicionou no local em que o crânio de Carl estava visível.

— Já imaginou se ele faz algo errado e perfura o cérebro do garoto! — Shawnee disse rindo e gesticulando com as mãos.

Kramer levou um susto com a fala da asiática e então voltou com a perfuradora para trás. — Por favor, Shawnee! Isso não é hora para piadas!

— Me desculpe. — Shawnee disse e abaixou a cabeça, enquanto alguns assistentes riam e outros à olhavam com desdém.

Kramer suspirou fundo e posicionou a perfuradora no local novamente, e então começou a perfurar o crânio. Ele sabia que aquele era um procedimento delicado, pois teria que perfurar apenas o osso. Foi então que ocorreu o inesperado.

Os olhos de Carl se abriram de súbito. Todos os assistentes se assustaram, e se apressaram para avisar Kramer. Temendo ser outra brincadeira, ele não se importou e então terminou de perfurar, e com uma espécie de gancho retirou o pedaço de osso, também em formato quadrado. Foi aí que percebeu os olhos abertos de Carl, então o médico arregalou os olhos.

— Mas o que...

Carl mantinha os olhos totalmente abertos, enquanto algumas lágrimas escorriam por seu rosto.

— Ele está acordado! A anestesia não deve ter pegado, mas como é que ele não gritou com a dor... Meu Deus! — Um assistente gritava enquanto Kramer ainda estava em choque, ele então aproximou-se do garoto e checou seu pulso e olhou para o aparelho de monitoramento cardíaco, foi nesse exato momento que o aparelho indicava a diminuição do batimento. Carl estava tendo um ataque cardíaco.

— Me passem o desfibrilador! — Foi a única coisa que Kramer pode pensar no momento. A cabeça dele está aberta! Ela pode sentir toda a dor dos cortes! Meu Deus...

— Não confie em quem chora pelos olhos... — Carl sussurrava e gemia num tom baixo.

— O quê? — Kramer se assustou com a fala do garoto. Não era pra ele conseguir falar!

— Não confie em quem chora pelos olhos...

— Ca-Carl... O-o que?!

Carl virou a cabeça em direção ao médico. Sorriu e foi fechando os olhos aos poucos.

— Não... — Kramer balbuciou enquanto o assistente já tinha preparado o desfibrilador e se aproximava.

— Não, Carl... Não!

XX-XX-XX

— Não!

Kramer levantou do sofá de súbito, ele estava de pijamas e havia caído no sono. Ele olhou no relógio pendurado na parede da sala de seu apartamento, era quase três da manhã. Então pegou o controle e desligou a televisão, que ainda estava ligada. Vai completar um dia, da morte do Carl... Porque eu ainda estou tão impressionado com a morte dele? Por que? Kramer passou as mãos sobre seus cabelos pretos. Vários pacientes já morreram enquanto eu fazia cirurgias, e por nenhum eu me senti assim... A lembrança da cirurgia não sai da minha cabeça.

— Será que eu podia ter feito algo para salvá-lo? — Perguntou a si mesmo, e antes que sua mente o fizesse ter a sensação de que fora culpa dele, ele mesmo se policiou.

— Foi inteiramente culpa da Shawnee. Só dela, de mais ninguém! — A raiva já estava visível em seus olhos. Ela tinha que ter tido uma postura de uma profissional. Tomara que ela apodreça na cadeia! Eu faço questão de testemunhar contra aquela vadia viciada, eu não acredito como ninguém sabia do vicio dela! Talvez assim, as coisas pudessem ter sido diferentes...

Shawnee havia sido presa pouco tempo depois da morte de Carl. Kramer e alguns de seus assistentes já sabiam que a anestesia foi dada erradamente, o que ocasionou no ataque cardíaco de Carl. E embora ainda houvesse questões a ser examinadas, a única certeza no momento, era essa. A asiática tentou se explicar dizendo que não estava passando bem no momento da cirurgia, por isso cometera o erro. Até que surgiu a suspeita de que ela poderia estar medicada por algum remédio ou coisa parecida, e com alguns relatos de empregados e pacientes, a verdade veio a tona e Shawnee foi presa não somente pelo erro cometido na cirurgia, mas porque acabaram achando drogas no armário que ela usava no hospital. Com tantas testemunhas e provas contra a enfermeira, seria difícil ela se safar sem pegar alguns anos atrás das grades.

Kramer ainda olhava para tv desligada. Eu não me arrependo de ter chamado a polícia, não mesmo. Eu estou pouco me fudendo pra o que vai acontecer com a reputação do hospital... Se eu que nem conheço o garoto, estou assim... Imagina a tal da Angel.

O médico então lembrou-se mais uma vez a frase que Carl falara pouco antes de morrer.

— Não confie em quem chora pelos olhos... — Kramer se calou por uns instantes.

— Isso não faz sentido algum. Mas, porque ele disse isso? Pareceu que ele disse isso diretamente à mim...

O homem sentiu um arrepio. Eu acho que eu deveria contar à Angel sobre isso. Talvez possa significar alguma coisa pra ela. Amanhã eu vou no hospital visitá-la, ela está internada pelo que eu sei... Kramer então se recordou de que Angel havia se jogado do prédio, mas por sorte sobrevivera.

— Tudo bem que o Carl era uma pessoa importante pra ela, mas se jogar de um prédio? — Fez um cara de espanto.

— Por que ela fez isso? Por que o garoto disse aquela frase? Eu não sei porquê, mas eu quero descobrir.

Ele levantou-se do sofá.

— Essa Angel... Ela era enfermeira do hospital que desabou, era colega da tal enfermeira que morreu naquele acidente estranho no Ming Yun Spa, era também tutora ou coisa parecida do tal Carl, que morreu... E então ela tenta se suicidar... Tudo em volta dela é tão mórbido.

Olhou pro chão.

— Mas mesmo assim... Me fascina.

XX-XX-XX

Já era quase nove horas da manhã do dia seguinte. Angel havia recebido alta do Hospital do Centro, e se preparava para ir embora. Ela também havia sido informada sobre a prisão de Shawnee e o erro na cirurgia, mesmo estando um pouco com raiva da enfermeira, Angel sabia de quem era a culpa principal. A morte. A tal enfermeira drogada era um simples objeto que ela usou para tirar a vida do Carl, eu não sei ao certo se devo sentir raiva da tal Shawnee.

A loira já estava sentada na beirada da cama, já não estava mais com o pijama do hospital. Pegou o celular e tentou discar mais uma vez o número de Shaniqua, mais uma vez ela não atendeu. Angel já estava muitíssimo preocupada com a amiga.

— Shani, aonde você tá? Eu estou ficando preocupada, não é a sua vez na lista mais... É tanta coisa ruim acontecendo. Será que ainda pode piorar mais?

Angel foi interrompida de seus pensamentos pelo toque na porta do quarto. A loira não hesitou e correu à abrir, para sua surpresa eram dois policiais.

— Senhorita Angeline Caymon? — Um dos policiais perguntou entrando no quarto do hospital, seguido pelo companheiro.

— Sim, eu mesma. — A loira respondeu sem ainda entender nada.

— Olá, eu sou o Agente Marxs, e esse é o Agente Brown. Temos uma notícia não muito boa pra te dar...

— É sobre a Shaniqua né?! Eu sabia! Meu Deus, o que houve com ela?! — Angel já estava visivelmente nervosa.

— Sim, tem haver com essa mulher, Shaniqua Sennier. Você já suspeitava de algo? — Perguntou o outro agente.

— Suspeitar de quê? Suspeitar da Shaniqua? Do quê? Por quê? Nunca...

Os policiais se entreolharam, o que só aumentou o grau de curiosidade e nervosismo de Angel.

— A Senhorita Sennier, Kurt Allman, e Deodora Urban sofreram um gravíssimo acidente de carro ontem à tarde, o carro e os corpos foram encontrados mais à noite. Creio que vocês conheça esses nomes, Senhorita Caymon.

—Meu Deus! O que a Dora e a Shani estavam fazendo no carro do Kurt! Ele é meu namorado, ele estava viajando e... — Angel sentou-se na beirada da cama e passou suas mãos sobre seus cabelos. — Eles morreram?

— O seu namorado, Kurt, morreu. A Deodora está aparentemente bem, ela está aqui no Hospital Do Centro desde ontem à noite em observação, foi ela quem nos contou toda a história.

Angel ainda não conseguia dizer nada, estava processando as informações enquanto tentava manter a calma. — E a Shani?

— Ela sobreviveu ao acidente, mas parece que o caso dela é gravíssimo. Eu não sei explicar muito bem, você pode falar com o médico depois. — O agente Marxs disse enquanto Angel ainda tentava digerir tudo. O Kurt morreu? Meu namorado morreu?

— Eu creio que a Senhorita Caymon não vai querer saber sobre o estado da Shaniqua. — O agente Willians interviu.

Angel estranhou. — Por que eu não faria isso? Ela é quase minha irmã! Eu quero e eu vou saber como está a Shani e a Dora!

— A senhorita deve estar curiosa para saber como suas amigas foram parar no carro do seu namorado não? — Angel assentiu ainda visivelmente eufórica. — Pois bem, foram encontradas joias no porta-malas do carro, e de acordo com a sua amiga Deodora, joias pertencentes a senhorita.

— O quê? As minhas joias estão sumidas realmente, eu não as acho desde o desabamento do St. Mary. Mas...

— O Kurt e a Shaniqua roubaram suas joias, eles iriam fugir com elas. O plano deles estava indo muito bem, até que a Deodora descobriu. Ela disse que tentou convencer a Shaniqua a desistir do plano, mas parece que ela colocou a senhorita Urban em uma armadilha. O casal iria matá-la, mas houve um acidente e bem... O Kurt morreu, mas assim que a Senhorita Sennier se recuperar, ela irá ser presa imediatamente.

Angel ficou estática. Não conseguia pensar com muita clareza. A Shaniqua fez isso? Minha melhor amiga? Angel colocou a mão sobre a boca, em choque.

— Eles eram amantes?

— Isso eu não posso confirmar, você pode falar com a Deodora antes de ir para a delegacia, você precisa assinar alguns papéis para o caso começar a ser avaliado. Mas fique na medida do possível calma, a senhorita não precisa ir agora. — O policial tocou o ombro da loira. — Eu acho que certo que você converse melhor com a senhorita Urban, afinal ela é a única pessoa que sabe o que realmente aconteceu.

— Eu vou fazer isso. — A loira disse quase que automaticamente, pois sua cabeça ainda estava em turbilhão.

— Bom, nós esperamos você na delegacia. — Um dos agentes apertou a mão de Angel. — Seria bom que a senhorita fosse ainda hoje, assim ficará mais fácil para recuperar as joias. Tenha uma bom dia.

Os policiais deixaram o quarto. Angel então ficou sozinha novamente, na verdade rodeada por sentimentos. Raiva, ódio, tristeza... A loira sentiu seu coração acelerar, o ar do quarto começou a ficar pesado, parecia que a qualquer momento sua cabeça ia explodir.

— Porque isso está acontecendo comigo? Porque? — Os olhos de Angel deixaram escapar uma lágrima que escorreu pelo seu rosto. Estava completamente chocada.

XX-XX-XX

— Então você é o Wendell Aleen?

O cadeirante assentiu ao médico. Ele estava sentado numa mesa da lanchonete do Hospital do Centro, junto com um médico. Wen havia ligado para um dos nomes sugeridos por Jeff no dia anterior, e acabou escolhendo o Dr. Willians, justamente por ser o único que morava na mesma cidade que ele.

— Foi o Dr. Jefferson Torres que te recomendou. — Wen disse com um sorriso no rosto.

— Jeff... Foi um dos meus melhores alunos da época que eu lecionava na Faculdade de Medicina, faz tempo que eu não o vejo. Ele está bem?

— Sim... Quer dizer, fisicamente. Ele e eu passamos por um momento de muita dor, perdemos uma grande pessoa, tanto pra mim quanto pra ele.

— Entendo. Você é o namorado dele?

Wen não pode de soltar uma gargalhada. — Não, de jeito nenhum.

O senhor ficou desconsertado por um momento. — Me desculpe, é que o Jeff é homossexual e você bem... Desculpe-me se te ofendi.

— Imagina, nunca me ofenderia com isso. Meu irmão é gay e eu nunca me importei, tenho um respeito enorme por eles. — Ficou sério, mas continuou. — Meu irmão era namorado dele, foi ele que faleceu à pouquíssimo tempo.

— Meus pêsames. — Foi a única coisa que o senhor pode dizer naquela situação.

— Mas... Wen. Bem, eu não sei ao certo o que você veio falar comigo, mas pela minha profissão e pela área da medicina na qual eu me especializei, e você sendo um cadeirante... Eu acho que já sei a que você veio.

— Sim, eu quero voltar à andar, Doutor.

O senhor sorriu. — Isso é ótimo Wen. Eu ficarei muito feliz em realizar a cirurgia. Eu só tenho que fazer alguns exames e saber se a sua paraplegia é reversível. Mas creio que isso você deve saber, não?

— Ela é reversível. Isso sempre foi uma certeza em todos os exames que eu fiz, eu só não fiz a cirurgia antes porque o meu médico colocou na cabeça do meu irmão que era perigoso. Mas agora, é tudo o que eu mais quero. Eu acabei de perder o Phil, eu quero começar uma nova vida... Caminhar livremente. Literalmente. — Wen sorriu.

— Você está absolutamente certo. Eu não entendo o porque desse tal médico barrar tanto a cirurgia, você é um homem saudável! Eu tenho certeza que a cirurgia vai ser um sucesso. Como é o nome desse médico?

— Dr. Leonel Cook, ele nem é especializado em ortopedia, na verdade eu mesmo não sei ao certo qual área ele atua... O senhor me desculpe a palavra, mas ele é um médico com um profissionalismo de merda.

— Eu acredito em você, e realmente não o conheço pelo nome... O que já é um mal sinal. — O senhor riu e Wen também.

— Então, já podemos agendar a primeira consulta Dr. Willians?

— É claro, mas eu preferiria que fosse no meu consultório particular aqui na cidade vizinha. Suponho que o dinheiro não seja um empecilho para você, ou estou errado?

— Não é mesmo. O meu irmão e eu herdamos uma grande quantia dos nossos pais, o suficiente para me manter vivo até eu morrer.

O doutor soltou uma risada. — Mas é claro, você vai ficar vivo até você morrer mesmo!

— Você tem razão, isso foi redundante. — Wen riu também, e depois continuou. — Enfim, eu e o meu irmão sempre usamos a herança com muita consciência... O dinheiro não é um problema.

— Bom, sendo assim, podemos agendar. Você não se importa de a cirugia não ser nessa cidade? Você terá que se hospedar em hotel durante as consultas, creio que é a melhor opção.

— Não me importo. Isso deve até fazer bem a mim, eu estou precisando aspirar novos ares. Eu quero voltar nessa cidade andando, e surpreender uma pessoa.

— Uma mulher, aposto.

— Sim. Eu vou voltar e vou conquistá-la. — Wen disse decidido, abrindo um largo sorriso.

XX-XX-XX

Leonel dirigia a sua caminhonete vermelha pelas ruas da cidade, ao seu lado estava Rosie. Ambos estavam à caminho do Hospital do Centro, haviam decidido que falariam com Angel o quão antes possível, tinham que bolar um plano ou algo parecido para deter a lista.

A francesa recostou a cabeça no banco, a lembrança da morte do Dr. Torres ainda vinha com toda força na sua mente. Ela já havia parado de contestar, pois toda aquela situação inesperada, os sinais que vira, tudo fez com que ela mudasse de ideia bruscamente.

— Eu estou com medo. — Rosie disse com a voz um tanto embargada.

— Eu também. — Leonel também confessou, com olhos ainda nas ruas.

— Eu não estou com medo por mim, entende? A Louise... Eu estou preocupada com ela, só com ela.

— O Oliver também corre risco, eles dois correm os mesmos riscos que nós... A lista segue a gente, e depois eles. Eu não sei se devemos contar já nesse momento. Eu ainda não falei nada, ontem o Oliver chegou tão contente em casa que não tive coragem... Ainda mais que eu não tenho um bom convívio com ele, como já te contei.

— Sim, eu compreendo, alguns adolescentes são difíceis de lidar... Mas confesso que também não tive coragem de dizer nada para a Louise ontem, ela também estava muito contente e eu estava com a cabeça á mil. — A mulher passou as mãos os cabelos. — Eu ainda nem contei sobre a morte do Carl...

— Eu já contei do Carl, pro Oliver. — Leonel disse secamente.

— Como ele reagiu?

— Eu não entendi direito. Acho que ele não se abalou muito, eu não consegui identificar pela expressão dele.

Rosie estranhou. — Você não consegue identificar quando o seu filho está triste? Eu consigo ver quando a Louise está feliz, triste ou brava... Só pelo olhar dela, o jeito de falar e até pela intensidade do abraço que ela dá em mim. Você não tem isso com seu filho?

Leonel abaixou a cabeça por uns instantes e engoliu em seco, depois voltou a olhar para a rua. Rosie percebeu que tinha tocado em algo muito difícil na vida do médico, e antes que ele pudesse falar algo, ela pediu desculpas.

— Me desculpa, Leonel. Eu não quis ser invasiva, eu sei que você têm um relacionamento difícil com o Oliver, falei sem pensar.

— Imagina, não precisa se preocupar. — Leonel olhou para ela e deu um meio sorriso.

Rosie então recostou a cabeça no banco novamente, e ambos ficaram em silêncio por uns instantes. Então a francesa se virou e olhou Leonel diretamente para contar algo.

— Ontem eu tive uma ideia e... Agora ela voltou a minha mente.

— É sobre a lista? — Leonel tirou o olhar das ruas por um segundo, e olhou diretamente para a mulher.

— Sim. Eu acho que sei um jeito de pelo menos nos proteger dela por um tempo.

XX-XX-XX

Angel caminhava pelos corredores do St. Mary, a moça ia com um olhar cabisbaixo, apertou a bolsa que estava debaixo de seus braços e entrou na porta do quarto onde Dora estava.

— Amiga...

Dora estava deitada na cama do quarto, estava aparentemente bem, viu Angel na porta e não pode deixar de se assustar por um momento. Já fazia tempo que não a via, e Dora pode notar o quão abatida a loira estava.

— Você está bem, Dora? — Angel se aproximou abraçando e beijando seu rosto, e se sentou na beirada da cama e segurou na mão de Dora enquanto a moça falava algo.

— Eu estou bem, amiga. O médico só vai me liberar amanhã, eu ainda preciso ficar em observação. — Disse com um olhar no vazio. Angel abaixou a cabeça.

— Eu já sei de tudo. Da Shaniqua e do Kurt. — Angel secou bruscamente uma lágrima que caía de seu olho.

— Como eu pude ser tão burra, Dora! — A loira se levantou. — Mas eu nunca percebi nada entre eles...

— Eu confesso que já havia percebido alguns olhares mas, nunca disse nada. — Dora mentiu. Agora eu só tenho que aumentar a sua ira, Angel. Não posso deixar nada respingar em mim.

— Porque você não disse nada, Dora?!

— Eu não... Você sempre gostou mais da Shaniqua que eu pensei que você fosse brigar comigo! — Dora forçou algumas lágrimas que caíram facilmente. — Além do mais que ela sempre falava mal do Kurt quando você estava perto, era tudo para despistar.

Angel pensou por uns momentos. Faz sentido...

— Foi fácil pra mim ligar os pontos, e daí quando eu menos esperei... Eu estava jogando tudo isso na cara dela, e ela inventou um monte de mentiras, dizendo que o Kurt a obrigou a fugir com eles e aí falou das joias... Ela queria que eu fosse com ela para falar com ele, mas foi tudo uma emboscada! Eles queriam me matar, Angel! Ela, a Shani, queria me matar! Olha o meu pescoço...

Angel pode ver as marcas vermelhas, além de muitos arranhões. — Eu sinto tanto por você, amiga. — Angel disse segurando a mão de Dora novamente. — Você arriscou sua vida por mim e... Eu nunca dei o valor que a sua amizade merecia. Eu estou morrendo de ódio de mim mesma!

Você tem que se odiar mesmo, sua vaca. Pra você dar o valor pra uma amiga, ela precisa arriscar a sua vida primeiro? Vadia... Dora fuzilou Angel com o olhar, enquanto a loira estava com a cabeça abaixada.

— Não é sua culpa Angel! Para com isso amiga! — Dora colocou sua mão sobre a da loira. — Eu nunca me importei se o grau de amizade entre você e a Shaniqua era maior ou não, do que o nosso... Mas não pensa mais nisso, agora deixa, esquece tudo isso. O Kurt e a Shaniqua não estão mais entre nós, e agora cabe à Deus o perdão das almas deles.

Angel secou as lágrimas e olhou para Dora. — Mas, a Shaniqua não morreu.

— O quê? — Dora arregalou os olhos.

— Os policiais não te contaram?

— Eu falei com eles ontem à noite e eles falaram que era impossível ela sobreviver, ela estava muito machucada mesmo. A mandíbula dela estava aberta, os ossos estavam pra fora, foi uma cena muito chocante de se ver... Ainda estou um pouco traumatizada, foi horrível... Coitada, ela não vai conseguir falar mais nada... Ainda não entendo como ela ainda pode estar viva. — Dora dizia um pouco nervosa. Calma Deodora, não dá bandeira sua idiota.

Angel se chocou com o relato sobre o que tinha acontecido com Shaniqua.

— Você tem razão, como ela ainda pode estar viva? — Angel então se lembrou da lista. Mas é claro, não é a vez dela ainda! Ainda é o Jeff, se ele estiver vivo ainda... Mas de qualquer forma, depois seria a advogada e o Leonel, os dois adolescentes e aí sim seria a Shaniqua. A loira olhou para Dora, e viu que ela estava um pouco pensativa. Eu não vou contar nada a você Dora, não quero você envolvida nisso, eu não sei se isso pode te afetar e... Eu não quero perder você porque... Você é a única pessoa que me faz querer ficar viva ainda. Os olhos de Angel então se encheram de lágrimas, e ela se deixou levar pela emoção e se envolveu em um abraço com Dora, apertava forte as costas da amiga como se nunca mais fosse soltar. E em meio a muitas lágrimas, Angel tentava falar algo.

— Obrigado por tudo Dora, muita coisa ruim está acontecendo... O Carl morreu, você ainda não sabia né, Dora?

— Ainda não. Nossa... — Dora realmente se surpreendeu. Coitado, mas também já estava na hora. Eu não sei como ele aguentou tanto tempo, tendo um tumor cerebral.

— Você sempre vai estar comigo não vai Dora? Promete que nunca vai me deixar? Que não vai fazer como os meus pais, a minha madrinha, o Carl... E que nunca vai mentir como a Shaniqua fez? Promete? — Angel perguntou ainda abraçada com ela.

— Mas é cla-claro, Angel! Vamos estar sempre juntas e eu nunca vou mentir pra você, jamais! — Dora a abraçou mais forte ainda, enquanto Angel soluçava em meio ao choro. Pára Angel, eu estou quase me sentindo culpada. Dora sorriu descaradamente, já que Angel não poderia ver o gesto. A Shaniqua estar viva não é um problema, pela minha experiência de enfermagem e de todo o tempo que trabalhei em hospitais, tenho quase que total certeza que ela deve ter feito uma cirurgia as pressas ontem, ela deve estar em coma induzido ou em recuperação nesse momento. Enquanto isso eu terei a noite toda para dar um fim ao destino dela, por enquanto eu posso ficar tranquila... Já que falar alguma coisa ela não pode, mesmo que se tudo na cirurgia tiver dado certo, esses casos envolvendo a mandíbula são quase que irreversíveis! Engraçado como tudo acabou me ajudando... A morte do Kurt, a Shaniqua ter ficado com a boca toda quebrada! Hahahaha...

Eu acho que a Dona Morte é minha amiga.

XX-XX-XX

Leonel e Rosie entraram pela recepção do Hospital do Centro. Já era quase meio-dia e ambos marcaram de encontrar Angel na lanchonete do hospital, Leonel havia ligado para a loira pouco antes de chegar ali.

— Ela disse que já está na lanchonete, eu acho que eu sei aonde fica. — Leonel disse e foi na frente, Rosie o seguiu.

Angel estava sentada enquanto tentava tomar um suco. A loira mexia o copo com certo desinteresse pela bebida. Foi quando avistou Rosie e Leonel.

— Tá tudo bem Angel? — Leonel perguntou e a loira relutou mas fez com a cabeça afirmando. — Desculpe Angel, por não ter vindo falar com você ontem, acontece é que o Jeff acabou morrendo e... Eu a Rosie ficamos tendo que dar depoimento pra polícia...

Rosie olhava Angel enquanto Leonel continuava contando os acontecimentos. A francesa pode perceber que a loira estava bem abalada, tanto que ela apenas arqueou as sobrancelhas quando Leonel disse que Jeff estava morto.

— Olá, Angel... Desculpe, mas aconteceu alguma coisa? — Rosie perguntou e se sentou junto com Angel na mesa, Leonel fez o mesmo.

— Aconteceu... Eu acabei de descobrir que a minha melhor amiga tentou fugir com meu namorado, além de querer me roubar. Eu... Ainda estou arrasada.

— Eu si-sinto muito. Isso é horrível. — Rosie disse olhando diretamente para Angel.

Leonel ficou pensativo por alguns momentos. — Foi a Dora?

— Não! É claro que não! Foi a Shaniqua.

— A Shaniqua?! — Leonel se assustou. — Ela é uma pessoa completamente do bem! É muito difícil de acreditar... A Shaniqua...

— Mas é verdade, ela só não foi presa ainda porque está internada aqui no hospital, ela e o Kurt tentaram raptar e... Matar a Dora, porque ela acabou descobrindo tudo, mas eles sofreram um acidente de carro no percurso. O Kurt morreu e a Shaniqua ficou gravemente machucada, só a Dora escapou sem sequelas... Pra vocês verem o que é o destino, a Dora é a única que está bem.

— Isso é bom, na verdade ótimo. — Rosie sorriu, mas teve que continuar. — Angel, eu não quero parecer, de alguma forma, insensível por tudo o que você está passando, mas... A lista. Ela ainda está correndo, eu estou com medo, Angel. A minha filha está nisso, eu... Eu não quero que nada aconteça com meu bebê.

Angel percebeu que a voz da advogada havia ficado embargada, e pode ver que Leonel engoliu em seco. São os filhos deles que estão em risco, eu sinto muito em não poder ajudá-los...

— Eu não sei se existe um jeito de quebrar a lista. — Angel começou. —Eu sei que quando chega a vez de uma pessoa na lista, é somente ela. Os outros estão a salvo até chegar a sua hora... A Shaniqua está aí pra provar isso, a vez dela está muito longe...

— Espera... — Leonel a interrompeu. — E se uma pessoa morrer antes da hora. Por exemplo... Se é a vez da Rosie, mas aí quem morre sou eu. — O médico gesticulou com as mãos. — Isso iria acabar com toda a lista. Não ia?

Angel pensou um pouco. — Sim, a Selly citou essa possibilidade em seu diário, mas... Como alguém iria morrer fora da ordem? Não é possível, digo é muito difícil... A não ser se a pessoa se suicidasse ou...

— Matasse a outra. — Leonel completou.

— Gente por favor! Isso nunca! — Rosie se exaltou. — Até porque se nós todos queremos nos salvar, porque mataríamos os outros?!

— Sim, até porque não temos motivo algum pra isso, quer dizer... Nós não dois não. — Leonel olhou pra Angel.

A loira sorriu.

— Eu jamais conseguiria matar a Shaniqua... Se é o que você está insinuando Leonel, você está pensando que eu sou o quê? Só porque eu uso essas roupas, eu sou um tipo de monstro! — Angel se levantou da mesa.

— Claro que não, Angel! Foi só uma observação que eu fiz. — Leonel disse acuado.

— Ele não disse por mal, Angel. Fica calma. — Rosie tentava acalmar os ânimos.

— Me desculpem, mas eu não estou num bom momento para discutir nada sobre isso... Façam o que vocês acharem melhor. — Angel disse pegando sua bolsa. — Ah, tem mais um jeito de quebrar a lista... Foi como a Selly conseguiu. Alguém dos sobreviventes deve ter um filho, seria como uma nova vida que nunca deveria ter existido. De acordo com as palavras da Selly.

Leonel olhou pra Rosie. — Nem adianta me olhar assim, Leonel. Eu não posso ter filhos, depois que eu tive a Louise eu retirei o meu útero.

— Eu não quis insinuar nada. — Leonel disse sério. — Mas e você Angel?

— Eu sou estéril. Desde que fui ao ginecologista pela primeira vez eu sei disso.

— Bom, se você e a Rosie não podem ter filhos e a Shaniqua mesmo que se se recuperar vai presa, só sobra a... Louise.

Dessa vez foi Rosie que se levantou da mesa com rispidez.

— Eu nunca vou deixar a Louise ficar grávida assim á toa! Um filho é muita responsabilidade! Vocês estão falando como se ficar grávida fosse como tingir o cabelo. Meu Deus!

— Não foi isso que eu quis dizer, errr... Eu não estou sabendo usar as palavras hoje.

Rosie se acalmou e sentou-se novamente na mesa. — Tudo bem, vamos esquecer isso por um tempo... Se essa for a única opção, eu prometo que penso no caso. Mas agora vamos nos concentrar em nos manter vivos. — Rosie se virou para Angel. — Eu tive uma ideia, eu já contei pro Leonel... A ideia é nós todos ficarmos numa espécie de forte, onde ficaríamos longe de locais que possibilitassem maiores chances de acidentes. Esse lugar, seria uma casa que eu o meu ex-marido deixou no meu nome. Ela fica aqui nessa cidade mesmo, nas montanhas. Ela não é mobiliada e... Eu posso até estar errada, mas acho que podemos nos manter seguros lá.

— Eu acho que é o melhor a se fazer no momento. — Angel apoiou.

— Então, nós estávamos pensando em ir agora mesmo. Pegar o Oliver e a Louise e ir lá agora mesmo. Só teríamos que chamar o Wen e ter que explicar tudo à ele. — Leonel disse.

— O Wen... — Angel disse e logo se assustou com que viu. — Creio que não vai precisar fazer isso, Leonel.

Angel pôde avistar o cadeirante encerrando uma conversa com um senhor de certa idade, parecia um médico. O senhor o cumprimentou e Wen guiou sua cadeira de rodas em meio a lanchonete, então ele avistou a loira e rapidamente veio de encontro á ela.

— Angel? Eu quero te agradecer por aquele dia no estacionamento... — Wen sorriu. — Você não tem ideia de como tudo aquilo fez mudar minha percepção da vida.

A loira não conseguiu sorrir. Porque eu ainda não consigo enxergar esse ato como uma coisa boa, porque? Então Angel se limitou a piscar os olhos positivamente. Wen estranhou a reação, mas o sentimento logo foi embora de sua mente quando notou a presença de Rosie e Leonel na mesa, este último ele conhecia muito bem.

— Olá, Dr. Cook. — Wen disse sarcasticamente, mas o médico não percebeu.

— Olá Wen, a gente estava falando exatamente sobre você! Você precisa saber de uma coisa o mais rápido possível, é muito sério.

Wen ficou confuso.

— O que é?

— Expliquem tudo à ele, eu vou em casa... Preciso esfriar a cabeça um pouco... — Angel disse dessa vez decidida a ir embora dali.

— Você não vai com a gente, Angel? No forte? — Rosie disse se levantando e segurando a mão de Angel.

— A minha vez na lista ainda vai demorar para voltar e o foco agora é você ficar à salvo. Você, o Leonel e os seus filhos. — Angel colocou sua mão sobre a de Rosie. — Eu realmente desejo que todos nós consigamos escapar disso, mas no momento eu estou muito abalada... Você já viu aqui, que eu não estou com o psicológico bom para dar opiniões em uma coisa importante como esta.

Rosie assentiu. — Eu sei que a gente nem se conhece direito Angel, e tivemos um começo difícil... Mas, eu realmente desejo que você possa se recuperar para podermos vencer tudo isso o quanto antes, e voltarmos a viver normalmente.

— A minha vida não vai ser mais como antes, Rosie. — Angel deixou escapar algumas lágrimas. Rosie então tocou seu rosto.

— Vai ser melhor, Angel. Acredite! — A francesa também se emocionou. — Pensa que agora sua vida está limpa daquelas pessoas que te enganavam, agora sua vida está limpa!

Angel assentiu ainda chorando. Então notou uma lágrima caindo do rosto da francesa, Angel não entendeu porque mas aquilo mexeu com seu subconsciente e a fez lembrar da imagem de Carl. A loira sacudiu a cabeça, não queria chorar mais. A loira abraçou fortemente Rosie, e se despediu educadamente de Leonel e Wen e então foi embora do local. Rosie se sentou na cadeira e secou algumas lágrimas que ainda caíam. Após alguns segundos de silêncio, Wen, ainda muito confuso, perguntou:

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo?

XX-XX-XX

— Eu ainda não acredito que o Carl está morto...

Isso foi tudo o que Louise ainda conseguia pensar após algumas horas sabendo sobre a triste notícia. Oliver estava sentado do seu lado do sofá de sua casa. Leonel e Rosie também estavam lá, só que sentados no outro sofá. Eles já haviam contado toda a história da lista para Louise e Oliver, inclusive sobre a morte de Carl, já que a garota era a única que ainda não sabia. O casal já havia ido na casa da francesa e buscado Louise, mesmo sem entender muito bem a garota arrumou suas malas para a tal viagem.

— O Carl era uma pessoa tão boa, ele era tão jovem quanto eu e o Oliver! Ele tinha que viver tanto como nós... — Louise disse bem emocionada.

— Se acalma filha, eu sei que é difícil mas agora nós temos que nos proteger... Eu sei que parece loucura, mas acredita em mim Louise, por favor. — Rosie correu para abraçar a filha, que logo retribuiu o gesto.

Oliver reparou no gesto de carinho entre Louise e sua mãe. E olhou para seu pai, Leonel desviou o olhar. Será que ele espera que eu faça o mesmo com ele? O médico ficou pensativo, mas antes que aquela situação se tornasse constrangedora para ele, tentou mudar de assunto. Era necessário.

— Rosie, eu não quero ser chato mas... Nós temos que ir agora, já são quase cinco da tarde e eu e o Oliver ainda temos que arrumar nossas malas. Tudo o que a gente não deve fazer é pegar a estrada a noite, você sabe... Não queremos sofrer nenhum acidente.

— Você tem razão. — A francesa se desvencilhou do abraço da filha, mas ainda continuava segurando sua mão. — As nossas malas já estão prontas só faltam vocês, não é?

— Eu vou subir lá em cima pra arrumar tudo. — Oliver disse levantando-se do sofá.

— Que bom que você acreditou na gente, Oliver. É muito importante que todos nós fiquemos juntos. — Rosie disse tocando o ombro do garoto.

— Eu convivi com o Carl por dois dias... Ele me contou muita coisa sobre a visão e é impossível de eu não acreditar nisso tudo. Eu só espero que haja um jeito de parar essa coisa. — Oliver disse já saindo da sala, tentou disfarçar mas estava um tanto abalado.

— Ajuda ele a arrumar as malas ,filha.

Louise levantou do sofá e assentiu, tentou sorrir mas não conseguiu. Após a garota sair do local, Leonel desabafou:

— Eu não acredito que o Wen fez pouco caso de tudo isso! Pô, ele perdeu o irmão, Rosie! Ele está agindo como se tivesse acabado de ganhar na loteria! Você viu o sarcasmo que ele usou com a gente! — Leonel falou num tom elevado de voz.

— Xiuu... — Rosie colocou a mão tampando a boca do médico, e disse sussurrando. — Por favor, o que menos precisamos agora é estressar ainda mais a Louise e Oliver. Deixa esse mané pra lá, eu também não gostei do jeito que ele falou com a gente, e concordo totalmente com o que você disse. Mas lembra do que a Angel falou, o foco agora é nós quatro... Só nós.

Leonel escutava atentamente as palavras da francesa, ela ainda estava com a mão sobre sua boca, ambos estavam com os rostos bem próximos. Rosie tirou a mão da boca do homem, e quase que por instinto se aproximou ainda mais do rosto dele. Seus lábios iriam se encontrar, mas Leonel se esquivou.

— Eu... Preciso arrumar as malas, depois a gente conversa. — O médico disse e saiu rapidamente do local, subindo as escadas. Rosie se sentou no sofá, passou as mãos sobre os cabelos e respirou fundo.

XX-XX-XX

Angel estava sentada no sofá de sua casa tentando espairecer a cabeça, a televisão estava ligada mas a loira não prestava a mínima atenção.

Porque de repente minha vida se tornou um história cheia de perdas? Angel suspirou. Eu não quero morrer, mas essa nova realidade parece ser tão mais cruel e vazia. Eu sei que eu ainda tenho a Dora, mas... Eu não entendo porque eu não me sinto aliviada de pensar isso, é estranho, porque é exatamente como eu sinto pelo fato de eu ter salvado o Wen. É como a Dora mesmo disse, a minha amizade com a Shaniqua era diferente... Eu amo a Dora como uma amiga, mas eu amava a Shaniqua como uma irmã... Amava...

— Talvez por isso que esteja doendo tanto... Se fosse a Dora que tivesse feito essa sacanagem toda comigo, talvez não tivesse doído tanto, mas... A Shaniqua era muito próxima, ela fazia todo aquele discurso de me amar do jeito que eu era, que não se importava com o que eu vestia... Falsa! Uma amiga trair já é péssimo, mas uma amiga mentir é uma coisa que eu nunca iria e irei perdoar, nunca.

A loira foi surpreendida pelo toque de seu celular. Ela pegou o aparelho e atendeu.

— Alô?

— Olá, senhorita Caymon. Aqui é o agente Marx. Eu tive que pegar o seu número de telefone na recepção, você acabou deixando quando trouxe um garoto para fazer ficha lá, não é?

— Sim, é... Se for por causa de eu não ter ido aí a delegacia ainda, é porque eu não estou me sentido muito bem, eu espero que o senhor possa entender.

— Sem problemas Angel, na verdade eu até acho melhor a senhorita vir pra cá amanhã mesmo. Eu liguei exatamente para isso. Ainda tem algumas coisas a serem averiguadas, no local do acidente já forma encontradas algumas evidências um tanto estranhas e acho melhor pegarmos o seu depois de apurar tudo.

A loira ficou curiosa e arqueou as sobrancelhas. — O senhor poderia me contar que "evidências estranhas" são essas?

— Bom, têm algumas coisas que não batem muito bem... A pedra que matou o seu namorado não parecia ter caído do penhasco, ela estava quase que milimetricamente caída sobre a lataria ao lado dele, e o mais estranho é que não despencou mais nenhuma pedra sobre o carro, apenas terra. Uma das hipóteses é que Shaniqua tenha matado seu comparsa antes de desmaiar no chão.

— Bom, isso é horrível, mas não vejo nada estranho aí...

— Mas aí que está Angel, a Shaniqua não teria força nenhuma de levantar a pedra e matar o Kurt, ela estava com a mandíbula aberta, seria impossível! E tem mais, pelo local onde Shaniqua desmaiou após se rastejar pelo chão, mais parecia que ela tinha saído do banco de trás e não do da frente. E se isso for verdade só prova que ela nunca poderia ter dado a volta no carro e matado o Kurt.

— Isso é estranho porque... Se a Shaniqua não o matou quem mais faria, não tinha mais ninguém... — Então Angel percebeu aonde o policial queria chegar. — A não ser a... Dora?

— Exato! Mas temos diversas evidências que provam o contrário, como a Dora não ter tendências nenhumas para isso, e Shaniqua até agrediu-a... Como você deve ter visto as marcas vermelhas no pescoço da senhorita Urban. E ainda mais que quando chegamos Dora estava visivelmente inconsciente, e depois disse que não viu nada após ser colocada nos bancos de trás do carro. Ela estava com o rosto sujo de sangue, também chega a ser estranho por que ela não sofreu nenhum corte no rosto. Ela pode ter matado ele por legítima defesa.

— Eu acho que a Dora falaria se tivesse feito algo assim, como você disse seria por defesa... Se ela não disse nada é porque não foi ela, deve ter outra explicação, vai que realmente a pedra caiu sozinha?

— Ainda estamos averiguando, então peço pra que caso a senhorita for visitar Dora no hospital que por favor não fale nada, ela agora é suspeita de um crime e como a senhora também disse... Se fosse por defesa ela teria falado.

— Pode ficar tranquilo eu não irei lá mais hoje.

— Eu agradeço, pois eu me excedi e não poderia ter dito tanta coisa a senhorita...

Angel deu um risinho nervoso. — Eu não falarei nada, fique tranquilo...

— Não me leve a mal, é que como a Deodora tem parentes com a ficha na polícia, tudo fica mais suspeito.

O quê? Parentes com ficha na polícia?

Sim, o irmão dela, David Urban, preso por tráfico de drogas em 2004.

— Ela não tem irmãos. Não mesmo. — Angel estranhou.

Não é o que se percebe, ambos são filhos dos mesmos pais...

Mas a Dora não mentiria pra mim.

— Bom isso eu não sei, mas também chega a ser suspeito. Pois bem, então... Até amanhã senhorita.

— Até. — Angel colocou o telefone no gancho. A loira nem teve tempo para pensar direito e pode notar que tinha um recado na secretária eletrônica, era do dia anterior. A loira apertou. Era a voz da Shaniqua.

— Alô Angel? Eu tô tentando te ligar no seu celular desde ontem à noite, tô muito preocupada com o Carl... Eu não sei, mais quando disco seu número parece que não existe, e só agora tive a ideia de ligar no telefone do seu apartamento. Enfim, você sabe ás vezes eu sou meio lerdinha... Enfim amiga, eu estou falando de dentro do banheiro do apartamento novo da Dora, ela não quer que eu fale com você para não te preocupar, tenho que resolver umas coisas dela, não fique preocupada, volto logo. E se Deus quiser, tudo acabará bem, lembra que nós três somos amigas e que as vezes erramos, mas que reconhecer um erro é melhor do que continuar mentindo. Tomara que o Carl fique bem, estou rezando sem parar para isso. Beijão, rockeira.

Angel ouviu tudo atentamente. Agora sua cabeça estava em turbilhão novamente, as revelações do policial e as de Shaniqua no recado do telefone. Estava vindo tudo muito confuso em sua mente. A verdade estava ali, mas alguma coisa ainda faltava. Algo que pudesse juntar tudo.

A campainha tocou. Angel viu que o recado de Shaniqua ainda estava rodando no telefone, e provavelmente a recepcionista havia ligado para avisar a subida de alguém, mas Angel não havia atendido. A loira então foi de encontro a porta e abriu-a. Era um homem vestindo uma camiseta com a estampa de um escorpião dourado e uma calça jeans escura.

— Dr. Kramer?

XX-XX-XX

— Cadê o Oliver e o Leonel, mãe?

— Eles foram conversar eu acho, perto do lago. — Rosie respondeu a filha.

Os quatro haviam chegado já faziam algumas horas na tal casa da montanha. Já era quase oito horas da noite, e o Sol já havia se posto. Enquanto Leonel e Oliver tinham saído para conversar, Rosie e Louise ficaram na casa preparando o local, no qual eles iriam dormir.

Louise caminhava pelo piso de madeira da casa com uma enorme caixa em mãos, onde estavam os edredons. A casa não era tão grande, tinha apenas uma sala, que estava vazia no momento; uma cozinha, que tinha apenas um grande isopor com latas e engradados, e pouquíssimos talheres em cima do balcão também vazio; um banheiro comum; e apenas um quarto, o cômodo no qual ambas estavam no momento. A francesinha colocou a caixa no chão, enquanto Rosie terminava de arrumar os colchonetes no qual eles iriam dormir.

— Pronto, eu e você dormiremos aqui. E o Leonel e o Oliver na sala. — Rosie disse se sentando para descansar no colchonete.

— Nossa, eu jamais imaginei que veria você dormindo num colchonete, mamãe. — Louise sentou-se ao seu lado.

— Nem eu... Mas é tudo para o nosso bem, querida.

Louise sorriu.

— Esse lugar é tão bonito, parece aqueles cenários de filmes...

— De terror? — Rosie riu.

— Não, quer dizer... Agora que você falou. — Louise olhou ao redor. — Sei lá, parece de filmes românticos.

— Um filme de terror e romântico? Sabe que eu nunca assisti um assim, peraí... Eu acho que nem existe, Louise!

— Quem sabe? — A garota ficou pensativa, e colocou sua cabeça no colo de sua mãe. — Você não tá com medo?

Rosie engoliu em seco.

— Meu único medo é perder você. Eu vou fazer de tudo para que nada de ruim aconteça com você, filha. — Rosie deu ênfase na palavra "você".

— Você está sendo injusta.

— O quê? — A mulher estranhou.

— Eu também vou sofrer muito se algo te acontecer... Muito mesmo! — Louise disse se emocionando.

— Eu sei filha... Mas, é que você não sabe o quanto uma mãe ama seu filho, eu te carreguei por nove meses, te vi crescer, te eduquei com os meus ensinamentos, te vi triste, te vi feliz... A minha vida não faria sentido algum sem você do meu lado, eu te amo mais que tudo. — Rosie começou a chorar, Louise se levantou e segurou a mão da mãe.

— Eu também te amo e é por isso que eu quero te pedir permissão pra uma coisa... — A francesinha disse secando os olhos e sua mãe fez a mesma coisa.

— E o que é?

Louise respirou.

— Sabe quando o Oliver perguntou pra você quando a gente estava vindo aqui, no carro... Ele perguntou se tinha algum jeito de acabar com a lista, e você disse que a Angel disse que tinha, e que o jeito era um dos sobreviventes ter um filho.

— Disse... Aonde você está querendo chegar, Louise...

— Quando você e o Leonel continuavam a comer os enlatados agora a pouco, eu chamei o Oliver pra conversar e... Ele topou de nós termos um filho.

Rosie ficou por alguns segundos tentando digerir o que ouvira, respirou, não era a hora e nem o momento de ter um ataque.

— Eu espero mesmo, que isso seja uma espécie de brincadeira de mau gosto.

— Não, você sabe que eu não faço piadas, e muito menos faria num momento como esse. É como você disse, a Angel e você não pode ter filhos, aquela moça negra vai ser presa, e seria muito arriscado se o Leonel ou outro engravidasse uma mulher fora da lista... Eu sinto, tudo aponta a mim, mãe. É o destino. — A garota disse bastante séria.

— Eu não posso ser hipócrita e dizer que tudo isso não faz sentido, mas... Eu sou sua mãe! E jamais iria querer que você tivesse uma relação com um garoto que você acabou de conhecer, e ainda mais engravidar! Meu Deus! — Rosie se levantou do colchonete já exaltada. Louise também.

— É pro nosso bem, mãe! Você mesma disse que me ama e faria de tudo para me proteger, eu também faria de tudo pra que nada aconteça com você. Eu te amo, e a cada segundo eu lembro que você é próxima, e...

— Você nem conhece o Oliver direito, você não sabe absolutamente nada sobre ele! Eu casei jovem Louise, eu engravidei jovem, eu sei o quão ruim é! As pessoas são como bichos peçonhentos, cheias de veneno. Elas te julgam sem ao menos conhecer a sua história, te olham na rua como se você fosse uma mulher da vida! Minha família me rejeitou, é claro que aceitaram, mas... Você por acaso, já notou quantas vezes o meu pai liga pra mim, para saber como nós estamos? Ele ainda é muito magoado comigo!

— Eu entendo, eu sei que você ficou grávida de mim exatamente com a mesma idade que eu estou agora. Mas eu tenho que fazer isso, eu sinto que eu tenho. É como o Leonel disse, é isso ou alguém morre fora da ordem, o que não vai acontecer... Eu e o Oliver já decidimos, é o único jeito.

— Eu vou falar com o Oliver agora! Essa garoto está pensando que minha filha é o quê?! — Rosie disse saindo do quarto, Louise a seguiu e conseguiu parar a mãe na sala da casa, a mulher pisou em uma madeira solta do piso, e sua sapatilha cobria uma parte do buraco, aonde alguma coisa parecia se mover.

— Não! Eu tive a ideia, o Oliver só topou, eu gosto dele e ele gosta de mim!

— Não, você não gosta! O máximo que ele sente por você é tesão, mais nada!

— E não foi por tesão que você ficou com meu pai?! Ou vai dizer que foi amor? Não foi por isso que o a francesinha foi pra cama com o turista americano na primeira noite em que se conheceram? Se você pode conceber uma criança por simples tesão, eu também posso!

Rosie deu um forte tapa na cara de Louise. Os óculos da garota voaram longe no cômodo. Após breves segundos, a garota levantou o rosto e os fios de cabelos que o cobria. Seu rosto estava vermelho, e os olhos marejados, a garota ainda com muita fúria correu para fora da casa, indo em direção a algumas árvores mais a frente, até que Rosie não conseguiu mais vê-la no meio da escuridão.

— Filha...

A francesa deu um pequeno passo adiante, destampando o buraco no chão de madeira, então um escorpião amarelo saiu do buraco. Rosie ainda visivelmente abalada, levou as mãos á boca, enquanto seus olhos já respingavam lágrimas. O que eu fiz? Ela então deu um pequeno passou para trás, o suficiente para assustar o escorpião que picou seu tornozelo. A francesa caiu no chão no mesmo segundo, enquanto o bicho ia embora dali. Rosie sentiu uma dor imensa, gritou por ajuda, mas naquele momento, não havia ninguém perto dali.

XX-XX-XX

Angel colocou duas cervejas, Hice Pale Ale, na mesa de centro de sua sala de estar. Kramer não estranhou as cervejas como Angel pensou que ele estranharia.

— Desculpe mesmo, eu só tenho isso no momento aqui em casa.

— Relaxa, eu também bebo muito. — Kramer riu um pouco.

Angel sentou ao seu lado. A presença de Kramer neutralizou seus pensamentos sobre toda a história envolvendo Shaniqua, Dora e Kurt.

— Você tá bem? Eu soube que você pulou do prédio do St. Mary.

A loira respirou. — Eu tô bem, eu não me machuquei só estou com uma pequenina dor nas costas, mas isso não é nada... O que doí mais é a dor no coração.

— Isso aí é verdade.

— Ah, e eu não pulei não... Quer dizer... Enfim, eu não quero falar sobre isso. — Sorriu de lado.

— Ok.

— Errrr... Como você conseguiu meu endereço? — Angel disse tomando um gole da cerveja.

— Você deixou ele na recepção, quando fez a ficha do Carl... Naquele momento ninguém sabia que você não era parente.

Um silêncio um tanto constrangedor pairou na sala. Angel até então não tinha reparado na aparência do médico, e então ali, sem aquele uniforme, ela pôde constatar que ele realmente tinha uma aparência agradável. Mais que agradável.

— Me desculpe, errr... — Kramer fez uma careta. Droga, eu estou nervoso.

— Sim, pode falar.

— É óbvio que tem um motivo pra eu estar aqui. — Respirou. — Como você já sabe, eu operei o Carl, e como você também já sabe, houve um erro na cirurgia... E como você também já sabe, a autora do erro já está pagando por isso. Mas eu ainda não te contei de um detalhe que ocorreu no meio da cirurgia.

Angel começou a prestar atenção no que ele falava, bem mais que antes.

— O Carl despertou no meio da cirurgia, isso faz até sentido porque foi aplicada a cirurgia local, apenas no braço dele. Mas eu não sei como ele conseguiu forças para falar... Ele repetiu uma frase por algumas vezes, não fez sentido pra mim, mas aí eu pensei que pudesse fazer algum sentido pra você.

— E como é essa frase?

O médico olhou nos grandes olhos azuis de Angel.

— Não confie em quem chora pelos olhos.

— O quê? — Angel ainda não entendia.

— Eu também não entendi, achei que pudesse ter algum significado pra você.

— Não... Não têm. — Angel disse com máxima certeza.

Kramer assentiu e então olhou para um cd jogado sobre a mesinha da sala. — Você curte The Used?

— Curto demais. — Angel sorriu. — Esse álbum é o meu favorito deles, essa aqui é minha música favorita. — A loira apontou com o dedo.

Hospital.

— A minha também! — Kramer sorriu. — E tem haver com a gente, você também trabalhou em hospitais, né?

— Sim, mas a letra não fala sobre hospitais... Não da maneira como você acha que fala. Na verdade nem eu entendo, porque quem gostaria de morrer à caminho de um hospital, não é mesmo? — Angel olhou pro homem. — Você nunca escutou essa música, né?

Kramer levantou os braços.

— Ok, você me pegou. Eu não sou fã deles, eu só estava querendo puxar assunto, sabe. Distrair você, e tentar amenizar já que eu vim aqui pra nada. — Angel riu, e Kramer se levantou do sofá.

— Eu já vou indo, amanhã tenho que ir na delegacia logo cedo.

— Eu também. — Angel disse o acompanhando até a porta.

— Por que?

— É um assunto muito, muito chato... — A loira fechou o semblante.

— Não precisa contar, a gente nem tem intimidade direito.

Angel sorriu e abriu a porta, o homem passou. — Eu... Só não quero mais mentiras, viu? Como aquela do cd.

— Pode deixar, a verdade é que eu só fui num show dessa banda com um amigo francês que, esse sim, era fã deles. O nome dele era François.

— Eu adoro esses nomes franceses, quando não tem esses acentos malucos, sempre terminam com "ise". Mas eu mesma não conheço nenhuma pessoa que seja da França... Peraí, não... Eu conheço sim. Rosie.

Angel então se lembrou da francesa. Rosie e... Louise? Não conseguia lembrar direito o nome da filha da advogada, mas a mente da loira começou a trazer lembranças da imagem da francesa na lanchonete do Hospital do Centro. O abraço... O choro, os olhos dela... Eles me chamaram atenção.

Não confie em quem chora pelos olhos.

Todos nós choramos pelos olhos, Carl... Peraí... Quem mais chorou hoje?

— Dora...

— O que você disse Angel? — Kramer perguntou tentando entender o silêncio.

Angel ainda estava desconecta e então parou, fechou bem os olhos. Tudo começa a fazer sentido novamente, a moça pode ouvir várias frases que mais pareciam respostas.

Será que ainda pode piorar mais? Olá, eu sou o Agente Marxs, e esse é o Agente Brown. Temos uma notícia não muito boa pra te dar... Eles eram amantes? Eu confesso que já havia percebido alguns olhares mas, nunca disse nada... Você sempre gostou mais da Shaniqua... Ela queria que eu fosse com ela para falar com ele, mas foi tudo uma emboscada... Ela não quer que eu fale com você para não te preocupar, tenho que resolver umas coisas dela, não fique preocupada, volto logo... Eu sei que eu ainda tenho a Dora, mas... O senhor poderia me contar que "evidências estranhas" são essas? A pedra que matou o seu namorado não parecia ter caído do penhasco... Mais parecia que ela tinha saído do banco de trás e não do da frente... Se a Shaniqua não o matou quem mais fazeria... Quando chegamos, a Dora estava visivelmente inconsciente, e depois disse que não viu nada após ser colocada nos bancos de trás do carro. A mandíbula dela estava aberta, os ossos estavam pra fora, foi uma cena muito chocante de se ver... Ela estava com o rosto sujo de sangue, também chega a ser estranho porque ela não sofreu nenhum corte no rosto... Seria por defesa... Se fosse por defesa ela teria falado... Se Deus quiser, tudo acabará bem, lembra que nós três somos amigas e que as vezes erramos, mas que reconhecer um erro é melhor do que continuar mentindo... O Kurt e a Shaniqua não estão mais entre nós, e agora cabe à Deus o perdão das almas deles... Mas, a Shaniqua não morreu... Coitada, ela não vai conseguir falar mais nada... Tomara que o Carl fique bem, estou rezando sem parar para isso... O Carl morreu, você ainda não sabia né, Dora? Beijão, rockeira...

A Dora é uma amiga maravilhosa realmente... Maravilhosa.

Angel abriu os olhos.

— Vadia... — Angel pendeu como se fosse desmaiar, mas Kramer a segurou. A loira se desvencilhou dele e entrou depressa no apartamento, pegou sua bolsa e a chave. O médico ainda esperava do lado de fora sem entender muita coisa.

— Eu quero te pedir um favor, Kramer. — Angel dizia enquanto saía no corredor e fechava a porta de seu apartamento.

— Tudo bem, mas você tá bem?

— Eu estou prestes a ficar melhor... Agora faça o seguinte, eu quero que você vá pra sua casa e espere eu te mandar uma mensagem... Me passa seu número. — A loira entregou seu celular ao médico que rapidamente digitou e salvou na agenda do aparelho.

— Quando eu mandar a mensagem, você tem que fazer exatamente o que eu mandar. — Angel olhou diretamente nos olhos castanhos do homem. — É a única maneira de me impedir de fazer uma besteira... Eu não sei como eu posso estar sendo fria o suficiente para estar aqui ainda.

— Ok, eu vou fazer o que você escrever na mensagem. — Kramer disse num tom sério.

Angel tentou sorrir, mas não conseguiu. — A gente se vê, Kramer! Torce pra que tudo dê certo. A loira correu pelo corredor e entrou no elevador. O médico continuou ali parado, tentando entender o que acontecera.

Não conseguiu.


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Notas finais do capítulo

Ok, ok...
Só pra lembrar, que nunca afirmei que Shaniqua estava morta. A narração no fim do cap 6, era apenas pelo ponto de visto da Dora após o acidente, o que ela estava pensando e talz. Tanto que seria impossível a Shani morrer, pois não era a vez dela... Mas isso não a impede de ficar MUITO machucada. :(
Esse capítulo não teve mortes mas pelo menos tivemos a cota sangue no começo dele. XD Toda a cirurgia de Carl foi bastante inspirada em uma cena de Jogos Mortais 3, onde a médica fazia uma cirurgia no Jigsaw. Tanto que acabei dando o sobrenome do médico de Kramer, mesmo sobrenome do Jigsaw. ^^
Bom espero que todos que leem a fic, tenham gostado! Tentarei ao máximo, terminar o mais rápido possível o cap 8. Enquanto isso confabulem o que vcs acham que irá acontecer, rs.
Abraços e até próximo o capítulo, que será bastante tenso! o/